CANTIM DA COVID (PARTE 9)
- Dylvardo Costa Lima
- 13 de mar. de 2021
- 44 min de leitura
Atualizado: 23 de ago. de 2021

El País de 21/03/2021
Europa submerge em outra onda de covid-19, impelida pelas novas variantes. Incidência de casos no continente aumentou 34% em três semanas.
OMS alerta para a necessidade de não flexibilizar as medidas que evitam o contágio
França e Itália mais uma vez confinaram boa parte de sua população, enquanto a Alemanha suspenderá as tímidas aberturas planejadas para deixar para trás os mais de três meses de estritas restrições que o país vivencia. A terceira onda de coronavírus já está golpeando com força toda a Europa. Em três semanas, a incidência de casos no continente subiu 34%, e a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta para a necessidade de não flexibilizar as medidas de prevenção de infecções. A vacinação avança muito lentamente e não será suficiente para evitar o aumento de casos graves e mortes, dizem os especialistas. As novas variantes do coronavírus, mais contagiosas, explicam em grande parte essa terceira onda, que em alguns lugares, como a Alemanha, ocorre apesar de o país ter mantido o fechamento da vida pública.

Cinco razões pelas quais a imunidade de rebanho COVID é provavelmente impossível
Em um artigo publicado no Nature em 18/03/2021, pesquisadores de vários países comentam que mesmo com os esforços de vacinação em pleno vigor, o limite teórico para derrotar a COVID-19 parece estar fora de alcance.
À medida que as taxas de vacinação da COVID-19 aumentam em todo o mundo, as pessoas começam a se perguntar: por quanto tempo essa pandemia vai durar? É um problema cercado de incertezas. Mas a ideia outrora popular de que um número suficiente de pessoas eventualmente obterá imunidade ao SARS-CoV-2, para bloquear a maior parte da transmissão, um "limite de imunidade de rebanho", está começando a parecer improvável.
Esse limite é geralmente alcançável apenas com altas taxas de vacinação, e muitos cientistas pensaram que, uma vez que as pessoas começassem a ser imunizadas em massa, a imunidade coletiva permitiria que a sociedade voltasse ao normal. A maioria das estimativas colocou o limite em 60-70% da população obtendo imunidade, seja por meio de vacinações ou exposição anterior ao vírus. Mas, à medida que a pandemia entra em seu segundo ano, o pensamento começa a mudar. Em fevereiro, o cientista de dados independente Youyang Gu, mudou o nome de seu popular modelo de previsão COVID-19 de ‘Caminho para a imunidade do rebanho’ para ‘Caminho para a normalidade’. Ele disse que atingir um limite de imunidade de rebanho parecia improvável por causa de fatores como hesitação da vacina, o surgimento de novas variantes e o atraso na chegada de vacinas para crianças.
Gu é um cientista de dados, mas seu pensamento se alinha com o de muitos na comunidade epidemiológica. “Estamos nos afastando da ideia de que atingiremos o limite de imunidade de rebanho, e então a pandemia irá embora para sempre”, diz a epidemiologista Lauren Ancel Meyers, diretora executiva da Universidade do Texas em Austin COVID-19 Modeling Consortium. Essa mudança reflete as complexidades e desafios da pandemia, e não deve ofuscar o fato de que a vacinação está ajudando. “A vacina significará que o vírus começará a se dissipar por conta própria”, diz Meyers. Mas, à medida que surgem novas variantes e a imunidade às infecções potencialmente diminui, “podemos nos encontrar meses ou um ano na estrada ainda lutando contra a ameaça, e tendo que lidar com surtos futuros”.
As perspectivas de longo prazo para a pandemia, provavelmente incluem COVID-19 se tornando uma doença endêmica, bem como a gripe. Mas, a curto prazo, os cientistas estão contemplando um novo normal que não inclua imunidade de rebanho. Aqui estão algumas das razões por trás dessa mentalidade e o que elas significam para o próximo ano da pandemia.
1- Não está claro se as vacinas previnem a transmissão
A chave para a imunidade coletiva é que, mesmo que uma pessoa seja infectada, há muitos poucos hospedeiros suscetíveis para manter a transmissão, aqueles que foram vacinados ou já tiveram a infecção não podem contrair e espalhar o vírus. As vacinas COVID-19 desenvolvidas pela Moderna e Pfizer-BioNTech, por exemplo, são extremamente eficazes na prevenção de doenças sintomáticas, mas ainda não está claro se elas protegem as pessoas de se infectarem ou de espalharem o vírus para outras pessoas. Isso representa um problema para a imunidade do rebanho.
“A imunidade do rebanho só é relevante, se tivermos uma vacina bloqueadora da transmissão. Se não o fizermos, a única maneira de obter imunidade coletiva na população é dar a vacina a todos”, diz Shweta Bansal, bióloga matemática da Universidade Georgetown em Washington DC. A eficácia da vacina para interromper a transmissão, precisa ser "muito alta", para que a imunidade do rebanho seja importante, diz ela, e, no momento, os dados não são conclusivos. “Os dados da Moderna e da Pfizer parecem bastante encorajadores”, diz ela, mas a eficácia com que essas e outras vacinas impedem as pessoas de transmitir o vírus terá grandes implicações.
A capacidade de uma vacina para bloquear a transmissão não precisa ser de 100% para fazer a diferença. Mesmo 70% de eficácia seria "incrível", diz Samuel Scarpino, um cientista de rede que estuda doenças infecciosas na Northeastern University em Boston, Massachusetts. Mas ainda pode haver uma quantidade substancial de propagação de vírus, que tornaria muito mais difícil quebrar as cadeias de transmissão.
2- A distribuição da vacina é desigual
A velocidade e a distribuição dos lançamentos de vacinas são importantes por vários motivos, diz Matt Ferrari, epidemiologista do Centro de Dinâmica de Doenças Infecciosas da Universidade Estadual da Pensilvânia em University Park. Uma campanha global perfeitamente coordenada, poderia ter eliminado COVID-19, diz ele, pelo menos teoricamente. “É uma coisa tecnicamente viável, mas na realidade é muito improvável que consigamos isso em escala global”, diz ele. Existem grandes variações na eficiência das implementações de vacinas entre os países, e mesmo dentro deles.

Israel começou a vacinar seus cidadãos em dezembro de 2020 e, em parte graças a um acordo com a Pfizer-BioNTech para compartilhar dados em troca de doses de vacina, atualmente é líder mundial em termos de implementação. No início da campanha, os profissionais de saúde vacinavam mais de 1% da população de Israel todos os dias, disse Dvir Aran, um cientista de dados biomédicos do Technion, Instituto de Tecnologia de Israel em Haifa. Em meados de março, cerca de 50% da população do país estava totalmente vacinada com as duas doses necessárias para proteção. “Agora, o problema é que os jovens não querem tomar suas doses”, diz Aran, então as autoridades locais os estão atraindo com coisas como pizza e cerveja grátis. Enquanto isso, os vizinhos de Israel, Líbano, Síria, Jordânia e Egito ainda não vacinaram 1% de suas respectivas populações.
Nos Estados Unidos, o acesso às vacinas tem sido desigual. Alguns estados, como Geórgia e Utah, vacinaram totalmente menos de 10% de suas populações, enquanto o Alasca e o Novo México vacinaram totalmente mais de 16%.
Na maioria dos países, a distribuição da vacina é estratificada por idade, com prioridade para os idosos, que apresentam maior risco de morrer por COVID-19. Quando e se haverá uma vacina aprovada para crianças, no entanto, resta saber. Pfizer-BioNTech e Moderna já inscreveram adolescentes em testes clínicos de suas vacinas, e as vacinas Oxford-AstraZeneca e Sinovac-Biotech estão sendo testadas em crianças de apenas três anos. Mas os resultados ainda estão a meses de distância. Se não for possível vacinar crianças, muitos mais adultos precisarão ser imunizados para obter imunidade coletiva, diz Bansal. Pessoas com 16 anos ou mais podem receber a vacina Pfizer-BioNTech, mas outras vacinas são aprovadas apenas para maiores de 18 anos. Nos Estados Unidos, por exemplo, 24% das pessoas têm menos de 18 anos, de acordo com dados do censo de 2010. Se a maioria dos menores de 18 anos não pode receber a vacina, 100% dos maiores de 18 anos terão que ser vacinados para atingir 76% de imunidade na população.
Outra coisa importante a se considerar, diz Bansal, é a estrutura geográfica da imunidade do rebanho. “Nenhuma comunidade é uma ilha, e a paisagem de imunidade que cerca uma comunidade é realmente importante”, diz ela. A COVID-19 ocorreu em clusters nos Estados Unidos como resultado do comportamento das pessoas ou políticas locais. Esforços de vacinação anteriore,s sugerem que a absorção tenderá a se agrupar geograficamente também, acrescenta Bansal. A resistência localizada à vacinação contra o sarampo, por exemplo, resultou em pequenos focos de ressurgimento da doença. “O agrupamento geográfico tornará o caminho para a imunidade de rebanho muito menos em linha reta e, essencialmente, significa que estaremos jogando um jogo de cabra cega com surtos de COVID.” Mesmo para um país com altas taxas de vacinação, como Israel, se os países vizinhos não fizerem o mesmo e as populações forem capazes de se misturar, o potencial para novos surtos permanece.
3- Novas variantes mudam a equação de imunidade de rebanho
Mesmo com os planos de implantação de vacinas enfrentando obstáculos de distribuição e alocação, novas variantes do SARS-CoV-2 estão surgindo e podem ser mais transmissíveis e resistentes às vacinas. “Estamos em uma corrida com as novas variantes”, diz Sara Del Valle, epidemiologista matemática e computacional do Laboratório Nacional de Los Alamos, no Novo México. Quanto mais tempo levar para conter a transmissão do vírus, mais tempo essas variantes têm para surgir e se espalhar, diz ela.
O que está acontecendo no Brasil oferece uma história preventiva. Uma pesquisa publicada na Science, sugeria que a desaceleração da COVID-19 na cidade de Manaus, entre maio e outubro de 2020, poderia ter sido atribuída aos efeitos da imunidade de rebanho. A área havia sido gravemente atingida pela doença, e a imunologista Ester Sabino, da Universidade de São Paulo, Brasil, e seus colegas, calcularam que mais de 60% da população havia sido infectada até junho de 2020. Segundo algumas estimativas, isso deveria ter acontecido. Foi o suficiente para levar a população ao limiar da imunidade de rebanho, mas em janeiro de 2021, Manaus viu um grande ressurgimento de casos. Esse pico aconteceu após o surgimento de uma nova variante conhecida como P.1, o que sugere que infecções anteriores não conferiam ampla proteção ao vírus. “Em janeiro, 100% dos casos em Manaus foram causados por P.1”, diz Sabino. Scarpino suspeita que o número de 60% pode ter sido uma superestimativa. Mesmo assim, ele diz: “A doença ainda ressurgiu apesar de um alto nível de imunidade”.
Há outro problema com o qual a imunidade aumenta na população, diz Ferrari. Taxas mais altas de imunidade podem criar pressão seletiva, o que favorece variantes capazes de infectar pessoas que foram imunizadas. A vacinação rápida e completa pode evitar que uma nova variante se estabeleça. Mas, novamente, a irregularidade na implantação de vacinas cria um desafio, diz Ferrari. "Você tem um pouco de imunidade, mas ainda tem um pouco de doença e está preso no meio." As vacinas criarão quase inevitavelmente novas pressões evolutivas que produzem variantes, o que é um bom motivo para construir infraestrutura e processos para monitorá-las, acrescenta.
4- A imunidade pode não durar para sempre
Os cálculos para a imunidade do rebanho, consideram duas fontes de imunidade individual, vacinas e infecção natural. Pessoas que foram infectadas com o SARS-CoV-2, parecem desenvolver alguma imunidade ao vírus, mas por quanto tempo, isso permanece uma questão, diz Bansal. Dado o que se sabe sobre outros coronavírus e as evidências preliminares para o SARS-CoV-2, parece que a imunidade associada à infecção diminui com o tempo, então isso precisa ser considerado nos cálculos. “Ainda não temos dados conclusivos sobre o declínio da imunidade, mas sabemos que não é zero e não é 100”, diz Bansal.
Os modeladores não serão capazes de contar todos os infectados, ao calcular o quão perto uma população chegou do limite de imunidade de rebanho. E eles terão que levar em consideração, o fato de que as vacinas não são 100% eficazes. Se a imunidade com base na infecção durar apenas alguns meses, isso significa um prazo apertado para a entrega das vacinas. Também será importante entender por quanto tempo dura a imunidade baseada na vacina, e se reforços serão necessários ao longo do tempo. Por ambas as razões, a COVID-19 pode se tornar como uma gripe.
5- As vacinas podem mudar o comportamento humano
Com as taxas de vacinação atuais, Israel está se aproximando do limite teórico de imunidade de rebanho, diz Aran. O problema é que, à medida que mais pessoas são vacinadas, elas aumentam suas interações, e isso muda a equação de imunidade de rebanho, que depende em parte de quantas pessoas estão sendo expostas ao vírus. “A vacina não é à prova de balas”, diz ele. Imagine que uma vacina oferece 90% de proteção: “Se antes da vacina você conheceu no máximo uma pessoa, e agora com as vacinas você conhece dez pessoas, você está de volta à estaca zero.”
Os aspectos mais desafiadores da modelagem da COVID-19, são os componentes sociológicos, diz Meyers. “O que sabemos sobre o comportamento humano até agora é realmente jogado pela janela, porque estamos vivendo em tempos sem precedentes, e nos comportando de maneiras sem precedentes”. Meyers e outros estão tentando ajustar seus modelos rapidamente, para dar conta das mudanças de comportamento, como o uso de máscaras e o distanciamento social.
As intervenções não farmacêuticas continuarão a desempenhar um papel crucial em manter os casos baixos, diz Del Valle. O objetivo é interromper o caminho de transmissão, diz ela, e limitar o contato social e os comportamentos de proteção contínuos, como o mascaramento, que podem ajudar a reduzir a disseminação de novas variantes enquanto as vacinas estão sendo lançadas.
Mas será difícil impedir que as pessoas voltem ao comportamento pré-pandêmico. O Texas e alguns outros governos estaduais dos EUA, já estão retirando os mandatos das máscaras, embora proporções substanciais de suas populações continuem desprotegidas. É frustrante ver as pessoas diminuindo esses comportamentos de proteção agora, diz Scarpino, porque continuar com medidas que parecem estar funcionando, como limitar as reuniões internas, pode ajudar muito a acabar com a pandemia. O limite de imunidade de rebanho não é um limite de “já estamos seguros”, é um limite de “estamos mais seguros”, diz Scarpino. Mesmo depois que esse limite for ultrapassado, novos surtos isolados ainda ocorrerão.
Para entender os efeitos aditivos do comportamento e da imunidade, considere que esta temporada de gripe foi anormalmente leve. “A gripe provavelmente não é menos transmissível do que o COVID-19”, diz Scarpino. “Quase com certeza, o motivo pelo qual a gripe não apareceu este ano, é porque normalmente temos cerca de 30% da população imune que foi infecta em anos anteriores, e se faz a vacinação cobrindo talvez outros 30%. Então você provavelmente está com 60% ou mais da população imune.” Adicione o uso de máscara e o distanciamento social, e “a gripe simplesmente não aguenta”, diz Scarpino. Esse cálculo impreciso mostra como o comportamento pode mudar a equação, e por que mais pessoas precisariam ser imunizadas para obter imunidade de rebanho, à medida que as pessoas param de praticar comportamentos como o distanciamento social.
O fim da transmissão do vírus é uma forma de voltar ao normal. Mas outra pode ser a prevenção de doenças graves e morte, diz Stefan Flasche, epidemiologista de vacinas da London School of Hygiene & Tropical Medicine. Dado o que se sabe sobre a COVID-19 até agora, “será bastante improvável alcançar a imunidade de rebanho apenas por meio de vacinas”, diz ele. É hora de expectativas mais realistas. A vacina é “um desenvolvimento absolutamente surpreendente”, mas é improvável que interrompa completamente a propagação, então precisamos pensar em como podemos viver com esse coronavírus, diz Flasche. Isso não é tão sombrio quanto pode parecer. Mesmo sem imunidade coletiva, a capacidade de vacinar pessoas vulneráveis, parece estar reduzindo as hospitalizações e mortes por COVID-19. A doença pode não desaparecer tão cedo, mas sua proeminência tende a diminuir.


Covid-19: O que sabemos sobre a Sputnik V e outras vacinas russas contra a Covid-19?
Em um comentário publicado no British Medical Journal em 19/03/2021, um pesquisador britânico comenta sobre o que sabemos sobre a vacina russa Sputnik V
O que é a Sputnik V?
Em agosto de 2020, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, surpreendeu o mundo, ao aprovar sua primeira vacina para a Covid-19 desenvolvida internamente, antes mesmo de os ensaios clínicos de fase III terem começado. A primeira vacina aprovada da Rússia, foi desenvolvida e produzida inteiramente no mercado interno, e tem um nome que invoca intencionalmente a corrida espacial dos anos 1950. Quando a Organização Mundial da Saúde declarou a Covid-19 uma pandemia, no início de março de 2020, o Centro Nacional de Epidemiologia e Microbiologia de Gamaleya em Moscou, já estava trabalhando em um protótipo da Sputnik V, financiado pelo Fundo de Investimento Direto Russo (RDIF), fundo soberano do país.
Os pesquisadores da Gamaleya usaram vírus do resfriado comum em seu protótipo de vacina. Notavelmente, eles optaram por dois vetores de adenovírus diferentes (rAd26 e rAd5), administrados separadamente em uma primeira e segunda dose, com 21 dias de intervalo. Usar o mesmo adenovírus para as duas doses, pode levar o corpo a desenvolver uma resposta imune contra o vetor, e o destruir quando a segunda dose é administrada. Dois vetores diferentes reduzem a chance disso. Para fazer a vacina, os adenovírus são combinados com a proteína spike SARS-CoV-2, que faz com que o corpo dê uma resposta imunológica a ela.
A Sputnik V é segura e eficaz?
Os resultados das fases I e II, em 76 participantes de um ensaio aberto não randomizado, foram publicados no Lancet em setembro. De acordo com o artigo, todos os participantes desenvolveram anticorpos contra SARS-CoV-2. Nenhum evento adverso sério foi detectado. A maioria dos efeitos adversos foram leves, com pouco mais da metade sentindo dor no local da injeção, por exemplo.
Os dados provisórios da fase III foram publicados no início de fevereiro de 2021. O ensaio randomizado, duplo-cego e controlado por placebo, incluiu quase 22.000 adultos com 18 anos ou mais, recrutados em 25 hospitais e clínicas em Moscou entre 7 de setembro e 24 de novembro de 2020. Cada participante recebeu dois doses da vacina, ou de um placebo, administradas com 21 dias de intervalo.
Os resultados provisórios (com base nos dados até agora de 14 964 participantes no grupo da vacina e 4902 no grupo do placebo), indicam que a vacina é 91,6% eficaz, com base na sua capacidade de prevenir a infecção sintomática. Não houve casos de Covid-19 moderado ou grave no grupo vacinado, pelo menos 21 dias após a primeira dose. Cerca de 94% dos efeitos colaterais relatados foram muito leves (grau 1). Quatro mortes registradas durante o estudo não foram relacionadas à vacina.
Os cientistas estão convencidos?
A aprovação antecipada e o tom bombástico do anúncio na Rússia em torno da vacina, provocaram ceticismo entre os cientistas. Em setembro, uma carta aberta co-assinada por 30 cientistas de todo o mundo, criticou inconsistências no estudo de fase I e II. A equipe por trás da Sputnik V, descartou as preocupações em uma carta publicada no Lancet, apontando que algumas das supostas irregularidades, tais como contagens de anticorpos suspeitosamente semelhantes entre os participantes, eram provavelmente coincidências causadas em parte por fatores, como o pequeno tamanho da amostra e o arredondamento dos números nos pontos de dados.
Os dados da Fase III foram atendidos de maneira mais calorosa. Alguns comentaristas apontaram que, por exemplo, o resultado primário foi relatado excepcionalmente cedo, 21 dias após a primeira dose, em vez de após a segunda dose, o protocolo original para o estudo não foi publicado, portanto não é possível saber se isso foi decidido antes ou durante o julgamento. Mas outros argumentam que os dados da fase III publicados até o momento, justificaram a decisão da Rússia de prosseguir com a vacinação com a Sputnik V.
Como a Rússia está usando a vacina?
Em 2 de dezembro, o mesmo dia em que o Reino Unido aprovou o uso da vacina Pfizer BioNTech, Putin declarou que a vacinação em massa com a Sputnik V, fornecido gratuitamente aos cidadãos, deveria começar dentro de alguns dias.
Na verdade, a administração da Sputnik V começou ainda mais cedo, os funcionários da Gamaleya estavam entre as primeiras pessoas a receberem as doses do protótipo na primavera de 2020, antes que os testes de fase I e II ocorressem no verão. Putin revelou que uma de suas filhas já havia tomado as duas doses da vacina. Mais de 2.500 soldados russos também receberam a vacina.
Os primeiros membros do público a receberem uma dose da Sputnik V, foram funcionários de escolas e de saúde, aos quais foram oferecidas consultas por meio de um sistema de reserva online. No entanto, também foram abertos postos de vacinação que ofereceram vacinas para qualquer pessoa, sem hora marcada. Um desses centros está no shopping center GUM, na Praça Vermelha de Moscou.
Até 10 de fevereiro, a Rússia inoculou mais de dois milhões de pessoas com pelo menos uma dose da Sputnik V, de acordo com o ministro da saúde, Mikhail Murashko. Isso é quase três doses de vacina por 100 pessoas, de acordo com os últimos dados disponíveis (como comparação, o Reino Unido administrou quase 10 vezes mais). O lançamento pode ser prejudicado pelo ceticismo sobre a Sputnik V entre o público russo, em que uma pesquisa online com 1.600 russos conduzida pelo Moscow Times, descobriu que 60% se opunham a recebê-la. A aprovação rápida também gerou cautela entre alguns médicos russos.
Quais outros países estão usando o Sputnik V?
A Rússia não mediu esforços para promover a Sputnik V além de suas fronteiras, em uma campanha de diplomacia de vacinas, prometendo que custaria menos de US $ 10 (£ 7,2; € 8,4) por dose para compradores internacionais.
O RDIF afirma ter assinado contratos com mais de uma dúzia de fabricantes em 10 países, para produzir um total de 1,4 bilhão de doses. No momento da redação deste relatório, 29 países além da Rússia haviam aprovado a Sputnik V para uso de emergência. Isso inclui a Hungria, o único estado da UE a fazê-lo até o momento, embora a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) tenha negado relatórios na época em que estava revisando a vacina (os estados da UE são capazes de aprovar vacinas para uso bilateral). A EMA anunciou posteriormente que uma revisão da Sputnik V havia começado.
Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, questionou publicamente por que a Rússia está "oferecendo teoricamente milhões e milhões de doses, embora não avance o suficiente na vacinação de seu próprio povo". Na verdade, centenas de milhares de doses foram enviadas para vários países. A Sputnik V já foi lançada na Argentina e em Montenegro, de acordo com relatórios. Além disso, a Universidade de Oxford e a AstraZeneca lançaram um ensaio a ser realizado na Rússia, para avaliar se a combinação de doses de sua vacina com o Sputnik V pode render mais benefícios.
A Rússia possui que outras vacinas?
Atualmente, nenhuma outra vacina além do Sputnik V está disponível ao público na Rússia. O governo russo aprovou, no entanto, duas outras vacinas desenvolvidas na Rússia para uso de emergência: EpiVacCorona, produzida pelo Vector Institute em Novosibirsk, e CoviVac, do Chumakov Center em São Petersburgo, conhecida por sua colaboração com o cientista americano Albert Sabin, sobre a vacina poliomielite durante a guerra fria. Tal como aconteceu com a aprovação da Sputnik V, ambas as vacinas ainda não iniciaram testes clínicos em larga escala.
A EpiVacCorona não usa vírus vivo e, em vez disso, depende de antígenos peptídicos sintéticos, com base em uma seleção daqueles encontrados no SARS-CoV-2. Assim como recriar a proteína spike, essa abordagem usa fragmentos do vírus para solicitar uma resposta imunológica.
A CoviVac incorpora um vírus do resfriado inativado em tecnologia de "virião inteiro", semelhante às vacinas candidatas desenvolvidas pela empresa chinesa Sinovac e pela empresa indiana Bharat Biotech. Este método pode provocar uma resposta imunológica mais ampla, que poderia proteger contra múltiplas variantes (outras vacinas têm focado apenas na proteína de pico de SARS-CoV-2, que pode conter componentes específicos para variantes particulares).
Cientistas na Rússia também estão trabalhando em duas versões da vacina inicial do Sputnik V22: uma que precisa ser armazenada a -18 ° C, temperatura do freezer, e outra usa material seco (liofilizado) que pode ser armazenado de 2 a 8 ° C em uma variedade de refrigeradores padrão, que ajudariam no transporte e distribuição. Ainda mais versões da vacina também estão em desenvolvimento, incluindo uma alternativa de dose única.


News da BMJ de hoje, 19/03/2021
Covid-19: A vacina AstraZeneca não está associada ao aumento do risco de coágulos sanguíneos, concluiu a Agência Europeia de Medicamentos
A vacina Oxford-AstraZeneca Covid-19, não está associada a um risco aumentado de coágulos sanguíneos e é segura e eficaz, concluiu uma investigação da Agência Europeia de Medicina (EMA).
A análise aprofundada das evidências, incluindo resultados laboratoriais, relatórios clínicos, autópsias e dados de ensaios clínicos, foi realizada depois que um pequeno número de casos de coágulo sanguíneo (37), foram relatados em pessoas que receberam a vacina. Isso fez com que 16 países da UE parassem de usar a vacina.
“O comitê chegou a uma conclusão científica clara. Esta é uma vacina segura e eficaz”, disse Emer Cooke, diretor executivo da EMA, em uma entrevista coletiva em 18 de março. “Seus benefícios em proteger as pessoas de Covid-19, com os riscos associados de morte e hospitalização, superam os possíveis riscos. O comitê também concluiu, que a vacina não está associada a um aumento no risco geral de eventos tromboembólicos ou coágulos sanguíneos”.
Sabine Straus, presidente do Comitê de Avaliação de Risco de Farmacovigilância (PRAC), que conduziu a investigação, acrescentou que o número de eventos tromboembólicos relatados após a vacinação, foi "menor do que o esperado na população em geral", e que não havia "nenhuma evidência de qualidade ou problema de lote.”
“Além disso, como a vacina é eficaz na prevenção da doença Covid-19, que por si só é uma causa de coágulos sanguíneos, ela provavelmente reduz o risco de eventos trombóticos em geral”, disse ela.
Muitos países estão prontos para retomar a distribuição da vacina, incluindo França, Alemanha, Itália, Holanda, Portugal e Espanha.
Especificamente, a EMA disse que 7 casos de coágulos de sangue em vários vasos sanguíneos, e 18 casos de trombose do seio venoso cerebral, foram relatados em 17 de março. Até agora, mais de sete milhões de pessoas na EU, e 11 milhões no Reino Unido, foram vacinadas com a vacina AstraZeneca. Cerca de 100 000 pessoas desenvolvem coágulos sanguíneos todos os meses na UE, e estima-se que ocorram 3000 casos por mês no Reino Unido.
Investigação contínua
Durante a investigação, um pequeno número de casos de distúrbios de coagulação muito raros, mas muito graves, foi observado pelo comitê, que disse que continuaria investigando por que esses distúrbios ocorreram. Straus disse: “O PRAC continuará a coletar mais informações sobre essas condições, incluindo estudos adicionais, e vamos mantê-los sob um monitoramento muito próximo”.
Em alguns casos muito raros, os pacientes tinham uma combinação de trombose e trombocitopenia e sangramento, enquanto em outros, pequenos coágulos se desenvolveram em vários vasos sanguíneos, uma condição chamada coagulação intravascular disseminada.
A EMA aconselhou que as fichas de informação sobre a vacina, para pacientes e profissionais de saúde, devem ser atualizadas para incluir essas condições muito raras possíveis, para ajudá-los a detectar sinais e sintomas potenciais. Ele disse que os distúrbios da coagulação poderiam ser resultado da síndrome pós-covid ou estar ligados a anticoncepcionais orais. Houve relatos generalizados de pacientes com Covid-19 com coágulos sanguíneos e coagulação intravascular disseminada.
Straus continuou, “A revisão do PRAC dos casos de trombose combinada com trombocitopenia, níveis anormalmente baixos de plaquetas, mostrou uma predominância em alguns grupos e principalmente em mulheres e mulheres mais jovens. Um dos fatores de risco destacados para essa doença ou síndrome são os anticoncepcionais orais. Então, essa também é uma das coisas que iremos investigar mais a fundo.”
A pesquisa mostrou que os anticoncepcionais orais combinados, podem aumentar o risco de coágulos sanguíneos quatro vezes mais. No entanto, Straus observou que essa predominância também pode ser devido a mais mulheres jovens sendo vacinadas, e enfatizou que diferentes países priorizaram grupos diferentes para a vacinação.
“Temos conhecimento de casos descritos na literatura, em que jovens que tiveram Covid assintomática, posteriormente desenvolveram eventos trombóticos e tromboembólicos”, explicou ela. Ela acrescentou que, embora os casos investigados não tivessem uma infecção ativa, conforme confirmado por testes de reação em cadeia da polimerase, "ainda é muito possível que possa ser algo do período pós-Covid."
Assim como a vacina AstraZeneca, a EMA disse que está analisando eventos trombóticos depois que as pessoas recebem as outras três vacinas Covid-19 autorizadas na UE, Pfizer, Moderna e Johnson & Johnson. Além disso, a agência está trabalhando com outros reguladores em todo o mundo para monitorar a situação. Ele disse que todas as vacinas que estão sendo lançadas na UE estavam relatando um número semelhante de casos de coágulo de sangue.

Alguns pacientes com Longa Covid tem alívio dos sintomas após a vacinação
Em um comentário publicado no Medscape Pulmonary Medicine em 17/03/2021, pesquisadores americanos comentam sobre a melhora dos sintomas da Longa Covid após a vacinação.
Várias semanas depois de receber sua segunda dose de uma vacina de mRNA, Aaron Goyang pensa que sua longa luta contra a COVID-19 finalmente chegou ao fim. Goyang, que tem 33 anos e é técnico de radiologia em Austin, Texas, acha que pegou a COVID-19 de alguns dos pacientes com tosse e respiração ofegante, que ele tratou na primavera passada. Na época, os testes eram escassos e, na época em que ele fez o teste, várias semanas depois de adoecer, ele deu negativo. Ele lutou contra os sintomas iniciais, mas teve uma recaída uma semana depois.
Goyang diz que nos 8 ou 9 meses seguintes, ele esteve em uma montanha-russa, com extrema falta de ar e aperto no peito, que poderia ser tão forte que o mandaria para o pronto-socorro. Ele teve que usar um inalador para passar seus dias de trabalho. “Mesmo se eu estivesse apenas sentado, ele viria e me levaria”, diz ele. "Quase parecia que alguém estava me dando um abraço de urso constantemente, e eu simplesmente não conseguia respirar o suficiente."
Em seus melhores dias, ele andava pela vizinhança, tomando cuidado para não exagerar. Ele tentou correr uma vez, e quase parou no hospital. “Muito honestamente, eu não sabia se seria capaz de fazer isso de novo”, diz ele. Mas Goyang diz que várias semanas depois de receber a vacina da Pfizer, ele conseguiu correr mais um quilômetro sem problemas. “Fiquei muito grato por isso”, diz ele.
Goyang não está sozinho. Alguns grupos de mídia social, são dedicados a pacientes que vivem com uma condição conhecida como Longa Covid há muito tempo, e que foi recentemente denominada de PASC, pós-aguda sequela de infecção por SARS-CoV-2. Esses pacientes às vezes são chamados de longos transportadores.
Nas redes sociais, os pacientes com PASC estão ansiosos e questionando uns aos outros, sobre as vacinas e seus efeitos. Alguns relatam que finalmente viram seus sintomas desaparecerem, dando esperança de que a longa Covid pode não ser uma condição para a vida toda.
O Survivor Corps, que tem um grupo público no Facebook com 159.000 membros, recentemente fez uma pesquisa para ver se havia alguma verdade nos rumores, de que aqueles com longa Covid estavam se sentindo melhor após serem vacinados.
"De 400 pessoas, 36% mostraram uma melhora nos sintomas, algo entre uma melhora leve e a resolução completa dos sintomas", disse Diana Berrent, uma paciente com longa Covid que fundou o grupo. O Survivor Corps tornou-se ativo na defesa do paciente, e é um recurso para pesquisadores que estudam a nova condição. As implicações são enormes, disse Diana Berrent.
Berrent se tornou uma voz de confiança durante a pandemia. Ela entrevistou Anthony Fauci, médico, chefe dos Institutos Nacionais de Alergia e Doenças Infecciosas, em outubro passado.
"Parte desse dano é permanente. Não vai curar a cicatriz do tecido do coração, não vai curar o dano irreparável aos pulmões, mas se está fazendo as pessoas se sentirem melhor, é uma indicação de que há persistência viral, "diz Berrent. “Venho dizendo há meses e meses, não deveríamos chamar isso de nada pós-agudo”, acrescenta ela.
Pacientes relatam melhora
Daniel Griffin, médico, PhD, está igualmente animado. Ele é um especialista em doenças infecciosas na Universidade de Columbia, na cidade de Nova York. Ele diz que cerca de 1 em 5 pacientes que tratou para COVID-19 no ano passado, nunca melhorou. Muitos deles, como Goyang, eram trabalhadores da saúde. “Não sei se as pessoas realmente pegaram isso, mas muitos de nossos colegas de trabalho, estão permanentemente incapacitados ou morreram”, disse Griffin.
Os profissionais de saúde também foram os primeiros a serem vacinados. Griffin diz que muitos de seus pacientes começaram a procurá-lo cerca de uma ou duas semanas depois de serem vacinados "e dizendo: 'Sabe, na verdade me sinto melhor.' E alguns deles estavam dizendo, 'Eu me sinto muito melhor', depois de ficarem doentes, muitos deles por um ano. " Em seguida, ele disse que estava recebendo ligações e mensagens de texto de outros médicos, perguntando: "Ei, você está vendo isso?"
Os benefícios da vacinação para alguns pacientes com Longa Covid foram uma surpresa. Griffin diz que antes de as vacinas serem lançadas, muitos de seus pacientes temiam que a vacinação pudesse superestimular o sistema imunológico, e piorar os sintomas. De fato, uma pequena porcentagem de pessoas, cerca de 3% a 5%, com base em pesquisas informais nas redes sociais, relata que experimentam piora dos sintomas depois de tomar a injeção. Não está claro o porquê.
Griffin estima que entre 30% e 50% dos sintomas dos pacientes melhoram, depois que recebem as vacinas de mRNA. "Estou vendo esse grupo de pessoas, elas me dizem que a névoa do cérebro melhorou, o cansaço se foi, as febres que não resolviam, agora passaram", diz ele. "Estou vendo isso pessoalmente e estou ouvindo de meus colegas." Griffin diz que a observação lançou vários questionamentos, e que existem várias teorias sobre como as vacinas podem estar afetando a Londa Covid.
Um reforço do sistema imunológico?
Uma possibilidade é que o vírus continue a estimular o sistema imunológico, que continua lutando contra o vírus por meses. Se for esse o caso, diz Griffin, a vacina pode estar dando ao sistema imunológico, o impulso de que precisa, para finalmente eliminar o vírus.
Donna Farber, PhD, professora de microbiologia e imunologia na Universidade de Columbia, também ouviu as histórias. "É possível que o vírus persistente na Longa Covid esteja em um nível baixo, não o suficiente para estimular uma resposta imune potente para eliminar o vírus, mas o suficiente para causar sintomas. Ativar a resposta imune, portanto, é terapêutico para direcionar a completa depuração viral," ela diz. Farber explica que a Longa Covid pode ser um pouco como a doença de Lyme. Alguns pacientes com doença de Lyme devem tomar antibióticos por meses antes que seus sintomas desapareçam.
Griffin diz que há outra possibilidade. Vários estudos mostraram que pessoas com sintomas persistentes de COVID-19 desenvolvem autoanticorpos. Há uma teoria de que o SARS-CoV-2 pode criar uma doença auto-imune que leva a sintomas de longo prazo. Se for esse o caso, diz Griffin, a vacina pode estar ajudando o corpo a redefinir sua tolerância a si mesmo, "então talvez agora você esteja obtendo uma resposta imunológica saudável".
Mas mais estudos são necessários para saber com certeza. De qualquer forma, as vacinas são uma esperança muito necessária para a comunidade portadora de Longa Covid, e Griffin diz a seus pacientes que ainda estão preocupados que, no mínimo, eles estarão protegidos de outra infecção por SARS-CoV-2.

Risco de reinfecção por SARS-CoV-2 após uma infecção natural
Em um artigo publicado no The Lancet em 17/03/2021, uma pesquisadora americana comenta que a esperança de imunidade protetora por meio de infecções naturais, pode não estar ao nosso alcance, e um programa global de vacinação com vacinas de alta eficácia, seria a solução duradoura.
Desde o início da pandemia COVID-19, a questão da reinfecção potencial está sempre presente. Embora tenha havido muito debate sobre a confiança potencial na imunidade de rebanho por meio da infecção natural, os coronavírus humanos são bem adaptados para subverter a imunidade, e a reinfecção ocorre para os coronavírus sazonais (229E, OC43, NL63 e HKU1), que causam o resfriado comum devido à imunidade efêmera, que é pouco protetora entre infecções.
Além disso, o mapeamento detalhado de parâmetros imunológicos em coortes, como profissionais de saúde, enfatiza a heterogeneidade da resposta imunológica ao SARS-CoV-2, desde aqueles com altos títulos de anticorpos neutralizantes e amplo repertório de células T, até a minoria com imunidade quase imperceptível.
Esses níveis muito baixos de imunidade após a infecção, seriam difíceis de comparar com proteção contra reinfecção. Além disso, entre os estudos longitudinais que investigaram a diminuição dos níveis de anticorpos contra o SARS-CoV-2, as respostas foram encontradas para durar 6 meses ou um pouco mais; embora, dependendo de quais componentes do repertório de anticorpos sejam testados, ocorre uma minoria substancial soro reversão para a negatividade.
Apesar dos avanços substanciais em todos os aspectos da análise COVID-19, e a coleta de dados durante o ano passado, o cálculo do risco de reinfecção tem sido difícil de ser feito, e há duas razões principais para isso. A razão mais óbvia para a dificuldade, é que a maioria dos indivíduos em todo o mundo que foram infectados durante a primeira onda da pandemia, não realizou um teste de PCR ou teste de anticorpos, e não foi internada ou tratada no hospital e, portanto, não está incluída em muitos conjuntos de dados da COVID- 19.
A segunda razão, é que as revistas científicas exigem evidências específicas para relatos formais de reinfecção, levando a provável subnotificação. Por exemplo, revisores e editores, exigiram evidências de indivíduos que testaram positivo por PCR, depois se recuperaram e se tornaram negativos por PCR, e posteriormente, testaram positivo por um segundo teste de PCR, com isolados virais sequenciados distintos em cada ocasião. Fora de um ensaio clínico de coorte de pesquisa, tal coleta de evidências raramente é alcançável, e existem fatores de confusão potenciais para a análise de reinfecção. Por exemplo, uma minoria de indivíduos pode abrigar um reservatório de SARS-CoV-2 persistente no intestino, de modo que distinguir entre a reinfecção verdadeira e a recorrência da infecção original, é um desafio.
Um estudo com profissionais de saúde em Sergipe, Brasil, indicou uma taxa relativamente alta de reinfecções correlacionada com as respostas de anticorpos mais baixas, mas na maioria dos casos, os pesquisadores não puderam confirmar a reinfecção de novo. A partir desse estudo, os investigadores estimaram o risco de reinfecção em aproximadamente 7%. No The Lancet, Christian Hansen e colegas, relatam um estudo populacional de uma coorte dinamarquesa, investigando o risco de se tornar positivo para SARS-CoV-2 por PCR pela segunda vez, supostamente indicativo de reinfecção.
O estudo utiliza dados da estratégia nacional de testes de PCR da Dinamarca, em que aproximadamente 4 milhões de pessoas fizeram 10,6 milhões de testes de PCR. Como os dados no sistema eram identificáveis por pessoa, os autores foram capazes de determinar que 3,27% daqueles que não foram infectados durante o primeiro surto, tiveram um teste positivo durante o segundo surto, em comparação com 0,65%, entre aqueles que tiveram previamente registrado um teste positivo. Assim, eles determinaram que, em geral, a infecção passada confere 80,5% de proteção contra a reinfecção, que diminui para 47,1% nas pessoas com 65 anos ou mais. Hansen reconhece as muitas limitações de sua análise ser restrita apenas aos dados de PCR, incluindo a possibilidade de que as pessoas possam mudar seu comportamento, após um teste de PCR positivo. Esse fator de confusão é abordado, observando-se que as descobertas são semelhantes em uma análise de sensibilidade de enfermeiras, médicos, assistentes sociais e assistentes de saúde, que foram testados regularmente devido à sua profissão.
Comparando com os relatos de casos de reinfecção mais formais, que são baseados em dados de sequência diferencial de vírus, e fazem a reinfecção parecer um evento extremamente raro, muitos acharão os dados relatados por Hansen sobre proteção por infecção natural, relativamente alarmantes. Apenas 80,5% de proteção contra reinfecção em geral, diminuindo para 47,1% em pessoas com 65 anos ou mais, são números mais preocupantes do que os oferecidos por estudos anteriores. Até agora, um dos maiores conjuntos de dados veio do Catar durante um período de alta carga viral da doença e relatou um risco estimado de reinfecção de 0,2%.
No entanto, uma diferença importante entre os estudos, é que o estudo dinamarquês se baseia em um programa de teste nacional universalmente acessível, para indivíduos sintomáticos e não sintomáticos, enquanto os dados do Catar, são derivados de um programa de teste de PCR no contexto de doença sintomática. Os casos PCR-positivos dentro do conjunto de dados dinamarquês, provavelmente abrangem uma proporção muito maior de casos assintomáticos, que se presume evidenciam níveis mais marginais de imunidade protetora.
A qualidade, quantidade e durabilidade da imunidade protetora induzida pela infecção natural com SARS-CoV-2, são reduzidas em relação aos níveis muito mais elevados de anticorpos neutralizantes de vírus e células T induzidos pelas vacinas, atualmente sendo administradas globalmente.
O surgimento de variantes do SARS-CoV-2, com o escape variável da imunidade natural e induzida por vacina, complica ainda mais as coisas. Correlatos precisos de proteção contra SARS-CoV-2 não são conhecidos, mas variantes emergentes preocupantes, podem mudar a imunidade abaixo de uma margem de proteção, levando à necessidade de vacinas atualizadas.
Curiosamente, as respostas à vacina, mesmo após uma dose única, são substancialmente aumentadas em indivíduos com histórico de infecção por SARS-CoV-2. Esses dados são todos uma confirmação, se necessário, que para o SARS-CoV-2, a esperança de imunidade protetora por meio de infecções naturais, pode não estar ao nosso alcance, e um programa global de vacinação com vacinas de alta eficácia, seria a solução duradoura.

Manual básico dos dispositivos de oxigenioterapia suplementar e de Suporte Ventilatório Não Invasivo e Invasivo.
A dispneia (falta de ar) associada ao desconforto respiratório, é um dos sinais e sintomas mais comuns na emergência! Muitos pacientes que dão entrada com desconforto respiratório precisam de oxigenoterapia através algum dispositivo de oxigenação. Logo, o manejo adequado da via aérea é uma das competências básicas de um profissional capacitado, e tem como objetivo promover uma boa ventilação e oxigenação satisfatória para o paciente. Para se otimizar essa oferta de oxigênio suplementar, é indispensável o acompanhamento por um Médico assistente e por um Fisioterapeuta com experiência na área respiratória.
Aqui é um guia básico primário, com apenas alguns conceitos preliminares, que servem como uma orientação inicial de oxigenioterapia suplementar, mas que jamais dispensará a prévia avaliação médica, antes do seu uso de uma forma indiscriminada, e sem a orientação e o acompanhamento por uma equipe de especialistas.
Conceitos
Antes de abordar o manejo da oxigenoterapia de fato, é necessário ter alguns conceitos consolidados:
Ventilação: entrada e saída de ar entre as unidades funcionais dos pulmões, alvéolos, e o meio externo.
Oxigenação: participação do oxigênio molecular no processo de obtenção de oxigênio através da troca gasosa que se dá na membrana alvéolo-capilar. Este conceito se relaciona, dentre outros fatores com a saturação de oxigênio.
Saturação de Oxigênio (SatO2): porcentagem de hemoglobina que está ligada a moléculas de oxigênio.
Fração inspirada de O2 (FiO2): porcentagem de oxigênio no ar inspirado. Em ar ambiente, ao nível do mar, temos uma FiO2 de 21%. Durante a VNI e VMI é possível ofertar uma FiO2 de 21 a 100%.
Ventilação não invasiva (VNI): uma forma de ventilação mecânica não invasiva, na qual é ofertado pressão positiva ao paciente, com ou sem oxigênio suplementar (FiO2 varia de 21 a 100%), através de uma pronga nasal, peça bucal, máscara facial, máscara nasal, máscara facial total ou capacete. Entre os modos ventilatórios de VNI, se destacam os modos básicos e mais utilizados: CPAP e Binível.
Ventilação invasiva (VI): utilizada quando não é possível obter ventilação suficiente por meio de métodos não invasivos é liberado através de um tubo endotraqueal (inserido na traqueia por intubação), ou pela traqueostomia. A FiO2 varia de 21 a 100%.
Didaticamente, dividimos a oxigenoterapia entre os dispositivos de oxigenação, utilizados para aumentar a FiO2 em pacientes em ventilação espontânea; e os de ventilação, para aqueles em que a ventilação está ausente ou insuficiente.
Sabemos que a dispneia é uma queixa subjetiva, sendo importante para o médico quantificar a relevância e gravidade da possível insuficiência respiratória. Nos pacientes que possuem ventilação espontânea, a definição por qual dispositivo usar, não obedece a uma única regra. Itens da história clínica; sinais do exame físico, avaliando o padrão respiratório, o uso de musculatura acessória da respiração; dados de monitorização (saturação de oxigênio) e exames complementares, e em especial da gasometria arterial, poderão guiar a indicação e a continuidade do tratamento, apontando a escolha adequada dos melhores dispositivos de vias aéreas e dos parâmetros a serem utilizado
Oximetria de pulso
A oximetria de pulso é considerada o melhor método para triagem de pacientes com hipoxemia. O oxímetro posicionado no dedo oferta a leitura imediata da saturação arterial do oxigênio (SpO2) no ato do exame. O oxímetro é bastante sensível e fidedigno, com erro estimado de 1 a 2%, quando comparado com o obtido pela gasometria arterial. Existem situações clínicas que alteram sua leitura, a saber: icterícia, metahemoglobinemia, onicomicose, esclerodermia, perfusão tecidual inadequada, pele com pigmentação escura e artefato como esmalte escuro. Apesar desses inconvenientes, a oximetria de pulso é considerada um método excelente de triagem.
Além dessa sua indicação, podemos usá-la para titular o fluxo de oxigênio mais preciso em repouso, e tanto no exercício como durante o sono. A gasometria arterial está indicada para avaliar a necessidade de oxigênio suplementar e sua instalação. A comparação da SpO2 medida pela oximetria de pulso com a SaO2 dosada pela gasometria arterial em ar ambiente, que corrobora a acurácia desse método. Além disso, podemos utilizar a SpO2 para ajustarmos os fluxos de oxigênio após algum tempo de uso, tanto nas exacerbações quanto na melhora da doença, realizando assim o desmame (redução) do oxigênio.

Oxímetro de pulso
Principais tipos de oxigenoterapia suplementar
Existem vários tipos de oxigenoterapia que são classificados de acordo com as concentrações de oxigênio que são liberadas, sendo que o médico vai recomendar o tipo de acordo com as necessidades da pessoa, assim como o grau de desconforto respiratório, e se a pessoa apresenta sinais de hipóxia. Desta forma, os principais tipos de oxigenoterapia podem ser administrados por:
1. Sistemas de baixo fluxo
Este tipo de oxigenoterapia é recomendado para pessoas que não necessitam de grande quantidade de oxigênio, e através destes sistemas é possível fornecer oxigênio para as vias aéreas em um fluxo de até 15 litros por minuto, ou com um FiO2, chamado de fração de oxigênio inspirado, de até 60%. Isso significa que do ar total que a pessoa vai inspirar, 60% será de oxigênio.
Os dispositivos mais usados neste tipo são:
· Cânula nasal ou cateter tipo óculos: se constitui como um pequeno tubo fino com dois orifícios em sua extremidade e é introduzido na cavidade nasal a uma distância equivalente ao comprimento entre o nariz e a orelha e é capaz de ofertar oxigênio até 6 litros por minuto; com uma FiO2 de 40%. Em pacientes com Covid-19, deve ser administrado no máximo a 5 L/min para evitar o ressecamento das vias aéreas, uma vez que se deve evitar a umidificação do sistema, para não gerar aerossóis.
· Máscara facial: consiste em uma máscara de plástico que deve ser colocada sobre a boca e nariz e funciona para disponibilizar oxigênio em fluxos mais altos que as cânulas nasais, além de servir para pessoas que respiram mais pela boca, por exemplo; é capaz de ofertar oxigênio de 5 a 10 litros por minuto; com uma FiO2 de 35 a 50%.
· Máscara com reservatório sem reinalação: é uma máscara com uma bolsa inflável acoplada. As máscaras com reinalação parcial, possibilitam alcançar uma FiO2 de 40 a 70% com um fluxo de 6 a 10 l/min. O fluxo deve ser adequado para garantir que a bolsa seja esvaziada em 1/3 do seu conteúdo para evitar acúmulo de CO2 no sistema. Já as máscaras com reinalação, utilizam uma válvula unidirecional para receber o fluxo de no mínimo 10 l/min, e a sua principal vantagem é alcançar maiores níveis de FiO2. Ela deve ser utilizada em pacientes com Covid-19, caso o cateter nasal não consiga manter uma SatO2 > 94%.
· Máscara de traqueostomia: equivale a um tipo de máscara de oxigênio especifica para pessoas que têm traqueostomia, que pode alcançar uma FiO2 de 35 a 60%, podendo ser acoplado a um sistema Venturi.
Além disso, para que o oxigênio seja absorvido pelos pulmões de maneira adequada, é importante que a pessoa não tenha obstruções e nem secreções no nariz, e para evitar o ressecamento e irritação da mucosa das vias respiratórias, é necessário utilizar umidificação, quando o fluxo de oxigênio for acima de 4 litros por minuto.
Em pacientes com Covid-19, o uso de umidificadores aumenta o risco de gerar aerossóis no ambiente ao redor do paciente, e de contaminar acidentalmente outras pessoas.
Cateter/Cânula nasal tipo óculos
A cânula nasal é o dispositivo mais utilizado, tanto pela disponibilidade quanto pela facilidade do uso. Ela é um dispositivo simples, de baixo fluxo, suportando um fluxo de 2 e até 6 L/min, fornecendo uma FiO2 de, no máximo, 40%. Um aumento maior no fluxo não é correspondido em aumento da FiO2.
O que precisa se ter em mente é que a cada 1 L/min, corresponde aproximadamente a um acréscimo de 3-4% na FiO2 do ar ambiente. A sua principal indicação é a hipoxemia leve, conseguindo revertê-la na maioria dos casos em que se há uma diminuição leve da SatO2 (92-94%). Sua principal desvantagem é que o uso prolongado ou a aplicação de fluxos altos, podem levar ao ressecamento da mucosa nasal, ou até mesmo a irritação e lesão na mucosa.
Em pacientes com Covid-19, para evitar a disseminação de aerossóis, recomenda-se a utilização de uma máscara cirúrgica sobre o cateter nasal.

Cânula nasal tipo óculos
Máscara facial simples
A máscara simples pode aumentar a FiO2 até 50%, e deve ser usada com um fluxo de 5 a 10 L/min para prevenir retenção de dióxido de carbono (CO2). Tem uma vantagem de ser mais acessível e leve (podendo ser utilizada até em casa, porém não tem garantia de selamento, além de precisar ser removido se o paciente precisar falar ou se alimentar.
Não é indicada no contexto da Covid-19, devido a produção de aerossóis e contaminação do ambiente.

Máscara facial simples
Máscara com reservatório sem reinalação
A máscara com reservatório sem reinalação destaca-se pelo reservatório de oxigênio, e por ter um sistema de válvulas expiratória e inspiratória, que conferem a capacidade de fornecer uma fração inspirada de oxigênio de até 100% (fluxo de 11-15 L/min), sendo amplamente utilizada em setores de emergência e UTI.
É utilizada principalmente no trauma (quando a intubação ainda não está indicada) e em situação de emergência clínica em que há uma hipoxemia moderada-grave, que não conseguiu ser revertida com cânula e que ainda não há uma indicação formal de intubação ou ventilação-não-invasiva.
Está sendo bastante utilizada na Covid-19.

Máscara facial com reservatório sem reinalação
2. Sistemas de alto fluxo
Os sistemas de alto fluxo são capazes de fornecer uma alta concentração de oxigênio, acima do que uma pessoa é capaz de inspirar normalmente, e é indicado em casos mais graves, sobretudo em situações de hipoxemia provocada por insuficiência respiratória hipoxêmica.
Máscara de Venturi
A máscara de Venturi é a maneira mais comum deste tipo de oxigenoterapia, sendo que possui diferentes adaptadores que servem para oferecer níveis de oxigênio exatos e diferentes, de acordo com o fluxo, que varia de 5 a 12 litros por minuto, ofertando uma FiO2 de 24 a 50%. Esta máscara possui orifícios que permitem o escape do ar expirado, que contém o dióxido de carbono, e requer umidificação para não causar ressecamento das vias respiratórias.
A máscara de Venturi possui um sistema de válvulas que possibilita um controle exato da FiO2 a ser fornecida ao paciente, e está indicada quando se deseja ofertar O2 de forma fixa. Cada válvula tem uma cor e na válvula tem escrito tanto o fluxo quanto a FiO2 ofertado por ele.

Máscara de Venturi
Cânula nasal de Alto Fluxo
A oxigenoterapia nasal de alto fluxo é um suporte respiratório não invasivo que fornece ao paciente ar aquecido, umidificado e enriquecido com oxigênio. É tipicamente utilizada em pacientes que respiram espontaneamente, e precisam de oxigênio em taxas de fluxo mais elevadas. A oxigenoterapia de alto fluxo pode oferecer suporte respiratório para pacientes com insuficiência respiratória hipoxêmica aguda, e pode também prevenir uma subsequente intubação, em alguns casos. Este tipo de oxigenoterapia também é econômico, pois não requer, necessariamente, um ventilador, e pode ser utilizado em diversas áreas do hospital. A oxigenoterapia de alto fluxo é aplicada com uma cânula nasal de alto fluxo (CNAF) especial bi-nasal, e um circuito inspiratório aquecido. Ela é utilizada para a aplicação de ar misto aquecido e umidificado e oxigênio a altas taxas de fluxo, tipicamente configuradas entre 30 e 80 l/min. Este alto fluxo pode fornecer concentrações de oxigênio inspiratório mais constantes do que a oxigenoterapia convencional, e pode gerar alguma pressão positiva expiratória final.

Cânula nasal de alto fluxo
3. Ventilação não invasiva:
A ventilação não invasiva, também conhecida como VNI, consiste em um suporte ventilatório que utiliza a pressão positiva para facilitar a entrada de ar nas vias respiratórias. Esta técnica é indicada pelos médicos pneumologista e intensivista, e pelos fisioterapeutas respiratório e intensivista, e realizada em pessoas adultas com desconforto respiratório e que estão com frequência respiratória acima de 25 respirações por minuto ou saturação de oxigênio abaixo de 90%.
Diferente dos outros tipos, este dispositivo não é usado para ofertar oxigênio extra, mas serve para facilitar a respiração através da reabertura dos alvéolos pulmonares, melhorando a troca gasosa e diminuindo o esforço respiratório, e é recomendado para Insuficiência respiratória, outras disfunções cardiorrespiratórias, neurológicas, apneia do sono, dentre outras.
E ainda, existem vários tipos de máscaras de VNI que podem ser utilizadas em casa e em hospital, variando de acordo com o tamanho da face e da adaptação de cada pessoa, sendo o CPAP o modo ventilatório mais utilizado, porém o binível também é muito utilizado. Atualmente, há o novo capacete ELMO, desenvolvido por uma equipe cearense liderada pelo Dr. Marcelo Holanda da UFC, sendo utilizada em ambiente hospitalar.
Dentre os dispositivos de oxigenação, podemos citar:
· Cateter ou cânula nasal
· Máscara de oxigênio simples
· Máscara com reservatório sem reinalação
· Máscara de Venturi
· Oxigenioterapia de Alto Fluxo
· Equipamento de Ventilação Não Invasiva (CPAP ou BiPAP)
· Capacete Elmo
· Ventilação Invasiva: respiradores
Equipamento de Ventilação Não Invasiva
A VNI pode ser indicada para insuficiência respiratória aguda e crônica bem como para disfunções neurológicas, apneia do sono e outras disfunções cardiorrespiratórias. A VNI pode ser ofertada pelo modo CPAP ou Binível ou BiPAP, que podem fornecer suporte a alguns pacientes com a Covid-19. A principal diferença entre o CPAP e BiPAP é a forma de entrega da pressão positiva nas vias aréas. Na CPAP, a pressão nas vias aéreas é entregue de forma constante, já o BiPAP, oferta dois níveis de pressão (IPAP = suporte inspiratório) e EPAP = suporte expiratório.

CPAP ou BiPAP
A oxigenoterapia pode ser ofertada basicamente de duas formas. Em ventiladores com misturador de gás o ajuste da suplementação de O2 será́ no próprio ventilador. Nos equipamentos de VNI portáteis, sem misturador de gás, suplementar O2 diretamente na máscara sempre depois da válvula de exalação, usando fonte de O2 externa (cilindro de oxigênio ou um concentrador de oxigênio). Os dois equipamentos armazenam o oxigênio suplementar que será fornecido à pessoa.
A grande diferença entre os dois é o funcionamento, já que, no cilindro de oxigênio, o gás está comprimido ou se encontra em forma líquida, sendo colocado e ajustado por um profissional. O oxigênio é comprimido dentro de um cilindro de metal sob alta pressão, podendo ser armazenado tanto em grandes quanto em pequenos cilindros. O oxigênio líquido é feito por um super resfriamento do gás oxigênio, que o transforma em líquido. Nessa forma, o oxigênio ocupa menor volume e pode ser armazenado em recipientes especiais.

Concentrador de oxigênio e o cilindro de oxigênio
Já no concentrador de oxigênio, o gás é extraído do ar ambiente através de um processo de purificação, feito no interior da máquina. Os concentradores utilizam o oxigênio já presente no ar e concentram-no, removendo os outros gases. São alimentados por eletricidade.
Atualmente conta-se também com o Blender Externo, que é um acessório que pode ser incorporado no sistema e funciona como um misturador de gases. Ele processa o ar comprimido e o oxigênio (O2) e os mistura, adequadamente, para gerar a concentração que o paciente deve receber. A partir da utilização do Blender Externo, o ajuste de FiO₂ é automaticamente desabilitado no ventilador. Com o Blender é possível ajustar a FiO₂ acima da fração atmosférica, recomendada para pacientes com hipoxemia, na faixa acima de 21 até 100%.

Blender externo
Capacete ELMO
O capacete ELMO é um dispositivo de suporte ventilatório não invasivo, capaz de manter uma pressão positiva contínua nas vias aéreas, através da oferta de alto fluxo de oxigênio e ar medicinal, reduzindo consideravelmente o esforço respiratório do paciente. O ELMO está indicado para pacientes adultos, com idade mínima de 18 anos, ambos os sexos, com Insuficiência Respiratória Hipoxêmica leve a moderada.
O ELMO baseia-se na oferta de fluxo de gás por dois fluxômetros de 30 l/min cada (ar comprimido e oxigênio), gerando-se uma pressão positiva no dispositivo, através de uma válvula de PEEP (Pressão Positiva Expiratória Final), e que esses fluxos combinados, podem gerar uma FI O2 de 41% com um fluxo total de 45 l/min a até 100% com um fluxo total de 60 l/min. Esta pressão pode corresponder a um único nível na inspiração e expiração, configurando um sistema com pressão positiva contínua na via aérea (CPAP) com valores ajustáveis dentro do intervalo de 5 a 20 cmH₂O.

Capacete ELMO
Considerações finais sobre Oxigenoterapia
Em suma, os dispositivos de oxigenação são os recursos mais acessíveis e de fácil manejo para oxigenoterapia nos ambientes de emergência. Reconhecer a insuficiência respiratória do paciente, e ofertar O2 de forma adequada, é um dos pré-requisitos dos médicos pneumologista e intensivista, e dos fisioterapeutas respiratório e intensivista.
Além desses dispositivos, existem os dispositivos de ventilação invasiva, nos pacientes que necessitam de intubação (ou traqueostomia) e uma oferta maior de oxigênio.

O risco de trombose durante e após infecção aguda por COVID-19
Em um artigo publicado no An International Journal of Medicine em 15/03/2021, pesquisadores italianos comentam sobre o risco aumentado de tromboembolismo venoso e arterial durante a após a infecção por COVID-19.
A síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2 (SARS-COV-2), tem sido associada à disfunção da coagulação, que predispõe os pacientes a um risco aumentado de tromboembolismo venoso e arterial, aumentando a morbidade e mortalidade em curto prazo. Nesse sentido, vários estudos sobre eventos trombóticos foram publicados desde o início da pandemia, acumulando-se em impressionantes 1.838 artigos indexados no Medline até 23 de fevereiro de 2020.
Na verdade, até o momento, a prevalência real de eventos trombóticos devido à infecção por COVID-19 permanece desconhecida, uma vez que os dados disponíveis não são derivados de protocolos de investigação sistemáticos e abrangentes. Além disso, as diferentes prevalências observadas, são amplamente influenciadas pelo estágio da doença dos pacientes testados, bem como pela enfermaria em que estão hospitalizados, ou seja, enfermarias gerais ou unidade de terapia intensiva, e pela sua etnia.
A maioria dos estudos publicados, concentrou sua atenção principalmente na ocorrência de eventos trombóticos durante a fase aguda da doença, enquanto poucas investigações investigaram sua ocorrência após a alta ou resolução da infecção. A este respeito, o tromboembolismo venoso (TEV), parece ser observado com maior frequência em comparação com as tromboses arteriais. Do ponto de vista fisiopatológico, foi sugerido que em pacientes com COVID-19, a trombose representa um evento multifatorial devido ao retardo da fibrinólise, aumento da atividade de von Willebrand e do fator VIII e anticorpos anticoagulantes circulantes positivos para lúpus.
Nesse sentido, Rashidi e colegas. descreveram uma taxa cumulativa de 45 dias de TEV sintomático de 0,2% entre pacientes com COVID-19 recém-hospitalizados. Da mesma forma, Vlachou e colegas, observaram 4 casos de EP aguda em 370 pacientes positivos necessitando de hospitalização, após recuperação completa de COVID-19 agudo em quatro semanas de negativização viral. Roberts e colegas, após 1.877 altas hospitalares associadas à COVID-19, observaram TEV em 4,8 por 1000 altas. Por outro lado, os casos de eventos trombóticos arteriais retardados, foram relatados principalmente como relatos de casos esporádicos, portanto, uma prevalência real de tais eventos ainda não foi estimada.
Os dados atuais, evidenciam que a taxa de eventos trombóticos pós-alta em pacientes com COVID-19, é menor em comparação com a observada durante a hospitalização. Em vez de “eventos trombóticos verdadeiros”, essas complicações parecem mais provavelmente “imunotrombose” consequente à infecção recente. Infelizmente, a ausência de dados de ensaios clínicos randomizados, grandes coortes prospectivas, e pacientes ambulatoriais com COVID-19, deixaram sem solução a questão sobre a necessidade de tromboprofilaxia pós-alta devido à ausência de recomendações de nível forte.
As evidências disponíveis apoiam a recomendação do American College of Chest Physicians (ACCP), que sugere que a trombofilaxia estendida de rotina após a alta hospitalar de pacientes com COVID-19, pode não ter um benefício clínico claro. No entanto, essas sugestões devem ser consideradas preliminarmente, devido às limitações metodológicas dos estudos realizados sobre o assunto, e à ausência de dados sobre a taxa de eventos trombóticos em pacientes com COVID-19 não hospitalizados durante a doença aguda. Há uma necessidade urgente de realizar estudos randomizados meticulosamente planejados, comparando as abordagens tromboprofiláticas disponíveis, investigando não apenas mortalidade, mas também eventos trombóticos recorrentes, e necessidade de hospitalização, sangramento importante e complicações isquêmicas e resultados funcionais. Esses resultados representarão bases sólidas para futuras discussões sobre este tópico, e contribuirão para a concepção do ensaio ideal para fornecer as evidências relevantes necessárias para recomendações de diretrizes consistentes.
O que deve ser feito em nossa prática diária, até que os resultados de tais estudos estejam disponíveis? Nesse ínterim, a possível ocorrência de eventos trombóticos após a infecção por COVID-19, e seu potencial pior papel prognóstico, devem alertar os médicos a respeito do desfecho de curto prazo desses pacientes, que devem ser tratados de acordo com as diretrizes internacionais atuais para doença trombótica. Em caso de deterioração clínica, imobilização prolongada ou doença prolongada ou fase de recuperação, a profilaxia estendida pode ser considerada e adaptada caso a caso, equilibrando os riscos trombóticos e hemorrágicos.
Em conclusão, sabe-se que a síndrome respiratória aguda grave do coronavírus 2 (SARS-COV-2) tem sido associada à disfunção da coagulação, que predispõe os pacientes a um risco aumentado de tromboembolismo venoso e arterial, aumentando a morbidade e mortalidade em curto prazo. Os dados atuais evidenciam que a taxa de eventos trombóticos pós-alta em pacientes com COVID-19, é menor quando comparada à observada durante a internação. Em vez de “eventos trombóticos verdadeiros”, essas complicações parecem mais provavelmente “imunotrombose” consequente à infecção recente. Infelizmente, a ausência de dados de ensaios clínicos randomizados, grandes coortes prospectivas e pacientes ambulatoriais com COVID-19 deixaram sem solução a questão sobre a necessidade de tromboprofilaxia pós-alta devido à ausência de recomendações de alto nível.

Associação de sintomas agudos de COVID-19 e sintomas de depressão em adultos
Em um comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 12/03/2021, pesquisadores americanos comentam que novos comprimidos para tratar pacientes com COVID-19 estão atualmente em fase de testes clínicos e, se bem-sucedidos, poderão estar prontos até o final do ano.
Após infecção aguda com síndrome respiratória aguda grave coronavírus 2 (SARS-CoV-2), um subconjunto de indivíduos apresenta sintomas persistentes envolvendo humor, sono, ansiedade e fadiga, o que pode contribuir para taxas acentuadamente elevadas de transtorno depressivo maior, observados em estudos epidemiológicos recentes. Neste estudo, investigou-se se os sintomas da doença coronavírus aguda 2019 (COVID-19) estão associados à probabilidade de sintomas depressivos subsequentes.
Entre mais de 3.900 indivíduos com doença COVID-19 anterior, pesquisados entre maio de 2020 e janeiro de 2021, 52,4% preencheram os critérios para sintomas moderados ou severos de depressão maior. Em modelos de regressão, esses sintomas eram mais prováveis entre respondentes mais jovens, em comparação com respondentes mais velhos; e mais entre homens em comparação com mulheres; bem como maior entre aqueles com maior gravidade geral de COVID-19 autorrelatada, em comparação com aqueles com gravidade mais baixa.
Não se replicou um achado anterior entre 114 indivíduos com COVID-19, de que a perda do olfato e do paladar estavam associadas a maiores sintomas depressivos e ansiosos em curto prazo. Em vez disso, descobriu-se que aqueles que relataram cefaleia durante a infecção aguda, pareciam ter um risco mais elevado de sintomas depressivos. Notou-se importante advertência de que, com um estudo transversal, não se poderia excluir a possibilidade de que, os indivíduos com depressão atual, fossem mais propensos a relatar ou lembrar de dor de cabeça. Da mesma forma, pode-se esperar que outros sintomas, também sejam relatados com mais frequência, mas geralmente não era esse o caso do estudo. Além disso, como uma pesquisa baseada em dados colhidos pela internet, não se poderia estimar uma taxa de resposta, como acontece com os desenhos de pesquisas mais tradicionais; no entanto, observou-se que pesquisas usando métodos semelhantes, demonstraram resultados replicáveis durante a COVID-19. Como os entrevistados não viram o tópico da pesquisa até entrar na própria pesquisa, é improvável que esses resultados sejam enriquecidos para aqueles com interesse particular ou impacto da COVID-19.
Uma advertência adicional é que não se pode atribuir esses sintomas ao novo início da depressão; indivíduos com infecção aguda podem ter menos probabilidade de se recuperar de episódios depressivos anteriores, ou aqueles com sintomas depressivos preexistentes, podem ter maior risco de contrair a COVID-19. Um estudo baseado em reclamações de 2.021, sugere uma associação bidirecional entre COVID-19 e doença psiquiátrica.
No entanto, esses resultados se somam a um crescente corpo de evidências, que sugere a importância de se considerar as sequelas neuropsiquiátricas potenciais da infecção por COVID-19. Esses resultados também sugerem a importância de se considerar estratégias que possam reduzir o risco elevado de sintomas depressivos após infecção aguda.

A primeira pílula para a COVID-19 poderá estar pronta até o final do ano
Em um comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 12/03/2021, pesquisadores americanos comentam que novos comprimidos para tratar pacientes com COVID-19 estão atualmente em fase de testes clínicos e, se bem-sucedidos, poderão estar prontos até o final do ano.
Apenas um tratamento, o Remdesivir, foi totalmente aprovado pela Food and Drug Administration (FDA) dos Estados Unidos para pacientes hospitalizados, e deve ser administrado por via intravenosa em pacientes que necessitem de uso de oxigênio.
As esperanças de um dia em que os pacientes com COVID-19 possam tomar uma pílula, para livrar seus corpos do vírus, aumentaram no fim de semana, quando os primeiros resultados dos testes foram apresentados em uma conferência médica. Os resultados provisórios da fase 2 para o medicamento oral experimental Molnupiravir, projetado para fazer para pacientes com COVID-19, o que o Oseltamivir (Tamiflu) pode fazer para pacientes com gripe, foram apresentados na reunião anual da Conferência sobre Retrovírus e Infecções Oportunistas (CROI) 2021, conforme já relatado pelo Medscape Medical News.
No pequeno estudo, a pílula reduziu significativamente o vírus infeccioso em pacientes que eram sintomáticos, e que tiveram um resultado positivo da PCR para COVID-19 durante os 4 dias anteriores, mas não foram hospitalizados. Após 5 dias de tratamento, nenhum participante que recebeu Molnupiravir apresentou vírus detectável, enquanto 24% dos que receberam placebo tiveram.
Dois outros agentes orais estão sendo desenvolvidos pela RedHill Biopharma: um para infecção COVID-19 grave para pacientes hospitalizados e um para pacientes em casa com infecção leve.
O primeiro, Opaganibe, passou para um ensaio global de fase 2/3 para pacientes hospitalizados, depois que a empresa anunciou os dados de segurança e eficácia de primeira linha em dezembro. Na fase 2, o medicamento mostrou-se seguro em pacientes que necessitam de oxigênio, e reduziu efetivamente a necessidade de oxigênio no período final de tratamento.
Uma característica importante é que ele é tanto um antiviral quanto um antiinflamatório, disse Gilead Raday, chefe de operações da RedHill, ao Medscape Medical News. Os dados são esperados no meio do ano sobre seu desempenho em 464 pacientes. A droga está sendo testada além do Remdesivir ou além da Dexametasona.
O segundo, Upamostat, está atualmente passando por um ensaio clínico de fase 2/3 nos Estados Unidos, e está sendo investigado para uso em pacientes COVID-19 não hospitalizados. "Eu esperaria que os dados estivessem disponíveis no segundo semestre deste ano", disse Raday. Upamostat é um novo inibidor de serina protease, que deve ser eficaz contra variantes emergentes, porque tem como alvo fatores de células humanas envolvidos na entrada viral, de acordo com a empresa. Outras drogas estão sendo investigadas em ensaios clínicos que estão em estágios iniciais.
Necessidade urgente de medicamentos orais
Os especialistas em doenças infecciosas estão observando com entusiasmo a mudança em direção à pílula COVID-19. “É uma lacuna real em nosso arsenal para a COVID em tratamento ambulatorial, que é onde a maioria dos que contraem COVID-19 buscarão atendimento”, disse ela ao Medscape Medical News.
Embora alguns estudos tenham mostrado o benefício dos anticorpos monoclonais para prevenção e tratamento precoce, há grandes problemas logísticos porque todas as opções atuais requerem administração endovenosa, explicou ela.
“Se tivéssemos uma pílula para tratar a COVID precocemente, especialmente em pacientes de alto risco, isso preencheria uma lacuna”, disse ela, observando que uma pílula poderia ajudar as pessoas a melhorar mais rapidamente e prevenir internações hospitalares. Estudos de Molnupiravir sugerem que ele diminui a liberação viral nos primeiros dias após a infecção por COVID, relatou Doernberg. Há entusiasmo em torno da droga, mas será importante ver se os resultados se traduzem em menos pessoas necessitando de internação hospitalar, e se as pessoas se sentem melhor mais rapidamente. "Quero ver os dados clínicos", disse Doernberg.
Ela também estará atenta aos resultados de Upamostate e Opaganibe nas próximas semanas. “Se esses medicamentos forem bem-sucedidos, acho possível que possamos usá-los, talvez sob uma autorização de uso de emergência ainda este ano”, disse ela.
Uma vez que uma pílula antiviral seja uma opção viável para o tratamento com COVID-19, surgirão questões sobre seu uso, disse ela. Uma dúvida é se os pacientes que estão recebendo Remdesivir no hospital, e estão prontos para sair após 5 dias, devem continuar o tratamento com comprimidos antivirais em casa.
Outra é se os comprimidos, se eles se mostrarem eficazes, serão úteis para a pós-exposição ao vírus da COVID. Esse uso seria importante para pessoas que não têm COVID-19, mas estão em contato próximo com alguém que tenha, como um membro da sua família. "Já temos esse modelo", disse Doernberg. “Sabemos que o Oseltamivir pode ser usado para profilaxia pós-exposição ao H1N1, e pode ajudar a prevenir o desenvolvimento da Gripe e suas doenças clínicas”.
Mas ela alertou que um desafio com a COVID, é que as pessoas são contagiosas desde muito cedo. Uma pílula precisaria vir com a mesma capacidade de se testar para a COVID-19 precocemente, e fazer com que os pacientes fossem imediatamente atendidos. "Esses não são desafios pequenos", disse ela.
As vacinas sozinhas não vão acabar com a ameaça COVID
Os tratamentos são parte da abordagem de "cinto e suspensório", junto com vacinas para combater COVID-19, disse Doernberg. "Não vamos erradicar a COVID", disse ela. "Ainda vamos precisar de tratamentos para pessoas que não respondem à vacina, ou não a receberam, ou desenvolveram doenças apesar da vacina."
As formulações orais são desesperadamente necessárias, concorda Kenneth Johnson, PhD, professor de biociências moleculares da Universidade do Texas em Austin. No momento, os tratamentos com Remdesivir envolvem pacientes sendo conectados a uma droga intravenosa por 30 a 120 minutos todos os dias por 5 dias. E o custo de um curso de Remdesivir de 5 dias varia de $ 2.340 a $ 3.120 nos Estados Unidos. "Esperamos encontrar algo que seja um pouco mais fácil de administrar, e sem tantas preocupações quanto aos efeitos colaterais tóxicos", disse ele.
A equipe de Johnson na UT-Austin recentemente fez uma descoberta importante sobre como o Remdesivir interrompe a replicação do RNA viral. A compreensão de onde o vírus começa a se replicar na cadeia de eventos de infecção, e como e onde reage com o Remdesivir, pode levar ao desenvolvimento de formas melhores e mais concentradas de antivirais no futuro, com menos toxicidades, disse ele.
A equipe usou uma placa de laboratório para recriar o processo passo a passo, que ocorre quando um paciente infectado com SARS-CoV-2 recebe Remdesivir. A descoberta foi publicada online na Molecular Cell em janeiro, e será publicada na edição de abril da revista. A descoberta não levará a uma pílula eficaz da COVID-19 para nossa crise atual, mas será importante para a próxima geração de medicamentos necessários para lidar com coronavírus futuros, explicou Johnson.
E haverá outros coronavírus, disse ele, observando que este é o terceiro em 20 anos, a saltar de animais para humanos. "É apenas uma questão de tempo", disse ele.

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