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  • Foto do escritorDylvardo Costa Lima

CANTIM CORPORE SANO (PARTE 8)

Atualizado: 4 de set. de 2023


Reduzir a desigualdade beneficia a todos, então por que isso não está acontecendo?


Editorial publicado na Nature em 16/08/2023, em que pesquisadores britânicos afirmam que aqueles que pedem aos líderes mundiais que tomem medidas contra a desigualdade social, devem estudar porque os esforços anteriores não se traduziram em mudanças nas políticas públicas.


No mês passado, investigadores de 67 países escreveram uma carta aberta ao secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, e ao presidente do Banco Mundial, Ajay Banga, instando-os a “redobrar esforços para enfrentar a crescente desigualdade extrema”. A mudança foi motivada, em parte, pela falta de progresso no 10º, dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.


O objetivo do ODS 10, é “reduzir a desigualdade dentro e entre os países”. Isso significa estreitar a diferença entre os rendimentos dos mais ricos e dos mais pobres, tanto a nível nacional como internacional. A meta também propõe garantir a igualdade de oportunidades. Infelizmente, o mundo está claramente a falhar no cumprimento do ODS 10. Os autores da carta vão mais longe, dizendo que o objetivo está a ser “amplamente ignorado”.


Esta não é a primeira vez que pesquisadores tentam chamar a atenção do mundo para a desigualdade. Para uma maior probabilidade de sucesso, os autores da carta deveriam estudar o que aconteceu com esforços anteriores, em particular, a publicação em 2009 do influente livro The Spirit Level, dos epidemiologistas Richard Wilkinson e Kate Pickett. Eles mostraram que a redução da desigualdade tem uma cascata de benefícios, desde melhor saúde, menores taxas de criminalidade, e até melhores resultados educacionais.


O livro foi uma sensação. Foi lido avidamente e amplamente citado; as suas conclusões são referenciadas por David Cameron, mais tarde primeiro-ministro do Reino Unido, e Christine Lagarde, agora presidente do Banco Central Europeu, entre outros. No entanto, apesar de amplamente respeitada, a síntese cuidadosa das evidências dos autores sobre os benefícios da igualdade, e os subsequentes convites para palestras e aconselhamento político em todo o mundo, não alteraram as abordagens dos governos à desigualdade.


Nem todas as metas do ODS 10 estão falhando. A desigualdade geral de renda entre os países está diminuindo. Outra meta, a de reduzir os custos incorridos pelos trabalhadores migrantes, que enviam remessas para as suas famílias, também está em vias de ser cumprida, embora não dentro do prazo de até 2030 dos ODS.


Mas a desigualdade de renda dentro dos países está aumentando, conforme medido pelo índice de Gini, uma medida da distribuição de renda em uma população. Globalmente, nos 15 anos até 2019, a produção econômica em termos de produto interno bruto (PIB), praticamente duplicou, mas a percentagem da produção econômica obtida pelos trabalhadores que produzem os bens e serviços responsável pelo aumento, caiu de 54,1% em 2004 para 52,6%. em 2019.


Então o que houve de errado? Entre 2019 e 2020, a pandemia da COVID-19 causou o aumento mais acentuado da desigualdade global, desde a Segunda Guerra Mundial. Algumas pessoas não puderam trabalhar ou viram os seus empregos suspensos, enquanto outras, principalmente em empregos de nível superior, conseguiram transferir o seu trabalho para a Internet, diz Ida Kubiszewski, economista ecológica da University College London.


Então a inflação subiu. A média global para 2021 foi de 4,7%, mas a taxa foi muito maior em muitos países de baixa e média renda. E isso foi antes da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022. Embora muitos países de rendimentos mais elevados tenham aumentado as proteções sociais para os mais vulneráveis, os países de rendimentos mais baixos, tiveram dificuldade em fazê-lo. O grupo de ajuda Oxfam, e a organização sem fins lucrativos Development Finance International, criaram um índice que mede o que os governos estão a fazer para combater a desigualdade. A edição de 2022 avaliou 161 governos entre 2020 e 2022. Concluiu que, durante este período, 70% dos governos cortaram a sua parte nas despesas com a educação, e dois terços não conseguiram aumentar o salário-mínimo em linha com o PIB. Alguns países de rendimento elevado também estão a reduzir a sua ajuda ao desenvolvimento, e o investimento direto nos países de média e baixa renda, por parte de países estrangeiros também está a diminuir, mostram dados do Banco Mundial.


Os pesquisadores dizem que o progresso no ODS 10 teria sido sombrio, mesmo sem a pandemia e a invasão da Ucrânia. Grande parte do problema é que cada um dos 17 ODS, tende a ser buscado isoladamente, sem que os formuladores de políticas saibam que, a redução da desigualdade, beneficiaria muitos dos outros objetivos.


Uma análise de rede de 2019 que estuda as interações entre os ODS descobriu, que a redução da desigualdade em nações ricas, ajudaria a alcançar quase todos os outros objetivos. O mesmo se aplica à redução da pobreza nas nações mais pobres. Isso nos traz de volta à carta aberta do mês passado, e aos argumentos apresentados no livro The Spirit Level. Reduzir a desigualdade envolve aumentos iniciais nos gastos em áreas como saúde, proteção social e educação.


A carta pede que Guterres e Banga “apoiem novas metas e indicadores estratégicos vitais”. Entre outros fatores, dizem seus autores, melhorias significativas nos dados sobre desigualdade, especialmente nas estimativas de rendas mais altas, devem permitir entender melhor como as mudanças políticas podem influenciar a divisão entre ricos e pobres.


Melhores dados são essenciais, e a falta de bons dados para apoiar o trabalho nos ODS, está se tornando um tema nesta série de editoriais. Mas dados melhores por si só, não reduzirão a desigualdade, aponta Wilkinson. Questionado sobre por que ele acha que o ODS 10 está falhando, ele aponta para uma redução na desigualdade que ocorreu em países de alta renda da década de 1930 até o final da década de 1970, principalmente porque os movimentos sociais desafiaram o Estado a desempenhar um papel maior na proteção de pessoas vulneráveis. Ele acha que algo assim terá que acontecer novamente. “Dados os poderosos interesses envolvidos”, diz ele. “Não sei por que alguém pensou que uma declaração de objetivos como os ODS seria bem-sucedida.”


Os pesquisadores estão certos em instar os líderes a priorizar a desigualdade. Eles fariam ainda melhor se estudassem os esforços de Pickett, Wilkinson e outros, e determinassem as razões pelas quais eles não deram frutos.


“Vencer é ser Você com Você”

Dr. Russen Moreira Conrado

Cirurgião Plástico e Psicoterapêuta


Antes de entender o que é Você com Você, questiono: o que é vencer? Para muitas pessoas, a vitória significa estar no topo das conquistas desejadas, ou, na maioria das vezes, trilhar o pedestal superior da vida almejada, conseguir glórias e louros, e sentir (mesmo na lama), o cheiro do ar do brilho da fama. Penso, entretanto, que a verdadeira grande vitória é o caminho que enfrentamos e que trilhamos, no qual destilamos nossas sementes de boas flores e bons frutos, e arrancamos as raízes dos duros espinhos. Ganhar méritos e completar metas é bem mais sublime e nobre quando consideramos o atalho e o enredo da obtenção da vitória, que é resguardada pelo sabor do sal do suor, e pelo amor que brota da lágrima da dor. Mudemos, com inteligência, os muitos mundos que alimentamos em nós, mesmo num ou noutro momento. Abramos mentes e transformemos pessoas. Vencer é ser Você com Você.

Platão numa de suas eloquentes e provocativas reflexões disse um dia: “vencer a si próprio é a maior das vitórias”. E se considerarmos que conseguir esse ganho, do vencer a si próprio, é extraordinariamente difícil e enigmático, quando estamos envoltos em questões que não sabemos responder? E quando ingressamos nos mares onde não sabemos nadar as braçadas da vida, e até mesmo em ares onde não conseguimos pensar, amar e mudar (valiosa tríade da mente equilibrada)..?? Ninguém consegue fazer por você o que somente você tem a capacidade de ser. É necessário, algumas vezes, porém, convencer-se da necessidade de buscar alguém para consolar, confortar, ajudar, conduzir, e controlar, quando não sabemos agir. O saber do bom conhecimento transformador, a espiritualidade, e a prática do bem, transforma sim, muita dor em amor; desde que nos permitamos mergulhar no lugar que precisamos ingressar. Sejamos engenheiros do reboco de nossas paredes mentais. Vencer é ser Você com Você.

O ser humano maduro, frequentemente, alberga consigo a criança emocional, que o estaciona no lastro e no rastro daquilo que não é tão racional. Carrega também dores, traumas, crenças, feridas, cicatrizes, mágoas, e tatuagens do passado que ficam impregnadas no ser que seremos. E essa criança, num ou noutro tempo do viver, mesmo até perto de morrer, flutua num meditar e num agir descontrolado e alimenta questões que não consegue entender. “Não se muda o passado; mas, no presente, é factivel alterar a forma como lidamos com esse passado”. Até encontrar a chave da porta, e destrancar medo, erros, acertos e ilusões, precisamos amansar, ensinar, educar e transformar positivamente esse ser maduro (e ao mesmo tempo imaturo); esse que carece rejuvenescer, na esteira da alegria, da precisa metamorfose, e do autoconhecimento. A vida passa breve e nem sempre é leve, quando a ignorância estaciona à nossa frente. Jamais nos deixemos enveredar pelas inadequadas porteiras que o vício traz, ou pelos indevidos atos que a nossa (doente ou saudável) essência faz. Lembremo-nos sempre – Vencer é ser Você com Você.

A energia limpa pode alimentar o futuro e tornar o mundo mais saudável


Editorial publicado na Nature em 08/08/2023, onde pesquisadores americanos afirmam que a pesquisa desafia o mito de que a energia limpa atua como um freio no desenvolvimento econômico global.


As metas de 2030, estabelecidas pelas Nações Unidas, para o sétimo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 7), são bastante claras: fornecer acesso alcançável à energia; expandir o uso de fontes renováveis; melhorar a eficiência energética ano a ano; e aumentar a cooperação internacional em apoio à pesquisa, desenvolvimento e infraestrutura de energia limpa. Alcançar esses objetivos, no entanto, será tudo, menos simples. Como visto em muitos dos editoriais desta série que examinam os ODS em seu estágio intermediário, o mundo está ficando aquém.


Isso se deve, pelo menos em parte, à influência da indústria de combustíveis fósseis, que impulsiona a economia e, muitas vezes, a política de países grandes e pequenos, ricos e pobres. A crescente prosperidade humana, medida pelo crescimento econômico, há muito está ligada à abundância de combustíveis fósseis. Muitos políticos temem que a busca por fontes de energia limpa, comprometa esse desenvolvimento econômico. A ciência mais recente contraria claramente essa visão, mas a voz da comunidade de pesquisa não está sendo ouvida nos lugares certos. Para atender às metas incorporadas no ODS 7, isso precisa mudar.


Há muito a ser feito. Em 2021, cerca de 675 milhões de pessoas em todo o mundo, ainda não tinham acesso à eletricidade. Isso está abaixo dos 1,1 bilhão de uma década atrás, mas o ritmo do progresso diminuiu. Com base nas tendências atuais, 660 milhões de pessoas, muitas delas na África subsaariana, permanecerão sem eletricidade até 2030. E as projeções indicam que cerca de 1,9 bilhões de pessoas, ainda usarão sistemas de cozinha poluidores e ineficientes movidos a carvão e madeira. Esta é uma má notícia para todos: para a saúde, para a biodiversidade e para o clima.


Atingir as metas de acesso à energia, sempre foi um esforço, mas o progresso também foi lento em outros lugares. Veja a eficiência energética. Mais eficiência energética significa menos poluição, e a eficiência energética aumentou cerca de 2% ao ano nos últimos anos. Mas atingir a meta para 2030, dobrar a taxa da média de 1990-2010, exigiria ganhos de cerca de 3,4% ao ano, até o final desta década.


A imagem da energia renovável é igualmente mista. Apesar do crescimento considerável da energia eólica e solar para gerar eletricidade da rede, o progresso nos setores de aquecimento e transporte continua lento. A participação da energia renovável no consumo global total de energia, foi de apenas 19,1% em 2020, de acordo com o último relatório de rastreamento da ONU, mas um terço disso veio da queima de recursos como madeira.


Uma razão para o progresso lento é a ideia contínua de que metas agressivas de energia limpa, irão atrapalhar o desenvolvimento econômico. É mais fácil e lucrativo para os principais produtores de combustíveis fósseis, simplesmente manter o status quo. No mês passado, ministros do grupo G20 das maiores economias do mundo, incluindo União Europeia, Índia, Arábia Saudita e Estados Unidos, não chegaram a um acordo sobre um plano para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, e triplicar a capacidade de energia renovável até 2030.


Mas é aqui que a ciência tem uma história para contar. No passado, dizem os pesquisadores, muitos modelos indicavam que a energia limpa seria mais cara do que a dos combustíveis fósseis, potencialmente colocando as nações mais pobres fora do mercado, aumentando as contas de alimentos das pessoas, e exacerbando a fome. Mas as pesquisas mais recentes sugerem, que o quadro é mais complexo. A energia é um eixo para a maioria dos ODS, e a pesquisa que mescla clima, energia e os ODS, ressalta isso. Por exemplo, os setores de agricultura e transporte de alimentos, ainda dependem de combustíveis fósseis, e isso gera uma poluição que mata milhões de pessoas todos os anos. Outras ligações são indiretas: a falta de acesso à luz à noite e à informação on-line, como resultado da pobreza energética, dificulta o sucesso educacional e contribui para a desigualdade de curto e longo prazo.


A lição da pesquisa é que pode ser mais fácil, e não mais difícil, enfrentar esses desafios juntos. Em 2021, a pesquisadora Gabriela Iacobuţă, do Instituto Alemão de Desenvolvimento e Sustentabilidade em Bonn, e seus colegas mostraram, que tecnologias centradas em recursos renováveis e eficiência, tendem a apresentar poucos danos e muitos benefícios, incluindo melhoria na saúde pública e na riqueza, graças a um ambiente mais limpo e melhores empregos. E o cientista climático Bjoern Soergel, do Potsdam Institute for Climate Impact Research, na Alemanha, e seus colegas descobriram, que um pacote coordenado de políticas climáticas e de desenvolvimento, poderia atingir a maior parte dos ODS, limitando o aquecimento global a 1,5 °C acima dos níveis pré-industriais.


O estudo avaliou 56 indicadores em todos os 17 ODS. Uma intervenção proposta é um mecanismo internacional de financiamento do clima, que cobraria taxas sobre as emissões de carbono, que seriam redistribuídas por meio de programas nacionais, para reduzir a pobreza. Uma segunda intervenção foca na promoção de dietas saudáveis, incluindo a redução do consumo de carne, cuja produção requer muita água, energia e terra. Isso beneficiaria as pessoas de baixa renda, ao reduzir os preços dos alimentos e da energia.


O maior desafio está em traduzir esses modelos para o mundo real. Para fazer isso, precisamos de líderes que não estejam presos a um pensamento antiquado, estejam cientes da ciência mais recente, e possam aproveitar a pesquisa para obter apoio público, para a transição energética necessária. Exigimos mais instituições públicas nacionais e internacionais, que estejam dispostas a enfrentar os problemas no nível do sistema. E tudo isso precisa de uma comunidade científica disposta e capaz de defender o conhecimento e as evidências.


A sombra é uma solução essencial para as cidades mais quentes


Editorial publicado na Nature em 26/07/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que uma das maneiras mais eficazes de manter as pessoas frescas, é muitas vezes negligenciada no planejamento urbano. As cidades devem trabalhar para fornecer cobertura e reverter os “desertos de sombra” comuns em comunidades de baixa renda.


Em maio deste ano, o Departamento de Transporte de Los Angeles, revelou quatro abrigos de ônibus de metal incomuns. Pequenos e rápidos de instalar, os abrigos deveriam ser uma maneira simples de fornecer iluminação e sombra para os passageiros que esperavam. Isso é apenas um quarto dos pontos de ônibus na cidade da Califórnia que tem abrigos. Los Angeles atualmente experimenta cerca de 11 dias de calor extremo a cada ano, um número projetado para pelo menos triplicar até meados do século, e precisa de maneiras de proteger as pessoas do calor externo. Mas os abrigos, um painel de metal perfurado com uma pequena saliência, foram rapidamente atacados por custar US$ 10.000 cada, e fornecer apenas um pequeno pedaço de sombra, o suficiente para uma ou duas pessoas.


Os pontos de ônibus simbolizam um problema mais amplo: a maioria das cidades não fornece sombra suficiente aos cidadãos. Comunidades de baixa renda e marginalizadas tendem a ser as mais afetadas, porque frequentemente vivem nas áreas urbanas mais quentes e carecem de recursos, como ar-condicionado, para lidar com a situação. Um estudo de 2019 em 25 cidades ao redor do mundo, de Berlim a Buenos Aires, descobriu que as áreas quentes geralmente se concentram nos bairros mais pobres, em grande parte devido à falta de copa das árvores.


De acordo com o American Forests Tree Equity Score, um indicador nacional de disparidades na distribuição de árvores urbanas, os bairros mais pobres dos Estados Unidos têm 41% menos copas de árvores do que os mais ricos, e as pessoas de cor, geralmente vivem em áreas que têm um terço a menos de sombra, do que as áreas onde a maioria dos residentes é branca.


Limitar a exposição ao sol por meio da sombra é uma das maneiras mais eficientes e econômicas de reduzir os riscos à saúde relacionados ao calor ao ar livre. A sombra é simples de criar usando árvores, edifícios, copas, velas de sombra, toldos e paredes, mas é frequentemente negligenciada no planejamento urbano e nas estratégias de mitigação das mudanças climáticas. Muitas cidades carecem de sombra nas calçadas, nos pontos de transporte público, fora dos locais de trabalho e nas áreas de lazer das escolas. Os “desertos de sombra” urbanos, lugares sem a sombra necessária para reduzir a carga de calor e proteger a saúde humana ao ar livre, fazem parte da experiência vivida por comunidades de baixa renda e exacerbam as disparidades de calor e saúde.


Para enfrentar esse desafio, as cidades devem gerenciar e melhorar a infraestrutura que fornece sombra, assim como fazem para energia ou transporte. Acadêmicos e governos devem adotar medidas melhores da carga de calor humano causada pela luz solar direta, avaliar a distribuição de sombra e planejar e avaliar as intervenções que reduzem essa carga de forma eficaz. Eles devem garantir que essa infraestrutura diminua, em vez de exacerbar as desigualdades. Cada cidade deveria planejar mais sombra, e os cientistas devem apoiar esses esforços.


Conheça os benefícios da sombra


A sombra é uma solução intuitiva do ser humano contra o calor: quase 40% dos adultos nos Estados Unidos procuram sombra, quando estão ao ar livre, de acordo com o US National Cancer Institute. A sombra é eficaz no resfriamento, porque protege o corpo da radiação de ondas curtas do Sol, que inclui luz ultravioleta e visível, o principal fator que determina o conforto térmico humano em condições quentes ao ar livre. Também protege o corpo das superfícies quentes e do calor que elas liberam.


A sombra pode reduzir a carga de calor ambiental total de uma pessoa, reduzindo a temperatura do ar, a umidade atmosférica, a velocidade do vento e a exposição total à radiação. Tudo o mais sendo igual, estudos descobriram que a carga líquida de calor é até 20–40 °C menor na sombra, do que em áreas próximas expostas ao sol em climas áridos, temperados e tropicais em todo o mundo. Por exemplo, uma pessoa sob o sol de verão em Phoenix, Arizona, em um dia com uma temperatura do ar de 35 °C, experimentaria uma carga de calor de 80 °C sob a luz direta do sol, enquanto alguém na sombra, experimentaria uma carga semelhante à temperatura do ar.


Durante séculos, a sombra foi parte integrante do desenho urbano. Os romanos projetaram casas com pátios para fornecer sombra, e fontes para fornecer resfriamento evaporativo. Edifícios em regiões quentes normalmente incorporavam pátios e saliências e, em algumas cidades, as ruas eram orientadas para bloquear o sol. Mas com o advento do ar-condicionado, eletricidade barata e uma crescente dependência de carros, em vez de caminhar, significa que a sombra não é mais uma prioridade. Hoje, poucas cidades gerenciam explicitamente a distribuição e extensão da sombra, sua mudança ao longo do tempo, e com a perda de seu valor para a sociedade.


As avaliações da sombra das árvores constatam, que as comunidades marginalizadas são consistentemente as mais desprovidas de sombra. Um relatório do The New York Times, usando o Tree Equity Score, descobriu que americanos ricos com renda superior a US$ 100.000, vivem em áreas com 50% mais copas de árvores do que aqueles que vivem na pobreza. Um estudo em Hyderabad, na Índia, descobriu que, embora os vendedores ambulantes dependam da sombra das árvores para sua subsistência, a gentrificação os afastou das ruas bem sombreadas.


Medir melhor a carga de calor


As cidades precisam medir e planejar a sombra com base nas experiências humanas de calor, não apenas na temperatura do ar e na infraestrutura. Atualmente, pesquisadores e autoridades urbanas tendem a administrar o calor como uma ameaça aguda à saúde pública ou por meio do planejamento do solo, nenhum dos quais responde adequadamente pela sombra.


A sombra pode fornecer alívio temporário durante eventos de calor extremo, mas não é um substituto para evitar a exposição prolongada a temperaturas inseguras do ar externo. Para indivíduos com doenças causadas pelo calor, o resfriamento mecânico dentro de casa, pode ser a única maneira de reduzir a temperatura corporal central, de volta a níveis seguros. É por isso que o gerenciamento de emergência de calor, se concentrou em soluções como direcionar as pessoas para centros de resfriamento internos, em vez de soluções externas, como sombra.


Quando se trata de condições externas, muita atenção se concentra nas “ilhas de calor”, a observação de que muitas cidades são mais quentes do que as áreas rurais, em grande parte por causa de materiais que retêm o calor, como o asfalto. Com base nesse conceito, cidades como Atenas, Nova Deli, Phoenix e Los Angeles, estão introduzindo 'telhados frios', e superfícies de estradas pintadas de branco, ou incorporando materiais que rapidamente irradiam novamente a energia solar, em vez de absorvê-la. Estes podem reduzir as temperaturas da superfície de forma eficaz, mas do final da manhã até o final da tarde, a energia extra refletida pode aumentar a carga de calor experimentada pelo corpo humano, com impactos insignificantes na temperatura do ar. Essas soluções não protegerão as pessoas da luz solar, a menos que as intervenções também introduzam elementos verticais, como árvores. Além disso, a ilha de calor ocorre predominantemente à noite, enquanto as maiores cargas de calor para as pessoas e os maiores benefícios da sombra, ocorrem durante o dia.


As ilhas de calor são frequentemente avaliadas usando a temperatura da superfície terrestre, medida por satélites. Por exemplo, uma rede global de prefeitos de cidades chamada C40, recomenda o uso de uma variedade de sensores de temperatura de superfície em uma cidade, para avaliar a vulnerabilidade ao calor e orientar ações. Mas essas medidas indicam às cidades onde as superfícies urbanas são mais quentes, não necessariamente onde as pessoas sentem mais calor. Um estudo em Tel Aviv, em Israel, descobriu que os bairros residenciais com pouca sombra, alguns com apenas 12% de sombra, aparecem frios nos mapas de temperatura da superfície, devido à abundância de grama. No entanto, as regiões da cidade que têm muita sombra de prédios altos (com 52 a 64% de sombra), apareceriam mais quentes em um mapa de temperatura da superfície, por causa das superfícies que retêm o calor.


As cidades precisam implantar melhores medidas, de como os humanos experimentam o calor. Em vez de focar nas temperaturas do ar ou da superfície, eles devem rastrear a temperatura radiante média: a troca térmica líquida entre o corpo humano e o ambiente que o cerca. Essa métrica é normalmente derivada de pequenas áreas usando uma combinação de métodos de campo e modelagem e simulação computacional. As cidades exigirão formas mais fáceis de usar e acessíveis para acessar esses dados, com resolução espacial e temporal suficiente, para identificar padrões e abordar as desigualdades. Os pesquisadores podem ajudar, demonstrando que o uso da temperatura radiante média como métrica, caracteriza a exposição pessoal ao calor com mais precisão, do que outras métricas e desenvolvendo métodos, para melhorar a acessibilidade dos dados.


Audite e planeje a infraestrutura de sombra


Armadas com melhores medidas e mapas de carga de calor, as cidades devem mudar seu foco de refletir a luz do sol para interceptá-la, usando a sombra. Isso reduz a energia solar que atinge as superfícies e é refletida ou reemitida e, mais importante, proporciona uma diminuição maior na carga térmica líquida, do que a reflexão. Não faz sentido tornar uma área reflexiva, se ela estiver totalmente protegida do sol.


Para começar, os pesquisadores devem trabalhar com as cidades, para auditar o fornecimento atual de sombra e planejar melhorias. As cidades têm jurisdição sobre muitos dos edifícios, árvores e outras características da terra que lançam sombra; enquadrar isso, como parte de uma "infraestrutura de sombra" geral, torna essa autoridade aparente. As cidades também precisarão lidar com questões de propriedade: alguns terrenos públicos, como calçadas, precisam de sombra, mas os objetos que podem produzi-la, podem estar em terrenos privados.


Desde a década de 1990, as autoridades de saúde pública pedem que as auditorias de tonalidade sejam integradas ao planejamento, para prevenir o câncer de pele, causado pela luz ultravioleta. Em resposta, grupos de saúde pública em vários lugares publicaram diretrizes para planejamento e design de sombra, incluindo a cidade de Toronto no Canadá, o estado de Queensland na Austrália e toda a Nova Zelândia. Por exemplo, uma política de criação de sombra de 2007 do Instituto Australiano de Saúde Ambiental, recomenda fornecer sombra ao longo das ciclovias e em parques, playgrounds e áreas de refeições ao ar livre usando árvores, telhados e estruturas de sombra.


Phoenix, que experimenta regularmente quase 200 dias acima de 32 °C, tem estado na vanguarda do reconhecimento da importância da sombra. Foi a primeira cidade a publicar, em 2010, um Plano Diretor de Árvores e Sombras, que originalmente exigia um aumento geral de 25% na copa das árvores, visando comunidades vulneráveis ​​ao calor. Um punhado de cidades, incluindo Tel Aviv, Abu Dhabi e Cingapura, seguiram o exemplo. Cingapura exige que os planos de espaços públicos mostrem que pelo menos 50% da área total e dos assentos, sejam sombreados às 9h, 12h e 16h no meio do verão.


A sombra também foi integrada a outras políticas municipais, como em um programa de gerenciamento de enchentes em Tucson, Arizona, que promove árvores e outras vegetações. Centralizar a sombra no planejamento e na política é, no entanto, ainda a exceção. Um estudo envolvendo dois de nós (V.K.T. e A.M.) que examinou 175 planos municipais para 50 grandes cidades dos EUA, descobriu que apenas 20% incluíam sombra como uma estratégia de mitigação de calor. As políticas federais também são deficientes. Por exemplo, o capítulo sobre cidades, na Quarta Avaliação Nacional do Clima dos EUA em 2018, menciona a sombra uma vez, na legenda de uma figura.


Isso deve mudar. À medida que as cidades em todo o mundo atualizam seus planos para lidar com o calor, muitas outras devem ter estratégias claras para fornecer sombra adequada, incluindo critérios de avaliação, e uma pessoa dedicada responsável pela implementação. Os pesquisadores precisam fornecer dados às cidades para ajudar a fazer esses planos.


Adapte a sombra ao contexto


As cidades que estabelecem planos de sombra, devem ir além do foco atual nas árvores. Dos planos municipais nas principais cidades dos Estados Unidos, que mencionaram sombra em nossa análise, 75% incluíram árvores como estratégia de sombreamento, 10% incluíram estruturas de sombra e nenhum mencionou edifícios, paredes ou outros recursos construídos. Embora as árvores urbanas sejam um componente crucial da governança do calor, e tenham benefícios para os serviços ecossistêmicos e para a saúde, elas vêm com compensações, como requisitos de irrigação e o potencial de danificar outras infraestruturas urbanas. Complementá-las, com recursos integrados, melhora a cobertura de sombra. Por exemplo, a cidade de Tempe introduziu coberturas de painéis solares na Arizona State University, que sombreiam carros e pessoas enquanto geram eletricidade. E em Freetown, Serra Leoa, as autoridades instalaram coberturas de sombra para proteger as mulheres que trabalham em mercados ao ar livre.


Alguns lugares estão começando a definir padrões de sombra mais detalhados. O Manual de Projeto de Domínio Público de Abu Dhabi, exige "sombra contínua" para 80% das calçadas primárias e 60% das secundárias, áreas de descanso sombreadas em intervalos regulares, e 100% de cobertura de sombra para todas as estruturas formais de lazer em parques públicos.


As Diretrizes de Planejamento de Sombra de Tel Aviv recomendam sombra contínua em 80% das ruas, caminhos e calçadas públicas, e 50% de sombra nos playgrounds das escolas. O condado de Maricopa, no Arizona, afirma que uma “rota de pedestres termicamente confortável” deve ter no mínimo 20% de cobertura de sombra, de modo que alguém andando por 20 minutos, possa permanecer seguro durante 90% das tardes de verão.


Esses esforços são um começo, mas o que é necessário são diretrizes mais específicas e executáveis ​​em mais configurações. As cidades exigem uma maneira viável e válida de determinar a quantidade ideal, localização e combinação de infraestrutura de sombra. Essa abordagem deve considerar padrões climáticos regionais e sazonais, como cobertura de nuvens, umidade, temperatura e vento.


Um plano de sombreamento também deve envolver considerações de quem, o quê, onde, quando e quanta sombra é necessária, bem como custos. Um plano deve priorizar a sombra acessível ao público ao longo dos caminhos, em parques públicos e em centros de transporte. Na escala da vizinhança, estabelecer uma cobertura de sombra mínima sugerida pode ajudar.


Crise da água: como as tecnologias locais podem ajudar a resolver um problema global


Editorial publicado na Nature em 01/08/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que a mudança climática está piorando o estresse hídrico para bilhões de pessoas em todo o mundo. A expansão de soluções novas e tradicionais para amenizá-lo, deve ser uma prioridade.


A conferência da água das Nações Unidas deste ano, a primeira em quase 50 anos, não levou a um acordo vinculativo. Mas o evento, realizado em março na cidade de Nova York, serviu de alerta: a crise hídrica está piorando e precisa de nossa atenção urgente.


No ano passado, cerca de 2,2 bilhões de pessoas ainda não tinham acesso a água potável, de acordo com um relatório de julho da Organização Mundial da Saúde e da agência infantil da ONU, UNICEF. E cerca de 653 milhões de pessoas não tinham instalações para lavar as mãos em casa.


Resolver esses problemas está entre as 6 metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU: “garantir a disponibilidade e gestão sustentável de água e saneamento para todos” até 2030. Este editorial faz parte da série da Nature, que analisa cada um dos ODS, ambientado em 2015, na metade do caminho. Estamos nos concentrando em questões e lacunas, que os pesquisadores podem ajudar a abordar.


Quando os ODS foram lançados, havia otimismo de que a meta da água poderia ser alcançada, e houve progresso em algumas de suas metas. Desde 2000, mais 2 bilhões de pessoas ganharam acesso à água potável e, até 2020, cerca de 56% de todas as residências tiveram suas águas residuais tratadas.


Mas o progresso geral não foi rápido o suficiente e, já em 2018, a UN-Water, que coordena o trabalho da ONU em água e saneamento, alertou que o mundo não estava no caminho certo. Os países não estão priorizando esse objetivo, seja em nível nacional ou global. Pelas próprias estimativas da ONU, para atingir o ODS 6, o mundo precisará gastar US$ 260 bilhões por ano até 2030, principalmente na Ásia e na África, onde o número de pessoas sem água potável é maior. A assistência internacional ao desenvolvimento para projetos relacionados à água, está atualmente em torno de US$ 9 bilhões anualmente, e vem caindo desde 2017. Quando não há estratégia política, torna-se difícil demonstrar pesquisas ou projetos-piloto em larga escala. No entanto, é isso que precisa acontecer, para que a água limpa e o saneamento se tornem universais.


Gerações de comunidades com escassez de água, aplicaram os resultados do conhecimento e da inovação para obter água. Mas houve, na melhor das hipóteses, sucesso parcial para tentativas de compartilhar sistematicamente técnicas que funcionam em escalas locais, como condensar água de nuvens com redes gigantes, usadas no Chile e no Peru, ou armazenar neve para uso em períodos secos, como praticado em partes da China.


É o mesmo para tecnologias mais recentes. Por exemplo, a destilação por membrana é um método de dessalinização de água a baixa temperatura. É mais ecológico do que os métodos existentes, porque usa menos eletricidade, como o engenheiro químico Mohammed Rasool Qtaishat, da Universidade da Jordânia, e seus colegas relataram no ano passado. No entanto, está lutando para sair das fases de pesquisa e ser implantado em escalas maiores. Em um estudo publicado em março, Patricia Gorgojo, engenheira química da Universidade de Zaragoza, na Espanha, e seus colegas, recomendam melhorar a comunicação entre os que realizam estudos de pequena escala e os que implementam projetos de demonstração em larga escala, porque os dois costumam ter diferentes necessidades.


Quando se trata de pesquisa em seu sentido mais amplo, os resultados podem ser ampliados, como mostram a antropóloga médica Sera Young e sua equipe da Northwestern University em Evanston, Illinois. Eles desenvolveram medidas inclusivas da experiência de estresse hídrico, chamadas escalas de experiências de insegurança hídrica (WISE).


A meta de saneamento do ODS 6 exige “atenção especial às necessidades de mulheres e meninas”. Mas os relatórios anuais de progresso da ONU, não incluem dados sobre esse tópico. A principal razão parece ser, que as pesquisas são normalmente conduzidas no nível familiar, e não no nível individual, e, portanto, não podem ser desagregadas por sexo ou gênero.


É aqui que as escalas WISE são eficazes: elas podem coletar dados no nível familiar ou individual. Eles examinam como a insegurança hídrica afeta as atividades diárias, a saúde e o bem-estar, desde cozinhar, lavar as mãos e lavar roupas, até a higiene pessoal e sentimentos de raiva e ansiedade. Os entrevistados são identificados por idade, sexo e renda, entre outras características.


As escalas WISE estão sendo usadas por cerca de 100 organizações nacionais, intergovernamentais, de pesquisa e da sociedade civil, em todo o mundo. Seu uso como ferramenta política foi demonstrado no ano passado na Austrália, que oficialmente tem níveis relativamente baixos de insegurança hídrica, com apenas 1% da população afetada. Mas algumas comunidades não reconhecem esta imagem. Em 2022, Yuwaya Ngarra-li, uma parceria entre o Dharriwaa Elders Group, uma organização cultural aborígine na cidade rural de Walgett, e a Universidade de New South Wales em Sydney, aplicou a metodologia WISE a uma pesquisa com 251 pessoas, e descobriu que cerca de 44% dos entrevistados relataram insegurança hídrica e 46% insegurança alimentar. As comunidades e o Walgett Shire Council estão explorando como trazer melhorias.


À medida que o mundo se aproxima do prazo dos ODS de 2030, mais ideias surgirão, sem dúvida, com potencial promissor. Mas o ODS 6 não será alcançado sem atenção à escala. Esta é uma grande peça que faltava no quebra-cabeça de água e saneamento. Em última análise, a sua implementação é o que importa.


O lixo plástico está em toda parte, e os países devem ser responsabilizados por reduzi-lo


Editorial publicado na Nature em 12/07/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que à medida que as negociações da ONU sobre a eliminação da poluição plástica entram em uma fase crucial, os pesquisadores devem desempenhar seu papel na criação de sistemas adequados de medição, monitoramento e conformidade, para colocar em prática.


Globalmente, cerca de 400 milhões de toneladas de resíduos plásticos são produzidos a cada ano. Os plásticos se infiltraram em algumas das áreas mais remotas e intocadas do planeta, como mostram dois artigos publicados na Nature com efeitos dramáticos.


Pesquisadores avaliam sistematicamente a extensão da contaminação por plástico em diversos lagos e reservatórios de água doce em 23 países, e descobrem que eles estão amplamente contaminados com plástico. Enquanto isso, outros cienntistas mostram que pedaços maiores de lixo plástico, conhecidos como macroplásticos, representam a maior parcela de detritos antropogênicos encontrados em recifes de coral rasos e profundos, em 25 locais nas bacias dos oceanos Pacífico, Atlântico e Índico. Mesmo os recifes mais profundos, situados a profundidades de 30 a 150 metros, estavam poluídos; até agora, o impacto dos plásticos nesses recifes foi pouco estudado.


Ambos os estudos serão importantes para as negociações, agora em curso nas Nações Unidas, sobre um tratado para eliminar a poluição plástica. Este é um objetivo ambicioso, que exigirá um repensar radical da produção, reciclagem, remediação e descarte de plásticos. A experiência adquirida em décadas de tratados ambientais da ONU mostra, que mecanismos confiáveis e eficazes de medição e conformidade, são tão importantes quanto os próprios acordos. Até agora, porém, as negociações não incluem um plano específico para responsabilizar os países pelos compromissos e promessas que fazem em nome de seus produtores, exportadores e recicladores de plástico. É claro que isso deve mudar, e rápido.


Problema multinível


A pesquisa publicada esta semana, destaca o problema multinível que os negociadores enfrentam. Pesquisadores encontraram detritos em 77 dos 84 recifes de corais que pesquisaram globalmente. Pedaços maiores de detritos, com mais de 5 centímetros de diâmetro, principalmente equipamentos de pesca descartados ou quebrados, eram mais prevalentes em recifes mais profundos. Isso destaca os complexos trade-offs com os quais os negociadores de tratados terão de lidar, para fornecer uma solução abrangente para o problema dos plásticos. A simples proibição de redes de plástico e outros equipamentos de pesca, pode prejudicar os meios de subsistência. Subsídios ou incentivos podem ser necessários, para permitir que as comunidades que dependem da pesca, deixem de usar equipamentos que causam danos aos recifes profundos.


O estudo de Nava e seus colegas destaca outra faceta de qualquer tratado significativo: obter medições corretas. Os países precisarão discutir e concordar com um padrão ou sistema, de como medir a poluição plástica. Nava desenvolveu um protocolo para categorizar e medir a poluição plástica em amostras de água doce, e aplicou-o a amostras coletadas na superfície de 38 lagos e reservatórios, a maioria deles no Hemisfério Norte. Os autores também coletaram dados sobre o tamanho da população perto de cada lago, a profundidade do lago e quanto da terra que fornece água é urbana. Os plásticos das amostras foram classificados por forma, cor e tamanho, e um subconjunto foi analisado usando métodos espectroscópicos, para identificar a composição química de seus polímeros. Este e outros conhecimentos precisam alimentar as negociações do tratado.


O tratado de plásticos está em um cronograma superalimentado. As negociações começaram em março de 2022, e devem ser concluídas com um texto final em 2024. Se isso acontecer, espera-se que os países incorporem o tratado às leis nacionais em 2025.


Os tratados ambientais geralmente levam de 5 a 15 anos para serem concluídos, e acelerar o processo pode obrigar as nações a se concentrarem no essencial. No entanto, na sessão de negociação mais recente, encerrada no mês passado em Paris, os países passaram a maior parte da semana discutindo (e lutando para chegar a um acordo), sobre como tomariam decisões. Para aderir ao cronograma rápido, as sessões subsequentes precisarão detalhar mais rapidamente. Mas uma desvantagem de uma abordagem acelerada é que há menos tempo para pesquisadores e ativistas influenciarem o processo.

As palestras estão sendo organizadas pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), com sede em Nairóbi. Ele está convidando observadores, incluindo pesquisadores, a fazerem apresentações por escrito até 15 de agosto, antes da publicação do primeiro rascunho do tratado, ou 'rascunho zero'. Os pesquisadores devem aproveitar esta oportunidade para instar os negociadores a estabelecer um grupo de especialistas em medição e conformidade como parte das negociações.


O PNUMA disse à Nature que não há nenhum grupo de especialistas dedicados a analisar medições ou responsabilidades. No entanto, um representante disse que os negociadores “considerarão como outros acordos multilaterais fornecem monitoramento e sugerem melhores práticas”. Estudar como outros acordos gerenciam o monitoramento é importante, mas monitoramento não é a mesma coisa que compliance. Corre-se o risco de, na pressa de cumprir o cronograma, os negociadores se contentarem com um tratado que exige pouco ou nada em termos de cumprimento.


Para que as negociações do tratado sejam bem-sucedidas, os países devem se comprometer a ser responsabilizados. Não ter um grupo nas negociações, encarregado de garantir a medição e conformidade, pode ser um erro caro. O tempo entre agora e a próxima sessão, que será realizada em Nairóbi em novembro, oferece uma oportunidade valiosa e urgente para os pesquisadores fazerem suas vozes serem ouvidas, para que possamos, finalmente, começar a reduzir o impacto da poluição plástica no meio ambiente global.


A fome e a desnutrição não são acidentes, são criados pelas ações das pessoas


Editorial publicado na Nature em 04/07/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que centenas de milhões de pessoas passam fome, porque os conflitos afetam o abastecimento de alimentos. Também há evidências crescentes, de que os produtores de alimentos estão explorando a situação, para aumentar os seus lucros.


Cerca de 200 milhões de pessoas sofrem de insegurança alimentar aguda. Eles incluem alguns no Afeganistão, Burkina Faso, Etiópia, Mali, Sudão e Síria, países que têm algo mais em comum: cada um está passando por um conflito mortal. Essas duas situações, fome e conflito, estão conectadas.


Em relatório apresentado às Nações Unidas em março, o relator especial da organização para o direito à alimentação, Michael Fakhri, disse que a violência e os conflitos são de fato, as principais causas da fome no mundo. Eles também são motivos fundamentais, para que o mundo não esteja no caminho certo para acabar com a fome e a desnutrição até 2030, uma promessa feita por líderes mundiais em uma cúpula da ONU em 2015, como parte dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).


Isso é alarmante por vários motivos. Por um lado, sugere que, a menos que algo seja feito, estamos abandonando centenas de milhões de pessoas à fome severa. Além disso, esforços cruciais para estudar e implementar políticas para acabar com a fome, são prejudicados quando a violência irrompe.


Em setembro, os chefes de governo se reunirão na cidade de Nova York, para decidir o que pode ser feito. Embora a reunião ocorra em um momento de grande tensão entre as potências mundiais, os participantes devem aceitar que o ODS para acabar com a fome não será alcançado, a menos que a violência seja reduzida, ou, pelo menos, a menos que as partes em conflito parem de armar alimentos.


O relatório de Fakhri baseia-se em décadas de estudos, bem como em dados mais recentes de órgãos como o Programa Alimentar Mundial da ONU, e a Organização para Agricultura e Alimentação da ONU. O relatório descreve a relação entre violência em várias formas, incluindo violência sexual e de gênero, e insegurança alimentar. Os conflitos colocam em risco a segurança alimentar quando, por exemplo, as colheitas são destruídas ou o abastecimento de alimentos é interrompido, coisas que aconteceram e continuam a acontecer nas guerras do Mali a Mianmar. Medidas coercitivas, como sanções econômicas internacionais contra países em guerra, também contribuem para a fome. A evidência, de acordo com o relatório, é que as sanções “direcionadas” também prejudicam os sistemas alimentares.


O relatório especial da ONU também mostra como os eventos econômicos globais estão exacerbando a fome e a insegurança alimentar. Os preços dos alimentos dispararam na maioria dos lugares, especialmente nos países de baixa e média renda (LMICs). Nos países ricos, que são membros da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, a inflação dos preços dos alimentos caiu para cerca de 12% em média em abril, mas continua muito mais alta em vários países de baixa e média renda, 81% no Líbano, 27% no Egito e 30,5% no Zimbábue, segundo dados do Banco Mundial, divulgados no mês passado. Isso se deve a fatores como a pandemia de COVID-19 e a invasão russa da Ucrânia. A guerra afetou a oferta global de culturas básicas, antes da invasão, a Rússia e a Ucrânia juntas cultivavam um terço do trigo mundial. O aumento global dos preços da energia, também está afetando a capacidade das famílias mais pobres, de usar o gás e outros combustíveis para cozinhar.


Mas os pesquisadores estão relatando que a inflação dos alimentos também é parcialmente causada pelos produtores, especialmente grandes empresas, que aumentam os preços, para aumentar seus lucros. Os vendedores podem fazer isso, se souberem que um comprador não tem escolha, a não ser pagar mais para obter coisas que não podem prescindir, como comida e combustível, um fenômeno que os pesquisadores chamam de inflação dos vendedores. Essa pode ser uma das razões pelas quais a inflação continua teimosamente alta, especialmente quando se trata de alimentos, e que intervenções como o aumento das taxas de juros, não conseguiram reduzi-la.


Esta é a conclusão de dois documentos de trabalho liderados por Isabella Weber, economista da Universidade de Massachusetts Amherst. Em um estudo de modelagem, publicado em novembro passado, Weber e seus coautores descobriram, que os preços dos alimentos e da energia, são os dois maiores impulsionadores da inflação. Em um estudo subsequente, em fevereiro, os autores amostraram um grupo de empresas americanas nesses setores, e descobriram que, em 2022, os lucros eram responsáveis por tanta inflação quanto os salários, se não mais.


O trabalho de Weber está provocando mudanças em alguns governos, e chamando a atenção de instituições financeiras. O Fundo Monetário Internacional constatou no mês passado, que os lucros corporativos representaram quase metade da inflação na área do euro no ano passado.


Weber está entre os que defendem, que os governos estabeleçam um teto para alguns dos preços, que os produtores podem cobrar. No entanto, muitos economistas acadêmicos, e os governos que eles aconselham, discordam, dizendo que tais controles de preços distorcem os mercados. As pessoas mais pobres são apanhadas no meio deste argumento, sofrendo danos como resultado de preços altos e atrasos nas políticas.


É importante que os pesquisadores continuem a descobrir evidências sobre o que está exacerbando a fome, e como ela pode ser eliminada. Se poderia, por exemplo, estudar mais, como os conflitos afetam a fome em um nível mais granular. Eles poderiam analisar os componentes da inflação, não apenas na Europa e nos Estados Unidos, mas também nos países de baixa e média renda. O economista Amartya Sen demonstrou em seu livro de 1981, Poverty and Famines, que a fome e a desnutrição não são necessariamente o resultado da escassez de alimentos, mas criadas pelas ações e escolhas das pessoas. Os líderes podem cumprir sua promessa de ODS de que a fome e a desnutrição devem acabar, ou podem continuar a visar a comida em conflitos. Ambos são escolhas, como diz Fakhri, e não resultados predeterminados.


As cidades devem proteger as pessoas do calor extremo


Editorial publicado na Nature em 14/07/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que a onda de calor norte-americana destaca a necessidade de os planejadores urbanos visarem o calor extremo, ao projetar estratégias de adaptação climática.


A onda de calor do mês passado, quebrou recordes de temperatura no oeste dos Estados Unidos e no Canadá. Em 29 de junho, a vila canadense de Lytton atingiu quase 50 °C, um aumento surpreendente de quase 5 °C, em relação à alta nacional anterior. Um dia depois, o fogo queimou a maior parte de Lytton, matando duas pessoas. Em outros lugares, as cidades de Vancouver, Portland e Seattle, viram centenas de pessoas morrerem durante a mesma onda de calor de três dias.


À medida que as temperaturas globais aumentam, os riscos de calor extremo, definidos como períodos em que as temperaturas de uma região são anormalmente altas em comparação com a média, também aumentam. O calor sempre representou uma ameaça à vida urbana, com superfícies que absorvem calor, como o asfalto, fazendo o mercúrio subir. Mas a mudança climática significa, que as ondas de calor agora acontecem com mais frequência e são mais intensas, do que no passado. Este é um dos riscos mais subestimados das mudanças climáticas. Os pesquisadores dizem que a onda de calor do noroeste do Pacífico, por exemplo, teria sido “virtualmente impossível”, na ausência do aquecimento global induzido pelo homem.


E embora o calor possa matar em qualquer lugar, o risco é maior nas cidades. Um estudo apresentado em uma conferência em dezembro passado, estima que a exposição das pessoas ao calor extremo em mais de 13.000 cidades, mais do que dobrou entre 1983 e 2016. Outro estudo publicado no ano passado estimou, que as temperaturas do ar em duas cidades, Jacobabad no sul do Paquistão e Ras al khaimah nos Emirados Árabes Unidos, já ultrapassaram os limites de sobrevivência do corpo humano em seus dias mais quentes e úmidos.


Pesquisadores do clima há muito alertam, que o aquecimento global torna as ondas de calor como a observada na América do Norte deste ano, muito mais prováveis. Isso significa que os planejadores urbanos devem trabalhar mais para incorporar o calor extremo às estratégias de adaptação climática.


Algumas autoridades de cidades, vêm se preparando para tal cenário. Veja Ahmedabad, no oeste da Índia. Após uma onda de calor devastadora em 2010, a cidade desenvolveu um plano de ação com três elementos: aumentar a conscientização sobre como as pessoas podem se proteger do calor extremo; criar um sistema de alerta precoce para quando os meteorologistas previrem uma onda de calor; e treinar a equipe médica para reconhecer e tratar melhor as pessoas que sofrem de calor extremo. Uma estimativa sugere que o programa salvou 1.190 vidas por ano, e uma abordagem semelhante foi implementada em mais de uma dúzia de outras cidades na Índia.


Outra ideia conhecida como 'telhados frios', que são pintados de branco ou cobertos com materiais refletores de energia que absorvem menos calor, podem reduzir as temperaturas dentro dos edifícios em 2–5 °C, quando comparados com telhados convencionais.


Mas essas soluções climáticas precisam ser implementadas de forma eficaz e eficiente em escala urbana, para que tenham algum impacto significativo. E para que isso aconteça, os governos precisam exigir que a indústria da construção, incorpore a mitigação do calor em seus projetos de construção, por meio de programas de certificação de edifícios verdes. A provisão de subsídios para edifícios verdes também é uma opção. Em Barcelona, ​​​​Espanha, por exemplo, as autoridades estão subsidiando 75% dos custos, de 10 novos projetos de telhados verdes na cidade.


Ao mesmo tempo, as cidades devem direcionar os esforços de mitigação do calor, para os mais afetados por ele. Isso inclui pessoas em bairros de baixa renda, que, historicamente, muitas vezes foram privados de parques, ruas arborizadas e outros espaços verdes, que são um componente comum de áreas mais ricas.


Os cientistas também descobriram, correlações chocantes entre raça e exposição ao calor, em cidades dos Estados Unidos. Estudos mostram que as políticas urbanas históricas, deixaram as comunidades de cor em maior risco de doenças ou morte, relacionadas ao calor do que as pessoas em bairros predominantemente brancos.


Corredores frios


Um pioneiro neste conceito de 'equidade de calor' é Paris, onde as autoridades estão construindo uma rede de 'ilhas de resfriamento' em toda a cidade, que inclui espaços como parques e piscinas, ligadas por passarelas frias. Enquanto isso, Medellín, na Colômbia, tem como alvo o plantio de árvores em áreas de baixa renda da cidade; mais de 10.000 árvores foram plantadas ao longo de 36 'corredores verdes', resultando em uma redução de 2 °C nas temperaturas da superfície. Funcionários do governo devem continuar acompanhando os resultados de tais experimentos, e fazer uso das melhores evidências disponíveis para tornar suas cidades mais verdes.


Esta semana, os prefeitos de 31 cidades da rede global C40, de cidades que trabalham para combater as mudanças climáticas, se comprometeram a garantir que, até 2030, 70% dos moradores da cidade possam chegar a um espaço público verde ou azul, com no máximo 15 minutos a pé ou de bicicleta. Os check-ins anuais de responsabilidade, devem garantir que o verdadeiro progresso seja feito nessa meta ambiciosa.


Em todos os casos, os governos municipais e regionais, devem organizar melhor seus esforços de combate ao calor. Não é viável reagir ao calor depois de uma ocorrência, porque se torna tarde demais. Numa delas, no momento em que os hospitais estavam superlotados com pessoas afetadas por insolação, e as redes elétricas falharam sob o peso da demanda por ar-condicionado, os médicos legistas estavam contando os corpos. Toda morte por calor é evitável, se uma pessoa puder acessar sombra, água ou outros meios de resfriamento.


À medida que enfrentamos um futuro com ondas de calor mais longas, mais quentes e mais frequentes, as cidades devem aumentar seu planejamento para o calor extremo. Ele precisa estar em pé de igualdade com os preparativos para outros desastres, como terremotos, inundações e furacões. Isso se aplica não apenas às cidades tropicais, mas também às de clima temperado. Afinal, quem teria sinalizado o calor como um importante fator de risco para Vancouver, a uma latitude de mais de 49 graus ao norte? No entanto, após a onda de calor mortal de junho, as autoridades da cidade agora estão trabalhando para incorporar o calor extremo em seus planos de emergência. É o único caminho a seguir.


O El Niño está aqui, mas quão ruim isso será?


Artigo publicado na Nature em 29/06/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que o forte padrão climático desencadeado por ele, poderá levar as temperaturas globais a recordes.


Logo após um padrão climático global de La Niña de três anos, o planeta parece estar caminhando para o que poderia ser um forte evento El Niño, com consequências mundiais.


Este El Niño pode ser moderado. Mas alguns cientistas temem que possa ser poderoso, e meteorologistas e funcionários de preparação para emergências, já estão se preparando para possíveis inundações e secas, e a possibilidade de que as temperaturas planetárias possam atingir novos recordes. A Organização Mundial da Saúde alertou que o novo El Niño pode alimentar a propagação de doenças transmitidas por mosquitos, como zika e chikungunya. Um padrão de El Niño de águas quentes do oceano, já foi implicado no grave surto da doença viral de dengue no Peru.


Calor rastejante


Durante um evento El Niño, que se repete a cada dois a sete anos, os ventos alísios diminuem acima do Oceano Pacífico tropical, permitindo que as águas mais quentes viajem para o leste, através do Pacífico equatorial.


A Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica dos EUA (NOAA) declarou em 8 de junho, a chegada de um El Niño, e espera-se que se fortaleça gradualmente nos próximos meses. Outras agências meteorológicas ainda não declararam oficialmente um El Niño, porque dependem de diferentes índices para definir seu início, mas muitos disseram que deve começar em breve. O Bureau of Meteorology da Austrália, por exemplo, emitiu um alerta em 6 de junho, de que o El Niño provavelmente se desenvolveria.


As condições do El Niño surgiram apenas alguns meses depois que seu padrão oposto, o La Niña, diminuiu nos primeiros meses de 2023. “Foi uma transição rápida”, diz Emily Becker, cientista do clima da Universidade de Miami, na Flórida. “Mas isso não é incomum quando o La Niña é seguido pelo El Niño.” Esse La Niña durou raros três anos.


Até agora, o nascente El Niño parece que será um evento moderado a forte, com base em quanto aquecimento foi observado nas águas do Pacífico tropical centro-leste. “Acho que este vai ser bem grande”, diz Mickey Glantz, cientista social da Universidade do Colorado em Boulder, que estuda os impactos do El Niño.


O El Niño aquece algumas regiões do planeta mais do que o normal. Isso significa que o crescente El Niño, se se tornar severo o suficiente, também pode ajudar a empurrar as temperaturas globais para recordes ou quase recordes em 2024. O ano mais quente já registrado foi 2016, em parte graças a um poderoso El Niño.


Seca aqui, inundação ali


Enquanto isso, as autoridades estão se preparando para uma série de impactos, incluindo a seca na Austrália e partes do sudeste da Ásia, além do aumento das chuvas em regiões como o Chifre da África e a Ásia Central. As fortes chuvas podem inundar as terras agrícolas, reduzindo a produção, enquanto a seca prejudica as colheitas. Na Indonésia, que provavelmente experimentará condições mais secas do que o normal, o governo assinou recentemente um acordo com a Índia, para poder importar arroz em caso de emergência.


Mesmo em sua infância, este El Niño está afetando a saúde humana. As condições semelhantes ao El Niño nas costas do Peru e do Equador, trouxeram chuvas torrenciais para a região no início deste ano. As inundações resultantes, combinadas com as chuvas de um ciclone tropical em março, permitiram que mais mosquitos se reproduzissem e transmitissem doenças virais, incluindo a dengue. No Peru, mais de 150 pessoas morreram no surto de dengue deste ano.


Isso não é tudo por causa do El Niño: muitos fatores, incluindo a falta de controle do mosquito, podem afetar a magnitude de um surto. “Não se trata apenas desse problema de saúde”, diz Ivan Ramírez, geógrafo da Universidade do Colorado em Denver.

“É que aquele problema de saúde faz parte de um contexto mais amplo.” Vários surtos de doenças infecciosas podem se combinar com os riscos recorrentes do El Niño, para criar uma situação complexa para os especialistas em saúde pública administrarem, diz ele.


Assaf Anyamba, geógrafo do Oak Ridge National Laboratory, no Tennessee, está de olho neste ano em casos de doenças como dengue e chikungunya no sudeste da Ásia, onde os impactos do El Niño podem ser particularmente fortes. Ele também está observando o leste da África, onde os El Niños estão associados a surtos de febre do Vale do Rift e outras doenças. Durante o último grande El Niño, em 2015 e 2016, Anyamba e seus colegas registraram surtos de doenças em todo o mundo, nas áreas mais afetadas. “A ideia é que o El Niño amplifica ou diminui as condições em diferentes locais”, diz ele.


Todos esses impactos estão ocorrendo no cenário de um planeta em aquecimento. “Seja este El Niño forte ou não, uma atmosfera mais quente pode exacerbar muitos dos efeitos”, diz Nandini Ramesh, cientista do clima da organização nacional de pesquisa australiana CSIRO, em Sydney. “Ondas de calor, incêndios florestais ou ciclones tropicais, por exemplo, são mais intensos e prejudiciais em um mundo em aquecimento”.


Nossos ancestrais humanos comeram uns aos outros? Osso esculpido oferece pistas


Artigo publicado na Nature em 26/06/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que uma perna hominina fossilizada mostra cortes que, provavelmente, foram feitos por ferramentas de pedra.


Um osso fossilizado da perna com marcas de corte feitas por ferramentas de pedra pode ser a evidência mais antiga de que os humanos antigos massacravam e comiam a carne uns dos outros.


O osso de hominídeo de 1,45 milhão de anos, descrito no Scientific Reports em 26 de junho, apresenta cortes semelhantes a marcas de açougue encontradas em ossos de animais fossilizados da mesma época. Os arranhões estão localizados em um local propício para a retirada do músculo, sugerindo que foram feitos com a intenção de esquartejar a carcaça para alimentação.


“A conclusão mais lógica é que, como os outros animais, este hominídeo foi abatido para ser comido”, diz a coautora do estudo Briana Pobiner, paleoantropóloga do Smithsonian Institution em Washington DC. A descoberta foi “chocante, honestamente, e muito surpreendente, mas muito emocionante”, acrescenta ela.


Cortes, não mordidas?


Pobiner estava examinando uma coleção de fósseis nos Museus Nacionais do Quênia em Nairóbi – em busca de marcas de mordidas de animais – quando encontrou marcas lineares inesperadas de alguns milímetros de comprimento no fóssil de uma tíbia pertencente a uma espécie de hominídeo não identificada.


Pobiner concluiu que os cortes não pareciam mordidas de animais, mas se assemelhavam aos conhecidos por serem feitos por ferramentas de pedra.


Ela tirou impressões das características, e as comparou com um banco de dados de quase 900 marcas feitas em ossos modernos, usando uma variedade de métodos, preparados por seus colegas. Os pesquisadores concluíram que 2 das 11 marcas eram de mordidas de leão, mas que as outras 9 foram feitas por ferramentas de pedra, sugerindo que um indivíduo poderia estar massacrando outro. Os autores descartaram outros processos de corte, como desgaste ou manchas deixadas por pessoas, que manusearam o osso depois que ele foi descoberto; a cor das marcas coincide com a da superfície do osso, indicando que são da mesma idade, diz Pobiner.


Evidências anteriores de carnificina entre hominídeos foram encontradas em locais na Europa e na África. Isso inclui cortes em um crânio de hominídeo encontrado na África do Sul, que data de 1,5 milhão a 2,6 milhões de anos atrás, embora haja discordância entre os pesquisadores sobre a idade do fóssil e a origem das marcas.


Comedores de carne


O contexto e a posição dos arranhões na tíbia são importantes para entender por que eles podem ter sido feitos, diz Jessica Thompson, paleoantropóloga da Universidade de Yale em New Haven, Connecticut.


Análises anteriores em outros sítios arqueológicos descobriram, que a carne poderia ter sido removida dos ossos por razões ritualísticas ou funerárias, nas antigas sociedades homininas. Mas esses comportamentos ainda não foram observados em hominídeos encontrados no Quênia, por volta do início do período Pleistoceno. Além disso, as marcas estão localizadas no início do músculo poplíteo da perna, próximo à panturrilha. Para fazer essa goiva, o cortador deve primeiro remover o músculo gastrocnêmio maior, provavelmente uma boa fonte de carne.


Se as marcas de corte são resultado da carnificina dos primeiros humanos, não é possível dizer se são um exemplo de canibalismo, porque a espécie da tíbia é desconhecida. Ainda assim, as descobertas oferecem informações sobre o comportamento humano antigo, como os hábitos de coleta de alimentos.


“Esta descoberta representa mais do que simplesmente uma história estranha de um evento infeliz e ocorrido há muito tempo”, diz Thompson. “Isso sugere que hominídeos usando ferramentas de pedra para massacrar e consumir outros hominídeos, aconteciam como uma parte típica da vida de nossos ancestrais”.


Zeresenay Alemseged, paleoantropólogo da Universidade de Chicago, Illinois, adverte que essas conclusões vêm de apenas um fóssil. Pesquisas que analisam fósseis existentes e novos, esclareceriam se os primeiros hominídeos exibiam esse tipo de comportamento, diz ele. “As evidências são tão esporádicas neste momento que tudo o que estamos fazendo é conectar os pontos”, diz Alemseged. “Estamos tentando entrar no cérebro dos primeiros hominídeos, o que significa que será muito complexo”.



As promessas de metas de emissões líquidas zero de carbono estão crescendo, mas quão sérias elas são?


Comentário publicado na Nature em 20/06/2023, onde uma pesquisadora britânica afirma que governos e empresas estão se comprometendo a reduzir e combater as emissões de carbono, mas faltam estratégias robustas para atingir seus objetivos.


O número de países, regiões, cidades e empresas em todo o mundo, que estabeleceram metas para atingir emissões líquidas zero de carbono, aumentou significativamente nos últimos dois anos, mas faltam as estratégias necessárias para cumprir essas promessas.


Esta é a conclusão do Net Zero Stocktake 2023, um relatório compilado pelos pesquisadores do clima que dirigem o Net Zero Tracker, uma colaboração que visa aumentar a responsabilidade das promessas de emissões zero.


O rastreador mantém a contagem de entidades de diferentes tamanhos, incluindo nações, regiões e empresas, que se comprometeram a garantir que, até 2050, quaisquer emissões de gases de efeito estufa que façam sejam zero, ou completamente equilibradas por mecanismos de remoção. O rastreador também avalia, se os compromissos têm peso legal. O levantamento é o terceiro exercício desse tipo realizado pelo grupo nos últimos três anos.


A análise mais recente mostra que, a proporção de países com promessas de emissões zero, que são aplicadas por lei ou em um documento de política de peso, saltou de 7% em dezembro de 2020 para 75%. “Isso mostra que os governos veem as ações em direção ao emissões zero, como críticas para o longo prazo”, diz Malango Mughogho, ex-membro de um grupo net-zero das Nações Unidas.


Falta de planos


O balanço se concentra na qualidade ou integridade das medidas implementadas para cumprir as promessas. “Observamos os dados e vimos tão pouco movimento na integridade”, diz John Lang, que lidera o Net Zero Tracker em Londres. Eles compararam as promessas e o progresso, com os requisitos estabelecidos na campanha Race to Zero da ONU.


O esquema Race to Zero descreve um conjunto de critérios chamado de 'linha de partida', que é o "requisito mínimo de procedimento para uma promessa decente", diz Lang. Os critérios incluem ter um compromisso, plano e evidências publicadas de ações tomadas para atingir a meta.


A maioria dos estados, regiões ou cidades que fizeram promessas, não cumpriu os critérios da linha de partida. “Não vimos nenhum movimento” em quase todos os casos, diz Lang.


“A entrega está no centro da rede zero”, diz Mughogho. Ela acrescenta que a criação de regulamentos justos sobre metas líquidas zero em todo o mundo nos níveis de cidades, regiões, empresas e instituições financeiras, pode ser uma das medidas mais fáceis de implementar. "É um acéfalo", diz ela. O painel da ONU sobre mudanças climáticas realizará seu primeiro balanço global do progresso em direção às metas do Acordo de Paris, antes da reunião do clima COP28 em novembro. Mughogho diz que isso ajudará a refinar a compreensão das ações que governos e empresas estão realizando.


O balanço líquido zero pela primeira vez analisa os planos das entidades para eliminar gradualmente os combustíveis fósseis. Das 114 empresas de combustíveis fósseis avaliadas, 67% têm promessas líquidas zero. Mas nenhum tem um plano para eliminar completamente o petróleo e o gás. Isso não se alinha com o consenso científico ou político, dizem os autores.


“Não estamos pedindo que fechem a torneira da noite para o dia”, diz Lang, acrescentando que todas as entidades, não apenas as empresas que analisaram, precisam ter um plano para um declínio gerenciado no uso de combustíveis fósseis nos próximos 30 ou 40 anos. Esses planos ainda não estão em vigor. O grupo espera coletar dados mais abrangentes sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis em todas as entidades que acompanham nos próximos meses.



A saúde humana depende da prosperidade dos oceanos


Comentário publicado na The Lancet em 07/06/2023, em que pesquisadores australianos afirmam que oceanos saudáveis, desde águas costeiras até mares remotos e áreas profundas do fundo do mar, são essenciais para a saúde, bem-estar e sobrevivência humana. Cobrindo mais de 71% da superfície da Terra, os oceanos servem como um sumidouro de carbono essencial.


Os oceanos também regulam os riscos à saúde humana, associados ao clima entre a terra e o mar, variando de lesões diretas e mortes, associadas a eventos climáticos extremos a efeitos negativos na segurança alimentar e nutricional, e até mesmo doenças crônicas (por exemplo, câncer) decorrentes da poluição oceânica.


Além disso, os oceanos são uma fonte de alegria, recreação, bem-estar espiritual e mental, cura e entretenimento, enriquecendo a vida humana além de suas necessidades básicas. Embora se saiba mais sobre as áreas próximas à costa, é claro que o mar profundo (ou seja, o fundo do mar além da jurisdição nacional), e o alto mar (ou seja, as partes dos oceanos fora da jurisdição nacional), compreendendo 64% da superfície do oceano e quase 95% do seu volume, são igualmente importantes para a saúde humana e são cada vez mais afetados pelas mudanças ambientais globais.


O papel do alto mar para a saúde humana e dos ecossistemas, tem atraído a atenção da comunidade internacional há mais de 20 anos. Em março de 2023, um Projeto de Acordo sobre Biodiversidade Além da Jurisdição Nacional, o Tratado do Alto Mar, foi finalizado pela ONU. Este Tratado é um instrumento pioneiro para a gestão da biodiversidade em áreas fora da jurisdição nacional.


Este Acordo chega em um momento em que os efeitos sobre a saúde humana decorrentes do nexo oceano-clima são exacerbados pelo aumento do aquecimento dos oceanos, ondas de calor, acidificação dos oceanos e desoxigenação, e nas áreas costeiras, pela elevação do nível do mar e intrusão da água do mar. Por exemplo, o aumento do nível do mar e a intrusão da água do mar, estão contribuindo diretamente para a perda de vidas e danos em estados insulares no Caribe e no Pacífico.


Esses efeitos na saúde humana, ocorrem tanto em países de alta quanto em baixa renda, mas afetam desproporcionalmente os países de baixa renda, particularmente os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, e os países menos desenvolvidos (conforme definido pela ONU).


Essas regiões, que já são fisicamente vulneráveis aos efeitos induzidos pelo clima, dependem fortemente dos oceanos para suas economias e segurança alimentar, enfatizando o papel crucial dos frutos do mar e outros recursos oceânicos. Outras comunidades costeiras em todo o mundo, bem como estados sem litoral, são cada vez mais afetados, à medida que os efeitos do clima nos oceanos globais, se tornam mais severos, devido à crescente incapacidade do oceano de acomodar o carbono e o calor gerados pelas atividades humanas. A pesquisa publicada em 2023 mostrou, que a onda de calor marinha de 2013 a 2016, aqueceu as águas em todo o nordeste do Pacífico, interrompendo substancialmente os ecossistemas marinhos, deprimindo a pesca do salmão e prejudicando a pesca comercial.


A biodiversidade oceânica produz alimentos essenciais, medicamentos e até potenciais substitutos do plástico. Ambientes azuis acessíveis e saudáveis, podem proteger e melhorar a saúde física e o bem-estar mental.


O alto mar abriga rica biodiversidade, oferecendo benefícios para a saúde humana (por exemplo, recursos genéticos marinhos [MGRs] para produtos farmacêuticos e inovações biotecnológicas). Aproveitar a biodiversidade do alto mar (especialmente MGRs para avanços médicos e outros), está ganhando força rapidamente, à medida que os organismos marinhos mostram seu importante valor medicinal (por exemplo, a esponja Halichondria okadai é uma fonte da droga anticancerígena eribulina).


A importância dos MGRs para futuras melhorias na saúde humana, (por exemplo, abordando zoonoses como a COVID-19) é um ponto forte notável do Projeto de Acordo. Os MGRs são uma das quatro áreas temáticas do Projeto de Acordo, que prevê o acesso justo e equitativo e a distribuição de benefícios de saúde decorrentes de novas descobertas. Este tema também promove a capacitação e a transferência de tecnologia marinha (CBTMT), outro dos principais objetivos do Projeto de Acordo.


Como um novo aliado na promoção do oceano para a saúde humana, o Projeto de Acordo faz referências frequentes aos povos indígenas e comunidades locais no texto. Essa inclusão deve facilitar sua participação ativa na elaboração de estratégias sensíveis ao contexto, para a conservação da biodiversidade marinha em alto mar. Na prática, essa inclusão pode ser alcançada pela integração de múltiplos sistemas de conhecimento na coprodução de avaliações de impacto e processos de tomada de decisão.


Além disso, garantir que todas as partes interessadas do oceano, compartilhem os benefícios dos recursos marinhos de forma equitativa, (inclusive da pesca sustentável e da bioprospecção) incentivará sua participação ativa, contribuindo para os objetivos de conservação e bem-estar socioeconômico.


O bem-estar dos povos indígenas e das comunidades locais, também se beneficiará da aplicação de medidas de gestão baseadas na área, (por exemplo, áreas marinhas protegidas) que auxiliam na preservação da história e práticas culturais. O papel da cultura, inclusive por meio do manejo sustentável de espécies marinhas migratórias, com as quais muitas comunidades mantêm conexões profundas, é agora entendido como axiomático para sustentar o oceano e a saúde humana.


O Projeto de Acordo requer a ratificação por 60 estados membros da ONU, para se tornar um tratado funcional para a conservação da biodiversidade, estabelecendo áreas marinhas protegidas, e encorajando a transparência e o compartilhamento de benefícios. O sucesso do Projeto de Acordo, no entanto, depende de uma combinação de ação nacional, regional (no caso de avaliação ambiental estratégica transfronteiriça) e internacional, e o envolvimento de partes interessadas, incluindo profissionais médicos e de saúde pública, que possam enfatizar sua importância para a saúde humana (por exemplo, aplicando as perspectivas de saúde planetária, One Health e Healthcare Ocean).


Embora o Projeto de Acordo, sirva como um canal crucial para integrar a gestão existente do alto mar para melhorar a saúde humana em todos os setores e regiões, ele não é isento de limitações. O Projeto de Acordo deve navegar pelas estruturas globais pré-existentes, que regulam a pesca e a mineração em alto mar, ao mesmo tempo, em que equilibra potencialmente a abordagem baseada no estado, e orientada a procedimentos para as obrigações de Avaliação de Impacto Ambiental, que podem deixar mais liberdade aos estados membros, que buscam as atividades propostas. A defesa enfatizando a importância do Tratado para a saúde humana, pode ajudar a navegar por essas estruturas e ajudar na ratificação.


As ligações entre a saúde humana e os oceanos são um desafio global, que exige atenção urgente e exige uma abordagem preventiva para manter a integridade desses ecossistemas como parte do funcionamento vital do nosso planeta. Os oceanos unem as pessoas em todo o mundo, e exigem uma resposta coletiva na sua gestão e conservação. Devemos reunir diversas partes interessadas (por exemplo, profissionais de saúde, ambientalistas, organizações não governamentais, governos, advogados, empresas, povos indígenas e comunidades locais) para permitir a verdadeira saúde planetária, e um futuro mais saudável e equitativo, entrelaçado com a saúde de nossos oceanos.


Quando o aquecimento global realmente atingirá o limite histórico de 1,5 ºC?


Comentário publicado na Nature em 19/05/2023, em que pesquisadores americanos afirmam que o planeta está a caminho de atingir a média de 1,5 ºC na década de 2030, embora um novo relatório sugira, que um único ano provavelmente cruzará a linha muito antes.


Há 66% de chance, de que a temperatura média global anual atinja 1,5 ºC acima das temperaturas pré-industriais, em algum momento nos próximos cinco anos, de acordo com um relatório da Organização Meteorológica Mundial, divulgado em 17 de maio. Atingir 1,5 ºC de aquecimento em um único ano, será um momento marcante para o planeta, que em 2022 foi cerca de 1,15 ºC mais quente, do que em tempos pré-industriais. Mas não é exatamente o marco que a maioria das pessoas quer dizer quando fala em 1,5 ºC de aquecimento, para isso, provavelmente ainda temos cerca de uma década.


O famoso valor de 1,5 ºC, amplamente citado como o “máximo” desejado para o aquecimento planetário, decorre do acordo de Paris das Nações Unidas de 2015, sobre as mudanças climáticas. Este tratado declarou o objetivo de manter a temperatura média global bem abaixo de 2 ºC acima dos níveis pré-industriais, com um limite preferencial de 1,5 ºC.


O acordo de Paris, no entanto, refere-se a uma média planetária sustentada de 1,5 ºC de aquecimento, não apenas a média de um único ano, que por si só, poderia ser anormalmente mais quente ou mais frio do que a média de longo prazo. O acordo de Paris não especificou exatamente o que significava 1,5 ºC de aquecimento, mas o mais recente relatório do primeiro grupo de trabalho do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em 2021, esclarece que significa o ponto médio do primeiro período de 20 anos, em que a temperatura média do ar na superfície global é 1,5 ºC mais quente do que a média de 1850-1900.


Em 2018, um relatório especial do IPCC sobre 1,5 ºC de aquecimento estimou, que o mundo provavelmente atingiria o limite de 1,5 ºC em algum momento entre 2030 e 2052. Em 2021, usando uma metodologia diferente, que havia sido fixada no início dos anos 2030. “O prazo está cada vez mais próximo”, diz o geógrafo William Solecki, da City University of New York, autor do relatório especial do IPCC.


Um enorme "balanço global" de progresso de dois anos sobre os objetivos do acordo de Paris está terminando agora, e será apresentado na próxima reunião da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28), que começará em 30 de novembro. Até agora, o balanço descobriu que as coisas não estão indo bem. Para uma chance de 50% de limitar o aquecimento a 1,5 ºC, observa um relatório de reunião de balanço, as emissões globais de gases de efeito estufa precisam atingir o pico antes de 2025; isso ainda não aconteceu e os compromissos nacionais de emissões, não são suficientes para manter o planeta dentro da meta.


Quanto mais baixo melhor


O número de 1,5 ºC foi escolhido na tentativa de limitar a severidade dos impactos do aquecimento, levando em consideração fatores como segurança alimentar e eventos climáticos extremos. No entanto, os especialistas do IPCC enfatizaram, que 1,5 ºC não deve ser visto como um “guarda-corpo” abaixo do qual tudo estaria bem, e observaram que qualquer que seja a temperatura em que o aquecimento do mundo atinge o pico, quanto menor, melhor. “Obviamente há um continuum”, diz Solecki. “Quanto mais alta a temperatura, pior o resultado.”


O relatório do IPCC de 2018 sobre 1,5 ºC de aquecimento observa, que os efeitos de atingir esse limite podem incluir: dias extremamente quentes em latitudes médias que são 3 ºC mais quentes do que em tempos pré-industriais; aumento do nível do mar de até três quartos de metro até 2100; a perda de mais da metade do habitat viável para 8% das plantas e 4% dos vertebrados; e uma diminuição nas capturas anuais da pesca global de 1,5 milhão de toneladas.


O relatório também observa que, como o aquecimento global é desigual, mais de um quinto da população mundial vive atualmente em regiões que já ultrapassaram 1,5 ºC de aquecimento em pelo menos uma estação.


Mais importante do que quando a Terra atingirá 1,5 ºC de aquecimento, é a quantidade de aquecimento em que o planeta atingirá o pico e quando isso acontecerá. “A cada décimo de grau acima de 2 ºC, você observa impactos mais sustentados e sistêmicos”, diz Solecki.


Esses números não serão aparentes por décadas. De acordo com as projeções de temperatura global do IPCC para 2021 em diferentes cenários de emissões, o pico de temperatura pode ser de 1,6 ºC por volta de 2050 (se o globo atingir zero emissões líquidas até então), caindo para 1,4 ºC em 2100; para, com emissões ainda subindo, 4,4ºC em 2100, com o pico ainda por vir.


Os próximos anos podem trazer um pico anormalmente alto nas temperaturas anuais, em comparação com a média de longo prazo, graças a um evento esperado do El Niño, um padrão climático natural que traz temperaturas mais quentes para o leste do Oceano Pacífico, e que tende a aquecer o planeta como um todo. Em abril, o Carbon Brief, um site que relata questões climáticas, estimou que 2023 estava se preparando para ser um dos seis anos mais quentes já registrados, provavelmente o quarto mais quente. E em abril, o oceano global atingiu a temperatura mais quente desde o início dos registros.


O oceano está mais quente do que nunca: o que acontece a seguir?


Artigo publicado na Nature em 10/05/2023, em que pesquisadores americanos comentam que a temperatura recorde, combinada com um El Niño antecipado, pode devastar a vida marinha e aumentar as chances de condições climáticas extremas.


O oceano global atingiu um novo recorde de temperatura de 21,1 ºC no início de abril, 0,1 ºC acima do último recorde em março de 2016. Embora impressionante, o número está em linha com o aquecimento do oceano previsto desde as Alterações Climáticas. O que é notável é sua ocorrência antes, e não durante, o evento climático El Niño, que deve trazer um clima mais quente e úmido para a região do Pacífico oriental, ainda este ano.


Isso significa que as temperaturas oceânicas mais quentes do que a média, provavelmente persistirão ou até se intensificarão, trazendo consigo climas mais extremos e ondas de calor marinhas, que representam problemas para a vida marinha, de corais a baleias.


“Provavelmente estamos olhando para uma série de recordes no próximo ano”, diz Josh Willis, oceanógrafo do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA em Pasadena, Califórnia. “O ano que vem será um passeio selvagem, se o El Niño realmente decolar.”


O El Niño Oscilação Sul (ENSO) é um padrão climático natural e cíclico. Durante a fase do El Niño, os ventos sobre o Pacífico são enfraquecidos ou revertidos, permitindo que as águas quentes se desloquem para o leste no Pacífico. O El Niño tende a coincidir com os anos mais quentes, tanto no oceano quanto na terra. O recorde anterior de 21,0 ºC, por exemplo, ocorreu durante um El Niño fortíssimo.


O ENSO está atualmente em uma fase neutra, saindo de um raro período prolongado de três anos de La Niña (fase oposta ao El Niño). Mas o El Niño deve começar este ano: de acordo com a Organização Meteorológica Mundial, há 60% de chance de ocorrer entre maio e julho, e até 80% de chance de acontecer até outubro.


Retorno do 'Blob'


Andrew Leising, oceanógrafo do Southwest Fisheries Science Center da Administração Nacional Oceanográfica e Atmosférica dos EUA (NOAA) em La Jolla, Califórnia, espera ver águas excepcionalmente quentes no Pacífico, na costa oeste dos Estados Unidos, durante o verão e o outono. Se o El Niño se desenvolver conforme o esperado, acrescenta, “isso pode criar uma situação como 2014 a 2015, quando fomos atingidos pela onda de calor “Blob”, uma onda de calor marinha particularmente grande e prejudicial.


As ondas de calor marinhas podem ser devastadoras para a vida selvagem e para a pesca. Grandes ondas de calor na costa do Pacífico dos EUA, tendem a comprimir a zona habitável para muitas espécies em uma faixa estreita ao longo da costa, diz Leising. Isso pode aproximar as baleias da costa enquanto elas perseguem comida, o que pode aumentar os choques com navios, e o emaranhamento em equipamentos de pesca. Quando as águas quentes batem contra a costa, ele acrescenta, elas podem abrigar a proliferação de algas nocivas que impedem a pesca de caranguejos e mexilhões. Mas, no momento, diz Leising, há uma ressurgência excepcionalmente forte de água fria ocorrendo ao longo da costa oeste dos EUA, o que pode proteger contra algum aquecimento este ano.


Antes da temperatura oceânica recorde de abril, algumas regiões do Hemisfério Sul experimentaram ondas de calor marinhas, começando em fevereiro, diz Huang, entre elas, as águas da costa do Peru e do Oceano Antártico.


Águas excepcionalmente quentes trazem estresse especial para os corais. Quase todas as regiões de coral estão experimentando temperaturas notavelmente altas, diz Matthew England, oceanógrafo físico da Universidade de New South Wales, em Sydney, Austrália. “O que estamos vendo agora para os recifes de coral é que eles estão sendo levados a temperaturas extremas, e não conseguem crescer novamente porque não voltam a temperaturas mais baixas”.


O último ano recorde de temperatura oceânica em 2016 coincidiu com um evento incomum de branqueamento global de corais, apenas o terceiro que já aconteceu. Os corais branqueados, que expeliram as algas que lhes dão a cor, têm uma saúde pior e muitos morrem.


“É bastante provável que possamos esperar outro evento global de branqueamento este ano”, diz Christian Voolstra, que estuda corais na Universidade de Konstanz, na Alemanha. Mesmo que um El Niño não se instale neste ano, acrescenta, acontecerá em breve. “São más notícias, não importa o quê.”


Planeta em aquecimento


As águas quentes também são fisicamente menos capazes de reter o oxigênio dissolvido, aumentando o estresse para a vida marinha. “Com o aquecimento e a desoxigenação dos oceanos, os habitats disponíveis para muitas espécies estão diminuindo”, diz William Cheung, biólogo marinho da University of British Columbia, em Vancouver.


E as altas temperaturas oceânicas podem desencadear condições meteorológicas extremas. As águas excepcionalmente quentes do Peru este ano, ajudaram a alimentar chuvas intensas e o ciclone tropical Yaku, a primeira tempestade desse tipo a atingir a área em décadas.


O aumento da temperatura oceânica, registrado pela NOAA e provavelmente o mais alto em mais de 100.000 anos, coincide com outras tendências de aquecimento. Por exemplo, no hemisfério sul, a extensão do gelo marinho atingiu uma nova mínima histórica em fevereiro de 2023. O oceano absorve cerca de 90% do calor extra no sistema climático resultante do aquecimento global. Mas como é preciso mais energia para aquecer a água do que o ar, a temperatura da água na superfície está subindo mais lentamente do que a temperatura do ar na superfície.


“Isso não teria acontecido sem a mudança climática”, disse Jens Terhaar, um modelador biogeoquímico oceânico da Woods Hole Oceanographic Institution em Massachusetts, em resposta à notícia do novo recorde de temperatura. “Estamos em um novo estado climático, os extremos são o novo normal.”


Três políticas climáticas que o G7 deve adotar para si e para o resto do mundo


Editorial publicado na Nature em 16/05/2023, onde um pesquisador americano comenta que ao assumir a liderança em ações climáticas inovadoras, as sete economias mais ricas do mundo, podem criar um círculo virtuoso para ajudar o planeta a descarbonizar mais rapidamente.


Esta semana, os líderes das economias do Grupo dos Sete (G7), Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, mais a União Europeia e o Brasil, como convidados, se reunirão em Hiroshima, no Japão, para sua 49ª cúpula.A ação climática estará, com razão, no topo da agenda. Com o aumento dos impactos climáticos e a transição para a energia de baixo carbono em uma encruzilhada, o grupo deve garantir que a ação que irão tomar seja rápida e decisiva, e que funcione tanto no melhor interesse de seus países membros, quanto no mundo em geral.


A liderança global do G7 é crucial para reduzir rapidamente as emissões de gases de efeito estufa, para manter o aquecimento planetário dentro do limite de 1,5–2 °C, do acordo climático de Paris. As ações do G7 são importantes porque o grupo responde por mais da metade do produto interno bruto (PIB) global, 28% das emissões de dióxido de carbono provenientes de combustíveis fósseis, e 13% da população mundial, além de uma grande parcela das emissões históricas. Também possui os meios financeiros para ajudar outros países a desenvolver metas de descarbonização mais ambiciosas.


Os compromissos climáticos já assumidos pelo G7 precisam ser ampliados, e as distorções de mercado que impedem a transição verde, devem ser removidas. Em 2020 e 2021, o grupo gastou mais de US$ 725 bilhões em medidas verdes, como energia limpa, eficiência energética, veículos elétricos e pesquisa de inovação verde, como parte de pacotes de recuperação econômica da desaceleração global, que acompanhou a pandemia de COVID-19.


Mas, ao mesmo tempo, persistem distorções de mercado que favorecem os combustíveis fósseis. Nos países do G7, os subsídios, como incentivos para aumento da produção, baixas e deduções fiscais e redução dos preços pagos pelos consumidores, para petróleo, carvão e gás, totalizam US$ 63 bilhões por ano, ou US$ 62 por pessoa, em média. Preços artificialmente reduzidos impedem o rápido crescimento da energia de baixo carbono, e ajudaram a estimular um aumento pós-pandêmico no consumo de combustíveis fósseis e nas emissões de gases de efeito estufa. Mas o verdadeiro custo é muito maior. Acrescentando os custos ambientais e de saúde do uso de combustíveis fósseis, incluindo impactos climáticos, poluição, congestionamento de tráfego e acidentes rodoviários, bem como receitas fiscais perdidas, subestimar os preços dos combustíveis fósseis está custando às nações do G7 quase US$ 1,2 trilhão por ano, 2,8% do PIB do G7 e US$ 1.186 por pessoa. Para o resto do mundo, o custo é de US$ 4,7 trilhões.


O investimento do governo em pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tecnologia verde está diminuindo nas nações do G7, exatamente quando é mais necessário. Embora as energias renováveis tenham ocupado uma parcela crescente dos gastos públicos em P&D em energia entre os anos 1990 e 2000, atingindo um pico de 15 a 30% do total em todas as sete economias em 2010, desde 2015 essa participação caiu para cerca de 10 a 20% do total. A P&D financiada pelo governo relacionada ao meio ambiente está estagnada em 1,5–3% para 6 das economias do G7, e em apenas 0,3% nos Estados Unidos em 2021. A interrupção da inovação no G7 pode ter retardado o desenvolvimento da tecnologia ambiental globalmente. Ao longo de 2016–19, o G7 foi responsável por 70% da inovação verde global, com os Estados Unidos e o Japão produzindo 21% cada e a Alemanha 11%.


O G7 deu alguns passos positivos. Na cúpula de 2022 na Alemanha, o grupo concordou em formar um 'Clube do Clima', para estimular a introdução de políticas climáticas mais ambiciosas; seu lançamento formal é esperado ainda este ano. Eventualmente, o grupo pretende que outros países se juntem, e o G7 e outros membros estão considerando, se devem ou não impor taxas sobre bens importados, com base em suas emissões de carbono incorporado. O objetivo seria descarbonizar indústrias intensivas em emissões e expostas ao comércio, como cimento, produtos químicos, ferro e aço, protegendo essas indústrias da concorrência em países que não adotaram iniciativas semelhantes.


Mas o G7 pode e deve fazer muito mais, dentro de suas fronteiras e no mundo. No mês passado, foi delineada uma estratégia de baixo carbono em três níveis em um documento de política para a cúpula de Hiroshima. A essência disso, é que o G7 deve adotar três conjuntos básicos de políticas: superar as distorções de mercado que favorecem os combustíveis fósseis; fomentar uma versão mais inclusiva do Clube do Clima; e para ajudar mercados emergentes e economias em desenvolvimento a atingir metas climáticas, redução da pobreza e desenvolvimento.


Remover as distorções do mercado que favorecem os combustíveis fósseis


Todos os membros do G7 devem começar implementando três políticas verdes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, provenientes do uso de combustíveis fósseis.


Primeiro, eles devem eliminar todos os subsídios para consumir e produzir combustíveis fósseis nos próximos cinco anos. Isso economizaria dinheiro e tornaria as economias mais sustentáveis, independentes de energia e seguras.


Em segundo lugar, eles devem implementar mecanismos de precificação de carbono mais abrangentes. Isso envolve impostos sobre o carbono ou esquemas de comércio de emissões, ambos os quais efetivamente cobram cada tonelada de carbono produzida.


Um imposto impõe essa cobrança diretamente, enquanto o comércio de emissões impõe um limite geral à poluição, e permite que os poluidores negociem suas licenças de emissão alocadas. O preço negociado resultante das licenças torna-se o encargo pela emissão de carbono. Embora várias economias do G7 tenham introduzido taxas de carbono e comércio de emissões para limitar as emissões de gases de efeito estufa, em geral os preços do carbono permanecem muito baixos para incentivar mudanças de comportamento, e o escopo desses mecanismos é muito estreito.


Para chegar a zero emissões líquidas até 2050, os grandes emissores de alta renda, como os do G7, devem atingir um preço de carbono de pelo menos US$ 75 por tonelada de dióxido de carbono emitida, e estender o preço para cobrir mais setores. Nenhum membro do G7 faz as duas coisas. Por exemplo, o Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia atingiu níveis de preços mais altos, mas cobre apenas energia, manufatura e aviação. O preço do carbono no Japão é extremamente baixo, US$ 2 por tonelada de dióxido de carbono equivalente (tCO2e), mas cobre todos os setores, com algumas exceções. Os Estados Unidos atualmente não têm um esquema nacional de precificação de carbono, mas poderiam encorajar estados e cidades a tributar e comercializar carbono de forma mais ampla, como fazem atualmente a Califórnia, Oregon, Washington e a Iniciativa Regional de Gases de Efeito Estufa de 12 estados do leste.


Em terceiro lugar, os países do G7 devem direcionar as receitas arrecadadas para prioridades verdes, incluindo investimentos em pesquisa e desenvolvimento de energia limpa e infraestrutura de transporte.


Os governos devem compensar os efeitos adversos sobre a renda, o emprego e a desigualdade, aumentando o salário-mínimo, fornecendo pagamentos ou retreinamento para trabalhadores deslocados, e direcionando dividendos de renda e abatimentos de impostos para famílias vulneráveis. Políticas nesse sentido na Itália, França, Alemanha, Espanha, Noruega e Estônia, amorteceram os impactos do aumento do preço da energia após a invasão russa da Ucrânia, por exemplo. Compensar totalmente os 20% mais pobres de todos os lares europeus pelo aumento do preço da energia de 2021–22, teria custado a cada nação, em média, 0,4% do PIB.


Tornar o Clube do Clima globalmente inclusivo


A iniciativa do Clube do Clima do G7 é um passo na direção certa, mas de uma perspectiva global, seu sucesso dependerá de quão efetivamente outras nações podem ser trazidas. No segundo conjunto chave de ações que se propõe, o G7 deve estender seu Clube do Clima com uma estrutura mais inclusiva. Para ser eficaz em incentivar os membros a reduzir as emissões, um clube do clima deve concordar com um preço mínimo de carbono para os participantes, e impor penalidades aos países que não participarem. Mas o G7 e o mundo colherão mais benefícios, ao permitir também a adesão de outros países. Se outros grandes emissores ficarem de fora, as indústrias sediadas no G7 podem se tornar menos competitivas, e algumas mudarão a produção para nações com menos restrições, reduzindo a economia de emissões.


Comprometer-se a remover as distorções do mercado, que favorecem os combustíveis fósseis, deve ser a principal pré-condição para qualquer nação ingressar no Clube do Clima. Como incentivo, os preços mínimos do carbono devem ser reduzidos para mercados emergentes, e economias em desenvolvimento que se tornem membros.


Por exemplo, os preços poderiam ser fixados em US$ 75 por tCO2e emitida para países de alta renda, US$ 50 por tonelada para países de renda média, e US$ 25 por tonelada para países de baixa renda. Esse preço mínimo diferenciado é progressivo porque induzirá proporcionalmente mais mitigação de carbono pelos países de alta renda.


Os participantes do clube poderiam atingir o preço mínimo por meio de precificação do carbono ou políticas equivalentes, como regulamentações que limitam as emissões e expandem os setores cobertos, e por compromissos de estados, províncias, cidades e empresas. Inicialmente, o piso do preço do carbono poderia ser apenas para geração de energia e indústrias intensivas em carbono, como cimento, ferro, aço e produtos químicos. Mais tarde, seria alargado a outros setores, e fontes da indústria, serviços, transportes e agricultura. Cada país poderia estabelecer preços de carbono mais altos para alcançar promessas e metas de mitigação mais ambiciosas.


O G7 Climate Club também precisará impor uma taxa de importação de carbono, uma cobrança sobre o carbono incorporado nas importações de regiões, que ainda não adotaram o preço mínimo de carbono do clube. Portanto, um “ajuste de carbono de fronteira” é necessário para proteger as políticas coletivas, e a competitividade das indústrias intensivas em carbono dos membros do clube. Combinado com um preço mínimo de carbono diferenciado, o imposto de importação permitiria que as economias do clube implementassem políticas de mitigação ambiciosas para suas indústrias intensivas em carbono, e encorajassem outras a ingressar no clube. Os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento provavelmente responderão impondo um preço do carbono em seus próprios setores industriais, e eventualmente participarão do clube.


Ajudar as economias em desenvolvimento a descarbonizar


O G7 deve ir mais longe na assistência aos mercados emergentes e economias em desenvolvimento, na adoção de políticas e investimentos necessários para participar do Clube do Clima. Isso implica ampliar e amplificar as iniciativas do G7, como as Parcerias para a Transição Energética Justa (JETPs) e a Parceria para Infraestrutura e Investimento Global (PGII).


Os JETPs são um mecanismo de cooperação financeira criado pelo G7, no qual os doadores ajudam a financiar investimentos específicos em economias emergentes, com o objetivo de reduzir a dependência de combustíveis fósseis e o excesso de carvão, para acelerar uma transição para energia limpa. A primeira parceria foi estabelecida entre os membros do G7 e a África do Sul na COP26 em Glasgow, em 2021. Mais duas parcerias foram lançadas com a Indonésia e o Vietnã no ano passado, e outras duas estão planejadas com o Senegal e a Índia. No entanto, esses planos ainda são vagos. Alguns parceiros do G7, UE, França, Alemanha, Reino Unido e Estados Unidos, prometeram US$ 8,5 bilhões em assistência técnica e financeira à África do Sul para projetos de eletricidade limpa, veículos elétricos e hidrogênio verde, mas com poucos detalhes.


O PGII, anunciado na cúpula do G7 de 2022 na Alemanha, busca mobilizar US$ 600 bilhões em investimentos globais em infraestrutura de fontes públicas e privadas até 2027; os Estados Unidos já prometeram US$ 200 bilhões, e mais detalhes sobre a implementação do fundo provavelmente surgirão na cúpula de Hiroshima. Deve dar prioridade a investimentos que complementem e apoiem os realizados através dos JETP. Isso pode incluir a melhoria das redes de transmissão para apoiar a energia limpa, o desenvolvimento urbano mais sustentável, a descarbonização das indústrias, e a criação de redes de carregamento para veículos elétricos.


Em troca, as nações parceiras devem adotar a precificação do carbono e outras políticas necessárias, para ingressar no Clube do Clima. O G7 deve auxiliá-los no financiamento e na concepção e implementação de políticas climáticas. Isso pode ser coordenado por meio da Parceria para Implementação de Mercado do Banco Mundial, que visa implementar políticas e programas de precificação de carbono em pelo menos 30 economias emergentes e em desenvolvimento; O apoio do G7 permitiria a entrada de mais países.


Tais políticas devem idealmente ser projetadas para atingir metas de redução da pobreza, desenvolvimento e mitigação do clima simultaneamente, especialmente em áreas rurais. Duas políticas promissoras estão substituindo os subsídios aos combustíveis fósseis pela expansão dos serviços de energia renovável em áreas rurais carentes; e usar as receitas da precificação do carbono para financiar soluções baseadas na natureza, como o plantio de florestas, que criam empregos e meios de subsistência em regiões pobres.


Por todos esses meios, criar as condições para um Clube do Clima inclusivo permitirá que o G7 acelere uma transição de baixo carbono de suas economias e incentive mais nações a fazer o mesmo.


Obesidade geral e abdominal associadas a doenças respiratórias crônicas


Artigo publicado na Respiratory Medicine em 16/03/2023, em que pesquisadores suecos comentam que um estudo recente descobriu que tanto a obesidade abdominal quanto a geral, estavam independentemente associadas a doenças respiratórias, incluindo, as autorreferidas, asma brônquica e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC).


As relações entre condições respiratórias com tipos de obesidade caracterizados em adultos, foram avaliadas por meio de pesquisas de auto-relato de participantes originalmente inscritos na Pesquisa de Saúde Respiratória da Comunidade Europeia (ECRHS) investigando asma, alergia e fatores de risco. O Respiratory Health in Northern Europe (RHINE) III fornece um segundo subestudo de acompanhamento do ECRHS, focado em duas formas de obesidade associadas a doenças respiratórias.


A obesidade é um fator de risco característico ligado a doenças respiratórias, como asma e DPOC. Alto índice de massa corporal (IMC) e circunferência abdominal (CA), fornecem medidas quantitativas para definir condições de obesidade geral e abdominal abrangente, respectivamente.


Embora ambos os tipos de obesidade tenham sido associados à incidência de asma, os estudos sobre seu impacto independente nessa doença são limitados. Relatórios anteriores sobre obesidade abdominal associada à asma foram inconsistentes, ao considerar os sexos na análise. Além disso, a DPOC e os desfechos relacionados diferiram entre obesidade abdominal e geral, indicando a necessidade de descobrir se a obesidade abdominal autorrelatada, e a obesidade geral baseada no IMC, estão independentemente associadas a sintomas respiratórios, asma precoce e tardia, DPOC, bronquite crônica, rinite, escreveu a Dra. Marta A. Kisiel, do Departamento de Medicina Ambiental e Ocupacional, Uppsala, Suécia.


Em um estudo prospectivo publicado na revista Respiratory Medicine, os pesquisadores relatam uma investigação transversal das respostas a um questionário semelhante ao utilizado 10 anos antes no estudo RHINE II. As perguntas exigiam respostas sim/não simples que cobriam asma, sintomas respiratórios, rinite alérgica, bronquite crônica e DPOC. As informações adicionais solicitadas incluíam a idade de início da asma, possíveis variáveis de confusão de idade, tabagismo, atividade física e nível educacional mais alto, peso e altura para cálculo do IMC e medição da circunferência abdominal (ao nível da cintura), com instruções e uma fita métrica fornecida.


A população do estudo RHINE III realizado de 2010-2012 foi composta por 12.290 participantes (53% de frequência de resposta), obtidos de um total de sete centros de pesquisa localizados em cinco países do norte da Europa. A categorização da obesidade classificou 1.837 (6,7%) participantes como obesos em geral, com base em um IMC alto ≥ 30 kg/m2, e 4.261 (34,7%) como obesos abdominais por medidas de CA ≥ 102 cm para homens e ≥ 88 cm para mulheres. Do total de 4.261 participantes, 1.669 atenderam aos critérios de obesidade geral e abdominal. A idade média estava na faixa dos 50 anos e a população obesa consistia em mais mulheres do que homens.


A regressão linear simples revelou que o IMC e a CA foram altamente correlacionados, e ambos foram associados às condições respiratórias testadas, quando ajustados para variáveis de confusão. Diferenças em relação à CA e IMC foram associadas independentemente com a maioria das condições respiratórias examinadas quando a CA foi ajustada para o IMC e vice-versa. Nem a asma de início precoce e nem a rinite alérgica, foram associadas com CA, IMC ou obesidade abdominal ou geral.


Uma proporção significativamente alta de indivíduos com obesidade geral e abdominal, apresentou uma variedade de sintomas respiratórios definidos, como asma, bronquite crônica ou DPOC. Foi encontrada uma associação independente de obesidade abdominal (com ou sem obesidade geral) com sintomas respiratórios, como asma, asma de início tardio e bronquite crônica.


Ajustando para obesidade abdominal, a obesidade geral mostrou uma associação independente e significativa com sintomas respiratórios, como asma, asma com início na idade adulta e DPOC. Uma análise estratificada por sexo indicou uma associação significativa de obesidade abdominal e geral com asma em mulheres apresentadas como odds ratio (OR) de 1,56 e 1,95, respectivamente, em comparação com os homens, com um OR de 1,22 e 1,28, respectivamente. A associação de obesidade abdominal e geral com DPOC também foi mais forte em mulheres em comparação com homens.


Os pesquisadores concluíram que "tanto a obesidade geral quanto a abdominal eram independentes entre si, associadas a sintomas respiratórios em adultos". Há também uma diferença distinta entre mulheres e homens para a associação de asma autorreferida e DPOC com obesidade abdominal e geral.


O grande tamanho da amostra selecionada aleatoriamente de participantes de centros de pesquisa localizados em cinco países do norte da Europa foi considerado um ponto forte deste estudo, pois permitiu o ajuste simultâneo para múltiplos fatores de confusão em potencial. Várias limitações foram reconhecidas, incluindo a ausência de dados sobre doenças respiratórias obstrutivas graves.


Estudos do envelhecimento em cinco animais sugerem como reverter esse processo


Artigo publicado na Nature em 12/04/2023, em que pesquisadores alemães comentam que suavizar a velocidade em um importante mecanismo da via celular, parece estar implicado no envelhecimento.


O envelhecimento parece afetar os processos celulares da mesma forma, em cinco tipos de vida muito diferentes, nos humanos, nas moscas-das-frutas, nos ratos, em camundongos e nos vermes, de acordo com um novo estudo publicado. As descobertas podem ajudar a explicar o que impulsiona o envelhecimento, e oferecer sugestões de como revertê-lo.


“Isso abre uma nova área de pesquisa realmente fundamental, para a compreensão de como e por que envelhecemos”, diz Lindsay Wu, bioquímica da UNSW Sydney, na Austrália.


À medida que os animais envelhecem, uma variedade de processos moleculares dentro das células se torna menos confiável, as mutações genéticas se tornam mais frequentes e as extremidades dos cromossomos se quebram, tornando-os mais curtos.


Muitos estudos exploraram os efeitos do envelhecimento na expressão gênica, mas poucos investigaram como isso afeta a transcrição, o processo pelo qual a informação genética é copiada de uma fita de DNA para moléculas de RNA, diz Andreas Beyer, biólogo computacional da Universidade de Colônia, na Alemanha.


Cópia descuidada


Para descobrir, Beyer e seus colegas analisaram mudanças de transcrição em todo o genoma, em cinco diferentes organismos: vermes nematóides, moscas da fruta, camundongos, ratos e humanos, em diferentes idades adultas.


Os pesquisadores mediram como o envelhecimento mudou a velocidade na qual a enzima que impulsiona a transcrição, a RNA polimerase II (Pol II), se moveu ao longo da fita de DNA, enquanto fazia a cópia do RNA. Eles descobriram que, em média, a Pol II tornou-se mais rápida com a idade, mas menos precisa e mais propensa a erros, em todos os cinco grupos. “Vimos mais incompatibilidades entre as leituras e o genoma de referência”, diz Beyer.


Pesquisas anteriores mostraram que restringir a dieta e inibir a sinalização da insulina, pode retardar o envelhecimento e prolongar a expectativa de vida em muitos animais, então os pesquisadores investigaram se essas medidas tiveram algum efeito na velocidade da Pol II. Em vermes, camundongos e moscas-das-frutas, que carregavam mutações nos genes de sinalização da insulina, a Pol II se movia em um ritmo mais lento. A enzima também viajou mais lentamente em camundongos, com uma dieta de baixa caloria.


Mas a questão final era se as mudanças na velocidade da Pol II, afetavam a vida útil. Beyer e sua equipe rastrearam a sobrevivência de moscas-das-frutas e vermes, que carregavam uma mutação que desacelerou a Pol II. Esses animais viveram 10% a 20% mais, do que seus equivalentes não mutantes. Quando os pesquisadores usaram a edição de genes para reverter as mutações nos vermes, a expectativa de vida dos animais diminuiu. “Isso realmente estabeleceu uma conexão causal”, diz Beyer.


Pegando o ritmo


Os pesquisadores se perguntaram, se a aceleração da Pol II, poderia ser explicada por mudanças estruturais na forma como o DNA é embalado dentro das células. Para minimizar o espaço que ocupam, os vastos fios de informação genética, são firmemente enrolados em torno de proteínas chamadas histonas, em feixes chamados nucleossomos. Ao analisar as células pulmonares humanas e as células da veia umbilical, os pesquisadores descobriram que as células envelhecidas continham menos nucleossomos, facilitando o caminho para que a Pol II viajasse mais rapidamente. Quando a equipe aumentou a expressão de histonas nas células, a Pol II se moveu em um ritmo mais lento. Nas moscas-das-frutas, os níveis elevados de histonas pareciam aumentar sua expectativa de vida.


O estudo é um “trabalho realmente empolgante” e que demonstra como os mecanismos de envelhecimento são consistentes em espécies distantemente relacionadas, diz Colin Selman, que estuda o envelhecimento em mamíferos na Universidade de Glasgow, no Reino Unido.


Também abre a porta para explorar como a Pol II pode ser um alvo para drogas que retardam o processo de envelhecimento. Alterações no processo de transcrição da Pol II têm sido implicadas em muitas doenças, incluindo vários tipos de câncer, e uma variedade de drogas foi desenvolvida visando a Pol II e as moléculas que a facilitam. “Pode haver oportunidades para redirecionar efetivamente algumas dessas drogas para investigar seus efeitos no envelhecimento”, diz Selman.


Mudanças climáticas podem promover a disseminação global de arbovírus


Artigo publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 28/04/2023, em que pesquisadores de diferentes países comentam que a Organização Mundial da Saúde (OMS) está alertando, sobre o recente aumento de casos de arboviroses (Dengue, Zika e Chikungunya) em várias regiões do mundo. Os casos estão sendo vistos até mesmo em regiões mais frias, fato que as autoridades atribuem ao avanço das mudanças climáticas.


No Brasil, 1016 pessoas morreram de dengue em 2022. Nunca na história do país, essa doença causou tantas mortes. Dados epidemiológicos do Ministério da Saúde mostram, que o vírus se espalhou para o sul do Brasil, onde três estados, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, completam os cinco primeiros em número de mortes confirmadas por dengue.


O Dr. André Siqueira, infectologista e pesquisador do Laboratório de Doenças Febris Agudas do Instituto Nacional de Doenças Infecciosas Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz explicou, que muitos estados nunca tiveram um número significativo de casos de dengue, então a situação atual apresenta desafios reais para eles.


“Observamos um aumento significativo no número de casos de arboviroses, principalmente dengue e chikungunya”, explicou. “Essas infecções estão sendo observadas até em estados que não tiveram muita experiência em lidar com elas”.


Em uma coletiva de imprensa sobre o aumento dos surtos de dengue, zika e chikungunya e o impacto da mudança climática, os funcionários da OMS expressaram grande preocupação com a região das Américas. Esses países e territórios têm sido particularmente afetados por arboviroses, com tendências preocupantes de casos e mortes.


Um dos palestrantes foi o Dr. Raman Velayudhan, chefe de unidade do Programa Global de Controle de Doenças Tropicais Negligenciadas da OMS, para coordenar as iniciativas de dengue e arbovírus. Na América do Sul, países mais ao sul do continente, como Bolívia, Peru e Paraguai, registram cada vez mais casos de dengue.


Segundo Siqueira, “há dois motivos principais para isso ser significativo. Primeiro, porque são áreas onde a população não tinha imunidade contra os vírus causadores dessas doenças. Ou seja, a suscetibilidade ao contágio era alta. E, segundo, porque os sistemas de saúde não estavam preparados para lidar com as complexidades decorrentes de um aumento tão expressivo no número de casos dessas doenças”.


Siqueira enfatizou que, para combater a mortalidade associada às arboviroses, deve-se focar na pronta identificação de pacientes com maior risco de desenvolver casos graves. “Não existe tratamento específico para nenhuma dessas três arboviroses, ou seja, zika, dengue e Chikungunya, seja por via oral ou, em casos mais graves, por via intravenosa. E tudo isso precisa ser acionado o mais rápido possível nos pontos de atendimento."


Ampliando seus comentários sobre a situação da dengue na América do Sul, Velayudhan afirmou que "a mudança climática desempenhou um papel fundamental para facilitar a propagação no sul dos vetores, os mosquitos".


Ele e seus colegas também estão preocupados com a situação na Europa. Os mosquitos vetores, Aedes aegypti (presente no Brasil) e Aedes albopictus (mais comum na Ásia), já foram encontrados lá, com 24 países relatando a presença de mosquitos vetores, e com casos de dengue e chikungunya sendo relatados desde 2010. Embora ainda não haja dados concretos da Ásia, a OMS diz que a tendência "parece alarmante".


Além do aumento das temperaturas e das mudanças nos regimes de chuvas, que favorecem a proliferação de mosquitos transmissores de doenças, a OMS aponta alguns outros motivos para o aumento da incidência de arboviroses no mundo: a aceleração da urbanização, que está associada à problemas de saneamento básico e o fato de que as pessoas estão fora de casa novamente, viajando local e internacionalmente, agora que as restrições da COVID-19 foram suspensas.


A OMS emitiu um alerta sobre o aumento da incidência de chikungunya em todo o mundo. Até o momento, 115 países relataram casos da doença, que pode causar incapacidades crônicas e ter um grande impacto na qualidade de vida.


"Ainda há um grande desconhecimento sobre a chikungunya. É uma doença muito mais complexa do que se pensa. Pode causar inflamação significativa e, em algumas pessoas, doença aguda grave. Tem um impacto maior na mortalidade do que se poderia esperar ", disse Siqueira.


Dessas três doenças, o zika é responsável pelo menor número de casos. Ainda assim, esse vírus está circulando, e isso é mais um motivo de preocupação para a OMS. Até o momento, 89 países identificaram infecções causadas por esse patógeno. As autoridades estão alertando não apenas sobre os problemas que a própria doença pode causar, mas também sobre complicações, como a síndrome de Guillain-Barré e a síndrome congênita do Zika.


A OMS instou os países a prestar atenção especial à disseminação de arbovírus, declarando-se, por sua vez, comprometida com a missão de ampliar ferramentas e recursos para o combate a essas doenças.


Predisposição genética e estilo de vida, afetam conjuntamente o risco de Fibrose Pulmonar Idiopática


Artigo publicado na CHEST em 12/04/2023, em que pesquisadores chineses comentam que o estilo de vida pouco saudável foi um contribuinte significativo para o risco de Fibrose Pulmonar Idiopática (FPI), especialmente naqueles geneticamente predispostos, com base em dados de mais de 400.000 indivíduos.


A etiologia da fibrose pulmonar idiopática (FPI) permanece incerta, o prognóstico do paciente geralmente é ruim, e a incidência global de FPI está aumentando, escreveu a Dra. Yudiyang Ma, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Huazhong, na China.


Mais pesquisas são necessárias para identificar os fatores de risco potencialmente modificáveis para FPI, disseram eles. Fatores de estilo de vida foram estabelecidos como contribuintes para outras doenças relacionadas à idade, mas as associações entre estilo de vida e FPI, ainda não haviam sido bem estudadas, acrescentaram.


Nesse estudo publicado este mês na revista Chest, os pesquisadores exploraram a relação entre estilo de vida e risco de FPI, ao construir uma pontuação de estilo de vida. A pontuação foi baseada em diretrizes nacionais, e classificou as variáveis de estilo de vida como "saudável" ou "não saudável". Variáveis saudáveis foram pontuadas como 1, e variáveis não saudáveis foram pontuadas como 0. Os escores totais variaram de 0 a 9, com pontuações mais altas sugerindo um estilo de vida favorável. Os participantes foram classificados em três grupos de estilo de vida pouco saudável (pontuações de 0 a 3), estilo de vida intermediário (pontuações de 4 a 6) e estilo de vida favorável (pontuações de 7 a 9).


A população do estudo incluiu 407.615 participantes inscritos no UK Biobank, um estudo de coorte prospectivo de base populacional. A média de idade dos participantes foi de 56 anos, sendo 53% do sexo feminino.


Um total de 1.248 casos incidentes de FPI ocorreram durante um período médio de acompanhamento de 12 anos, que incluiu 4,8 milhões de pessoas-ano. Em comparação com o grupo de estilo de vida favorável, tanto o estilo de vida intermediário quanto o estilo de vida pouco saudável, foram significativamente associados a um risco aumentado de FPI, antes e depois do ajuste para idade e sexo (taxas de risco ajustadas 1,53 e 2,82, respectivamente).


Fatores específicos de estilo de vida associados à FPI incluíram tabagismo, consumo excessivo de álcool, dieta pouco saudável e níveis mais baixos de atividade física. Em ajustes adicionais para variáveis como educação, etnia, índice de massa corporal, status de emprego, hipertensão, diabetes e hiperlipidemia, o risco incidente de FPI foi 38,4% maior e 127,1% maior, entre aqueles com estilos de vida intermediários e desfavoráveis, respectivamente, em comparação com o grupo com estilos de vida favoráveis.


Os pesquisadores também usaram 13 polimorfismos de nucleotídeo único (SNPs) associados à FPI, para construir uma pontuação de risco poligênico (PRP) para cada participante. Os participantes foram categorizados como tendo risco genético baixo, médio ou alto, com base nos tercis dos escores PRP. O risco de incidente de FPI foi 39,7% maior para aqueles com risco genético médio, e 210,9% maior naqueles com alto risco genético, em comparação com aqueles com baixo risco genético.


O efeito combinado de estilo de vida desfavorável e alto risco genético, foi associado a um risco sete vezes maior de FPI, em comparação com estilo de vida favorável e baixo risco genético, e 32,7% do risco de FPI, foi atribuível a essa combinação, disseram os pesquisadores.


Tanto o estilo de vida intermediário quanto o desfavorável, foram associados ao aumento do risco de incidência de FPI em todas as faixas etárias, mas não houve interação significativa entre idade e estilo de vida com estilo de vida favorável como referência, ou entre idade e risco genético, com baixo risco genético como referência.


Os resultados do estudo foram limitados por vários fatores, incluindo o uso de questionários autorreferidos, para coletar informações sobre variáveis de estilo de vida, e pela falta de dados sobre outros fatores de estilo de vida (estresse, uso de drogas, outras variáveis alimentares etc.), observaram os pesquisadores. Além disso, a população do estudo era principalmente branca e europeia, e a associação entre genética e estilo de vida pode não se generalizar para outras populações, disseram eles.


No entanto, os resultados acrescentam evidências de que a suscetibilidade genética pode aumentar com a associação do estilo de vida, para um maior risco incidente de FPI, e destacam a necessidade de incentivar um estilo de vida mais saudável para reduzir esse risco, especialmente para aqueles com predisposição genética, concluíram.


A prática de exercício físico está associada a uma redução nas tentativas de suicídio


Artigo publicado na Journal of Affective Disordersem 04/03/2023, em que pesquisadores canadenses comentam que o exercício físico está associado a uma redução nas tentativas de suicídio, sugere uma nova pesquisa.


Uma meta-análise de 17 ensaios clínicos randomizados, que incluiu mais de 1.000 participantes com doenças mentais ou físicas, mostrou que houve uma redução significativa nas tentativas de suicídio, em participantes aleatoriamente designados para receber intervenções de exercícios, em comparação com controles inativos. No entanto, não houve diferenças entre o exercício e os grupos de controle, em ideação suicida ou mortalidade.


Por outro lado, também não houve diferença significativa nas taxas de abandono entre aqueles designados aleatoriamente para exercícios versus controles inativos, sugerindo que pessoas com deficiências mentais ou físicas, são capazes de aderir aos regimes de exercícios.


"Um equívoco comum é que os pacientes, particularmente aqueles que sofrem de doenças mentais ou físicas, não estão dispostos ou motivados o suficiente para participar de um regime de exercícios, e isso levou os prestadores de cuidados primários a prescrever menos exercícios, para aqueles com doenças mentais ou físicas.", disse o principal o Dr. Nicholas Fabiano, residente no Departamento de Psiquiatria da Universidade de Ottawa, Canadá.


Como resultado do estudo, "recomendamos que os provedores não tenham receio de prescrever exercícios para pacientes com doenças físicas ou mentais. O exercício pode ser uma maneira eficaz de reduzir comportamentos suicidas" nesses pacientes, disse ele. O estudo foi publicado online em 4 de março no Journal of Affective Disorders.


Saúde física e mental fortemente ligada


A literatura existente "demonstrou um efeito protetor da atividade física na ideação suicida na população em geral", mas até o momento não houve revisões sistemáticas ou metanálises investigando seu impacto nos desfechos relacionados ao suicídio, em pacientes com doenças físicas ou mentais, os autores escrevem.


"Aqueles com doenças mentais ou físicas correm maior risco de suicídio, em comparação com a população em geral", comentou Fabiano. "Muitas vezes dividimos 'saúde mental' e 'saúde física' na medicina; no entanto, acredito que os dois são minérios em um continuum e um termo holístico, como 'saúde', deve ser usado em seu lugar", acrescentou.


Ele observou que as saúdes mental e física estão "inexoravelmente interligadas", e aqueles com doenças físicas são mais propensos a desenvolver doenças mentais, enquanto aqueles com doenças mentais são mais propensos a sofrer de uma variedade de outras condições médicas.


“Portanto, ao tratar pessoas com doenças mentais, também é imperativo que reforcemos a saúde física por meio de atividades de fácil acesso, como exercícios”, disse ele.


O objetivo do estudo foi determinar se os indivíduos com "qualquer condição mental, física, clínica ou subclínica", poderiam se beneficiar do exercício, particularmente em relação aos desfechos relacionados ao suicídio. Eles pesquisaram vários bancos de dados desde o início até junho de 2022 para identificar questionários que investigam exercícios e ideação suicida, em participantes com problemas físicos ou mentais.


De 673 estudos, 17 preencheram os critérios de inclusão (total de 1.021 participantes). A idade média dos participantes foi de 42,7 anos, 82% eram do sexo feminino e 54% foram designados aleatoriamente para uma intervenção de exercícios.


A maioria dos estudos (82%) se concentrou em desfechos clínicos versus subclínicos. A depressão foi a condição mais comumente incluída (59%). O exercício aeróbico (53%) foi a forma mais comum de exercício usada nos grupos de estudo ativos. Isso foi seguido por exercícios mente-corpo e treinamento de força (53% e 17,6%, respectivamente). O tempo médio de seguimento foi de 10 semanas.


Impulsividade reduzida


Os pesquisadores encontraram uma diferença na ideação suicida pós-intervenção, quando compararam os participantes do exercício, a todos os participantes de controle e controle inativos. No entanto, a diferença não foi estatisticamente significativa.


Da mesma forma, não houve diferença significativa na incidência de ideação suicida para análises de subgrupos que estratificaram dados entre participantes com depressão, doença falciforme e tendências suicidas.


A descontinuação por qualquer causa também não diferiu significativamente entre os participantes que foram designados aleatoriamente para intervenções de exercícios versus todos os controles ou controles inativos. A descontinuação por qualquer causa, também não diferiu entre os participantes randomizados para exercício versus controles ativos. Da mesma forma, houve diferenças não significativas entre os participantes que realizaram exercícios aeróbicos e treinamento de força.


No entanto, houve algumas diferenças não significativas ao comparar participantes com depressão e estresse, que receberam a intervenção de exercícios versus controles. Houve uma redução significativa nas tentativas de suicídio em indivíduos que participaram de intervenções de exercícios versus controles inativos. Por outro lado, não houve diferença significativa na mortalidade.


A maioria dos estudos (82%) apresentava "alto risco de viés", observam os autores. Além disso, a análise foi limitada porque os estudos incluídos eram "poucos, pouco poderosos e heterogêneos".


Fabiano levantou a hipótese de que a falta de efeito sobre a ideação suicida ou mortalidade é "provavelmente devido ao tamanho limitado da amostra". À medida que estudos controlados adicionais forem conduzidos, Fabiano espera ver reduções tanto na ideação suicida quanto nas tentativas de suicídio”.


As descobertas podem "ser explicadas pela estrutura da ideação à ação, que sugere que o desenvolvimento da ideação suicida, e a progressão para tentativas de suicídio, são processos distintos com diferentes fatores influentes", disse ele.


O aumento dos níveis de exercício "demonstrou reduzir a impulsividade emocional e, como foi demonstrado que a maioria das tentativas de suicídio são caracterizadas por impulsividade e baixa letalidade, levantamos a hipótese de que o exercício regular serve como um fator de proteção contra tentativas de suicídio", disse ele.


Não é útil?


Comentando sobre o estudo o Dr. Fabien Legrand, professor de psicologia clínica da Universidade de Reims Champagne-Ardenne em Reims, França, disse que o impacto da atividade física é de "particular interesse" para ele, porque está intimamente ligado à sua atividade de pesquisa, onde ele "explorou os efeitos antidepressivos do exercício por mais de 15 anos".


Um pequeno estudo piloto conduzido por Legrand e colegas descobriu, que a atividade física rigorosa é útil para reduzir a desesperança em pacientes psiquiátricos, em comparação com os controles. “Esse resultado é de particular relevância para pacientes suicidas, pois há muito tempo se documenta que a desesperança é um dos principais gatilhos da ideação e das tentativas de suicídio”, disse ele.


Inicialmente, Legrand "recebeu calorosamente" a atual revisão e meta-análise sobre o exercício e o suicídio. No entanto, ele sentiu que o jornal não atingiu o objetivo pretendido. "Após uma leitura minuciosa do artigo, não acho que as informações fornecidas possam ser usadas de forma alguma", afirmou.


"O título do artigo - 'Efeitos do exercício físico na ideação e comportamento suicida', não faz justiça ao seu conteúdo, uma vez que 9 dos 17 estudos controlados incluídos, não mediram mudanças na ideação suicida e/ou comportamento suicida após a participação em um programa de exercícios”, observou Legrand, que não estava envolvido com a autoria ou a análise atual.


Grande fábrica de mosquitos para frear a dengue no Brasil


Artigo publicado na Nature em 14/04/2023, em que pesquisadores brasileiros comentam sobre a instalação de uma fábrica que produzirá até cinco bilhões de mosquitos modificados por ano, ou seja, infectados por bactérias, para combater a dengue.


A organização sem fins lucrativos, World Mosquito Program (WMP), anunciou que liberará mosquitos modificados em muitas áreas urbanas do Brasil nos próximos 10 anos, com o objetivo de proteger até 70 milhões de pessoas de doenças como a dengue. Os pesquisadores testaram a liberação desse tipo de mosquito, que carrega uma bactéria Wolbachia, que impede o inseto de transmitir vírus, em cidades selecionadas de países como Austrália, Brasil, Colômbia, Indonésia e Vietnã. Mas esta será a primeira vez que a tecnologia será espalhada por todo o país.


Uma fábrica de mosquitos será construída em local ainda a ser definido no Brasil, para abastecer a ambiciosa iniciativa do WMP, em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), instituição brasileira de ciência pública com sede no Rio de Janeiro. A instalação deve começar a operar em 2024, e produzirá até cinco bilhões de mosquitos por ano. “Esta será a maior instalação do mundo” para produzir mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia, diz Scott O'Neill, microbiologista da Monash University em Melbourne, Austrália, e chefe do WMP. “E nos permitirá em um curto período de tempo, cobrir mais pessoas do que em qualquer outro país.” O Brasil tem uma das maiores taxas de infecção por dengue no mundo, registrando mais de dois milhões de casos em 2022.


Apesar dos resultados positivos das liberações anteriores de mosquitos, os pesquisadores esperam que seja um desafio operar a tecnologia em uma escala tão grande.


Uma bactéria competitiva


A bactéria Wolbachia pipientis, infecta naturalmente cerca de metade de todas as espécies de insetos. Os mosquitos Aedes aegypti, que transmitem a dengue, a zika, a chikungunya e outros vírus, normalmente não carregam a bactéria. O'Neill e seus colegas desenvolveram os mosquitos WMP, depois de descobrir que o A. aegypti infectado com Wolbachia, tem muito menos probabilidade de espalhar doenças. A bactéria elimina os vírus que o inseto carrega.


Quando os mosquitos modificados são liberados em áreas infestadas com A. aegypti selvagem, eles lentamente espalham a bactéria para a população de mosquitos selvagens. Vários estudos já demonstraram o sucesso dos insetos. O mais abrangente, um estudo randomizado e controlado em Yogyakarta, na Indonésia, mostrou que a tecnologia poderia reduzir a incidência de dengue em 77%, e foi recebido com entusiasmo pelos epidemiologistas.


Cobrindo terreno rapidamente


No Brasil, onde os mosquitos modificados já foram testados em cinco cidades, os resultados foram mais modestos. Em Niterói, a intervenção foi associada a uma redução de 69% nos casos de dengue. No Rio de Janeiro, a redução foi de 38%.


A variação pode estar relacionada a diferenças ambientais entre as cidades, por exemplo, em áreas com maior população de mosquitos silvestres, a Wolbachia pode demorar mais para se espalhar. Mas o contexto social também é importante. No Rio de Janeiro, surtos de violência dificultaram a mobilização em alguns bairros, por exemplo. “Embora tenhamos trabalhado em estreita colaboração com as pessoas nessas comunidades, pode ser um trabalho lento para construir a confiança, e ser capaz de operacionalizar os planos”, diz O'Neill.


Ele antecipa que este será um desafio importante, à medida que o projeto se expanda. “Estamos interessados em descobrir como podemos distribuir mosquitos nas comunidades de forma automatizada, que nos permita cobrir o terreno mais rapidamente”, diz ele. O WMP está testando métodos de dispersão de mosquitos usando drones, motos e carros.


Enquanto isso, um grande estudo randomizado e controlado está em andamento em Belo Horizonte, no Brasil, para comparar a incidência de dengue em áreas que recebem mosquitos infectados por Wolbachia, com outras áreas. Estudos anteriores em Niterói e no Rio de Janeiro, não foram realizados da mesma forma, eles não inscreveram participantes e, em vez disso, usaram dados de saúde de um banco de dados nacional.

“Temos bons indícios de que os mosquitos WMP são uma ferramenta eficiente, mas isso deve ser provado sem sombra de dúvida”, diz Maurício Nogueira, microbiologista da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto no Brasil, e um dos pesquisadores envolvidos no estudo.


Os mosquitos infectados com Wolbachia, já foram aprovados pelas agências reguladoras brasileiras. Mas a tecnologia ainda não foi oficialmente endossada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o que pode ser um obstáculo para seu uso em outros países. O Grupo Consultivo de Controle de Vetores da OMS está avaliando os mosquitos modificados, e uma discussão sobre a tecnologia está agendada para a próxima reunião do grupo, no final deste mês.


Apesar do sucesso dos mosquitos, Luciano Moreira, cientista sênior da Fiocruz e um dos colaboradores do WMP no Brasil, adverte que os governos não devem abandonar outras medidas de saúde pública, como as vacinas contra a dengue. “O método Wolbachia é complementar, e devemos trabalhar com métodos integrados para o controle da dengue, zika e chikungunya”, afirma. “Esta não é uma bala de prata.”


Estudo oferece dezenas de razões para cortar o açúcar


Artigo publicado na British Medical Journal em 05/01/2023, em que pesquisadores chineses comentam sobre uma nova compilação de quase todas as pesquisas realizadas até o momento, sobre os impactos do açúcar na saúde, e oferece dezenas de motivos para se reduzir seu consumo agora.


Pesquisadores da China e dos EUA reuniram 8.601 estudos científicos sobre o açúcar e os combinaram para avaliar seu impacto em 83 resultados de saúde. Os estudos representam décadas de pesquisa sobre o tema, remontando ao início das maiores bases de dados eletrônicas de artigos científicos.


O resultado é uma lista que cita os problemas de saúde mais comuns do mundo, como doenças cardíacas, diabetes, obesidade, pressão alta, ataque cardíaco, colesterol alto, câncer e depressão. Os resultados foram publicados esta semana na revista BMJ. Os pesquisadores analisaram estudos que avaliaram os impactos do consumo de açúcares livres, o que significa qualquer alimento que contenha açúcares processados ou naturais, como açúcar de mesa, mel ou xarope de bordo. O açúcar encontrado em frutas e vegetais inteiros e no leite não é açúcar livre.


As diretrizes dietéticas dos EUA recomendam obter não mais do que 10% das calorias diárias de açúcares adicionados. Para uma dieta típica de 2.000 calorias por dia, isso equivale a não mais que 200 calorias, ou cerca de 12 colheres de chá. O CDC relata que a pessoa média consome 17 colheres de chá por dia, sendo as maiores fontes bebidas açucaradas, sobremesas e lanches. (Para contextualizar: uma lata de refrigerante de 12 onças contém o equivalente a 9 colheres de chá de açúcar, de acordo com a fabricante de bebidas Coca-Cola.)


A nova análise também encontrou ligações entre o consumo de bebidas açucaradas e outras características de dieta e estilo de vida que podem contribuir para problemas de saúde.


“As pessoas que consumiam bebidas adoçadas com açúcar com mais frequência tendiam a ingerir mais gordura total e saturada, carboidratos e sódio e menos frutas, fibras, laticínios e alimentos integrais”, escreveram os autores. "Esse padrão alimentar também foi associado a fumar e beber com mais frequência, níveis mais baixos de atividade física e mais tempo gasto assistindo televisão. Portanto, o papel desses fatores de confusão deve ser levado em consideração ao explicar a associação entre o consumo de açúcar e a carga de doenças."


As recomendações para limitar o consumo de açúcar existem em todo o mundo, observaram os autores. Eles concluíram que mais precisa ser feito devido aos conhecidos perigos do açúcar para a saúde.


“Para mudar os padrões de consumo de açúcar, especialmente para crianças e adolescentes, é urgentemente necessária uma combinação de educação e políticas de saúde pública generalizadas em todo o mundo”, disseram eles.


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