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CANTIM DA COVID (PARTE 24)

  • Foto do escritor: Dylvardo Costa Lima
    Dylvardo Costa Lima
  • 23 de ago. de 2021
  • 45 min de leitura

Atualizado: 30 de set. de 2021



OMS monitora nova variante do coronavírus chamada Mu


Comentário publicado no The Guardian em 01/09/2021, onde um pesquisador britânico comenta que a OMS designou como uma variante de interesse, a variante Mu, ou B.1.621, identificada pela primeira vez na Colômbia.


A Organização Mundial da Saúde adicionou outra versão do coronavírus à sua lista de “variantes de interesse”, em meio a preocupações de que ele possa escapar parcialmente da imunidade que as pessoas desenvolveram com a infecção ou vacinação anterior.


A variante Mu, também conhecida como B.1.621, foi adicionada à lista de observação da OMS em 30 de agosto, depois de ser detectada em 39 países, e ter um grupo de mutações que pode torná-la menos suscetível à proteção imunológica que muitos adquiriram.


De acordo com o boletim semanal da OMS sobre a pandemia, a variante Mu "tem uma constelação de mutações que indicam propriedades potenciais de escape imunológico". Dados preliminares sugerem que ele pode escapar das defesas imunológicas de maneira semelhante à variante Beta, descoberta pela primeira vez na África do Sul, acrescenta o relatório, mas isso precisa ser confirmado por mais trabalhos.


A variante Mu foi identificada pela primeira vez na Colômbia em janeiro de 2021. Desde então, casos esporádicos e alguns surtos maiores foram registrados em todo o mundo. Além da América do Sul, foram relatados casos no Reino Unido, Europa, Estados Unidos e Hong Kong. Embora a variante seja responsável por menos de 0,1% das infecções por Covid-19 em todo o mundo, ela pode estar ganhando terreno na Colômbia e no Equador, onde é responsável por 39% e 13% dos casos de Covid, respectivamente.


Cientistas e funcionários da saúde pública, estão particularmente ansiosos para saber se a variante Mu é mais transmissível, ou se causa doenças mais sérias do que a variante Delta, que é dominante em grande parte do mundo. “A epidemiologia da variante Mu na América do Sul, particularmente com a co-circulação da variante Delta, será monitorada para mudanças”, afirma o boletim da OMS.


Pelo menos 32 casos da variante Mu foram detectados no Reino Unido, onde o padrão de infecções sugere que ela foi trazida por viajantes em várias ocasiões. Um relatório da Public Health England (PHE) em julho disse que a maioria foi encontrada em Londres e em pessoas na casa dos 20 anos. Alguns dos que tiveram resultado positivo para Mu receberam uma ou duas doses da vacina Covid.


A variante Mu foi adicionada à lista de variantes sob investigação do PHE em julho. A designação, que se refere a Mu como variante de interesse, significa que a variante será monitorada para ver como se comporta. Até agora, ele não levantou tanto alarme quanto Alfa e Delta, que são classificados como variantes mais graves de preocupação, em grande parte por causa de sua maior transmissibilidade, mas também por evitarem as defesas imunológicas.


Uma avaliação de risco da variante Mu, divulgada pela PHE em agosto, destacou o trabalho de laboratório que sugere que a variante é pelo menos tão resistente quanto a variante Beta à imunidade, decorrente da vacinação. Mas são necessárias mais evidências de outros estudos de laboratório e casos reais da variante. O grau de ameaça que a variante representa é altamente incerto, e depende se os casos aumentam substancialmente nas próximas semanas e meses, particularmente na presença da variante Delta de rápida disseminação.


“No momento, não há evidências de que a variante Mu esteja superando a variante Delta, e parece improvável que seja mais transmissível”, afirma o relatório, embora avise: “A fuga imunológica pode contribuir para mudanças futuras em crescimento." Parte da preocupação com Mu vem das mutações específicas que ele carrega. Uma mudança genética, a mutação P681H, é encontrada na variante Alpha detectada pela primeira vez em Kent, na Inglaterra, e foi associada a uma transmissão mais rápida. Outras mutações, incluindo E484K e K417N, podem ajudar o vírus a escapar das defesas imunológicas, o que pode dar à variante uma vantagem sobre a Delta, à medida que a imunidade aumenta no outono.


Anticorpos nocivos envolvidos em quase um quinto das mortes de COVID-19


Comentário publicado na Nature em 31/08/2021, onde pesquisadores americanos comentam que autoanticorpos direcionados atacam os interferons do tipo 1, que desempenham um papel fundamental no combate à infecção pelo SARS-CoV-2 em algumas pessoas.


Os anticorpos que se voltam contra elementos de nossas próprias defesas imunológicas, são um fator-chave para doenças graves e morte, após a infecção por SARS-CoV-2 em algumas pessoas, de acordo com um grande estudo internacional. Esses anticorpos nocivos, conhecidos como autoanticorpos, também estão presentes em uma pequena proporção de indivíduos saudáveis ​​não infectados, e sua prevalência aumenta com a idade, o que pode ajudar a explicar por que os idosos correm maior risco de COVID-19 grave.


Os resultados, publicados em 19 de agosto na Science Immunology, fornecem evidências robustas, para apoiar uma observação feita pela mesma equipe de pesquisa em outubro passado. Liderados pelo imunologista Jean-Laurent Casanova da Universidade Rockefeller em Nova York, os pesquisadores descobriram que cerca de 10% das pessoas com COVID-19 grave, tinham autoanticorpos que atacam e bloqueiam os interferons tipo 1, moléculas de proteína no sangue, que têm um papel crítico no combate às infecções virais.


“O relatório inicial do ano passado foi provavelmente um dos artigos mais importantes da pandemia”, diz Aaron Ring, imunologista da Escola de Medicina de Yale em New Haven, Connecticut, que não esteve envolvido neste trabalho. “O que eles fizeram neste novo estudo, foi realmente cavar para ver o quão comuns esses anticorpos são na população em geral, e acontece que eles são surpreendentemente prevalentes”.


A equipe de pesquisa internacional, se concentrou na detecção de autoanticorpos, que pudessem neutralizar concentrações de interferons mais baixas e fisiologicamente relevantes. Eles estudaram 3.595 pacientes de 38 países com COVID-19 crítico, o que significa que os indivíduos estavam doentes o suficiente, para serem admitidos em uma unidade de terapia intensiva. No geral, 13,6% desses pacientes possuíam autoanticorpos, com a proporção variando de 9,6% dos menores de 40 anos a 21% dos maiores de 80 anos. Os autoanticorpos também estavam presentes em 18% das pessoas que morreram da doença.


Casanova e seus colegas, suspeitaram que esses anticorpos nocivos eram uma causa, e não uma consequência, da COVID-19 crítica. Havia indícios de que esse poderia ser o caso, pois o grupo já havia descoberto que os autoanticorpos estavam presentes em cerca de 4 em cada 1000 pessoas saudáveis, ​​cujas amostras haviam sido coletadas antes da pandemia. A equipe também descobriu que os indivíduos com mutações genéticas que interrompem a atividade dos interferons do tipo 1, estão em maior risco de doenças com risco de vida.


Para examinar esse link mais detalhadamente, os pesquisadores procuraram autoanticorpos em uma enorme coleção de amostras de sangue coletadas de quase 35.000 pessoas saudáveis ​​antes da pandemia. Eles descobriram que 0,18% das pessoas entre 18 e 69 anos tinham autoanticorpos existentes contra o interferon tipo 1, e que essa proporção aumentava com a idade: os autoanticorpos estavam presentes em cerca de 1,1% das pessoas com 70 a 79 anos e 3,4% daqueles com mais de a idade de 80 anos.


“Há um grande aumento na prevalência com a idade”, diz Casanova. “Isso explica em grande parte o alto risco de COVID grave em pessoas na população idosa.” Ele acrescenta que essas descobertas têm implicações clínicas claras, e sugere que os hospitais deveriam verificar os pacientes para esses autoanticorpos, bem como mutações implicadas no bloqueio dos interferons tipo 1. Isso poderia identificar as pessoas com maior probabilidade de ficarem gravemente doentes por causa do COVID-19, ajudando os médicos a adequar seu tratamento de maneira individualizada.


Uma amostra de mais de 30.000 pessoas é “grande demais para ser ignorada”, de acordo com Ring. “Isso apenas mostra que precisamos pensar nisso.” Ele acrescenta que os pesquisadores agora devem considerar, se os autoanticorpos desempenham um papel na condução de outras doenças infecciosas. A equipe de Ring já encontrou evidências de autoanticorpos contra vários componentes do sistema imunológico em pessoas com COVID-19, e ele e seus colegas estão agora investigando mais. “Suspeito que apenas começamos a arranhar a superfície”, diz Ring.



Droga oral mostra dados promissores contra a pneumonia COVID-19


Comentário publicado na Medscape Pulmonaru Medicine em

01/09/2021, onde pesquisadores israelenses comentam que um antiviral oral pode melhorar a evolução clínica na Covid-19.


Pacientes gravemente enfermos com pneumonia COVID-19, que receberam o medicamento oral experimental opaganibe, desenvolvido pela farmacêutica israelense RedHill Biopharma necessitaram de menos oxigênio extra, e foram capazes de deixar o hospital mais cedo, do que os pacientes que receberam um placebo, em um pequeno ensaio randomizado, os pesquisadores relataram no dia 29/08/2021 em medRxiv, antes de revisão por pares.


Dentro de 14 dias após a inscrição no estudo, 50,0% dos pacientes que tomaram opaganibe não precisaram mais de oxigênio, em comparação com 22,2% dos pacientes no grupo do placebo. Além disso, 86,4% dos pacientes tratados com opaganibe tiveram alta, contra 55,6% no grupo de placebo.


No dia 26/08/2021, a RedHill já havia anunciado que o opaganibe inibe fortemente a variante Delta do coronavírus, em experimentos em tubo de ensaio. Acredita-se que a droga exerça seu efeito antiviral ao inibir a esfingosina quinase-2 (SK2), uma enzima chave nas células que podem ser recrutadas pelo vírus para apoiar sua replicação, disse a empresa.


Com base no estudo inicial de 42 pacientes realizado no ano passado, a RedHill Biopharma lançou um estudo randomizado muito maior em pacientes hospitalizados com pneumonia COVID-19 grave. O último dos 475 pacientes naquele estudo em estágio final, agora completou o tratamento, e alguns dos dados devem estar disponíveis em breve, disse a empresa na semana passada.



África do Sul detecta nova variante do coronavírus, e ainda está estudando suas mutações


Comentário publicado no Medscape Pulmonary Medicine em 31/08/2021, onde pesquisadores sul-africanos comentam sobre o aparecimento de uma variante da variante Beta sul-africana, potencialmente mais perigosa do que a variante Delta.


Cientistas sul-africanos detectaram uma nova variante do coronavírus com múltiplas mutações, mas ainda não estabeleceram se é mais contagiosa, ou capaz de superar a imunidade fornecida por vacinas ou por infecção anterior.


A nova variante, conhecida como C.1.2, foi detectada pela primeira vez em maio, e agora se espalhou para a maioria das províncias da África do Sul e para sete outros países da África, Europa, Ásia e Oceania, de acordo com pesquisas que ainda não foram revisadas por pares.


Ele contém muitas mutações associadas em outras variantes, c om maior transmissibilidade e sensibilidade reduzida a anticorpos neutralizantes, mas elas ocorrem em uma mistura diferente, e os cientistas ainda não têm certeza de como afetam o comportamento do vírus. Os testes de laboratório estão em andamento para estabelecer o quão bem a variante é neutralizada por anticorpos.


Os pesquisadores notaram que a nova variante é a mais distante do vírus Wuhan original, com mutações entre 44 a 59. E a velocidade com que essas mudanças se acumularam, foi equivalente a uma taxa de 41,8 substituições por ano, quase o dobro da estimativa da taxa de evolução viral original de 24 substituições por ano.


A África do Sul foi o primeiro país a detectar a variante Beta, uma de apenas quatro rotuladas como "preocupante" pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Acredita-se que o beta se espalhe mais facilmente do que a versão original do coronavírus que causa o COVID-19, e há evidências de que as vacinas funcionam bem menos contra ele, levando alguns países a restringir as viagens de ida e volta para a África do Sul.


PANDEMIA LONGA


Richard Lessells, um especialista em doenças infecciosas e um dos autores da pesquisa sobre a C.1.2, disse que seu surgimento nos diz que "esta pandemia está longe de terminar e que este vírus ainda está explorando maneiras de melhorar potencialmente em nos infectar". Ele disse que as pessoas não devem ficar alarmadas nesta fase, e que variantes com mais mutações estão fadadas a emergir ainda mais na pandemia.


Dados de sequenciamento genômico da África do Sul mostram, que a variante C.1.2 ainda não estava nem perto de deslocar a variante Delta dominante em julho, o último mês para o qual um grande número de amostras estava disponível. Em julho, C.1.2 representou 3% das amostras contra 1% em junho, enquanto Delta representou 67% em junho e 89% em julho.


A Delta é a variante mais rápida e adequada que o mundo encontrou, e está alterando as suposições sobre o COVID-19, mesmo quando as nações afrouxam as restrições, e reabrem suas economias. Lessells disse que a C.1.2 pode ter mais propriedades de evasão imunológica do que Delta, com base em seu padrão de mutações, e que as descobertas foram denunciadas à OMS.


Um porta-voz do departamento de saúde da África do Sul se recusou a comentar a pesquisa. A campanha de vacinação do COVID-19 na África do Sul teve um início lento, com apenas cerca de 14% de sua população adulta totalmente vacinada até o momento.


Transmissão aérea de vírus respiratórios


Artigo de revisão publicado no Science em 27/08/2021, em que pesquisadores de diversos países comentam sobre a transmissão aérea de diversos vírus respiratórios, aqui incluído o SARS -CoV-2.


A transmissão aérea, tem sido uma rota subestimada por contribuir para a transmissão de doenças virais respiratórias, em grande parte por causa de uma compreensão insuficiente dos processos de geração e transporte de aerossóis carregados de vírus, bem como a atribuição incorreta de observações anedóticas. A evidência epidemiológica para o domínio da disseminação aérea do SARS-CoV-2 aumentou com o tempo e se tornou especialmente forte.


=> Em primeiro lugar, a diferença distinta entre a transmissão interna e externa não pode ser explicada pela transmissão por gotículas, porque as gotículas acionadas pela gravidade se comportam de forma idêntica em ambientes internos e externos. A alta frequência de eventos de superespalhamento internos em relação aos externos, aponta para a importância da transmissão aérea. O papel demonstrado da má ventilação na transmissão e aglomerados de superespalhamento em ambientes fechados, também é compatível apenas com aerossóis, porque as gotículas e a transmissão dos fômites, não são afetadas pela ventilação. A transmissão aérea de longo alcance do SARS-CoV-2, foi observada em quarentenas de hotéis em países com transmissão muito baixa, e em uma grande igreja.


Durante o surgimento de novos vírus respiratórios, é necessária uma abordagem mais holística que reconheça todos os modos de transmissão, pelo ar, gotículas e fômites, para mitigar com sucesso o risco e prevenir a disseminação. A exigência de evidência direta de infectividade de amostras de aerossóis, antes de reconhecer e adicionar controles para lidar com a transmissão aérea, deixa as pessoas em risco potencial. Quando livre de definições convencionais de rotas de transmissão, a evidência disponível para SARS-CoV-2, vírus influenza e outros vírus respiratórios, é muito mais consistente com a transmissão por aerossóis < 100 μm, do que por gotas raras e grandes borrifadas nas membranas mucosas das pessoas muito próximo. O recente reconhecimento da transmissão aérea do SARS-CoV-2 pela OMS e pelo CDC dos EUA, reforça a necessidade de implementar proteção contra essa rota de transmissão em distâncias curtas e longas.



Aerossóis carregados de vírus (< 100 μm - 1/4m) são gerados primeiro por um indivíduo infectado por meio de atividades expiratórias, por meio das quais são exalados e transportados para o ambiente. Eles podem ser inalados por um hospedeiro potencial para iniciar uma nova infecção, desde que permaneçam infecciosos. Em contraste com as gotículas (> 100 μm - 1/4m), os aerossóis podem permanecer no ar por horas e viajar além de 1 a 2 m do indivíduo infectado que os exala, causando novas infecções em curto e longo alcance.


Uma vez que os mecanismos que levam à transmissão aérea são totalmente compreendidos, reconhecendo que a transmissão por aerossóis é maior a curta distância, torna-se claro que há uma sobreposição nas precauções e medidas de mitigação para gotas e aerossóis, como distanciamento e máscaras, mas medidas extras devem ser levadas em consideração, para mitigar a transmissão de aerossóis em distâncias curtas e longas. Isso inclui atenção à ventilação, fluxos de ar, tipo e ajuste da máscara, filtragem de ar e desinfecção por radiação ultravioleta, bem como medidas de distinção, entre ambientes internos e externos.

Embora nosso conhecimento ainda esteja aumentando, já se sabe o suficiente para adicionar medidas de proteção, para melhor proteger contra a transmissão aérea de vírus respiratórios, observando que as “precauções com gotículas” não são substituídas, mas expandidas.


=> O fluxo de ar em ambientes internos é mediado pelo projeto e status operacional dos sistemas de ventilação, incluindo o tipo de sistema de ventilação, seja natural com portas e janelas abertas, mecânico com ventiladores ou um híbrido destes padrões de fluxo de ar, taxa de renovação de ar, e sistemas suplementares, como filtração de ar. A OMS recomendou recentemente uma taxa de ventilação de 10 litros por segundo por pessoa. A colocação adequada de purificadores portáteis de partículas de ar de alta eficiência (HEPA), que são capazes de remover ≥ 99,97% das partículas de aerossol ≥ 0,3 μm, também é eficaz na redução da exposição de aerossóis infecciosos, especialmente quando combinados com ventilação e mascaramento universal.


Embora a ventilação e a filtração ajudem a remover os aerossóis carregados de vírus, elas devem ser implementadas corretamente, para reduzir a disseminação e o risco de inalação do aerossol. Um estudo avaliou quantitativamente o risco de transmissão aérea de COVID-19 por indivíduos assintomáticos em elevadores, salas de aula e configurações de supermercado, combinando medições in situ e simulações de dinâmica de fluidos computacional, mostrando que a ventilação inadequada pode criar pontos de acesso com riscos muito maiores do que em outros locais da sala.


=> Uma alta proporção de indivíduos infectados com SARS-CoV-2 não apresenta sintomas no momento do teste. Cerca de 20 a 45% dos indivíduos infectados com SARS-CoV-2, permaneceram assintomáticos durante o curso da infecção, enquanto alguns indivíduos infectados experimentaram uma fase pré-sintomática, e começaram a desenvolver sintomas vários dias após a infecção. A infectividade do SARS-CoV-2 atinge o pico dois dias antes, e se estende até um dia após o início dos sintomas.


Altas taxas de infecção assintomática, também foram relatadas para o vírus da gripe e outras infecções respiratórias virais. Embora alguns estudos sugiram que a transmissão aérea não é uma via eficiente, particularmente para indivíduos assintomáticos e levemente sintomáticos, que provavelmente têm cargas virais baixas em sua saliva, a carga viral em indivíduos pré-sintomáticos é comparável à de pacientes sintomáticos.


É importante implementar controles, que protejam contra a exposição de aerossóis infecciosos carregados de vírus produzidos, quando indivíduos infectados sem quaisquer sintomas falam, cantam ou simplesmente respiram. Como esses indivíduos não sabem que estão infectados, geralmente continuam envolvidos em atividades sociais, levando à transmissão pelo ar.


=> O mascaramento universal é uma forma eficaz e econômica de bloquear aerossóis carregados de vírus. Simulações de modelo mostram que as máscaras previnem efetivamente a transmissão assintomática, e reduzem o número total de indivíduos infectados, bem como a mortalidade como resultado do COVID-19. É crucial otimizar o uso de máscaras.


Foi demonstrado que as máscaras cirúrgicas reduzem a liberação no ar por indivíduos infectados de vírus influenza, coronavírus humanos sazonais e rinovírus em aerossóis < 5 μm em até 100%, embora para alguns indivíduos possa não haver redução; e as máscaras são mais eficazes para limitar as gotículas. Máscaras feitas de combinações de diferentes tecidos e/ou camadas múltiplas, quando usadas de maneira adequada e sem vazamentos, podem bloquear até 90% das partículas entre 0,5 e 10 μm. Pequenos espaços entre o material da máscara e a pele, podem levar a diminuições substanciais na eficiência geral da filtração. Para aerossóis < 2,5 μm, a eficiência de filtração diminui em 50% para uma área de vazamento relativa de 1%.


=> Um estudo comparou a eficiência de filtração viral do N95, de máscaras cirúrgicas e de máscaras tecido, usando um vírus modelo, e descobriu que a eficiência do N95 e de algumas máscaras cirúrgicas excedeu 99%; e todas as máscaras de tecido testadas foram pelo menos 50% eficientes. A eficácia das máscaras N95, cirúrgicas e de algodão no bloqueio de aerossóis contendo SARS-CoV-2, foi investigada usando manequins colocados face a face. As máscaras N95 demonstraram a maior eficiência no bloqueio do SARS-CoV-2 infeccioso. Quase todas as máscaras oferecem pelo menos alguma proteção, mas não são 100% eficazes.


A simulação de transporte e deposição de partículas para avaliar o risco em:


(A) uma configuração em elevador com uma pessoa assintomática com uma respiração sob alta ventilação (filme suplementar S1), falando sob alta ventilação (filme suplementar S2) e falando sob baixa ventilação (filme suplementar S3),

(B) um pequeno ambiente de sala de aula com um professor assintomático e o sistema de ventilação de teto localizado na parte de trás (a parte superior da figura, filme suplementar S4) e na frente da sala (a parte inferior da figura, filme suplementar S5), respectivamente,

(C) um pequeno supermercado com um comprador assintomático (suas 10 paradas ao longo da rota tracejada estão marcadas no esquema), e o sistema de ventilação de teto localizado no canto traseiro (parte superior da figura, filme suplementar S6) e entrada do supermercado (parte inferior da figura, filme suplementar S7), respectivamente.


Exceto para a configuração de ventilação baixa em A, a taxa de ventilação de cada configuração é projetada para substituir todo o ar no espaço a cada 2 minutos, representando o limite superior da condição de ventilação recomendada de cada configuração. Em cada configuração, o risco de uma pessoa encontrar partículas contendo vírus em um local específico, é avaliado como o número total de partículas que passam por esse local durante o tempo de simulação, o que pode ser interpretado como o número de partículas que uma pessoa pode inalar nesta localização durante o tempo simulado.


=> A transmissão de SARS-CoV-2 ocorreu em ambientes de saúde, apesar do uso das máscaras médicas (projetadas para gotículas, não para aerossóis), e do uso de proteção para os olhos, o que ilustra a necessidade de equipamento de proteção individual (EPI) adequado, e múltiplas intervenções em camadas contra a transmissão aérea, especialmente em ambientes internos de alto risco. Os estabelecimentos de saúde têm maior probabilidade de acomodar pacientes infectados com vírus respiratórios. Portanto, o pessoal de saúde deve receber EPI adequado para reduzir a exposição no ar.


=> Pessoas que ocupam espaços internos, têm maior potencial de exposição a altas concentrações de aerossóis carregados de vírus, especialmente em ambientes internos mal ventilados e/ou lotados, onde os aerossóis carregados de vírus podem se acumular prontamente. Medidas preventivas devem ser implementadas em todos os momentos ao viajar em aviões, trens, ônibus, navios e navios de cruzeiro, que têm espaços aéreos relativamente pequenos e fechados, onde a ventilação pode nem sempre ser a ideal.


=> Muitos estudos indicam, que o risco de transmissão aérea em ambientes externos, é substancialmente menor do que em ambientes internos; no entanto, o risco de transmissão ao ar livre existe em situações de proximidade, especialmente se falando, cantando ou gritando por um tempo prolongado. O risco de transmissão externa pode aumentar com o aumento da vida útil e da transmissibilidade de vírus, como certas variantes do SARS-CoV-2.


A aerossolização de águas residuais contendo vírus e de descargas fecais de hospitais, também apresentam riscos potenciais de exposição ao ar livre, que não devem ser subestimados. Implementar sistemas de ventilação eficazes, reduz a transmissão aérea de aerossóis infecciosos carregados de vírus. Estratégias como garantir taxas de ventilação suficientes, e evitar a recirculação são recomendadas. Os sensores de dióxido de carbono podem ser usados ​​como indicadores do acúmulo de ar exalado, e servir como uma maneira simples de monitorar e otimizar a ventilação. Os sensores de aerossol também podem ser usados ​​para avaliar as eficiências de filtração de aerossol HEPA e HVAC, que são essenciais para reduzir as infecções causadas por aerossóis carregados de vírus.


=> Garantir uma taxa de ventilação mínima de 4 a 6 renovações de ar por hora e manter os níveis de dióxido de carbono abaixo de 700 a 800 ppm são recomendados, embora o tipo de ventilação e a direção, e o padrão do fluxo de ar, também devam ser levados em consideração. Aumentar a eficiência da filtragem de ar em sistemas HVAC, purificadores HEPA autônomos, ou implementar sistemas de desinfecção por radiação UV na parte superior da sala, pode reduzir ainda mais as concentrações de aerossóis carregados de vírus.


=> O distanciamento físico, uma mitigação posta em prática para lidar com a transmissão de gotículas, também é eficaz na redução das chances de inalação de aerossol, porque as concentrações de aerossol são muito maiores na proximidade de um indivíduo infectado. A OMS e muitas agências nacionais de saúde pública, recomendam manter distâncias físicas de 1 ou 2 metros. No entanto, essa distância não é suficiente para proteger contra aerossóis que viajam além desse intervalo.


Se grandes gotas dominassem a transmissão, o distanciamento, por si só, já teria suprimido efetivamente a transmissão do SARS-CoV-2. Como foi repetidamente mostrado em eventos de superespalhamento, a transmissão aérea ocorre em quartos mal ventilados, quando os ocupantes inalam ar ambiente infeccioso. Além disso, embora o distanciamento ajude a afastar as pessoas das partes mais concentradas das nuvens respiratórias, o distanciamento, por si só, não para a transmissão e não é suficiente sem levar em conta outras medidas, como ventilação e filtração, o número de pessoas emitindo aerossóis infecciosos, e o quantidade de tempo gasto em espaços fechados.


O número desconhecido de indivíduos infectados assintomáticos (incluindo pré-sintomáticos) presentes em ambientes ambientais específicos, é um desafio adicional no controle das doenças respiratórias. Medidas de engenharia para reduzir as concentrações de aerossol por meio de ventilação, filtração e desinfecção por radiação UV da sala superior, continuam sendo estratégias críticas, para reduzir os riscos de transmissão pelo ar.


Apesar do reconhecimento emergente da transmissão aérea de vírus respiratórios, vários problemas requerem uma exploração mais aprofundada. Por exemplo, medições diretas são necessárias da concentração de vírus em aerossóis e gotículas, em função do seu tamanho e de seu potencial para iniciar uma nova infecção. O tempo de vida dos vírus em aerossóis de tamanhos variados, requer outra investigação sistemática. Mais estudos são necessários para quantificar a relação entre a dose viral fornecida por aerossóis e gotículas, e a gravidade da infecção; essa relação provavelmente varia consideravelmente para vírus diferentes. Também é importante investigar se a gravidade da doença, se correlaciona com o tamanho e número de aerossóis, e o local em que são depositados no trato respiratório.


=> Embora mais estudos sejam necessários, evidências inequívocas indicam que a transmissão aérea é uma das principais vias de disseminação do SARS-CoV-2 e de muitos outros vírus respiratórios. Medidas de precaução adicionais devem ser implementadas para mitigar a transmissão de aerossol em distâncias curtas e longas, com foco principal em ventilação, fluxos de ar, filtração de ar, desinfecção UV e ajuste da máscara.


Essas intervenções são estratégias críticas para ajudar a acabar com a pandemia atual, e prevenir surtos futuros. É importante observar que essas medidas propostas para melhorar a qualidade do ar interno, levarão a melhorias há muito esperadas, que têm benefícios para a saúde que vão muito além da pandemia da COVID-19.



40% dos pacientes com deficiência no sistema imunológico apresenta menor resposta às vacinas


Comentário publicado no British Medical Journal em 24/08/2021, onde uma pesquisadora britânica comenta que 4 em cada 10 pessoas que são clinicamente vulneráveis, ​​geram níveis mais baixos de anticorpos do que receptores saudáveis, ​​depois de duas injeções da vacina contra SARS-CoV-2, descobriu um estudo.


O ensaio Octave (estudo observacional de coorte de células T, anticorpos e eficácia da vacina em SARS-CoV-2), é um dos maiores do mundo, que analisou a resposta à vacinação Covid-19 em pacientes imunocomprometidos. Ele comparou 600 pacientes, que tinham alguma deficiência no sistema imunológico por causa de seu processo de doença ou tratamento, com a resposta de anticorpos de pessoas saudáveis ​​do estudo Pitch (imunidade protetora de células T em trabalhadores da área de saúde).


O ensaio incluiu pacientes com câncer de órgão sólido e hematológico, doença renal e hepática em estágio final, transplantes de órgãos e doença inflamatória imunomediada, como doença inflamatória intestinal, vasculite ou artrite reumatoide, aqueles pacientes que não foram incluídos nos dados do ensaio da vacina original.


Os resultados, publicados como uma pré-impressão no site do Lancet, mostraram que 89% dos pacientes imunocomprometidos soroconverteram dentro de quatro semanas da segunda dose da vacina, em comparação com 100% dos participantes saudáveis ​​no ensaio Pitch.


No geral, 60% dos pacientes imunocomprometidos tiveram uma resposta de anticorpos equivalente à de receptores de vacina saudáveis, mas 11% daqueles com alguma deficiência no sistema imunológico não conseguiram gerar quaisquer anticorpos.


A falha na soroconversão foi particularmente alta em certos grupos: 72,4% dos pacientes com vasculite associada a ANCA e 98% dos pacientes com artrite inflamatória estavam nesta categoria. Notavelmente, todos os pacientes com vasculite associada a ANCA receberam rituximabe, uma terapia de depleção de células B direcionada, e os pesquisadores suspeitam de uma possível ligação entre a baixa soroconversão e o rituximabe, devido à importância das células B na resposta imune à Covid-19.


Análise imunológica


As descobertas foram compartilhadas com o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização do Reino Unido, que deve decidir sobre o fornecimento de vacinas de reforço no início de setembro. Alguns países que já estão administrando doses de reforço, priorizaram pessoas com doenças crônicas, ou que estão recebendo terapias imunossupressoras.


Iain McInnes, investigador-chefe do Octave, esclareceu que se tratava de uma análise imunológica, observando a resposta de anticorpos e células (células T), não um ensaio de eficácia clínica examinando respostas a vacinas específicas ou doses mistas.


Embora houvesse preocupação com a falta de soroconversão em algumas pessoas, os pesquisadores notaram que esses pacientes tinham uma resposta celular (célula T), o sistema de "backup" do corpo. Isso sugere que a vacina é imunologicamente ativa em todos os pacientes, mas que o tipo e a qualidade dessa resposta variam.


O ensaio, financiado pelo Conselho de Pesquisa Médica, é um ensaio multicêntrico em todo o Reino Unido, liderado pela Universidade de Glasgow e coordenado pela Unidade de Ensaios Clínicos do Cancer Research UK da University of Birmingham.


Compreender a Longa COVID: um desafio médico moderno


Editorial publicado no The Lancet em 26/08/2021, onde um pesquisador americano comenta que fornecer cuidados compassivos e multidisciplinares para o tratamento da Longa Covid, exigirá toda a amplitude da engenhosidade científica e médica. É um desafio ao qual toda a comunidade de saúde deve enfrentar.


À medida que a pandemia de COVID-19 continua, a necessidade de compreender e ter uma resposta para a Longa COVID, é cada vez mais premente. Sintomas como fadiga persistente, falta de ar, névoa cerebral e depressão, podem debilitar milhões de pessoas no mundo todo. No entanto, muito pouco se sabe sobre a condição. O termo “Longa COVID” é comumente usado para descrever sinais e sintomas que continuam ou se desenvolvem após a COVID-19 aguda. Uma diretriz NICE, por exemplo, inclui COVID-19 sintomática contínua (de 4 a 12 semanas) e síndrome pós-COVID-19 (≥ 12 semanas), mas não há uma definição acordada. Qual a diferença entre a Longa COVID e outras síndromes pós-virais?


Não existem características bioquímicas ou radiológicas claras, para auxiliar no diagnóstico, e existem potencialmente vários fenótipos com apresentações, prognósticos e resultados diferentes. Sem tratamentos comprovados, ou mesmo orientação de reabilitação, a Longa COVID afeta a capacidade das pessoas de retomar a vida normal e de trabalhar. O efeito sobre a sociedade, do aumento da carga de saúde e das perdas econômicas e de produtividade, é substancial. Longa COVID é um desafio médico moderno de primeira ordem.


Claramente, a condição é de preocupação de saúde pública. No Reino Unido, por exemplo, cerca de 945.000 pessoas (1,5% da população) tiveram Longa COVID autorrelatada em 4 de julho de 2021, de acordo com o UK Office for National Statistics, incluindo 34.000 crianças de 2 a 16 anos. A prevalência foi maior em pessoas de 35 a 69 anos, meninas e mulheres, pessoas que viviam em áreas mais carentes, pessoas que trabalhavam na área de saúde ou assistência social, e aquelas com outra condição de saúde ou deficiência que limitava suas atividades.


A maioria das evidências sobre Longa COVID foi limitada e baseada em pequenas coortes com seguimento curto. No entanto, no The Lancet, Lixue Huang e colegas, relatam resultados de 12 meses da maior coorte longitudinal de sobreviventes adultos hospitalizados de COVID-19 até agora. Incluindo adultos (idade média de 59 anos) que receberam alta do Hospital Jin Yin-tan em Wuhan, China, este estudo avança nossa compreensão da natureza e extensão da Longa COVID.


Em 1 ano, os sobreviventes da COVID-19 tiveram mais problemas de mobilidade, dor ou desconforto e ansiedade ou depressão, do que os participantes do controle (adultos residentes na comunidade pareados sem infecção por SARS-CoV-2). Fadiga ou fraqueza muscular foi o sintoma mais frequentemente relatado em ambos os 6 meses e 12 meses, enquanto quase metade dos pacientes relatou ter pelo menos um sintoma, como dificuldades para dormir, palpitações, dor nas articulações ou dor no peito, aos 12 meses. O estudo mostra que, para muitos pacientes, a recuperação completa da COVID-19 levará mais de 1 ano, e levanta questões importantes para os serviços de saúde e pesquisas.


Em primeiro lugar, apenas 0,4% dos pacientes com COVID-19 afirmaram ter participado de um programa de reabilitação profissional. A razão para o baixo uso de serviços de reabilitação não é clara, mas o mau reconhecimento da Longa COVID e a falta de vias claras de encaminhamento, têm sido problemas comuns em todo o mundo. Em segundo lugar, o efeito da Longa COVID na saúde mental justifica uma investigação mais aprofundada e de longo prazo. A proporção de sobreviventes de COVID-19, que tiveram ansiedade ou depressão, aumentou ligeiramente entre 6 meses e 12 meses, e a proporção foi muito maior em sobreviventes de COVID-19 do que em controles. Terceiro, os resultados desta coorte não podem ser generalizados para outras populações, por exemplo, pacientes não internados no hospital, pessoas mais jovens, e aqueles de grupos racialmente minoritários e outros grupos desfavorecidos, que foram desproporcionalmente afetados pela pandemia. A pesquisa nessas populações precisa ser priorizada com urgência.


Tedros Adhanom Ghebreyesus, Diretor-Geral da OMS, exortou os países a priorizarem o reconhecimento, a reabilitação e a pesquisa para as consequências de longo prazo da COVID-19, bem como a coleta de dados para a Longa COVID. Uma agenda de pesquisa coesa é necessária para evitar o desperdício de pesquisas, e melhorar os resultados para os pacientes. As comunidades científicas e médicas devem colaborar para explorar o mecanismo e a patogênese da Longa COVID, estimar as cargas globais e regionais da doença, delinear melhor quem está em maior risco, entender como as vacinas podem afetar a condição, e encontrar tratamentos eficazes por meio de ensaios clínicos randomizados. Ao mesmo tempo, os profissionais de saúde devem reconhecer e validar a presença dos sintomas persistentes da Longa COVID nos pacientes, e os sistemas de saúde precisam estar preparados para atender às metas individualizadas e orientadas para os pacientes, com uma força de trabalho devidamente treinada envolvendo aspectos físicos e cognitivos, elementos sociais e ocupacionais.


Responder a essas perguntas de pesquisa e, ao mesmo tempo, fornecer cuidados compassivos e multidisciplinares, exigirá toda a amplitude da engenhosidade científica e médica. É um desafio ao qual toda a comunidade de saúde deve enfrentar.



Anticorpos monoclonais de longa ação parecem promissores para a prevenção de COVID-19


Comentário publicado no Pulmonology Advisor em 26/08/2021, onde um pesquisador americano comenta que resultados bastante positivos foram anunciados a partir de um estudo de fase 3, que avaliou a eficácia e segurança de uma combinação de 2 anticorpos monoclonais de longa ação para a prevenção da COVID-19.


O AZD7442 é uma combinação de 2 anticorpos monoclonais de longa ação, tixagevimab e cilgavimab, derivados de células B doadas por pacientes convalescentes, que foram infectados com o vírus SARS-CoV-2. Os anticorpos investigacionais são projetados para se ligarem a locais distintos na proteína spike SARS-CoV-2, com meia-vida estendida e redução do receptor Fc e ligação do complemento C1q.


O ensaio PROVENT multicêntrico, randomizado, duplo-cego, controlado por placebo incluiu 5197 participantes com 18 anos ou mais, que se beneficiariam de 2 anticorpos de longa ação, definidos como tendo risco aumentado de resposta inadequada à imunização ativa, ou com risco aumentado de infecção por SARS-CoV-2. No momento da triagem, os participantes não estavam vacinados, e tiveram um teste sorológico SARS-CoV-2 negativo no local de atendimento.


Os participantes foram designados aleatoriamente 2:1 para receber uma única dose intramuscular de 300 mg de AZD7442 ou placebo salino, administrada em 2 injeções intramusculares separadas. O endpoint primário de eficácia foi o primeiro caso de doença sintomática positiva com reação em cadeia da polimerase-transcriptase reversa SARS-CoV-2, ocorrendo após a dose antes do dia 183.


Entre 5172 participantes avaliáveis, os resultados mostraram que o AZD7442 atingiu o desfecho primário, alcançando uma redução de 77% (IC 95%, 46% -90%) no risco de desenvolver COVID-19 sintomática, em comparação com o placebo. Não houve nenhum caso de COVID-19 grave ou mortes relacionadas à COVID-19 no braço de tratamento com AZD7442, em comparação com 3 casos de COVID-19 grave no braço do placebo, incluindo 2 mortes. O perfil de segurança do AZD7224 foi considerado bem tolerado.


Os resultados completos dos testes serão submetidos para publicação em um jornal médico revisado por pares, e apresentados em uma próxima reunião médica. A empresa se preparará para enviar os dados do estudo de fase 3 de PROVENT e STORM CHASER às autoridades de saúde, para autorização de uso de emergência ou aprovação condicional para AZD7442.


Dr. Myron J. Levin, Professor de Pediatria e Medicina da Escola de Medicina da Universidade do Colorado e investigador principal do estudo, observou que os "dados do PROVENT mostram que uma dose de AZD7442, administrada em uma forma intramuscular conveniente, pode ser rápida e prevenir eficazmente COVID-19 sintomática. Com esses resultados empolgantes, o AZD7442 pode ser uma ferramenta importante em nosso arsenal para ajudar as pessoas que podem precisar de mais do que uma vacina para retornar às suas vidas normais.”


Sequela respiratória residual após COVID-19 com envolvimento pulmonar mais grave


Comentário publicado no BMC Pulmonary Medicine em 24/08/2021, em que pesquisadores italianos comentam que os resultados deste estudo sugerem, que as anormalidades respiratórias persistem ao longo do tempo, em pacientes com COVID-19, que apresentaram uma forma mais grave da doença durante a hospitalização.


Introdução


Em dezembro de 2019, um novo coronavírus (SARS-CoV-2), capaz de infectar o trato respiratório em humanos, surgiu em Wuhan (China), causando uma doença conhecida como COVID-19. Uma possível complicação da infecção por SARS-CoV-2, é uma síndrome respiratória aguda grave (SARS), decorrente de pneumonia intersticial. Em 11 de março de 2020, a OMS declarou a COVID-19 uma pandemia global. Em junho de 2021, mais de 175 milhões de pessoas foram infectadas pelo SARS-CoV-2 em todo o mundo e 3,8 morreram.


Vários estudos relataram, uma variedade de características clínicas e laboratoriais, entre pacientes com COVID-19 hospitalizados, incluindo níveis elevados de marcadores inflamatórios. A frequência de comprometimento respiratório e funcional após COVID-19 ainda é debatida, mas vários estudos encontraram volumes pulmonares reduzidos, Capacidade de Difusão para Monóxido de Carbono (CDCO) reduzida e tolerância a exercícios reduzida após a alta hospitalar. Um acompanhamento abrangente com uma estratégia de etapas para pacientes com COVID-19 após a recuperação clínica foi defendido. Realizamos um estudo para investigar a prevalência de comprometimento respiratório em uma coorte de pacientes com COVID-19 após a alta hospitalar, e para determinar a relação entre a gravidade do envolvimento pulmonar durante a hospitalização, e a extensão das anormalidades clínicas e funcionais residuais.


População e subgrupos do estudo


No programa ambulatorial pós-COVID-19 da Fondazione Policlinico Universitario "A. Gemelli" em Roma, na Itália, uma equipe multidisciplinar avalia os pacientes após a alta hospitalar. Pacientes que se apresentaram entre 22 de abril e 27 de maio de 2020, foram convidados a participar do estudo. Os critérios de inclusão foram: internação anterior por COVID-19; evidência radiológica de pneumonia intersticial no momento da admissão hospitalar; esfregaço nasofaríngeo negativo para SARS-Cov-2 nas 48–72 horas antes da inscrição no estudo.


Com base nos valores de análise da Gasometria Arterial (GA) durante a hospitalização, três subgrupos foram definidos usando o pior valor de PaO2/FiO2 (p/F): leve (p/F ≥ 300), moderado (≤ 200 p/F <300), e grave (p/F <200). Esses valores, derivados dos Critérios de Berlim para SDRA, foram usados ​​na prática clínica para estratificar a gravidade da insuficiência respiratória. O consentimento informado por escrito foi obtido de cada participante.


Desenho de estudo e avaliações


Neste estudo transversal, todos os pacientes foram submetidos a exame físico, gasometria arterial em repouso, Provas de Função Pulmonar (PFP) com CDCO e Teste de Caminhada de 6 minutos (TC6’) no momento da visita do estudo. Os testes de função pulmonar foram realizados de acordo com as diretrizes internacionais atuais. O TC6’ foi usado para avaliar o nível submáximo de capacidade funcional. Após 6 min de repouso, o paciente foi instruído a caminhar ao longo de um corredor de 50 m o mais rápido possível por 6 minutos, usando um oxímetro de pulso de dedo para registrar a Saturação Percutânea de Oxigênio ou Oximetria de Pulso (SpO2) e a Frequência Cardíaca (FC). No final dos 6 minutos (ou antes, se o paciente não conseguisse andar mais por causa de fadiga, dispneia ou dor no peito, ou se a saturação caísse abaixo de 80%), a distância percorrida era registrada e o paciente era convidado a sentar-se e descansar por 6 min. Uma queda na saturação de oxigênio ≥ 4% da linha de base foi considerada clinicamente relevante.


Durante a visita do estudo, uma pontuação da Escala Visual Analógica (EVA) foi usada, para medir os níveis de dispneia e tosse. Usando uma escala linear de 100 mm, em que 0 mm representa ausência, e 100 mm representa a pior dispneia e tosse, os pacientes foram solicitados a relatar os níveis desses dois sintomas no início da doença (ou seja, imediatamente antes da admissão hospitalar), durante a hospitalização, e no momento da visita de estudo. Os dados retrospectivos coletados para este estudo incluíram achados de imagem do tórax, tratamentos farmacológicos, valores de p/F, o tipo de suporte respiratório e a duração da hospitalização.


Características da população de estudo


Cento e cinquenta e sete pacientes incluídos no programa de acompanhamento pós-Covid, foram selecionados para inclusão no estudo. Vinte e seis pacientes foram excluídos, devido à positividade do swab nasofaríngeo SARS-Cov-2; dezoito pacientes foram excluídos por falta de evidência radiológica de pneumonia COVID-19 no momento da internação; 27 pacientes foram excluídos por não terem sido internados (alta do Pronto Socorro). Oitenta e seis pacientes foram incluídos nas análises.


A visita do estudo ocorreu 35 dias (média: ± 21) após a alta hospitalar. No momento da admissão hospitalar, a imagem do tórax (ou seja, radiografia de tórax ou tomografia computadorizada de tórax) revelou opacidades em vidro fosco bilaterais (OVF) com ou sem consolidações em 70 pacientes (81%). Dezesseis pacientes (19%) tiveram envolvimento pulmonar unilateral. Durante a internação, 56 (65%) pacientes necessitaram de oxigênio suplementar e 15 pacientes (17%) foram admitidos na unidade de terapia intensiva.


O teste de função pulmonar mostrou volumes pulmonares globais preservados, com capacidade pulmonar total prevista (CPT) média percentual de 89,6% (± 14,6%) e capacidade vital forçada prevista (CVF) percentual média de 104,6% (± 18,5%). A porcentagem média do volume expiratório forçado previsto no primeiro segundo (VEF1) foi de 102,8% (± 16,0%). O volume residual predito percentual médio (VR) foi o único volume respiratório reduzido abaixo do percentil 5 (74,8 ± 18,1%). A percentagem da CDCO prevista também foi ligeiramente reduzida (77,2 ± 16,5%).


A pressão parcial média de oxigênio (pO2) foi de 91,4 mmHg (± 8,0) e o gradiente alvéolo-arterial de oxigênio (d (A-a)) foi de 13,0 mmHg (± 7,5). Aproximadamente um mês após a alta hospitalar, os pacientes relataram mais dispneia do que valores pré-admissão.


Comparação de grupos de estudo por relação p/F


A maioria dos pacientes (88%) fez uma gasometria arterial durante a internação e, portanto, foi incluída nesta análise. Entre os pacientes excluídos, 8 pacientes não realizaram gasometria arterial e 2 pacientes realizaram gasometria arterial com fração inalada de oxigênio desconhecida.


Sexo, tabagismo e comorbidades não foram diferentes entre os grupos. Seis pacientes (21%) no grupo de hipoxemia leve tinham história de asma. Os pacientes no grupo de hipoxemia grave eram mais velhos (63,1 anos), tiveram um tempo de internação mais longo (23,0 dias) e foram tratados com medicamentos anti-IL-6 e enoxaparina mais frequentemente (respectivamente 81% e 95%).


Os volumes pulmonares foram geralmente menores no grupo de hipoxemia grave, incluindo menor porcentagem de CVF prevista, menor porcentagem de VEF1 previsto e menor porcentagem de CPT prevista. No grupo de hipoxemia grave, o percentual médio de CPT previsto foi de 80,4% (± 3,1), indicando um comprometimento restritivo residual após 35 dias da alta hospitalar. CDCO também foi mais reduzido (64,9 ± 3,2% do previsto) no grupo de hipoxemia grave do que nos outros dois grupos.


Como esperado, o gradiente alvéolo-arterial de oxigênio aumentou progressivamente entre os grupos de estudo, variando de 10,1 mmHg (± 1,4) no grupo com hipoxemia leve, a 16,6 mmHg (± 1,6) no grupo com hipoxemia grave. Comparados aos pacientes do grupo de hipoxemia grave, os pacientes do grupo de hipoxemia leve demonstraram maior tolerância ao exercício (+ 80,0 m na distância percorrida no TC6’) e oximetria mais alta na SpO2 (+ 2,5%). Os níveis de dispneia e tosse no momento da visita do estudo foram semelhantes entre os grupos.


Discussão


Os resultados deste estudo sugerem, que as anormalidades respiratórias persistem ao longo do tempo, em pacientes com COVID-19, que apresentaram uma forma mais grave da doença durante a hospitalização. Vários estudos já relataram uma redução nos volumes pulmonares e nos níveis da CDCO, bem como redução da tolerância ao exercício após a alta hospitalar. Nosso estudo expande esses achados em uma coorte italiana maior. Até onde sabemos, este é o primeiro estudo que estabelece as relações entre a gravidade da insuficiência respiratória aguda (medida pela relação p/F) e uma ampla gama de gasometria arterial e parâmetros fisiológicos.

Identificamos uma persistência de dispneia na população geral do estudo, um achado consistente com um estudo de Wong e colaboradores, que relatou dispneia em metade dos 78 pacientes com COVID-19, após a alta hospitalar.


Para explorar o impacto da gravidade da doença nas anormalidades respiratórias residuais, os pacientes foram estratificados em três grupos, de acordo com os níveis de insuficiência respiratória, durante a internação. Não foram observadas diferenças significativas em relação aos tratamentos, exceto enoxaparina e anti-IL-6, administrados com maior frequência no grupo grave. O uso limitado de corticosteroides foi provavelmente devido, ao fato de que as evidências para o uso de dexametasona apareceram no final do estudo. Não podemos excluir que um uso mais extenso de corticosteroides teria mudado nossos achados.


Os pacientes com doença leve e moderada, tinham volumes pulmonares normais. Em contraste, uma redução leve no VR foi encontrada no grupo com hipoxemia grave. Se este achado resulta de complacência pulmonar alterada neste grupo, ainda precisa ser determinado. Além disso, a CPT estava no limite inferior do normal no grupo grave: este achado sugere uma ligação entre a gravidade da pneumonia por COVID-19 e a redução dos volumes pulmonares. Não foi possível determinar se tais anormalidades foram devido à presença de sequelas fibróticas após a pneumonia intersticial aguda, uma vez que nossa coorte não foi submetida a uma tomografia computadorizada de tórax, no momento da visita do estudo. Além disso, identificamos valores normais de CDCO nos grupos de hipoxemia leve e moderada, e valores reduzidos no grupo de hipoxemia grave. Isso pode refletir o grau de dano microvascular e epitelial, provavelmente mais consistente nos casos graves. Pacientes em recuperação de SDRA de qualquer causa, podem apresentar comprometimento funcional persistente, um ano após a alta hospitalar. Portanto, esses achados podem não ser específicos para COVID-19.


Nosso estudo teve várias limitações. A TCAR não estava disponível no momento da visita do estudo: como tal, as relações entre o comprometimento funcional e as alterações fibróticas residuais, permanecem desconhecidas. O tempo de acompanhamento neste estudo é curto, e mais estudos são necessários para esclarecer se as anormalidades respiratórias persistem em longo prazo. O uso da relação p/F para classificar a gravidade do COVID-19 não é ideal, pois pode não ser confiável em pacientes não intubados. Finalmente, os níveis de dispneia e tosse antes e durante a hospitalização, foram coletados no momento da avaliação clínica de acompanhamento: eles podem, portanto, não medir com precisão a gravidade dos sintomas nesses pontos temporais.


Conclusão


A pneumonia COVID-19 grave pode resultar em anormalidades respiratórias, e uma redução na tolerância ao exercício, que pode estar presente pelo menos um mês após a alta hospitalar. Além disso, uma baixa relação p/F durante a fase aguda da infecção, parece se correlacionar com uma redução residual dos volumes pulmonares e redução residual na CDCO. Um acompanhamento adicional é necessário, para determinar o grau de comprometimento pulmonar e de exercícios, após a hospitalização por pneumonia COVID-19.



PROJEÇÃO DE MORTES PELA COVID-19 NO BRASIL ATÉ 01/11/2021 PELO INSTITUTE FOR HEALTH METRICS AND EVALUATION DA UNIVERSIDADE DE WASHINGTON: 670.642 MIL.

A proteção com duas doses de vacina Covid-19 diminui em seis meses


Comentário publicado no British Medical Journal em 24/08/2021, onde um pesquisador britânico comenta que a proteção fornecida por duas doses das vacinas contra a Covid-19 da Pfizer e da AstraZeneca diminui em seis meses, sugere uma análise de dados do Reino Unido.


A última análise do Estudo Zoe Covid, que investiga a eficácia da vacina no mundo real, examinou dados de resultados positivos de testes de PCR, entre maio e julho de 2021, de 1,2 milhão de pessoas que receberam duas doses da vacina Pfizer ou AstraZeneca.


Os resultados, divulgados em um comunicado à imprensa, mostram que a proteção após duas doses da vacina Pfizer, diminuiu de 88% em um mês para 74% em cinco a seis meses; a proteção para o AstraZeneca diminuiu foi de 77% em um mês para 67% em quatro a cinco meses.


Tim Spector, cientista-chefe do aplicativo de estudo Zoe Covid, disse que as descobertas mostraram a necessidade de avaliar se doses de reforço podem ser necessárias para alguns grupos. “Na minha opinião, um cenário de pior caso razoável, poderia ver proteção abaixo de 50% para idosos e profissionais de saúde no inverno”, disse ele. “Se houver altos níveis de infecção no Reino Unido, impulsionados por restrições sociais atenuadas e uma variante altamente transmissível, esse cenário pode significar um aumento de hospitalizações e mortes. Precisamos urgentemente fazer planos para reforços de vacinas, e decidir se uma estratégia para vacinar crianças é sensata.”


Comentando os resultados, Ian Jones, professor de virologia da Universidade de Reading, disse: “A diminuição da imunidade tem sido uma preocupação desde o início da epidemia, com base em dados dos coronavírus comumente circulantes. Até o momento, no entanto, os estudos que se seguiram à vacinação têm sido um pouco mais otimistas, sugerindo que a queda no título de anticorpos pode ser mais lenta, do que se supôs inicialmente. Este último estudo confirma que um declínio está acontecendo, mas ainda não está claro o que isso significa para a gravidade da doença, o aspecto-chave da proteção proporcionada pelas vacinas.


“O pior cenário sugerido é certamente possível, mas um cenário melhor seria que, mesmo com 50% de proteção contra infecção, a proteção contra doenças permanece robusta e o número de hospitais continua administrável. A necessidade de reforços ainda precisa ser equilibrada com a distribuição global da vacina para populações onde até mesmo uma primeira injeção irá diminuir a circulação do vírus e, com isso, a chance de futuras variantes.”


A origem animal do SARS-CoV-2


Comentário publicado na Science em 17/08/2021, onde pesquisadores britânicos e chineses comentam que o comércio de animais suscetíveis ao coronavírus, como o morcego, é a causa provável da pandemia de COVID-19.


Embora detectado pela primeira vez em dezembro de 2019, a COVID-19 foi inferida como estando presente na província de Hubei, China, por cerca de um mês antes. De onde veio essa nova doença humana? Para entender a origem da pandemia de COVID-19, é necessário voltar a 2002. Naquela época, um novo coronavírus respiratório apareceu em Foshan, província de Guangdong, China, e se espalhou por 29 países. Ao todo, ~ 8.000 pessoas foram infectadas com coronavírus da síndrome respiratória aguda grave (SARS-CoV), antes que medidas de saúde pública controlassem sua disseminação em 2003. A origem zoonótica do SARS-CoV foi subsequentemente associada a animais vivos disponíveis nos mercados. Outros eventos esporádicos de transbordamento de SARS-CoV de animais ocorreram em Guangzhou, Guangdong, e alguns pesquisadores que trabalhavam com vírus em cultura foram infectados em acidentes de laboratório, mas no final, o SARS-CoV foi removido da população humana. O comércio de animais hospedeiros suscetíveis é um tema comum importante nas origens da SARS e da COVID-19.


Três anos após o início da epidemia da SARS, as investigações revelaram que os morcegos-ferradura (Rhinolophus) na China, abrigavam coronavírus relacionados. Estes formam coletivamente a espécie coronavírus relacionado ao SARS (SARSr-CoV), que compreende o subgênero Sarbecovirus do gênero Betacoronavirus. Inferiu-se que um sarbecovírus circulando em morcegos-ferradura, semeou o progenitor do SARS-CoV em um hospedeiro animal intermediário, muito provavelmente gatos civetas. Embora outros possíveis hospedeiros intermediários para SARS-CoV tenham sido identificados, em particular cachorros-guaxinim e texugos, é uma população de gatos civetas dentro de mercados que parecem ter atuado como canais de transmissão para humanos, do reservatório do morcego-ferradura do SARS-CoV, em vez de os gatos civetas serem uma espécie hospedeira-reservatório de longo prazo. Presumivelmente, um gato civeta em cativeiro inicialmente foi infectado por contato direto com morcegos, por exemplo, como resultado de morcegos forrageando em fazendas ou mercados, ou foi infectado antes da captura. Após a epidemia de SARS, uma vigilância mais aprofundada revelou a ameaça imediata representada pelos sarbecovírus dos morcegos-ferradura. Apesar deste aviso claro, outro membro da espécie SARSr-CoV, o SARS-CoV-2, surgiu em 2019 e se espalhou com eficiência sem precedentes entre os humanos. Especulou-se que o Instituto de Virologia de Wuhan (WIV) em Hubei foi a fonte da pandemia, porque nenhum hospedeiro intermediário SARS-CoV-2 foi identificado até o momento, e devido à localização geográfica do instituto.


O SARS-CoV-2 surgiu pela primeira vez na cidade de Wuhan, que fica a mais de 1500 km do sarbecovírus natural mais próximo conhecido, coletado de morcegos-ferradura na província de Yunnan, levando a um aparente quebra-cabeça: Como o SARS-CoV-2 chegou a Wuhan? Desde o seu surgimento, a amostragem revelou que coronavírus geneticamente próximos ao SARS-CoV-2, estão circulando em morcegos-ferradura, que estão amplamente dispersos do Leste ao Oeste da China e no Sudeste Asiático e no Japão. As amplas faixas geográficas dos hospedeiros reservatórios potenciais, por exemplo, espécies intermediárias (R. affinis) ou pelo menos (R. pusillus) de morcegos ferradura, que são conhecidos por estarem infectados com sarbecovírus, indicam que o foco singular em Yunnan está mal colocado. Confirmando esta afirmação, estima-se que os sarbecovírus de morcego evolutivamente mais próximos, compartilham um ancestral comum com o SARS-CoV-2 há pelo menos 40 anos, mostrando que esses vírus coletados em Yunnan, são altamente divergentes do progenitor SARS-CoV-2. O primeiro desses vírus relatado pelo WIV, RaTG13, é certamente muito divergente para ser o progenitor do SARS-CoV-2, fornecendo evidências genéticas importantes que enfraquecem a noção de “vazamento de laboratório”. Além disso, três outros sarbecovírus coletados em Yunnan, independentemente de WIV, são agora os coronavírus de morcego mais próximos do SARS-CoV-2 que foram identificados: RmYN02, RpYN06 e PrC31.


Então, como o SARS-CoV-2 entrou nos humanos? Embora seja possível que um transbordamento de vírus tenha ocorrido por meio do contato direto morcego-ferradura com humano, um risco conhecido para SARSr-CoVs, os primeiros casos de SARS-CoV-2 detectados em dezembro de 2019, estão associados aos mercados úmidos de Wuhan. Isso é consistente com vários eventos de transbordamento associados ao mercado de animais em novembro e dezembro. Atualmente não é possível ter certeza da origem animal do SARS-CoV-2, mas é notável que animais vivos, incluindo gatos civetas, raposas, visons e cães guaxinim, todos suscetíveis ao sarbecovírus, estavam à venda nos mercados de Wuhan, incluindo o mercado de Huanan (identificado como epicentro do surto em Wuhan) ao longo de 2019.


Muitos desses animais são criados para obtenção de peles em grande escala e, em seguida, vendidos em mercados de animais. Algumas dessas espécies cultivadas, visons americanos, raposas vermelhas e cães-guaxinim, foram vendidas vivas para comida por vendedores de animais de Wuhan, assim como animais selvagens presos, incluindo cães-guaxinim e texugos, embora nenhuma espécie de morcego estivesse à venda. Juntos, isso sugere um papel central para animais hospedeiros intermediários vivos suscetíveis a SARSr-CoV, como a fonte primária do progenitor SARS-CoV-2, ao qual os humanos foram expostos, como foi o caso com a origem da SARS.


Se essas rotas de transmissão para humanos existem, por que o surgimento é tão raro, que apenas dois grandes surtos ocorreram nas últimas duas décadas? Os eventos de transbordamento não são tão incomuns em locais onde ocorrem contatos humanos-animais mais frequentes. Isso é indicado por estudos sorológicos que mostram evidências de anticorpos específicos para SARSr-CoV em pessoas que vivem em áreas rurais, e taxas ainda mais altas registradas em pessoas que vivem perto de cavernas de morcegos. O risco de transbordamento aumentará com a invasão humana nas áreas rurais, resultando de novas redes de viagens ao redor e entre as áreas urbanas. Quando um novo vírus é então exposto a uma população humana densamente compactada, como na cidade de Wuhan, esses eventos de transbordamento têm uma chance muito maior de resultar em uma disseminação progressiva substancial.


Um evento ecológico específico na China, que interrompeu gravemente o comércio de carne e, portanto, contribuiu para o aumento dos contatos entre animais selvagens e humanos, foi a escassez de produtos suínos em 2019. Esta foi uma consequência direta da pandemia do vírus da peste suína africana (ASFV), o que levou ao abate de ~ 150 milhões de porcos na China, resultando em uma redução da oferta de carne suína de ~ 11,5 milhões de toneladas métricas em 2019. Embora a produção de outras carnes, como aves, carne bovina e peixes, tenha aumentado moderadamente, e a China importado mais esses produtos de mercados internacionais, para mitigar o déficit, este fornecimento cobriu apenas uma fração das perdas de carne suína associadas ao ASFV.


Consequentemente, os preços da carne suína atingiram uma alta recorde em novembro de 2019, com o preço no atacado aumentando ~ 2,3 vezes em comparação com o ano anterior. Além disso, a produção de suínos tem se deslocado do sul para o norte da China desde 2016. Isso, juntamente com as fortes restrições ao movimento de suínos vivos, e produtos suínos para mitigar a pandemia de ASFV, reduziu a disponibilidade de carne suína nas províncias do leste e do sul, resultando em aumentos de preços muito mais acentuados nessas regiões. Em resposta, os consumidores e produtores de alimentos, podem ter recorrido a carnes alternativas, incluindo animais selvagens cultivados ou capturados, especialmente no sul da China, onde a vida selvagem é tradicionalmente consumida. O resultante aumento do comércio de animais de criação suscetíveis e de vida selvagem, poderia ter colocado os humanos em contato mais frequente com produtos de carne e animais infectados com patógenos zoonóticos, incluindo SARSr-CoVs.


Existem relatos controversos, de casos humanos de SARS-CoV-2 na China que remontam ao contato com alimentos congelados importados, e SARS-CoV-2 aparentemente identificados em alimentos congelados, embalagens e superfícies de armazenamento. Em um esforço para evitar que o ASFV se espalhe pelas rotas de transporte de suínos vivos, o fornecimento por meio da rede de frio tem sido incentivado pelo governo chinês desde outubro de 2018, com um apoio mais forte desde setembro de 2019, na forma de isenção de taxas de pedágio em rodovias para carne suína congelada. A grande demanda por carne suína, facilitou o uso do transporte de frio para todos os tipos de carne, em particular de locais com preços mais baixos para aqueles com preços mais altos, legalmente (ou ilegalmente), potencialmente incluindo também o transporte de espécies suscetíveis à infecção por SARSr-CoV. O Relatório de Origens da Organização Mundial da Saúde (OMS), registrou carcaças de animais selvagens, especialmente texugos, deixados em freezers no mercado de Huanan, bem como sua venda como produtos congelados no final de dezembro de 2019. É provável que esses animais selvagens tenham sido presos ou cultivados em outro lugar, e vendido para os mercados de Wuhan por meio da rede de frio. As exposições também podem ocorrer por meio da alimentação de carcaças infectadas com coronavírus para animais vivos, tanto no transporte quanto nos mercados.


O surgimento do SARS-CoV-2, tem propriedades que são consistentes com um transbordamento natural. Embora o transporte de uma caverna de morcegos de um sarbecovírus, perto o suficiente do SARS-CoV-2 para ser o progenitor como uma amostra de pesquisa para o WIV, seja teoricamente possível, tal cenário seria extremamente improvável em relação à escala de contatos humanos-animais suscetíveis rotineiramente ocorrendo no comércio de animais. Alternativamente, o guano (fezes) do morcego é coletado para uso como fertilizante, novamente em uma escala muito maior, do que as visitas de pesquisas irregulares às cavernas dos morcegos, consistente com as raras, mas contínuas transmissões de SARSr-CoV para humanos em áreas rurais.


No geral, a transmissão de animal para humano do SARSr-CoV, associada a animais vivos infectados, é a causa mais provável da pandemia de COVID-19. No entanto, a escala massiva de abastecimento da cadeia de frio, particularmente após a interrupção da indústria de carne na China, causada pelo abate associado ao ASFV, sugere que carcaças de animais suscetíveis congeladas, seja para consumo humano ou animal, não devem ser descartadas como desempenhando um papel no surgimento de SARS-CoV-2. Este será especialmente o caso, se a população progenitora de SARS-CoV-2 for encontrada mais longe de Wuhan, porque o tráfico de animais vivos é muito mais provável de envolver locais mais próximos à cidade, por exemplo, as prefeituras da província de Hubei. A sorologia, a amostragem e a entrevista dos indivíduos, por exemplo, caçadores, comerciantes e agricultores, conectados às fontes de vida selvagem vendidas nos mercados de Wuhan em outubro e novembro de 2019, seriam um próximo passo sensato em investigações futuras.


Uma vez na população humana, o SARS-CoV-2 se espalhou surpreendentemente rápido para um novo patógeno humano. Ao contrário das expectativas clássicas para um salto de espécie hospedeira, o SARS-CoV-2 é altamente capaz de transmissão humana, incluindo transmissão assintomática frequente, e amplificação por meio de eventos super espalhadores. É improvável que esse "sucesso" inicial, pelo menos antes do surgimento de variantes preocupantes, seja devido à adaptação precoce aos humanos, mas pode ser atribuído à natureza relativamente generalista do SARS-CoV-2, evidenciado por transmissão para mamíferos: visons, gatos e outros.


De forma preocupante, evidências experimentais recentes, descobriram que os sarbecovírus derivados do pangolim, provavelmente adquiridos da exposição a morcegos-ferradura ou outros animais infectados após o tráfico ilegal para a China, também podem infectar células humanas e ter proteínas de pico que são ainda melhores para facilitar a entrada em células humanas do que o SARS-CoV-2. Coletivamente, isso aponta para um risco adicional de transbordamento, que se estende aos membros mais divergentes da linhagem da qual o SARS-CoV-2 emergiu, e implica em frequentes transbordamentos de morcegos para outros animais selvagens suscetíveis.


Os humanos são agora a espécie hospedeira dominante do SARS-CoV-2. O perigo é que o SARS-CoV-2 pode se espalhar de humanos para outras espécies animais, denominado zoonose reversa, como é suspeito para cervos de cauda branca nos Estados Unidos. A infecção promíscua de várias espécies de hospedeiros pelos sarbecovírus, significa que os derramamentos futuros de SARSr-CoVs da vida selvagem são muito mais prováveis, e as vacinas atuais podem não ser protetoras contra novas variantes. A intensidade de amostragem de sarbecovírus precisa ser aumentada urgentemente, para obter uma melhor compreensão desse risco de transbordamento. O recente achado de sarbecovírus, não diferente do SARS-CoV-2, disperso no sudeste da Ásia, enfatiza a urgência de monitorar a diversidade do coronavírus. A humanidade deve trabalhar em conjunto além das fronteiras dos países, para ampliar a vigilância de coronavírus na interface homem-animal, para minimizar a ameaça de variantes estabelecidas e em evolução resistentes às vacinas, e para impedir futuros eventos de transbordamento.


A ascensão da variante Delta é alimentada pela disseminação desenfreada de pessoas que se sentem bem, antes de apresentarem sintomas, os pré-sintomáticos


Comentário publicado no Nature em 19/08/2021, onde um pesquisador de Hong Kong comenta que pessoas infectadas com a variante Delta geralmente não apresentam sintomas de COVID-19 até dois dias após o início da eliminação do coronavírus, o que abre uma perigosa janela.


Pessoas infectadas com a variante Delta do SARS-CoV-2, são mais propensas a espalhar o vírus antes de desenvolver sintomas, do que pessoas infectadas com versões anteriores, sugere uma análise detalhada de um surto em Guangdong, na China. “É simplesmente mais difícil parar”, diz Benjamin Cowling, epidemiologista da Universidade de Hong Kong e coautor do estudo, que foi postado em um servidor de pré-impressão em 13 de agosto.


Cowling e seus colegas, analisaram dados exaustivos de testes de 101 pessoas em Guangdong, que foram infectadas com a Delta entre maio e junho deste ano, e dados de contatos próximos desses indivíduos. Eles descobriram que, em média, as pessoas começaram a ter sintomas 5,8 dias após a infecção com Delta, 1,8 dias após o primeiro teste positivo para RNA viral. Isso deixou quase dois dias para os indivíduos liberarem o RNA viral antes de mostrarem qualquer sinal de COVID-19.


Uma janela perigosa


Um estudo anterior e uma análise não publicada por Cowling, estimam que antes do surgimento da Delta, os indivíduos infectados com SARS-CoV-2 levaram em média 6,3 dias para desenvolver sintomas, e 5,5 dias para testar positivo para RNA viral, deixando uma janela mais estreita de 0,8 dias, para a disseminação viral inconsciente.


No trabalho mais recente, os pesquisadores também descobriram que as pessoas infectadas com a variante Delta tinham concentrações até 1250 vezes maiores de partículas virais, ou carga viral, em seus corpos do que as pessoas infectadas com a versão original do SARS-CoV-2. “De alguma forma, o vírus está aparecendo mais rápido e em quantidades maiores”, diz Cowling.


Como resultado, 74% das infecções com a Delta ocorreram durante a fase pré-sintomática, uma proporção maior do que para as variantes anteriores. Essa alta taxa "ajuda a explicar como essa variante foi capaz de superar o vírus do tipo selvagem e outras variantes para se tornar a cepa dominante em todo o mundo", diz Barnaby Young, um clínico de doenças infecciosas do Centro Nacional de Doenças Infecciosas em Cingapura.


Os pesquisadores também calcularam o "número de reprodução básico" da variante Delta, ou R0, que é o número médio de pessoas a quem cada pessoa infectada espalhará o vírus em uma população suscetível. Eles estimaram que Delta tem um R0 de 6,4, que é muito maior do que o R0 de 2 a 4 estimado para a versão original do SARS-CoV-2, diz Marm Kilpatrick, pesquisador de doenças infecciosas da Universidade da Califórnia, Santa Cruz. “A Delta se move um pouco mais rápido, mas é muito mais transmissível.”


Um pequeno número de participantes do estudo experimentou ‘infecções emergentes’ com a variante Delta após receber duas doses de uma vacina de vírus inativado COVID-19. Mas a vacina reduziu as cargas virais dos participantes no pico da infecção.


Indivíduos vacinados também tinham 65% menos probabilidade do que indivíduos não vacinados, de infectar outra pessoa, embora a estimativa fosse baseada em um tamanho de amostra muito pequeno. Essa redução “é significativa e tranquilizadora, de que as vacinas COVID-19 permanecem eficazes e uma parte vital de nossa resposta à pandemia”, disse Young.


O estudo ainda não foi revisado por pares.



PROJEÇÃO DE MORTES PELA COVID-19 NO BRASIL ATÉ 01/11/2021 PELO INSTITUTE FOR HEALTH METRICS AND EVALUATION DA UNIVERSIDADE DE WASHINGTON:

678 MIL.

A mutação que ajuda a variante Delta a se espalhar como um incêndio


Comentário publicado no Nature em 20/08/2021, em que pesquisadores de diversos países comentam que uma mudança de um aminoácido-chave pode estar por trás da infectividade feroz da variante Delta do coronavírus.


Enquanto o mundo luta com a variante coronavírus hiper-infecciosa Delta, os cientistas estão correndo para entender a base biológica de seu comportamento. Uma série de estudos destacou uma alteração de aminoácidos presente na Delta, que pode contribuir para sua rápida disseminação. A delta é pelo menos 40% mais transmissível do que a variante alfa identificada no Reino Unido no final de 2020, sugerem estudos epidemiológicos.


“A principal característica da Delta é que a transmissibilidade parece estar subindo para o próximo nível”, diz Pei-Yong Shi, virologista da University of Texas. “Achamos que a Alfa era muito boa em se espalhar. Essa Delta parece ser ainda mais.” A equipe de Shi e outros grupos, se concentraram em uma mutação que altera um único aminoácido na proteína spike SARS-CoV-2, a molécula viral responsável por reconhecer e invadir células. A mudança, que é chamada de P681R, e transforma um resíduo de prolina em arginina, cai em uma região intensamente estudada da proteína do pico chamada de sítio de clivagem da furina.


A presença desta curta sequência de aminoácidos, disparou o alarme quando o SARS-CoV-2 foi identificado pela primeira vez na China, porque está associado a uma maior infectividade que outros vírus, como o influenza, mas não havia sido encontrado anteriormente em outros sarbecovírus, da família do coronavírus, à qual o SARS-CoV-2 pertence. “Esta pequena inserção se destaca e acerta você no rosto”, diz Gary Whittaker, virologista da Universidade Cornell em Ithaca, Nova York.


Vírus pré-ativado


Para penetrar nas células, a proteína spike SARS-CoV-2, deve ser cortada duas vezes pelas proteínas do hospedeiro. No vírus SARS-CoV-1, que causa a síndrome respiratória aguda grave (SARS), ambas as incisões ocorrem depois que o vírus se fixou em uma célula. Mas com o SARS-CoV-2, a presença do local de clivagem da furina, significa que as enzimas do hospedeiro (incluindo uma chamada furina), podem fazer o primeiro corte à medida que partículas virais recém-formadas emergem de uma célula infectada. Essas partículas virais pré-ativadas, podem então infectar as células de maneira mais eficiente, do que as partículas que requerem dois cortes, diz Whittaker.


A Delta não foi a primeira variante do SARS-CoV-2, a ganhar uma mutação que altera o local de clivagem da furina. A variante alfa tem uma mudança de aminoácido diferente no mesmo local que a Delta. Mas a evidência disponível sugere que o efeito da mutação foi especialmente profundo na Delta.


Em um estudo relatado como uma pré-impressão em 13 de agosto, a equipe de Shi descobriu que a proteína do pico é cortada com muito mais eficiência em partículas da variante Delta, do que em partículas da variante Alfa, ecoando os resultados relatados em maio pela virologista Wendy Barclay do Imperial College London e sua equipe, que comparou a Delta com uma cepa anterior. Os experimentos de acompanhamento de ambos os grupos mostraram que a alteração do P681R, foi amplamente responsável pelo corte do pico com muito mais eficiência. “Isso realmente acertou em cheio, em termos de mecanismo”, diz Shi.


Os pesquisadores também estão começando a juntar os pontos, entre o P681R e a infectividade feroz da Delta. A equipe de Shi descobriu que, em células epiteliais das vias respiratórias humanas infectadas com números iguais de partículas virais Delta e Alfa, a Delta superou rapidamente a variante Alfa, imitando padrões epidemiológicos que ocorreram globalmente. Mas a vantagem da Delta desapareceu quando os pesquisadores eliminaram a alteração P681R.


A mutação também pode acelerar a propagação do SARS-CoV-2 de uma célula para outra. Uma equipe liderada por Kei Sato, um virologista da Universidade de Tóquio, descobriu que as proteínas de pico com a mudança P681R, se fundem com as membranas plasmáticas de células não infectadas, um passo fundamental na infecção, quase três vezes mais rápido do que as proteínas de pico sem a mudança. “Acho que o vírus está tendo sucesso em volume e velocidade”, diz Whittaker. “Tornou-se um vírus muito mais eficiente. Está passando pelas pessoas e passando pelas células muito mais rápido”.


Mais de uma mutação


Embora haja evidências, de que a mudança P681R, é uma característica crucial da Delta, os pesquisadores enfatizam que é improvável que seja a única mutação responsável pela rápida propagação da variante. A Delta carrega várias outras mutações para a proteína spike, bem como para outras proteínas menos estudadas, que podem ser importantes. “É muito simplista dizer que é apenas essa mudança 681. Acho que é a soma de tudo”, diz Teresa Aydillo-Gomez, virologista da Icahn School of Medicine no Mount Sinai, na cidade de Nova York.


O contexto, tanto epidemiológico quanto genético, também deve ter tido um papel na ascensão da Delta, dizem os cientistas. Um dos irmãos da Delta, uma variante chamada Kappa que, como a Delta, foi identificada pela primeira vez na Índia, carrega muitas das mesmas mutações, incluindo P681R, mas seus efeitos não foram tão devastadores quanto os da Delta. Em um preprint publicado em 17 de agosto, uma equipe liderada pelo biólogo estrutural Bing Chen da Harvard Medical School em Boston, relata que a proteína spike de Kappa é clivada com menos frequênciaa e se funde às membranas celulares com muito menos eficiência do que Delta. Os pesquisadores dizem que esta descoberta levanta questões sobre o papel da P681R.


Pesquisadores em Ugandaa identificaram a mudança P681R em uma variante que se espalhou amplamente pelo país no início de 2021, mas que nunca decolou como a Delta, embora exiba muitas das mesmas propriedades em estudos de laboratório baseados em células. A equipe de Whittaker inseriu a alteração P681R em uma proteína de pico do coronavírus que estava circulando em Wuhan, China, no início da pandemia, e não encontrou aumento em sua infectividade. “É preciso mais de uma mutação para fazer a diferença”, acrescenta.


Independentemente de seu papel no domínio da Delta, Whittaker e outros cientistas dizem, que a mutação ressaltou a importância de compreender as mudanças no local de clivagem da furina do coronavírus. Whittaker não espera que a P681R seja a última mutação no local de clivagem da furina a causar preocupação. “Estou esperando para ver o que acontece a seguir.”



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