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  • Foto do escritorDylvardo Costa Lima

CANTIM DA COVID (PARTE 37)

Atualizado: 1 de mai. de 2022


Fadiga muscular periférica limita o exercício após a COVID-19


Comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 21/04/2022, onde um pesquisador brasileiro e um americano comentam que a fadiga muscular periférica foi a causa mais comum de limitação ao exercício em pacientes recuperados de COVID-19, independentemente da gravidade da doença, em um estudo.


A fonte e a magnitude da intolerância ao exercício, em pacientes pós-COVID-19, não foram bem estudadas, disse o Dr. Mauricio Milani, da Fitcordis Exercise Medicine Clinic, em Brasília no Brasil, em uma apresentação no congresso anual da Associação Europeia de Cardiologia Preventiva.


Para avaliar a intolerância ao exercício, os pesquisadores realizaram teste de esforço cardiopulmonar (TECP) em 144 adultos que se recuperaram da COVID-19, e 144 controles pareados que não tiveram COVID-19. A média de idade dos participantes foi de 43 anos, sendo 57% do sexo masculino. A COVID-19 foi definida como leve, moderada ou grave em 60%, 21% e 19% dos casos, respectivamente.


Sintomas residuais estavam presentes em 41% dos casos. O TECP foi realizado aproximadamente 14 semanas após o início da doença. Entre os pacientes com COVID-19, a maioria das limitações do TECP (92%) foi causada por fadiga muscular; limitações cardiovasculares foram observadas em 2%, e limitações pulmonares em 6%.


Os dados do TECP pós-COVID mostraram diferenças no consumo de oxigênio de pico, bem como no primeiro e segundo limiares ventilatórios (VT1 e VT2), entre pacientes e controles com COVID-19, e com valores mais baixos relacionados a maiores gravidades da doença, disse Milani. A frequência cardíaca também variou de acordo com a gravidade da doença, com valores mais baixos significativamente relacionados a gravidades mais altas da doença, e diferenças significativas entre pacientes com COVID-19 e controles.


Um total de 42 indivíduos com COVID-19, teve dados anteriores de um TECP para comparação (27 com doença leve e 15 com doença moderada ou grave), disse Milani. No subgrupo com doença leve, a única diferença significativa nos resultados do TECP antes e depois da COVID-19, foi a velocidade de pico. No grupo moderado/grave, os pesquisadores observaram maiores reduções na velocidade de pico e também reduções no consumo de oxigênio no pico e nos limiares.


No entanto, os fluxos de pico de oxigênio não foram diferentes, antes e depois da COVID-19, nos subgrupos leves ou moderados/graves, disse Milani.


Os resultados do estudo foram limitados em parte pela população de estudo relativamente pequena; no entanto, os resultados indicam que a fadiga muscular periférica, é a principal etiologia na limitação ao exercício em pacientes pós-COVID-19. "Nossos dados sugerem que o tratamento deve enfatizar programas abrangentes de reabilitação, incluindo componentes aeróbicos e de fortalecimento muscular", concluiu Milani.


Os desafios da COVID-19 permanecem obscuros


“Após a COVID-19, os pacientes geralmente apresentam uma síndrome pós-viral, com uma ampla gama de sintomas”, disse o Dr. Matthew Martinez, cardiologista esportivo do Atlantic Health System em Morristown, New Jersey. “Essas condições frequentemente levam a uma sensação de cansaço e fraqueza, dor, dificuldade de concentração e dores de cabeça, que persistem após a infecção viral ter desaparecido”, e esses sintomas podem continuar por semanas.


No entanto, esse cenário não é exclusivo da COVID-19: “Este estudo confirma a importância da fadiga muscular na recuperação”, disse Martinez. “A recuperação de uma doença viral requer hidratação, sono e progressão lenta de retorno ao exercício”. Consequentemente, Martinez disse que não ficou surpreso com os resultados do estudo atual.


A mensagem para os médicos é estar ciente de que a COVID-19 pode ter também uma síndrome pós-viral, como é comum após outras infecções, observou Martinez. Os resultados fornecem um ponto de partida para discutir as preocupações com os pacientes, e explicar que é esperado um retorno lento ao normal com os cuidados habituais.

"O tempo de recuperação varia de acordo com o indivíduo", disse ele. “Pesquisas adicionais são necessárias para identificar quais terapias específicas são mais importantes, para ajudar a reduzir o tempo de recuperação, e quais novas terapias podem ser desenvolvidas, para ajudar a facilitar a recuperação da fadiga muscular e reduzir o tempo necessário para se recuperar”.



30% dos pacientes com COVID-19 podem desenvolver a 'Longa COVID', de acordo com estudo


Comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 21/04/2022, onde um pesquisador brasileiro e um americano comentam que cerca de 30% dos pacientes com COVID-19, desenvolveram a condição conhecida como Longa COVID, em um estudo publicado no Journal of General Internal Medicine.


Os pesquisadores da University California Los Angeles (UCLA), estudaram 1.038 pessoas inscritas no UCLA COVID Ambulatory Program, entre abril de 2020 e fevereiro de 2021. Os pesquisadores descobriram que 309 delas desenvolveram Longa COVID.


Um diagnóstico de Longa COVID ocorreu, se um paciente que respondesse a um questionário relatasse sintomas persistentes por 60 a 90 dias, após ter sido infectado ou hospitalizado. Os sintomas mais persistentes foram a fadiga (31%) e a falta de ar (15%) nos participantes hospitalizados. Entre os pacientes ambulatoriais, 16% relataram perda do olfato.


Os resultados do estudo diferem de pesquisas anteriores. A Universidade da Califórnia-Davis, por exemplo, estimou que 10% dos pacientes com COVID-19 desenvolvem sintomas de longa duração. Um estudo de 2021 da Penn State University estimou, que mais da metade dos pacientes com COVID-19 em todo o mundo, desenvolveriam COVID por muito tempo.


Parte da discrepância pode ser atribuída, ao fato de não haver uma definição oficial e amplamente aceita, de da chamada Longa COVID. O CDC disse que significa pacientes que experimentam "problemas de saúde novos, recorrentes ou contínuos, 4 ou mais semanas, após uma infecção inicial pelo coronavírus”. O estudo da UCLA, por sua vez, incluiu pacientes que ainda apresentavam sintomas 60 a 90 dias após a infecção.


Ainda assim, a equipe de pesquisa da UCLA analisou características demográficas e clínicas, na tentativa de desenvolver tratamentos eficazes. Pessoas com histórico de hospitalização, diabetes e maior índice de massa corporal, eram mais propensas a desenvolver a Longa COVID, disseram os pesquisadores. O tipo de seguro de saúde que os pacientes tinham, também parecia ser um fator importante, embora os pesquisadores não oferecessem uma razão para isso.


"Surpreendentemente, os pacientes com seguro comercial, tiveram o dobro da probabilidade de desenvolver a Longa COVID, em comparação com os pacientes com o Medicaid (um programa de saúde social dos Estados Unidos para famílias e indivíduos de baixa renda e recursos limitados), de acordo com o estudo. "Esta associação será importante para explorar mais, e para entender, se o status de seguro neste grupo está representando fatores demográficos não medidos, ou a exposições."


A idade avançada e o status socioeconômico, não foram associados à COVID-19 no estudo, uma surpresa, porque essas características geralmente estão associadas a doenças graves e maior risco de morte por COVID-19, disse a UCLA.


As falhas do estudo, incluem a natureza subjetiva de como os pacientes classificaram seus sintomas, e o número limitado de sintomas avaliados, disse a UCLA. "Este estudo ilustra a necessidade de acompanhar diversas populações de pacientes, para entender a longa trajetória da doença COVID-19, e avaliar como fatores individuais, como comorbidades pré-existentes, fatores sociodemográficos, status de vacinação e tipo de variante do vírus, afetam o tipo e a persistência de sintomas da Longa COVID ", disse o Dr. Sun Yoo, professor clínico assistente de ciências da saúde na escola de medicina da UCLA.


As novas subvariantes Omicron são uma ameaça? Veja como os cientistas estão vigiando


Artigo publicado na Nature em 15/04/2022, em que um pesquisador sul-africano comenta que na África do Sul, uma rede de pesquisadores está estudando, se as novas linhagens BA.4 e BA.5 escapam da imunidade das vacinas COVID-19 e de infecções anteriores.


Cidade do Cabo, África do Sul


Coloridas galinhas-d'angola passeiam no jardim, onde o Dr. Túlio de Oliveira está sentado, enquanto descreve dois novos membros da crescente família Omicron de coronavírus SARS-CoV-2. Chamadas de BA.4 e BA.5, as subvariantes estão crescendo em prevalência na África do Sul, onde o virologista lidera um dos programas de vigilância genômica mais fortes do mundo para o SARS-CoV-2, no Centro de Resposta e Inovação Epidemiológica da Universidade de Stellenbosch, na África do Sul.


Os vírus têm a atenção da Organização Mundial da Saúde (OMS) porque, de acordo com estudos de laboratório, suas mutações podem permitir que eles evitem a imunidade adquirida com as vacinas COVID-19 ou de infecções anteriores, com mais força do que as versões existentes da Omicron. Dr. Oliveira deixa claro, no entanto, que não está em pânico com a BA.4 e a BA.5. Embora as subvariantes tenham ganhado terreno rapidamente na África do Sul durante o mês passado, as taxas de casos de COVID-19 e hospitalizações, estão estáveis ​​no país. Ele também não se incomoda, porque já passou por isso antes, sua equipe fez descobertas semelhantes durante a pandemia, e conhece o exercício. Agora, ele diz, “é hora de trabalhar com cuidado e diligência, mas com calma”.


Os cientistas estão agora estudando essas subvariantes, até agora detectadas em nove países, para determinar se seu efeito é grave, o suficiente para justificar intervenções. O SARS-CoV-2 continuará a sofrer mutações à medida que evolui, mas nem todas as variantes serão dignas de notícia. Para determinar o que merece atenção, Wendy Barclay, virologista do Imperial College London, diz que os pesquisadores se concentram em dois fatores: mesma gravidade, um aumento de casos ainda tem um grande impacto na vida.


Ao mesmo tempo, os pesquisadores estão lutando para comunicar abertamente suas preocupações, e a incerteza sobre as variantes, sem provocar políticas governamentais desnecessárias e ansiedade. No final do ano passado, quando a equipe do Dr. Oliveira detectou a variante Omicron original, países como Estados Unidos e Reino Unido invocaram proibições de viagem contra a África do Sul. As proibições não impediram a propagação da variante, mas prejudicaram gravemente, a já em dificuldades da economia sul-africana. Se isso acontecer novamente, Dr. Oliveira diz: “Eu deixaria de compartilhar dados em tempo real com o mundo, mas continuaria compartilhando com meu governo, para orientar nossa própria resposta”.


As novas variantes


Em 1º de abril, Eduan Wilkinson, bioinformático da equipe do Dr. Oliveira em Stellenbosch, viu que pesquisadores do laboratório do centro e do Instituto Nacional de Doenças Transmissíveis em Joanesburgo, sinalizaram várias sequências anormais do genoma do SARS-CoV-2, em seu último lote de dados. As sequências tiveram algumas mutações notáveis ​​na região onde o SARS-CoV-2 codifica sua proteína spike. Como a proteína spike é a chave para as células invasoras do vírus, Wilkinson reconheceu uma necessidade urgente de caçar essas mutações em todos os genomas sequenciados no país nos últimos meses, para ver se eles passaram despercebidos.


Trabalhando durante o fim de semana, ele e seus colegas descobriram que sim. Um mês antes, durante a primeira semana de março, as sequências BA.4 e BA.5 compreendiam cerca de 5%, dos cerca de 500 genomas sequenciados na África do Sul. Na primeira semana de abril, a parcela havia subido para 50%. Naquela semana, um grupo internacional de classificação de vírus determinou que a BA.4 e a BA.5, eram de fato suas próprias linhagens separadas na árvore genealógica da Omicron, e lhes deu seus nomes.


Além das sequências acumuladas da África do Sul, um número relativamente pequeno de sequências BA.4 foi carregado para a plataforma de dados GISAID de Botsuana, Bélgica, Dinamarca e Reino Unido nas últimas duas semanas, e a BA.5 apareceu da China, França, Alemanha e Portugal.


Uma coisa que faz com que BA.4 e BA.5 se destaquem para os virologistas, é uma mutação de aminoácidos que eles compartilham, chamada de F486V. Ele está localizado na proteína spike do vírus, perto de onde a proteína se liga ao receptor ACE2 nas células, uma interação que abre a porta para a infecção. Anticorpos importantes gerados em resposta às vacinas COVID-19 e a infecções anteriores com SARS-CoV-2, neutralizam o vírus agarrando-se a esse local.


Desde o ano passado, os virologistas começaram a perceber a vulnerabilidade desse ponto, em experimentos de laboratório. Por exemplo, o virologista Benhur Lee, da Icahn School of Medicine, no Mount Sinai, em Nova York, e seus colegas, estavam ajudando a avaliar um tratamento promissor com anticorpos monoclonais, expondo-o a um vírus artificial, que carrega muitas versões da proteína spike SARS-CoV-2. Apenas uma versão da proteína spike evitou seus anticorpos. Tinha uma mutação quase idêntica à F486V.


Na época, Lee ficou aliviado que a mutação, era extremamente rara na vida real, sugerindo que isso atrapalhava o vírus de alguma forma. Apenas cerca de 50 das quase 10 milhões de sequências de SARS-CoV-2 no GISAID continham a mutação, então Lee teve certeza de que o tratamento com anticorpos ainda seria amplamente útil. Mas com o rápido aumento de BA.4 e BA.5 na África do Sul, parece que o coronavírus evoluiu para que a mutação não o retenha mais, explica Lee.


Análise de risco


Lorenzo Subissi, virologista da OMS, diz que a agência está rastreando as duas sub-linhagens. Mas antes de tirar qualquer conclusão sobre se eles representam uma ameaça adicional, em comparação com outras variantes do Omicron, ele precisa aprender mais com estudos epidemiológicos de pessoas. Os imunologistas também estão abordando a questão do escape imunológico, expondo amostras de BA.4 e BA.5 a sangue coletado de pessoas previamente infectadas com SARS-CoV-2 e pessoas que foram vacinadas.


“É por isso que imediatamente demos amostras para pesquisadores de todo o mundo”, diz o Dr. Oliveira. Isso incluiu pesquisadores da África do Sul e do Reino Unido, bem como dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA e do Centro Chinês de Controle e Prevenção de Doenças.


Logo após identificar a BA.4 e a BA.5, o Dr. Oliveira também se reuniu com o governo sul-africano e um consórcio de cerca de 200 pesquisadores do país, para traçar estratégias para os próximos passos. Sem aumento de internações na África do Sul, e apenas cerca de 1.200 casos por dia, ele aconselhou o governo a não estabelecer orientações mais rígidas do que o país já tem. Até agora, o governo não mudou suas regras.


Dr. Oliveira foi particularmente cuidadoso com a forma como transmitiu notícias de variantes a autoridades de saúde de outros países, pedindo-lhes que vigiassem, enquanto não acionavam políticas amplamente fúteis, como proibições de viagens, que podem causar mais danos do que benefícios. “Temos muita pressão sobre nós”, diz Dr. Oliviera. “Quando denunciamos a Omicron, eu e meus colegas recebemos ameaças de morte. Tivemos que colocar segurança na frente do laboratório.” Diante de tais tensões, Dra. Barclay aplaude o trabalho de vigilância e transparência da África do Sul.


Embora as variantes do SARS-CoV-2 deste ano causem, em média, doenças menos graves do que as versões anteriores do vírus, isso não é sinal de que o coronavírus continuará se tornando sempre mais fraco. Além de adquirir mutações usuais, o SARS-CoV-2 pode evoluir rapidamente por meio da recombinação, inserindo um pedaço de uma sequência de uma variante no genoma de outra. Se uma variante Omicron se recombinar com uma variante diferente do SARS-CoV-2, poderá produzir um vírus que evada a imunidade e deixe as pessoas mais doentes, diz Dra. Barclay. “Seria ótimo se essas novas variantes fizessem parte de uma tendência em que o vírus está se tornando mais leve, mas não há razão biológica para acreditar que sempre será o caso”.


O que vem a seguir na pandemia da COVID-19?


Depoimento publicado na The Lancet em 11/04/2022, em que pesquisadores de vários países comentam que a fase emergencial da pandemia da COVID-19 acabará eventualmente, mas quando isso ocorrerá, será determinado por ações coletivas. E que a próxima pandemia, não precisa pegar o mundo tão despreparado.


A pandemia da COVID-19 não acabou, mas com colaboração e solidariedade, podemos fazer a transição para um estado de doença endêmica gerenciável mais cedo, e mitigar melhor os impactos socioeconômicos e de saúde mais graves. Neste terceiro ano de resposta à pandemia, a sociedade precisa se concentrar na melhoria da implementação de intervenções eficazes, para encerrar a fase aguda. Governos e autoridades de saúde têm em mãos o conhecimento e as ferramentas necessárias, na forma de vacinas, diagnósticos e terapias, mas a disponibilidade equitativa dessas ferramentas, continua sendo um desafio global.


As decisões e esforços de hoje, continuarão a afetar o custo geral de saúde, social e econômico da pandemia. De acordo com Our World in Data, 700.000 mortes foram registradas como COVID-19 relacionadas, entre janeiro e março de 2022, e apenas 14,5% das pessoas em países de baixa renda, receberam pelo menos uma dose de uma vacina COVID-19. As variantes do SARS-CoV-2 continuam a surgir, à medida que a confiança entre os governos e seus constituintes é testada, tornando desafiadora a implementação sustentada de amplas intervenções baseadas na comunidade. Em muitas comunidades, os serviços cruciais de saúde não relacionados à COVID-19, ainda não foram totalmente restaurados aos níveis pré-pandêmicos.


A fase emergencial da pandemia da COVID-19 acabará eventualmente, mas quando isso ocorrerá, será determinado por ações coletivas. Da mesma forma, o que é aprendido e como a sociedade cresce, a partir dessa experiência, ainda pode ser influenciado. A próxima pandemia não precisa pegar o mundo tão despreparado.


A natureza extraordinária dessa pandemia exige análises extraordinárias nos níveis global, nacional e organizacional. A sociedade deve refletir sobre o que foi aprendido sobre nós mesmos, nossas comunidades, nossa governança e nossos sistemas de preparação e resposta. O SARS-CoV-2 causou muitos danos em termos de morte, morbidade, carreiras, relacionamentos, finanças, planos e sonhos, para que fiquemos aquém da avaliação pós-ação rigorosa e independente da resposta à pandemia.


As comunidades têm o direito de entender, por que e como a resposta à pandemia se desenrolou da maneira que aconteceu, e ter certeza de que melhorias serão feitas. Os líderes nacionais e globais, devem usar o conhecimento adquirido com esta pandemia e suas revisões, para garantir uma governança multidisciplinar mais robusta, e sistemas de saúde e saúde pública equitativos daqui para frente.


É necessária uma nova abordagem à segurança sanitária global, bem como o desenvolvimento de melhores medidas de preparação, com maior ênfase na colaboração e equidade. Apelamos a um melhor financiamento dos parceiros, para aumentar os esforços de preparação e as capacidades de alerta e resposta rápida, tanto a nível nacional como internacional. O financiamento sustentado para instituições é necessário para treinar futuros líderes, e construir uma força de trabalho de resposta global, que abrace redes científicas e de saúde pública multidisciplinares, como um componente central. As necessidades de resposta operacional imediata nos níveis nacional e local devem ser apoiadas com recursos suficientes.


Desde sua criação em 2000, a Rede Global de Alerta e Resposta a Surtos (GOARN), cresceu para abranger 270 parceiros, e respondeu a quase todos os principais surtos nacionais e internacionais, por meio da implantação de mais de 3.500 especialistas em mais de 100 países. Com base nessa experiência, tem que se adotar todas as recomendações acumuladas nesta fase da pandemia de COVID-19, que permitiriam às comunidades mitigar melhor os impactos sociais e de saúde da próxima pandemia.


Precisamos de mais apoio e menos normalidade para parar os vírus transportados pelo ar


Depoimento publicado na Nature em 13/04/2022, em que um pesquisador americano comenta que os governos deveriam investir em uma reformulação completa de como nosso ar é filtrado em espaços públicos.


Uma pesquisa recente da Kaiser Family Foundation (KFF), avaliando a opinião pública sobre a pandemia da Covid-19 após dois anos, descobriu que adultos não vacinados, republicanos e adultos brancos, eram mais propensos a dizer que nunca mudaram o nível de atividades, em que se envolveram durante o período da pandemia ou que voltaram ao normal. Quase metade das pessoas com renda familiar superior a US$ 90.000, disseram o mesmo. Por outro lado, os adultos negros, aqueles com condições crônicas, e aqueles que vivem em famílias com renda inferior a US$ 40.000, eram os mais propensos a dizer que estavam fazendo muito poucas atividades que realizavam antes do início da pandemia.


Nos Estados Unidos e na Europa, houve grandes esforços para que o público voltasse ao “normal”, um gesto pouco claro, sugerindo talvez um mundo igual ao antes da Covid-19. Mas esta é uma falsa promessa e, em vez disso, é uma justificativa para perpetuar as condições que deixaram muitos países tão vulneráveis ​​à Covid-19. A chave entre elas são as desigualdades, que viram as pessoas viverem experiências surpreendentemente diferentes da pandemia.


Por exemplo, isolar-se em casa pode representar riscos notavelmente menores, se você for rico e alfabetizado em saúde. Você pode ter quartos extras onde os membros da família podem se auto isolar. Um estudo dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA mostrou, que ter a capacidade de se isolar em uma sala separada, estava associado a chances significativamente menores de transmitir a Covid-19 aos membros da família durante o surto da Omicron. Você pode comprar filtros HEPA, e estudos mostraram, que níveis mais altos de aerossóis infecciosos no ar, estão associados a maior risco de transmissão para outras pessoas. Você pode ter tempo e conhecimento, para adquirir máscaras N95 de alta filtragem para todos em sua casa. E, por meio desses esforços, você pode muito bem evitar, que o resto de sua família fique doente com a Covid-19. Além disso, se você trabalha, em um trabalho que pode ser feito em casa, você pode voltar a receber seu salário, sem ter que esperar isolado.


Agora considere que você estava morando em uma casa ou apartamento pequeno e lotado, onde o isolamento em uma sala separada não é possível. Imagine que você não tivesse dinheiro para comprar um filtro HEPA portátil; não tinha conhecimento sobre como construir dispositivos de filtragem de ar de baixo custo; e trabalhou em um emprego, em que você estava na linha de frente, e não podia simplesmente continuar em casa. Acrescente a isso, a possibilidade de você não ter recebido folga remunerada do trabalho, e agora fica com a opção de trabalhar enquanto estiver doente ou ficar doente e não ser remunerado.


Muitos pacientes tiveram que fazer essas escolhas. Muitos infectaram suas famílias inteiras. Muitos morreram ou ficaram com complicações de saúde em curso. E os dados refletem isso também. Em um estudo de baixa renda, principalmente famílias hispânicas, a transmissão domiciliar de SARS-CoV-2, foi muito maior do que na maioria dos outros estudos que examinaram a população em geral; e o risco de propagação da doença foi associado a renda familiar mais baixa.


A pesquisa da KFF foi particularmente alarmante, porque as comunidades mais pobres sofreram o impacto da pandemia durante cada onda. Além disso, eles foram frequentemente culpados em muitos países (como sempre o foram ao longo da história), por espalhar um vírus que acabou afetando os ricos. Agora, estamos vendo pessoas mais pobres, muitas vezes de comunidades de minorias étnicas, tentando se proteger sem o luxo de voltar ao “normal”, por medo de adoecer novamente durante as próximas ondas, algumas das quais já começaram, como no Reino Unido. Se as pessoas ricas sem máscaras são agora as precursoras da doença para o resto da sociedade, as pessoas que foram marginalizadas, serão capazes de responsabilizá-las? Sabe-se que eles não vão.


A resposta não é usar máscaras para sempre, ou recorrer a qualquer uma das outras dicotomias falsas e extremas, que são frequentemente apresentadas. Com um vírus transmitido pelo ar, o ímpeto recai sobre o governo para proteger a todos nós, por meio de uma reformulação completa de como nosso ar é filtrado. No hospital, quando estamos lidando com um patógeno no ar, não usamos apenas máscaras N95. Também colocamos esses pacientes em salas com maiores trocas de ar, filtros HEPA e em salas de pressão negativa. No entanto, para o público em geral, nossos líderes se concentraram principalmente no mascaramento, e muito menos nos controles de engenharia, que eles poderiam criar para nos proteger.


Assim como tivemos revoluções na água limpa ou no sistema de esgoto, ou como melhoramos fundamentalmente as estradas quando os automóveis surgiram, também devemos revolucionar a limpeza do ar, que compartilhamos e respiramos, em espaços públicos. Qualquer coisa menos que isso nos deixará fundamentalmente vulneráveis ​​a este e a futuros vírus respiratórios.


Em vez disso, os governos de muitos países, transferiram a responsabilidade inteiramente para seus cidadãos, aconselhando-os a usar máscaras (se desejarem) e serem vacinados. Sabemos que o mascaramento pode ajudar a diminuir a propagação da Covid-19, mas como estratégia, é insustentável por tempo indeterminado. Também sabemos que, embora as vacinas possam nos proteger de doenças graves, elas são menos eficazes na prevenção de infecções, que, quando não mitigadas, podem causar danos catastróficos, mesmo que tenham uma taxa de mortalidade geral mais baixa.


Assim, ficamos discutindo entre nós sobre usar máscaras ou não, em vez de exigir responsabilidade de nossos governos para limpar o ar que respiramos; garantir os direitos básicos dos trabalhadores, como folga remunerada para os doentes; e proteger com mais rigor as famílias mais pobres da disseminação em casa, por meio do fornecimento de ferramentas como purificadores/filtros de ar, testes rápidos e máscaras N95, quando um membro da família estiver doente.


A Covid-19 ainda não acabou. E, se nada mais acontecer, a pandemia por si, deve servir como um aviso de quão despreparados estamos para futuras ameaças respiratórias. Esse conhecimento não deve nos ver virando uns contra os outros, mas cobrando de nossos governos e líderes, pelo apoio que merecemos.


A vigilância de doenças endêmicas requer testes de qualidade e dados de hospitalização


Artigo publicado na Johns Hopkins University & Medicine em 11/04/2022, onde uma pesquisadora americana comenta que com os dados de testes e casos perdendo qualidade rapidamente, os especialistas estão confiando mais nos dados de hospitalização, como um sinal de alerta para surtos da COVID-19. Um sistema confiável de vigilância de doenças no futuro, precisará de dados de hospitalização e dados de testes para funcionar.


O início da pandemia da COVID-19 pegou quase todos de surpresa. O fato de que os sistemas de coleta e notificação de dados de saúde pública precisavam ser construídos do zero, prejudicou as respostas de saúde pública e provavelmente, contribuiu para uma disseminação mais rápida de doenças e mortes evitáveis. Ninguém quer experimentar isso novamente, o que significa que a vigilância contínua da saúde pública, será um componente necessário, de um mundo pós-pandemia. Precisamos investir em sistemas de dados que possam funcionar como um sistema de segurança doméstica, nos alertando quando houver um perigo potencial, e nos dando tempo para reagir, preparar e alertar as autoridades competentes.


A vigilância de doenças não é uma ideia nova. Especialistas médicos e de saúde pública têm monitorado as doenças infecciosas, muito antes da COVID-19 se tornar a mais discutida. Monitoramento epidemiológico, testes e dados de casos, podem servir como um sistema de alerta precoce para hospitais.


Em vez de reagir a uma crise, quando as emoções estão em alta, e enquanto as salas de emergência estão sobrecarregadas, os hospitais podem se preparar mudando recursos, obtendo equipamentos e instrumentação de proteção individual, e contratando ou transferindo funcionários, quando alertados de que uma nova ameaça está a caminho. A vigilância também tem muitos propósitos, além de registrar a propagação de doenças. Amostras de laboratórios de vigilância de doenças são analisadas, para entender melhor a biologia do vírus, variantes de sequência e identificar novos vírus.


Durante a pandemia da COVID-19, hospitais e autoridades de saúde pública confiaram em testes precisos e em tempo real e dados de casos, para informar suas operações. Infelizmente, esses fluxos de dados estão se tornando menos confiáveis ​​a cada dia. A quantidade de dados que recebemos está diminuindo significativamente, devido ao uso generalizado de testes em casa, que raramente são relatados, requisitos de testes institucionais reduzidos, e menos pessoas realizando testes devido à leveza da variante Omicron, em comparação com a Delta.


Mesmo quando a COVID-19 faz a transição para uma doença endêmica, o registro de casos e a coleta de amostras de testes, permanecem críticos. Esses dados ajudam os pesquisadores a avaliar a eficácia da vacina, e projetar novos tratamentos, hospitais para se preparar para surtos, epidemiologistas para entender a transmissão de doenças e biólogos moleculares para procurar novas variantes e doenças. Abandonar os testes quando a pandemia terminar, removeria um componente essencial da vigilância.


Quando os dados de testes e casos falham, temos que confiar nos dados de internações hospitalares, para refletir o estado atual da propagação da doença. Felizmente, os dados de hospitalização são alguns dos dados da mais alta qualidade disponíveis, por enquanto. Os Centros de Serviços Medicare e Medicaid (CMS) exigiram a coleta e relatórios robustos e padronizados de dados de todos os hospitais, como condição de financiamento no outono de 2020. O mandato estava vinculado à declaração de uma Emergência de Saúde Pública, de acordo com a Lei do Serviço de Saúde Pública, pelo então Secretário de Saúde e Serviços Humanos, Alex Azar. O estado de emergência foi renovado a cada 90 dias desde então, com muitas das principais organizações de saúde pedindo ao atual secretário Xavier Becerra, para estendê-lo mais uma vez este mês.


Enquanto o estado de emergência estiver em vigor, os mandatos de relatórios do CMS provavelmente continuarão, mas o que acontecerá quando o estado de emergência for levantado? A acessibilidade pública e a notificação em tempo real dos dados de hospitalização, ainda são muito importantes para doenças endêmicas. Conforme foi discutido com o Dr. Kimia Ghobadi, a disponibilidade pública de dados de hospitalização, permite que os hospitais façam a triagem mais rapidamente quando sobrecarregados, e apoia a tomada de decisões informadas sobre alocações de recursos e pessoal. Os mandatos de dados do CMS podem ter sido difíceis para os hospitais aprovarem inicialmente, mas agora que estão em vigor, esse relatório de dados deve continuar independentemente do estado de emergência, e das penalidades por não conformidade. No entanto, os dados de hospitalização não são, por si só, suficientes.


A amostragem aleatória da população, é uma opção promissora para a vigilância contínua da doença. O teste de um conjunto aleatório de indivíduos em todo o país, deve fornecer uma compreensão clara do estado atual da COVID-19. Uma opção poderia ser testar amostras de pacientes aleatórios que estão em clínicas ou hospitais por outros motivos.


Haveria algumas preocupações com a privacidade, mas não mais do que com os testes atuais, e os indivíduos teriam que consentir em participar. Também podemos contar com cidadãos preocupados que desejam contribuir com os esforços de saúde pública, e doar amostras ou oferecê-las por uma pequena recompensa monetária, já que muitas pesquisas estão sendo realizadas atualmente. Isso, no entanto, pode produzir um viés de amostragem significativo, pois as pessoas com maior probabilidade de ajudar na prevenção contínua do COVID-19, seriam aquelas particularmente cautelosas com a transmissão da doença.


Seja qual for o design, precisamos de um sistema contínuo de vigilância de testes da COVID-19, que também alimentará conjuntos de dados de sequenciamento, que monitoram novas variantes. Um sistema de amostragem aleatória melhoraria muito nossa atual infraestrutura de sequenciamento, que não reflete a maior parte do país. Em vez disso, a maioria das amostras vem da cidade de Nova York e Los Angeles. Esse processo também exigirá fundos significativos e contínuos, quando o Congresso já parece hesitante em continuar financiando os esforços da COVID-19.


Não queremos ser surpreendidos novamente, seja por um novo surto da COVID-19, seja por uma nova variante ou até mesmo por um novo vírus. Construímos uma infraestrutura de dados adequada para vigilância de doenças durante esta pandemia, mas temos que mantê-la, adaptá-la a esse novo propósito, e fornecer amostras adequadas, para representar toda a diversidade geográfica e demográfica dos Estados Unidos. Ninguém quer enfrentar algo assim novamente, tão despreparado quanto estávamos. Mas, ao não instituir um sistema de dados de vigilância de doenças com completo dados de testes, estamos começando do zero. Se a história inevitavelmente se repetir, devemos pelo menos estar preparados da próxima vez.



Um roteiro equitativo para acabar com a pandemia da COVID-19


Artigo publicado na Nature Medicine em 05/04/2022, onde pesquisadores britânicos comentam que muitos governos estão revertendo as medidas restritivas, mas a pandemia só terminará quando houver um foco renovado na distribuição equitativa de vacinas e terapias, planos de saúde pública responsivos e políticas públicas para proteger os mais vulneráveis.


Mais de 2 anos após a pandemia da COVID-19, ainda não está claro quando e como isso terminará. O resultado global depende de múltiplos fatores: o nível de cooperação entre os governos; acesso equitativo a vacinas, testes e terapêuticas; ação do governo local e resposta dos cidadãos; e surtos concorrentes, conflitos ou desastres naturais. Acabar com a pandemia também exigirá um foco nos idosos e outras populações vulneráveis, bem como nos países de baixa e média renda.


Políticas divergentes


Muitos governos recalibraram suas estratégias contra a COVID-19, em resposta ao aumento global de infecções com a variante SARS-CoV-2 Omicron, mas permanecem consideráveis ​​variações internacionais nas abordagens de saúde pública.


Existem basicamente três tipos de abordagem: remoção de todas as restrições (exemplificado pelo Reino Unido); continuar a implementar medidas de mitigação para proteger os vulneráveis ​​(por exemplo, Coreia do Sul); e buscar uma abordagem de supressão, ou 'zero COVID-19' (por exemplo, Hong Kong e a China continental).


Onde a transmissão de Omicron aumentou acentuadamente, mas depois diminuiu, os governos relaxaram os mandatos restritivos, e limitaram a intervenção em toda a população de algumas medidas sociais e de saúde pública. Nessas populações, o risco epidemiológico relativo de COVID-19 para grupos vulneráveis ​​à infecção grave provavelmente diminuirá, devido aos altos níveis de imunidade populacional induzida por vacina e/ou naturalmente adquirida. Isso também deve permitir que o número efetivo de reprodução se estabilize abaixo de 1, com potencial para aumentar novamente, se o SARS-CoV-2 se tornar um vírus sazonal. Por exemplo, a soroprevalência geral era de 73% em Gauteng, África do Sul, antes da onda Omicron. No Reino Unido, a proporção de adultos que testaram positivo para anticorpos em todas as localidades é estimada em cerca de 98%. A Delta anteriormente tinha um efeito devastador no Reino Unido e, portanto, hospitalizações e mortes foram muito menores para a onda variante Omicron BA.1, do que para a onda Delta.


O governo do Reino Unido terá todas as medidas sociais e de saúde pública abolidas na Inglaterra até a primavera de 2022, incluindo a necessidade de isolamento e a disponibilidade de testes gratuitos. A justificativa para isso, é a carga de custo substancial de manter as políticas da COVID-19, como testes, e o efeito adverso que essas intervenções têm em outros serviços públicos essenciais, como educação e apoio à saúde mental.


É possível que muitos outros países adotem abordagens de relaxamento semelhantes, à medida que emergem das ondas Omicron. No entanto, deve-se notar que muitos grupos no mundo permanecerão vulneráveis ​​a infecções graves, como idosos, imunocomprometidos e pacientes com condições médicas que incluem doença renal crônica, doença pulmonar crônica e doença cardiovascular.


Da supressão à mitigação


A maioria dos governos manteve intervenções não farmacêuticas para reduzir infecções. Em 12 de fevereiro de 2022, o uso de máscaras faciais em todos os espaços públicos era exigido em 152 países, enquanto testes assintomáticos em massa estavam operacionais em 114 países. O rastreamento de contatos continua em 136 países, 77 dos quais realizam rastreamento abrangente de todos os casos.


Alguns governos, principalmente no leste da Ásia e no Pacífico, continuam com uma estratégia de supressão para eliminar infecções por SARS-CoV-2, mas isso é desafiado pela transmissibilidade do Omicron. Dado o grande número de pessoas imunologicamente ingênuas, os governos com uma abordagem de supressão podem mudar para uma abordagem de mitigação, para proteger as capacidades operacionais de seus sistemas nacionais de saúde.


Chile, Hong Kong, Nova Zelândia e Coreia do Sul, todos com grandes populações de idosos, estão atualmente enfrentando casos substanciais da variante Omicron. A Coreia do Sul adotou anteriormente uma abordagem de supressão máxima com sucesso, mas mudou para uma estratégia direcionada de 'Viver com a COVID-19', que prioriza pacientes vulneráveis ​​e idosos para testes e kits médicos gratuitos, e promove o tratamento em casa para casos leves, e o uso de clínicas designadas para casos mais graves. O início da Omicron, juntamente com o relaxamento de várias medidas de mitigação da COVID-19 na Coréia do Sul, viu os casos aumentarem, embora a alta cobertura vacinal tenha ajudado a manter o número de internações e mortes em níveis gerenciáveis.


A Nova Zelândia teve uma experiência semelhante, em que a eliminação gradual de uma estratégia de eliminação da COVID-19, ao mesmo tempo que o surgimento da variante Omicron, resultou em um aumento nos casos. No entanto, um elevado índice de população recentemente vacinada, e os mandatos de vacinas para trabalhadores essenciais, ajudaram a minimizar as internações e mortes, em unidades de terapia intensiva (UTI). Em contraste, Hong Kong continuou a adotar uma abordagem de supressão, mas está passando por admissões hospitalares substanciais, e a maior taxa de mortalidade por COVID-19 no mundo. Presumivelmente, isso se deve à imunidade relativamente baixa da população em grupos de alto risco, seja por infecção passada ou por vacinação; apenas 30% das pessoas com mais de 80 anos são vacinadas. O Chile, um país que utilizou medidas não farmacológicas estritas, como bloqueios durante a pandemia, também experimentou altas nas internações em UTI e nas taxas de mortalidade da Omicron. A interrupção ou redução das principais medidas de saúde pública no Chile, como distanciamento social, testes e requisitos de isolamento, provavelmente contribuiu para esse quinto aumento de casos.


Novas variantes


O surgimento de novas variantes, continua sendo uma preocupação para todo o mundo. Embora as vacinas existentes permaneçam eficazes contra a sublinhagem BA.210 emergente de Omicron, e a reinfecção pela sublinhagem BA.2, após a infecção com BA.1, pareça ser rara, não há garantia de que as vacinas funcionarão contra variantes futuras. Assim, os governos que relaxaram as restrições, parcial ou totalmente, precisarão permanecer vigilantes e ágeis na resposta às mudanças conjunturais, com vistas a intensificar as medidas de mitigação em caso de ressurgimento.


Se surgir uma nova variante, os países de alta renda que possuem sistemas de saúde robustos, acesso a antivirais eficazes, como o nirmatrelvir reforçado com ritonavir, e vacinas de reforço atualizadas, devem ser capazes de responder de forma eficaz. Por outro lado, os de baixa e média renda, com sistemas de saúde frágeis e acesso limitado a antivirais ou vacinas, enfrentarão um desafio considerável, se uma nova variante se tornar predominante.


Ao contrário do Reino Unido ou da África do Sul, os Estados Unidos observaram um número recorde de internações em decorrência da variante Omicron, pois um terço da população ainda não havia sido vacinada, e poucas doses de reforço haviam sido administradas. Além disso, os casos de Omicron atingiram o pico, enquanto a variante Delta ainda estava circulando. Vacinas, a disponibilidade de antivirais e outros tratamentos, testes em massa gratuitos, e o uso de medidas rigorosas de saúde pública, parecem ter reduzido a proporção de pessoas infectadas internadas em UTI e as taxas de mortalidade, em comparação com as ondas anteriores. Um foco em vacinações, reforços e medidas de saúde pública, direcionadas para abordar a Omicron, pode fornecer uma indicação de respostas futuras a novas variantes.


Cenários para acabar com a pandemia


A trajetória da cobertura vacinal e as respostas governamentais sinalizam três cenários possíveis para o fim dessa pandemia global. O cenário mais otimista é que a pandemia termine em breve e simultaneamente nos países de alta e média/baixa renda. Um segundo cenário mais provável é que a pandemia seja menos grave gradativamente nos países de alta e média/baixa renda. O pior cenário é o surgimento de uma nova variante mais transmissível e com considerável capacidade de evadir o sistema imunológico, o que prolongaria a pandemia.


Existem três prioridades nas quais os governos devem se concentrar para ajudar a acabar com essa pandemia em todos os países, bem como se preparar para o pior cenário em que a pandemia continue em 2023 e além.


Em primeiro lugar, a produção, o fornecimento e a distribuição equitativos de vacinas contra a COVID-19, são essenciais para expandir a cobertura total de vacinação, e aumentar a imunidade entre todos os países. As doações de vacinas são louváveis, mas não sustentáveis. A baixa aceitação da vacina nos países de baixa e média renda está retardando o fim da pandemia. Em 25 de fevereiro de 2022, a cobertura vacinal projetada da Organização Mundial da Saúde (pelo menos uma dose) era de 61% globalmente, mas essa taxa caiu para 15% na Região Africana, embora o fornecimento de vacinas fornecido pela unidade de acesso a vacinas COVAX, tenha finalmente excedido o exigido. A falta de equidade de vacinas sugere que a COVID-19 continuará afetando desproporcionalmente os países de baixa e média renda, mesmo que os de alta renda observem o fim das epidemias regionais.


A pesquisa e a fabricação de vacinas locais e regionais, precisam ser apoiadas e fortalecidas nos países de baixa e média renda, por meio de isenções emergenciais de direitos e licenças de propriedade intelectual, bem como o compartilhamento de know-how tecnológico. O centro de tecnologia de mRNA na África do Sul, está facilitando a transferência de tecnologia e licenças para fabricantes em países de média e baixa renda, e é um exemplo líder de colaboração global, muito necessária para a equidade de vacinas.


Pesquisas sobre vacinas, que previnam a infecção com variantes e forneçam imunidade mais longa, precisam ser financiadas e disponibilizadas globalmente. Embora a capacitação para vacinas produzidas localmente leve tempo, os governos podem mobilizar recursos para produzir equipamentos, medicamentos e dispositivos essenciais sem limitações de propriedade intelectual, e diversificar as cadeias de suprimentos, redirecionar medicamentos e incentivar parcerias público-privadas.


Testes rápidos e de baixo custo, que detectam com precisão o SARS-CoV-2, combinados com o fornecimento de pílulas antivirais de baixo custo, como o molnupiravir e o nirmatrelvir com ritonavir, que são prontamente acessíveis ao público, serão potencialmente um divisor de águas, para acabar com a pandemia nos países de média e baixa renda.


Em segundo lugar, os governos precisam individualmente de um plano de saúde pública baseado em evidências, que possa responder rapidamente no caso de uma ameaça potencial de uma variante emergente.


Isso deve incluir o seguinte: avaliação regular de risco por meio de vigilância; a capacidade de reintroduzir medidas de saúde pública eficazes e de baixo custo, como mascaramento; prevenir interrupções nos serviços essenciais de saúde; e, mais importante, reconstruir a confiança do público no governo por meio de comunicação de risco transparente, oportuna e clara. Dentro de nações descentralizadas, ou dentro de países, estados e cidades podem não ter a capacidade de implementar ações oportunas, devido a decisões financeiras tomadas pelo governo federal, portanto, os planos de tomada de decisão descentralizada, precisam ser apoiados com autonomia fiscal.


Terceiro, os mais vulneráveis ​​devem ser protegidos. Isso é um imperativo ético e essencial para acabar com essa pandemia. Dois tipos de populações vulneráveis ​​devem ser considerados: aqueles que são mais suscetíveis à infecção por SARS-CoV-2 (como profissionais de saúde) e aqueles que correm risco de COVID-19 grave (como os imunocomprometidos).


Além de priorizar aqueles que são vulneráveis ​​à infecção grave, os profissionais de saúde também devem ser resguardados; sofreram de estresse, ansiedade, esgotamento, depressão, insônia e outras consequências para a saúde mental e física, tanto pelo risco de infecção quanto pelo aumento da carga de trabalho.


Governos e instituições de saúde precisam proteger os profissionais de saúde por meio de apoio à saúde ocupacional, garantindo descanso e apoio prático, políticas organizacionais proativas e uma cultura de apoio. Os recursos também devem ser alocados para lidar com as consequências pós-agudas da infecção, a chamada 'Longa COVID', incluindo uma abordagem multidisciplinar para avaliação e gerenciamento da doença, sistemas de apoio apropriados, especialmente no nível de atenção primária, bem como nos direitos trabalhistas, políticas de auxílio-doença e benefícios por invalidez.


As pandemias não terminam com um desfile ou um armistício negociado. Eles terminam quando a doença desaparece em segundo plano, e outras preocupações diárias mais urgentes, vêm à tona. Em última análise, os países precisarão definir e decidir quais níveis de transmissão são aceitáveis, ​​e como controlar o vírus, sem sobrecarregar os sistemas de saúde, e evitar consequências adversas à saúde e socioeconômicas, tudo em um mundo interconectado.


Danos nos pulmões podem persistir por muito tempo após a pneumonia por COVID-19 desaparecer


Artigo publicado na Radiology em 29/03/2022, onde pesquisadores austríacos comentam que as tomografias computadorizadas mostram que as pessoas que se recuperaram da pneumonia por COVID-19, geralmente apresentam danos persistentes nos pulmões, mesmo um ano depois, de acordo com um novo estudo.


"A pneumonia por COVID-19 causa alterações inflamatórias acentuadas nos pulmões, a maioria das quais diminui e desaparece completamente após um ano, embora alterações residuais permaneçam em metade dos pacientes", disse o Dr. Christoph Schwabl, da Innsbruck Medical University, Áustria, que trabalhou no estudo.


"As alterações pulmonares que ainda estavam presentes meio ano após a doença, permaneceram constantes em mais de 60% dos participantes, mesmo após um ano, então assumimos que podem representar danos pulmonares permanentes", disse o Dr. Schwabl. Idade acima de 60 anos, sexo masculino e curso de doença grave, são fatores de risco para alterações pulmonares persistentes, afirmou.


Para explorar se o dano pulmonar relacionado à COVID-19 foi revertido ou persistente a longo prazo, o Dr. Schwabl e seus colegas, recorreram aos dados do estudo CovILD, que foi projetado para avaliar a recuperação pulmonar após a primeira onda da pandemia.


O CovILD é um estudo de coorte observacional, multicêntrico e prospectivo, realizado de 29 de abril de 2020 a 12 de agosto de 2020, com visitas de acompanhamento agendadas em dois meses, três meses, seis meses e um ano, após os sintomas iniciais de COVID-19. Incluídos nesse estudo estavam 142 pacientes com 18 anos ou mais, com COVID-19 leve a grave, e que foram rastreados consecutivamente em quatro centros médicos austríacos.


Para o novo estudo, publicado na Radiology, os pesquisadores se concentraram nos 91 pacientes do CovILD, que fizeram tomografia computadorizada de um ano; a média de idade foi de 59 anos, e 35 eram do sexo feminino. Vinte e um por cento tinham doença leve e receberam tratamento ambulatorial, enquanto 25% com doença moderada foram internados sem suporte respiratório, outros 25% com doença grave foram internados e receberam oxigênio, e 29% foram considerados críticos e foram tratados na unidade de terapia intensiva. unidade de atendimento.


Aos doze meses, 54% dos pacientes apresentavam anormalidades tomográficas pulmonares, sendo as predominantes as opacidades em vidro fosco e as reticulações subpleurais. Em 34% dos pacientes, ambas as anormalidades foram encontradas.


Em quatro pacientes foram encontradas linhas curvilíneas subpleurais, e dilatação brônquica em nove. O vidro fosco puro e/ou reticulações encontrados em 49 pacientes no primeiro seguimento, se resolveram inteiramente em 39% dos pacientes após um ano, em oposição ao padrão de consolidação ou dilatação brônquica ou pneumonia em organização (OP), encontrado em 19 pacientes em dois meses, que ainda foram encontrados na TC após 12 meses.


A análise multivariada revelou que sexo masculino, idade superior a 60 anos e gravidade da doença crítica, foram significativamente associados com anormalidades persistentes.


A Dra. Enid Neptune, médica de cuidados pulmonares críticos e professora de medicina da Escola de Medicina Johns Hopkins, em Baltimore, disse que os médicos que tratam pacientes com anormalidades pulmonares persistentes, precisam determinar se também há comprometimento funcional.


"Eles precisam fazer testes funcionais e consultar os pacientes sobre seus sintomas, como capacidade reduzida de exercício e falta de ar", acrescentou. "Eu aumentaria a minha preocupação, se essas descobertas tiverem algum tipo de consequência clínica".


É importante determinar se esses pacientes podem estar em risco de uma evolução diferente da doença pulmonar intersticial, disse a Dra. Neptune, que não esteve envolvido no novo estudo. "Isso poderia ser um estágio inicial de fibrose pulmonar progressiva? Todos nós sabemos que às vezes você pode prever a progressão precoce de doenças como fibrose pulmonar, até distúrbios das vias aéreas."


O estudo também impõe um mandato à comunidade de pesquisa, para acompanhar os pacientes com COVID-19 de maneira sistemática e rigorosa, para determinar os resultados a longo prazo, disse a Dra. Neptune.


O que desencadeia o COVID grave? Células imunes infectadas guardam pistas


Artigo publicado na Nature em 06/04/2022, onde pesquisadores americanos comentam que estudos revelaram que as células imunes infectadas são as responsáveis por provocar uma resposta inflamatória maciça.


As células imunes, infectadas com SARS-CoV-2, podem desencadear uma resposta inflamatória massiva, que contribui para a COVID-19 grave, sugerem dois artigos, um publicado hoje na Nature e um pré-impresso publicado on-line em 1º de abril.


Desde os primeiros dias da pandemia, pesquisas sugerem que a inflamação leva a desconforto respiratório significativo e outros danos a órgãos, características da COVID-19 grave. Mas os cientistas têm se esforçado para identificar, o que desencadeia a inflamação.


Os estudos mais recentes implicam dois tipos de glóbulos brancos, macrófagos nos pulmões e monócitos no sangue, que, uma vez infectados com o vírus, desencadeiam a inflamação. Os estudos também fornecem evidências conclusivas de que o vírus pode infectar e se replicar em células imunes, e revelam como ele entra nessas células. A evidência de tais infecções têm sido mista até agora.


Os estudos oferecem uma explicação plausível para a gravidade da COVID-19, diz Malik Peiris, virologista da Universidade de Hong Kong. “Não acho que seja o único caminho ou o mais importante, mas certamente é interessante.” Ainda assim, as células imunes infectadas podem oferecer um alvo potencial para o desenvolvimento de medicamentos, diz Jian Zheng, imunologista da Universidade de Iowa, em Iowa City.


Resposta hiperativa


No artigo da Nature, Judy Lieberman, imunologista do Hospital Infantil de Boston, em Massachusetts, e seus colegas, analisaram amostras de sangue de pessoas com COVID-19. Eles descobriram que cerca de 6% dos monócitos, células imunes de resposta precoce que patrulham o corpo em busca de invasores estrangeiros, estavam passando por um tipo de morte celular associada à inflamação, conhecida como piroptose. Ver que muitas células morrendo é incomum, diz ela, porque o corpo normalmente se livra das células mortas rapidamente.


Quando os pesquisadores analisaram as células moribundas, descobriram que estavam infectadas com SARS-CoV-2. Eles sugerem que o vírus provavelmente estava ativando inflamassomas, grandes moléculas que desencadeiam uma cascata de respostas inflamatórias, que terminam em morte celular.


Os pesquisadores também analisaram outro tipo de célula imune, os macrófagos, nos pulmões de pessoas que morreram de COVID-19. Como os macrófagos coletam lixo celular, incluindo detritos virais, tem sido difícil mostrar se os macrófagos foram infectados com SARS-CoV-2, ou apenas absorveram esses detritos. A equipe descobriu que cerca de um quarto dos macrófagos ativaram inflamassomas, e uma fração deles realmente foi infectada com o vírus. Outras células pulmonares infectadas, o epitélio, não apresentaram a mesma resposta.


Os resultados estão alinhados com os do segundo estudo, publicado no bioRxiv e ainda não revisado por pares, por Esen Sefik, imunologista da Escola de Medicina da Universidade de Yale, New Haven, e seus colegas. Eles também descobriram que o vírus pode infectar e se replicar em macrófagos de células pulmonares humanas, e em um modelo de camundongo com sistema imunológico humano. Os macrófagos apresentaram a mesma resposta inflamatória descrita por Lieberman, e acabaram morrendo.


A equipe também descobriu, que dar aos camundongos medicamentos que bloqueavam os inflamassomas, impedia o desconforto respiratório grave. As drogas “resgataram os camundongos para que não ficassem tão doentes”, diz Sefik. Isso sugere que os macrófagos infectados, têm um papel na pneumonia observada em pessoas com COVID-19 grave.


A resposta inflamatória dos macrófagos, pode ser sua maneira de impedir a replicação do SARS-CoV-2, diz o coautor do estudo Richard Flavell, imunologista, também em Yale, e no Howard Hughes Medical Institute. Quando os inflamassomas foram ativados, o vírus parou de se replicar nas células. Mas quando os pesquisadores bloquearam os inflamassomas, os macrófagos começaram a produzir partículas virais infecciosas.


Essa é uma descoberta “surpreendente”, diz Peiris, porque mostra que os macrófagos podem ajudar na infecção. Mas Stanley Perlman, virologista também da Universidade de Iowa, diz que estudos de acompanhamento serão necessários, para descobrir a importância das células imunes infectadas na indução de COVID-19 grave, em comparação com outros mecanismos possíveis.


Entrada viral


Ambas as equipes também conseguiram mostrar, como o SARS-CoV-2 pode entrar nas células imunológicas. Os pesquisadores ficaram intrigados com isso, porque as células não carregam muitos receptores ACE2, o principal ponto de entrada do vírus.


Em experimentos com células humanas e de camundongos, Sefik e Flavell descobriram que o SARS-CoV-2, poderia entrar em macrófagos pulmonares através do número limitado de receptores ACE2 presentes. Mas o vírus também estava se infiltrando através de outra proteína de superfície, conhecida como receptor Fcγ, com a ajuda de anticorpos. Quando o vírus encontrou anticorpos ligados ao receptor Fcy, em vez de o vírus ser desativado, ele foi recolhido na célula. Lieberman diz que também é assim que o vírus entra nos monócitos, que não possuem receptores ACE2. Apenas monócitos com o receptor Fcγ podem ser infectados.


Mas Lieberman diz que nem todos os anticorpos facilitam a entrada viral. A equipe descobriu que os anticorpos produzidos por pessoas que receberam a vacina de mRNA, desenvolvida pela Pfizer e BioNTech, não permitiram que os monócitos pegassem o vírus.


Essa descoberta é reconfortante, uma vez que muitas pessoas foram vacinadas com vacinas de mRNA, diz Peiris. Mas são necessários mais estudos para entender quais tipos de anticorpos estão facilitando a captação viral pelos monócitos, e se as vacinas que usam outras tecnologias, podem induzir uma resposta diferente.


Primeiro estudo do desafio humano para a COVID-19 fornece insights


Artigo publicado na Nature Medicine em 31/03/2022, onde pesquisadores de diferentes países comentam que uma pequena gotícula que contém o coronavírus pode infectar alguém com a COVID-19, de acordo com resultados recentes do primeiro estudo de desafio humano para a COVID-19 publicado na revista Nature Medicine.


Testes de desafio em humanos infectam deliberadamente voluntários saudáveis, ​​para entender como uma infecção ocorre e se desenvolve. No primeiro estudo de desafio humano para a COVID-19, as pessoas foram infectadas com o vírus SARS-CoV-2, para entender melhor o que aconteceu durante a pandemia.


"Realmente, não há outro tipo de estudo em que você possa fazer isso, porque normalmente os pacientes só chamam sua atenção, se tiverem desenvolvido sintomas e, portanto, você perde todos os dias anteriores em que a infecção está se formando", disse o Dr. Christopher Chiu, o principal autor do estudo e médico de doenças infecciosas e imunologista do Imperial College London.


A partir de março de 2021, Chiu e colegas, selecionaram cuidadosamente 36 voluntários entre 18 e 30 anos que não apresentavam fatores de risco para a COVID-19 grave, como excesso de peso ou problemas nos rins, fígado, coração, pulmão ou sangue. Os participantes também assinaram um extenso formulário de consentimento informado.


Os pesquisadores conduziram o estudo em fases, para uma maior segurança. Os primeiros 10 participantes infectados receberam remdesivir, o medicamento antiviral, para reduzir suas chances de progredir para COVID-19 grave. A equipe de pesquisa também tinha anticorpos monoclonais à mão, caso algum voluntário desenvolvesse sintomas mais graves. Em última análise, os pesquisadores disseram que o remdesivir era desnecessário, e eles não precisavam usar os anticorpos.


Como parte do estudo, os participantes receberam uma pequena gota de fluido que continha a cepa original de coronavírus, inserida no nariz através de um tubo longo. Eles ficaram no Royal Free Hospital de Londres por duas semanas, e foram monitorados por médicos 24 horas por dia, em quartos com fluxo de ar especial, para impedir a propagação do vírus.


Dos 36 participantes, 18 foram infectados, incluindo dois que nunca desenvolveram sintomas. Os demais tiveram casos leves com sintomas como congestão, espirros, nariz entupido e dor de garganta. Alguns também tiveram dores de cabeça, dores musculares e articulares, fadiga e febre.


Cerca de 83% dos participantes que contraíram a COVID-19, perderam o olfato em algum grau e nove pessoas o perderam totalmente. O sintoma melhorou para a maioria dos participantes em 90 dias, embora uma pessoa ainda não tenha recuperado totalmente o olfato, cerca de seis meses após o término do estudo.


A equipe de pesquisa relatou várias outras descobertas:


Pequenas quantidades do vírus podem deixar alguém doente. Cerca de 10 mícrons, ou a quantidade em uma única gota, que alguém espirra ou tosse, pode levar à infecção.


Cerca de 40 horas após a inserção do vírus no nariz de um participante, o vírus pode ser detectado na parte de trás da garganta.


Demorou cerca de 58 horas para o vírus aparecer em swab do nariz, onde a carga viral acabou aumentando ainda mais.


A COVID-19 tem um curto período de incubação. Demora cerca de dois dias após a infecção, para alguém começar a espalhar o vírus para outras pessoas.


As pessoas se tornam contagiosas e eliminam grandes quantidades do vírus, antes de apresentarem sintomas.


Além disso, as pessoas infectadas podem liberar altos níveis do vírus, mesmo que não desenvolvam nenhum sintoma.


Os voluntários do estudo excretaram o vírus por cerca de seis dias em média, embora alguns expulsem o vírus por até 12 dias, mesmo que não tivessem sintomas.


Os testes de fluxo lateral, usados ​​para testes rápidos em casa, funcionam bem quando uma pessoa infectada é contagiosa. Esses testes podem diagnosticar a infecção antes mesmo de 70% a 80% do vírus viável ter sido gerado.


As descobertas enfatizam a importância de as pessoas contagiosas, cobrirem a boca e o nariz, quando estão doentes para proteger os outros, disse Chiu.


Nenhum dos voluntários do estudo desenvolveu problemas pulmonares, como parte de sua infecção, informou o autor. Chiu disse que isso é provável porque eles eram jovens, saudáveis ​​e receberam pequenas quantidades do vírus. Todos os participantes serão acompanhados por um ano, para monitorar os potenciais efeitos a longo prazo.


Ao longo do estudo, a equipe de pesquisa também realizou testes cognitivos, para verificar a memória de curto prazo, e o tempo de reação dos participantes. Os pesquisadores ainda estão analisando os dados, mas os resultados “serão realmente informativos”, disse Chiu.


Agora, a equipe de pesquisa realizará outro teste de desafio humano, que incluirá pessoas vacinadas que serão infectadas com a variante Delta. Os pesquisadores pretendem estudar as respostas imunológicas dos participantes, que podem fornecer informações valiosas, sobre novas variantes e vacinas.


"Embora existam diferenças na transmissibilidade devido ao surgimento de variantes, como Delta e Omicron, fundamentalmente, esta é a mesma doença, e os mesmos fatores serão responsáveis ​​por protegê-la", disse Chiu em comunicado.


A equipe de pesquisa também estudará os 18 participantes, que não ficaram doentes no primeiro teste de desafio humano. Eles não desenvolveram anticorpos, disse Chiu, apesar de receber a mesma dose do vírus que aqueles que ficaram doentes.


Antes do estudo, todos os participantes foram rastreados quanto a anticorpos para outros vírus, como o vírus SARS original. Isso significa que os voluntários não foram protegidos de forma cruzada, e outros fatores podem explicar por que algumas pessoas não contraem a COVID-19. Estudos futuros podem ajudar os pesquisadores a fornecer melhores conselhos sobre proteção, se surgirem novas variantes ou ocorrer uma futura pandemia.


"Há muitas outras coisas que ajudam a nos proteger", disse Chiu. "Existem barreiras no nariz. Existem diferentes tipos de proteínas e coisas que são sistemas protetores muito antigos, primordiais, e estamos realmente interessados ​​em tentar entender o que são."


Risco de diabetes aumenta após COVID-19


Comentário publicado na Nature em 31/03/2022, onde pesquisadores de diferentes países comentam que mesmo infecções leves por SARS-CoV-2, podem ampliar a chance de uma pessoa desenvolver diabetes, especialmente para aqueles já suscetíveis à doença.


As pessoas que contraem a COVID-19, têm um risco maior de desenvolver diabetes mellitus até um ano depois, mesmo após uma infecção leve por SARS-CoV-2, em comparação com aqueles que nunca tiveram a doença, mostra um estudo robusto com quase 200.000 pessoas. A pesquisa, publicada no The Lancet Diabetes & Endocrinology no início deste mês, é um de um número crescente de estudos, mostrando que a COVID-19 pode aumentar o risco de diabetes de uma pessoa, meses após a infecção.


“Quando toda essa pandemia retroceder, ficaremos com o legado dessa pandemia, um legado de doenças crônicas”, para a qual os sistemas de saúde não estão preparados, diz o coautor do estudo Ziyad Al-Aly, pesquisador-chefe do Assuntos de Veteranos (VA) St Louis Healthcare System em Missouri.


Riscos amplificados


Al-Aly e Yan Xie, epidemiologista também do VA St Louis Healthcare System, analisaram os registros médicos de mais de 180.000 pessoas que sobreviveram por mais de um mês após a infecção pela COVID-19. Eles os compararam com registros de dois grupos, cada um composto por cerca de quatro milhões de pessoas sem infecção por SARS-CoV-2, que usaram o sistema de saúde VA, antes ou durante a pandemia. A dupla usou anteriormente um método semelhante para mostrar que a COVID-19 aumenta o risco de doença renal, insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral.


A análise mais recente descobriu, que as pessoas que tiveram COVID-19, eram cerca de 40% mais propensas a desenvolver diabetes, até um ano depois do que os veteranos nos grupos de controle. Isso significava que, para cada 1.000 pessoas estudadas em cada grupo, cerca de 13 mais indivíduos no grupo COVID-19, foram diagnosticados com diabetes. Quase todos os casos detectados eram de diabetes tipo 2, em que o corpo se torna resistente ou não produz insulina suficiente.


A chance de desenvolver diabetes aumentou com o aumento da gravidade do COVID-19. As pessoas que foram hospitalizadas ou internadas em terapia intensiva, tiveram aproximadamente o triplo do risco, em comparação com indivíduos de controle que não tiveram COVID-19.


Mesmo as pessoas que tiveram infecções leves e sem fatores de risco anteriores para diabetes, aumentaram as chances de desenvolver a condição crônica, diz Al-Aly. Das pessoas com COVID-19 que evitaram a hospitalização, 8 pessoas extras em cada 1.000 estudadas, desenvolveram diabetes um ano depois, em comparação com pessoas que não foram infectadas.


Pessoas com alto índice de massa corporal, uma medida de obesidade, e um fator de risco considerável para diabetes tipo 2, tinham mais que o dobro do risco de desenvolver diabetes após uma infecção por SARS-CoV-2.


Carga global


Dado o número extraordinário de casos de COVID-19 em todo o mundo, 480 milhões de casos confirmados e em crescimento, o aumento modesto no risco de diabetes, pode corresponder a um aumento drástico no número de pessoas diagnosticadas com a doença em todo o mundo, se as tendências observadas forem verdadeiras, diz Jonathan Shaw, epidemiologista do Baker Heart and Diabetes Institute em Melbourne, Austrália.


Mas as descobertas podem não se traduzir para outros grupos de pessoas. Os veteranos norte-americanos no estudo eram em sua maioria homens brancos mais velhos, muitos dos quais tinham pressão arterial elevada e estavam acima do peso, colocando-os em alto risco de desenvolver diabetes, diz Gideon Meyerowitz-Katz, epidemiologista que estuda diabetes na Universidade de Wollongong, na Austrália. Mas esse risco é muito menor em pessoas mais jovens, diz ele, e maior em alguns outros grupos étnicos.


E é possível que algumas pessoas no grupo de controle, tenham tido COVID-19 leve ou assintomática não detectada, mas nunca tenham sido testados, potencialmente distorcendo os dados, acrescenta Al-Aly.

Outros fatores também podem estar contribuindo, para o aparente aumento do diabetes entre as pessoas que se recuperaram de COVID-19, diz Shaw. Os casos existentes de diabetes podem ter passado despercebidos, até que as pessoas procurassem atendimento médico para a COVID-19.


Causas indescritíveis


No início da pandemia, os pesquisadores levantaram preocupações com base em relatos anedóticos em jovens e crianças, de que o SARS-CoV-2, como outros vírus, poderia danificar as células do pâncreas que produzem insulina, desencadeando o diabetes tipo 1.


Mas os dados sobre uma ligação entre a infecção por SARS-CoV-2, e casos recém-diagnosticados de diabetes tipo 1, permanecem mistos. Vários estudos não encontraram evidências, de que a doença esteja causando o aumento nos casos de diabetes tipo 1 em adultos jovens ou crianças. E um estudo de laboratório publicado em fevereiro, também questionou a ideia de que o SARS-COV-2 destrua as células pancreáticas produtoras de insulina.


Uma questão persistente, é se as alterações metabólicas observadas em pessoas que tiveram a COVID-19, persistem após um ano. Mais pesquisas são necessárias para esclarecer as tendências de longo prazo no diabetes de início recente em nível populacional, e para desvendar o que pode estar causando isso, diz Shaw.


Artigo do dia: “A Omicron finalmente superará as defesas da China contra a COVID-19?

Comentário publicado na Nature em 28/03/2022, onde pesquisadores de diferentes países comentam que a China precisa controlar o vírus, até aumentar as taxas de vacinação em idosos, e reforçar o seu sistema de saúde.


Todos os olhos estão voltados para a China, que tenta reprimir seus maiores surtos de COVID-19, desde os primeiros dias da pandemia. Mais de 62.000 pessoas, em todas as 31 províncias da China estão infectadas, a maioria delas com a variante BA.2 da Omicron de rápida disseminação.


Os surtos mergulharam dezenas de milhões de pessoas em novo confinamento. O presidente Xi Jinping anunciou no início deste mês, que a China manteria sua “estratégia dinâmica de zero-COVID”, que visa eliminar infecções, e impedir que o vírus se espalhe pelas comunidades. Essa política agora contrasta com uma tendência global de aliviar as restrições, e tentar coexistir com o vírus circulante.


A abordagem linha-dura da China para eliminar a COVID-19, parece estar diminuindo. Em seu discurso, Xi também sinalizou uma estratégia mais pragmática, pedindo que as autoridades limitem o impacto econômico das medidas de controle. Na prática, isso significa que pessoas com casos assintomáticos de COVID-19, estão sendo enviadas para centros de isolamento dedicados, em vez de hospitais, e são monitoradas por períodos mais curtos do que o necessário anteriormente. Mas alguns pesquisadores estão divididos, sobre se o vírus se espalhará fora de controle, antes que o governo tenha tempo de se preparar.


Aumento nos testes


“Os chineses demonstraram repetidas vezes, que podem controlar surtos”, diz o epidemiologista Ben Cowling, da Universidade de Hong Kong. O país controlou com sucesso a variante hipertransmissível Omicron durante os Jogos Olímpicos de Inverno de Pequim em fevereiro, apesar das previsões de que grandes surtos ocorreriam, diz ele. Ele antecipa que os esforços agressivos de teste em andamento, farão com que os números de casos continuem a aumentar nos próximos dias, mas esses números voltarão a zero depois disso.


Se os casos caírem, o governo provavelmente passará o próximo ano aumentando as baixas taxas de vacinação em idosos, e estabelecendo infraestrutura de cuidados primários de saúde, para aliviar a pressão sobre os hospitais, diz o economista Xi Chen da Universidade de Yale em New Haven, Connecticut, que estuda o sistema público de saúde.


Mas outros dizem, que a China precisa se preparar para um surto crescente. Novas infecções estão chegando a 6.000 casos confirmados por dia. “Está crescendo rapidamente, acho que está fora de controle agora”, diz Michael Osterholm, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade de Minnesota, em Minneapolis. É improvável que o número de casos volte a zero, diz ele, e tentar manter o vírus suprimido exigiria restrições tão severas, que certamente derrubaria sua economia.


Se o Omicron ficar fora de controle, os efeitos podem ser devastadores, e semelhantes ao atual surto em Hong Kong, onde as mortes aumentaram e os hospitais estão sobrecarregados. Uma análise da Airfinity, uma empresa de análise de mercado de ciências da vida em Londres, sugere que mais de um milhão de pessoas na China continental podem morrer durante uma nova onda Omicron, em parte porque apenas 50% das pessoas com mais de 80 anos, são totalmente vacinadas.


Lições de Hong Kong


A experiência recente em Hong Kong, destacou o custo das baixas taxas de vacinação em idosos. No início de março, havia cerca de 900 casos de COVID-19 por 100.000 residentes em Hong Kong, o nível mais alto registrado em qualquer lugar do mundo, durante a pandemia. As mortes também aumentaram para quase 300 por dia no início deste mês. Especialistas culpam as baixas taxas de vacinação em idosos, pela alta taxa de mortalidade da região. Apenas cerca de um terço das pessoas com mais de 80 anos são totalmente vacinadas, e 90% das mortes ocorreram em pessoas que não foram totalmente vacinadas.


A China continental enfrentará uma situação semelhante, se o atual surto não for controlado. A taxa geral de vacinação da China é superior a 85%. Isso foi alcançado com a introdução de um sistema digital de passaporte de vacinação, necessário para entrar em muitos prédios públicos e locais de trabalho, e um "código de saúde" codificado por cores, que indica se alguém apresenta risco de infecção. Mas Cowling diz que os idosos são menos propensos a usar instalações que exigem um passaporte de vacinação, e puderam permanecer não vacinados.


Cinquenta e dois milhões de pessoas com mais de 60 anos, ainda não foram totalmente vacinadas. Os mais vulneráveis, com idade superior a 80 anos, são os menos vacinados, com apenas 20% tendo recebido o esquema de vacinação primária e reforço. O trabalho de Cowling e seus colegas, que ainda não foi revisado por pares, indica que a vacina Sinovac, uma das duas principais vacinas usadas na China, é eficaz na redução de casos graves e mortes, mas que uma terceira injeção de reforço é necessária, para conferir altos níveis de proteção em maiores de 60 anos.


As mortes por COVID-19 podem ser muito maiores, do que o 1 milhão estimado pela Airfinity, se a Omicron se espalhar pela população, diz Lu Jiahai, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade Sun Yat-sen em Guangzhou, China. O governo está “assumindo a responsabilidade pela vida das pessoas, por isso não vai mudar ou flexibilizar a atual estratégia de prevenção e controle”, diz ele.


Saída estratégica


A grande economia doméstica da China, tornou a estratégia de zero-COVID mais sustentável, do que em locais com populações menores, como Nova Zelândia e Cingapura. Mas não pode durar para sempre. O índice do mercado de ações está caindo, sugerindo que a economia da China está sofrendo, e Cowling diz que surtos disruptivos se tornarão mais frequentes, à medida que o vírus circular livremente em outros lugares.


Aumentar as taxas de vacinação em idosos será uma prioridade, mas muitos vivem em áreas rurais, então isso levará tempo. Lu diz que a China provavelmente esperará até que a taxa de vacinação atinja 80% nesse grupo etário, antes de diminuir ainda mais as restrições.


Chen diz que, no momento, há poucos médicos de família na China, o que significa que as pessoas confiam nos hospitais como seu primeiro porto de escala. Ele suspeita que a maioria das restrições da COVID-19 estará em vigor por mais um ano. Isso permitiria ao governo construir uma rede de médicos de família incipiente ou instalações de isolamento, dedicadas para tratar pessoas com COVID-19 leve ou assintomática, e aliviar a pressão no sistema hospitalar. Se o país não estiver preparado, a reabertura pode ser um desastre em termos do sistema de saúde, diz Chen.


As autoridades chinesas também precisam preparar o público para o que está por vir, diz Chen. Muitas pessoas passaram a confiar na disposição do governo, de usar todos os meios necessários, para controlar o vírus às custas da economia, diz ele.


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