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CANTIM DA PNEUMOLOGIA & AFINS (PARTE 5)

  • Foto do escritor: Dylvardo Costa Lima
    Dylvardo Costa Lima
  • 19 de ago. de 2022
  • 79 min de leitura

Atualizado: 28 de ago. de 2023


Sono adequado, realização de exercícios e controle do peso, ajudam as pessoas a envelhecer bem


Artigo publicado na International Journal of Environmental Research and Public Health em 13/10/2022, em que pesquisadores canadenses comentam que hábitos como dormir e fazer exercícios adequados, e manter um peso saudável, podem ajudar as pessoas a manter sua capacidade de lidar com as tarefas da vida diária até a velhice.


Em uma análise retrospectiva de dados de quase 8.000 adultos mais velhos, 73% dos participantes com índice de massa corporal na faixa normal ou abaixo do peso, eram "idosos bem-sucedidos". Entre os participantes com excesso de peso, 71% eram idosos bem-sucedidos; entre os participantes com obesidade, 66% eram idosos bem-sucedidos.


Esta pesquisa fornece pistas importantes sobre as etapas que podem ajudar as pessoas a evitar incapacidades e perda de função à medida que envelhecem, disse a autora do estudo Esme Fuller-Thomson, PhD, diretora do Institute for Life Course and Aging da Universidade de Toronto, ao Medscape Medical News.


Definindo a fórmula do sucesso


As descobertas indicam que as pessoas podem fazer mudanças no estilo de vida, para um envelhecimento bem-sucedido, mesmo mais tarde na vida, escrevem os autores.


Muitas vezes, as pessoas podem presumir que terão uma perda significativa de função com a idade, disse Fuller-Thomson. "Muitas pessoas acham que aos 80 é tudo ladeira abaixo." Mas muitas pessoas viverão até a velhice sem grandes deficiências físicas ou mentais, disse ela. O objetivo é identificar como preservar a função.


"Você tem mais e mais anos de vida saudável e, eventualmente, morrerá de alguma coisa", disse Fuller-Thomson. "Mas a esperança é que você não fique incapacitado, e não tenha problemas cognitivos por muitos, muitos anos. A ideia é que você morrerá de botas".


Os pesquisadores examinaram um subconjunto dos participantes do Estudo Longitudinal Canadense sobre Envelhecimento (CLSA). No início do estudo, o CLSA Comprehensive Cohort consistia em 30.097 homens e mulheres canadenses com idades entre 45 e 85 anos. Para o estudo atual, os pesquisadores analisaram os dados do CLSA coletados de 2011 a 2015 e de 2015 a 2018.


A questão-chave do estudo foi como o status de imigração afetou o sucesso no envelhecimento, mas as descobertas têm ampla aplicabilidade, de acordo com os pesquisadores. Pesquisas anteriores indicaram que as pessoas que emigram para o Canadá são, em média, mais saudáveis do que as nascidas no Canadá.


Modelos anteriores de envelhecimento bem-sucedido, excluíam pessoas com condições crônicas de saúde. Em contraste, os pesquisadores atuais definiram o envelhecimento bem-sucedido como livre de limitações que dificultam as atividades rotineiras da vida diária, mesmo na presença de uma ou mais doenças crônicas. Eles incorporaram a percepção subjetiva dos idosos sobre seu processo de envelhecimento, saúde física e saúde mental, bem como seu bem-estar emocional autorrelatado, definido por felicidade e satisfação com a vida.


Os pesquisadores selecionaram participantes que pareciam inicialmente envelhecer com sucesso e que tinham pelo menos 60 anos de idade, durante o segundo período de coleta de dados. O tamanho final da amostra incluiu 7.651 participantes, dos quais 1.446 eram imigrantes no Canadá.


Entre as pessoas nascidas no Canadá, 72% eram idosos bem-sucedidos, enquanto 66% do grupo de imigrantes, eram idosos bem-sucedidos. Aproximadamente 72% dos participantes que relataram nunca, raramente ou às vezes ter problemas para dormir eram idosos bem-sucedidos, em comparação com 66% daqueles que relataram ter problemas para dormir ocasionalmente ou o tempo todo. Além disso, 72% dos participantes que relataram caminhar com frequência ou às vezes eram idosos bem-sucedidos, em comparação com 67% daqueles que relataram nunca ou raramente caminhar.


Para os médicos, a mensagem deste estudo é ajudar os pacientes a fazer mudanças nos hábitos que provavelmente os ajudarão a envelhecer bem, mesmo quando estão em idade avançada, disse Fuller-Thomson. A insônia, por exemplo, é frequentemente negligenciada, acrescentou ela. Assim, os médicos poderiam pensar mais em ajudar os pacientes a melhorar seu sono, com tratamentos como a terapia cognitivo-comportamental.


Pesquisa Longitudinal Crucial


Comentando sobre as descobertas, a Dra. Sharon Anderson, PhD, coordenadora de pesquisa da Universidade de Alberta, disse que elas mostram os pontos fortes do CLSA, que permite aos pesquisadores ver como as pessoas mudam ao longo do tempo. "A menos que tenhamos uma pesquisa longitudinal, não seremos capazes de entender o que as coisas acontecem", disse ela.


Anderson, que não participou do estudo, observou que os pesquisadores recomendam mais pesquisas para ver quais políticas e intervenções poderiam apoiar os imigrantes mais velhos, e promover um estilo de vida saudável e, assim, aumentar as chances de um envelhecimento bem-sucedido dos idosos.


O estudo dos pesquisadores também estabeleceu uma conexão entre riqueza, recursos e envelhecimento. Dos participantes com renda acima da linha da pobreza, 74% eram idosos bem-sucedidos, em comparação com 51% dos participantes abaixo da linha da pobreza.


Anderson, que estuda prestação de cuidados, apontou que muitos imigrantes trabalharam em empregos de baixa remuneração na área da saúde que carecem de planos de pensão. Frequentemente, carecem dos recursos financeiros que auxiliam no envelhecimento bem-sucedido.


Uma questão em aberto é quais intervenções pessoais aumentam as chances de um paciente envelhecer com sucesso, disse Anderson. Outra é quais políticas públicas podem abordar os problemas enfrentados pelas pessoas com renda mais baixa.


Tem algum médico a bordo?


Comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 07/12/2022, em que pesquisadores brasileiros comentam sobre o que um médico precisa saber, se for solicitado a atender um paciente à bordo de um voo.


Médicos são com frequência solicitados a prestar atendimento de emergência durante viagens em voos comerciais. O profissional precisa estar ciente de que não se trata apenas de atender um paciente novo, sem equipe de apoio, nem acesso a exames específicos, nada fácil, portanto. O ruído, a baixa luminosidade e a presença de outros passageiros, entre outros fatores, dificultam até mesmo o exame físico.


“É comum que o médico reclame que o esfigmomanômetro ou o estetoscópio estejam quebrados, mas não estão. O que acontece é que na maioria das aeronaves esses equipamentos ainda não são digitais, e há um ruído de fundo da própria aeronave que dificulta a audição nos dispositivos clássicos”, explicou ao Medscape a Dra. Rozania dos Santos, diretora do Comitê Científico de Medicina Aeroespacial da Associação Paulista de Medicina (APM).


Ela comentou, ainda, outras dificuldades derivadas da temperatura, da vibração, da pressão alterada e da falta de espaço dentro do avião: “Para o médico, é péssimo entubar no chão; ele tem de se deitar na aeronave para entubar de maneira adequada”. Além de pós-graduada em medicina aeroespacial, a Dra. Rozania também é especialista em otorrinolaringologia e medicina do trabalho.


A intercorrência médica mais comum a bordo é a síncope vasovagal, seguida de problemas neurológicos, gastrointestinais e cardíacos. “Quem sabe a frequência desses casos são as companhias aéreas, mas elas não divulgam, sonegam a informação”, declara a Dra. Rozania, que considera que os dados de deveriam ser mais bem documentados.


A seguir, confira as principais dúvidas dos profissionais de saúde em relação a essas situações e prepare-se para o seu próximo voo.

1. Sou obrigado a prestar atendimento de emergência?


Sim. Um médico não pode deixar de prestar assistência em caso de emergência, pois omissão de socorro é crime. Na verdade, qualquer pessoa deve prestar assistência a terceiros nesses casos, desde que possa fazê-lo e que a situação não a coloque em risco. Profissionais de saúde (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas etc.) não podem negar sua área de formação. Segundo o código de ética dessas profissões, não se pode negar assistência, sob risco de sanção disciplinar.


Mas, se os profissionais sentirem que não estão capacitados a prestar determinado atendimento a bordo, eles têm a obrigação de avisar. “A maioria dos médicos pensam que são obrigados a atender todos os casos, mas se não tiverem qualificação para isso, precisam falar”, alertou a Dra. Rozania. Segundo a especialista, o profissional que não estiver capacitado a prestar um atendimento e não comunicar isso, pode responder por negligência.

2. Como funciona o atendimento a bordo?


O Dr. Flávio Morici, da Câmara Técnica de Medicina Aeroespacial do Conselho Federal de Medicina (CFM), recomenda o trabalho conjunto com a tripulação. “O comandante da aeronave tem outras informações, então esteja o tempo todo em contato com ele, transfira suas preocupações. Eles têm vários meios de mobilizar auxílio”, recomendou o Dr. Flávio, que é brigadeiro médico da reserva da Aeronáutica e ex-diretor no Instituto de Medicina Aeroespacial Brigadeiro Médico Roberto Teixeira (IMAE).


Um dos recursos importantes com que as companhias aéreas contam é o serviço de assessoramento remoto com especialistas. “É importante que o passageiro médico saiba disso, e solicite que o comandante o acione se for preciso”, enfatizou o Dr. Marco Antonio Ribeiro Cantero, coordenador do Comitê Científico de Medicina Aeroespacial da APM.


O Dr. Marco Antonio apontou que esse apoio é bem-vindo, porque é feito por profissionais especializados em medicina aeroespacial. O assessoramento costuma ser feito em inglês, mas há também médicos que falam português. Contudo, quem toma as decisões é o médico que está atendendo a bordo, em parceria como o comandante. “A responsabilidade é de quem age no local”, pontuou o Dr. Flávio.


As aeronaves comerciais contam com kits para atendimento de emergência a bordo. Nos voos, há duas caixas, uma que pode ser aberta por qualquer profissional de saúde e a outra, com materiais para procedimentos, como adrenalina e laringoscópio, entre outros, específica para médicos. “Nunca indicamos levar nada, há uma regulamentação que determina o que tem de ser fornecido pelas companhias”, garantiu a Dra. Rozania.


Os kits têm composição semelhante para voos domésticos e internacionais, independentemente da empresa, pois seguem as normas da Organização da Aviação Civil Internacional (ICAO) e da Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA). No Brasil, as companhias aéreas são regulamentadas pela Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e fiscalizadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Algumas aeronaves, mas não todas, dispõem de desfibrilador automático.

3. Como posso me proteger legalmente?


Para o profissional brasileiro, exercer a atividade médica em um voo estrangeiro em território internacional não é crime, por se tratar de uma emergência. Mas nesses casos o Brasil não tem jurisdição e, em caso de processo jurídico, o médico responde à justiça do país de origem da companhia aérea.


Os especialistas recomendam que, se houver a bordo um outro médico do mesmo país que a companhia aérea, é melhor deixar o paciente a cargo desse profissional e se oferecer apenas para fazer a assistência. “Não se preocupem com o protagonismo da ajuda, vejam primeiro se há algum médico da nacionalidade da companhia”, aconselhou o Dr. Flávio, ressaltando que não haverá respaldo do Brasil se o paciente tiver complicações.


Ele recomenda também que o médico faça um relatório completo, por escrito, na hora do atendimento, antes de esquecer os detalhes, incluindo o nome do comandante e o que ele fez durante a emergência. Uma cópia desse relatório deve ser entregue para a companhia aérea. Se houver óbito, o comandante deve registrar o falecimento no diário de bordo e tirar uma foto do documento. “Pode ser fundamental”, afirmou o Dr. Flávio.

4. Posso ser remunerado pelo atendimento a bordo?


Não se pode exigir pagamento por parte das companhias aéreas. Se acharem conveniente, os médicos podem cobrar o atendimento dos pacientes ou de seus familiares.

5. E se o paciente for a óbito?


Neste caso, o corpo deve ser desembarcado na primeira escala prevista, mas o comandante também pode forçar um pouso no meio do caminho.


Para o médico, há duas situações possíveis: ele pode sentir que, apesar do curto período em que fez a assistência, tem condições de fazer a declaração de óbito ou não sentir essa confiança. Neste caso, as companhias têm formas de dar continuidade ao procedimento legal. No Brasil, o primeiro passo seria destinar o corpo ao Instituto Médico Legal (IML). “A lei não obriga a atestar algo de que não se tem convicção”, garantiu o Dr. Flávio.


No caso de o profissional assinar a declaração de óbito, ele deve se manter no aeroporto à disposição das autoridades do país de desembarque do paciente, às vezes por mais tempo que o período da conexão. Se for um voo estrangeiro e o óbito tiver ocorrido em território internacional, o Brasil não tem jurisdição.


O Dr. Flávio aponta que a declaração de óbito não deve ser feita em caso de morte suspeita, e incluiu nesta categoria casos de suicídio, homicídio e morte repentina de um indivíduo do qual não se sabe nada.


Mesmo se o óbito ocorrer em território aéreo brasileiro, há controvérsias. “Quando há um óbito a bordo, cada estado da união interpreta o caso do seu jeito. É preciso iniciar a discussão de um protocolo”, afirmou a Dra. Rozania.

6. Como cuidar dos meus pacientes?


Pacientes graves devem levar consigo um laudo médico, o que pode ajudar em caso de precisarem de assistência durante o voo. A Dra. Rozania afirmou ainda que as pessoas com doenças de base devem passar pela orientação de um médico especialista em medicina aeroespacial antes de viajarem.


O CFM publica uma cartilha para pacientes, com recomendações concretas indicando, por exemplo, quanto tempo aguardar antes de voar após um acidente vascular cerebral (AVC), uma revascularização miocárdica ou uma fratura óssea.


As empresas de aviação têm um formulário que deve ser preenchido pelos passageiros com doenças agudas. Neste documento, há perguntas direcionadas ao médico do passageiro, e um médico da companhia aérea autoriza ou não o embarque, com base nessas informações. Se o paciente tiver anemia importante, por exemplo, não é recomendado o embarque, porque o oxigênio da aeronave pode não ser suficiente.


Outro risco aos pacientes nos voos é o de se sentar ao lado de pessoas com doenças infectocontagiosas. “Precisamos de uma lei que dê suporte ao médico para que ele possa impedir o embarque de pacientes com doenças infectocontagiosas em um avião.” Mas o passageiro enfrenta um outro problema: não conta com a possibilidade de remarcar o voo sem custo adicional, por isso omite informações sobre essas doenças. Segundo a Dra. Rozania, o reagendamento “deveria ser feito sem ônus para o passageiro.”

7. O que mais posso fazer para ajudar?

Alguns profissionais da saúde se identificam para a tripulação no momento do embarque, e as companhias aéreas já começaram a fazer um cadastro de médicos que, quando estiverem viajando, podem prestar atendimento em casos de emergência.


O CFM oferece uma cartilha breve com orientações gerais para médicos a bordo. Nela, há uma introdução sobre alguns aspectos básicos do ambiente hipobárico, e sobre os a utilização de equipamentos e insumos médicos disponíveis nos voos.


A medicina aeroespacial não é, entanto, um treinamento de fim de semana. Algumas universidades brasileiras oferecem cursos de pós-graduação na área, e está por iniciar-se a primeira residência em medicina aeroespacial.


“O Brasil é um dos únicos países em que a medicina aeroespacial ainda é considerada uma área de atuação, em outros, é uma especialidade médica. Essa é a nossa batalha, para que se torne uma especialidade”, concluiu a Dra. Rozania.


Alimentos que melhoram a memória


Comentário publicado na Neurology em 22/11/2022, em que pesquisadores americanos comentam que um estudo recente acrescentou novas evidências sobre o impacto dos flavonóis na memória e na saúde do cérebro.


Os flavonóis são uma subclasse de flavonoides, que podem ser encontrados nos vegetais (como cebolas, couve, alface, tomate) e nas frutas (como maçãs, uvas, frutas vermelhas), bem como em alguns chás e vinhos. Evidências já demonstraram que alguns componentes dos flavonóis reverteram marcas histológicas características da doença de Alzheimer em camundongos. Esta nova pesquisa mostra seu potencial benefício também para humanos. O estudo foi feito com cerca de 960 participantes (média de idade de 81 anos). A maioria era do sexo feminino (75%) e branca (98%). Ao longo de uma média de sete anos de acompanhamento, os participantes responderam a um questionário nutricional anual e fizeram testes cognitivos e de memória.


Para determinar o declínio cognitivo, os pesquisadores usaram uma pontuação global de cognição que resume 19 testes cognitivos. Após o ajuste por vários fatores, os pesquisadores encontraram uma diferença significativa no declínio cognitivo entre os que consumiam mais ou menos flavonol. O grupo com menor consumo de flavonol ingeriu cerca de 5 mg/dia, enquanto o grupo com maior consumo ingeriu uma média de 15 mg/dia. A quantidade média da ingestão de flavonol entre os adultos dos Estados Unidos é de cerca de 16 a 20 mg/dia. Os participantes com maior ingestão de kaempferol tiveram um declínio cognitivo 32% mais lento do que os participantes com menor ingestão. Aqueles com maior ingestão de quercetina tiveram uma taxa 30% mais lenta. Aqueles com maior ingestão de miricetina apresentaram uma taxa 31% mais lenta.

No lado oposto da conexão entre os alimentos e o cérebro, um estudo recente descobriu que uma alimentação rica em alimentos ultraprocessados, aumenta o risco de demência. Os pesquisadores analisaram o consumo de alimentos ultraprocessados em mais de 70 mil pessoas sem demência ao início do estudo (média de idade de 61,6 anos). Em mais de 10 anos de acompanhamento, houve evolução para as seguintes doenças:


· Demência: 518 participantes

· Doença de Alzheimer: 287 participantes

· Demência vascular: 119 participantes

· Demência não especificada: 112 participantes


No grupo de menor consumo, os alimentos ultraprocessados representaram 9% da alimentação diária (média de 225 g/dia). No grupo de maior consumo, os produtos ultraprocessados representaram 28% da alimentação diária (814 g/dia). Em comparação aos que consumiram a menor quantidade de alimentos ultraprocessados, o risco de demência entre os que consumiram mais, aumentou 50%. O risco de ter demência vascular mais que dobrou.


As bebidas foram os principais fatores de contribuição para o consumo de alimentos ultraprocessados, representando 34%, seguidas de produtos adoçados (21%), laticínios (17%) e salgadinhos (11%). Os pesquisadores determinaram que se uma pessoa substituir 10% dos alimentos ultraprocessados que habitualmente consome, por alimentos não processados ou muito pouco processados, isso resultaria em um risco 19% menor de demência por qualquer causa, e em um risco 22% menor de demência vascular.


Talvez os oxicocos sejam bons substitutos, já que um estudo recente revelou que podem melhorar a memória e a função cerebral em adultos saudáveis de meia-idade e idosos, além de reduzir a lipoproteína de baixa densidade do colesterol. Os resultados de um estudo randomizado controlado por placebo com adultos entre 50 e 80 anos de idade mostraram, que o consumo de oxicocos liofilizados e congelados, equivalente a uma xícara de oxicocos frescos por 12 semanas, foi associado à melhora da memória episódica. O aumento da perfusão regional foi observado no córtex entorrinal direito, na área dos núcleos accumbens e caudado dos pacientes que consumiram oxicoco. Isso foi acompanhado por uma melhora significativa da memória visual. No entanto, a intervenção com oxicocos não melhorou outros domínios neurocognitivos, como a memória de trabalho e o funcionamento executivo.


Mesmo algumas gorduras alimentares podem melhorar a função cognitiva dos idosos. Um estudo do início de 2022 descobriu, que a ingestão alimentar de ácidos graxos poli-insaturados, particularmente o ômega 6, pode ser benéfica. A análise utilizou dados combinados dos ciclos de 2011-2012 e 2013-2014 da National Health and Nutrition Examination Survey dos EUA. Para avaliar a função cognitiva, os pesquisadores usaram a pontuação total e tardia do Consortium to Establish a Registry for Alzheimer's Disease, o teste de fluência animal e o teste de substituição de dígitos por símbolos.


O estudo foi feito com 2.253 adultos com 60 anos de idade ou mais (média de idade de 69,4 anos) e 51% brancos não hispânicos. Após o ajuste por vários fatores, a ingestão alimentar de ácidos graxos poli-insaturados e ácido graxo ômega 6 foi positivamente associada com o teste de substituição de dígitos por símbolos. Embora sejam necessárias mais pesquisas, os especialistas enfatizaram a importância de equilibrar a ingestão de gordura.


Com oxicocos, alimentos contendo flavonol e certas gorduras alimentares potencialmente ajudando, e alimentos ultraprocessados possivelmente prejudicando, o impacto da alimentação na cognição é de interesse para quem tenta retardar o declínio da memória. À medida que mais evidências se tornarem disponíveis, quase certamente serão "ingeridas" mais rapidamente.


Maior análise de todos os tempos encontra ligações genéticas para fumar e beber


Comentário publicado na Nature em 08/12/2022, em que pesquisadores de diferentes países comentam que um estudo envolvendo quase 3,4 milhões de pessoas com diversos ancestrais, identificou milhares de variantes genéticas associadas ao uso de tabaco e álcool.


Mais de 3.500 variações genéticas, que potencialmente afetam o comportamento de fumar e beber, foram identificadas em um estudo envolvendo quase 3,4 milhões de pessoas com ascendência africana, americana, oriental e europeia.


As descobertas, publicadas na Nature em 7 de dezembro, destacam como o aumento do tamanho da amostra e da diversidade étnica, melhora o poder dessas análises de triagem do genoma, os chamados estudos de associação ampla do genoma (GWASs), para revelar como vários traços estão ligados a genes, combinações de genes ou mutações.


Fumar e beber são importantes fatores de risco para várias doenças físicas e mentais, incluindo doenças cardiovasculares e transtornos psiquiátricos. Embora ambos os comportamentos sejam influenciados por fatores ambientais e sociais, há evidências de que a genética pode afetar o consumo de tabaco e álcool. “Estamos em um estágio em que as descobertas genéticas estão sendo traduzidas em aplicações clínicas”, diz o coautor do estudo Dajiang Liu, geneticista estatístico da Penn State College of Medicine em Hershey, Pensilvânia. “Se pudermos prever o risco de alguém desenvolver dependência de nicotina ou álcool usando essas informações, podemos intervir precocemente e potencialmente prevenir muitas mortes.”


Diversidade ancestral


Os cientistas usam o GWASs para encontrar laços genéticos com doenças ou comportamentos, comparando sequências genéticas em um grande número de pessoas. Mas até agora, a maioria desses estudos se concentrou em populações europeias. Liu e seus colegas construíram um modelo que incorporou os dados genômicos de 3.383.199 pessoas, 21% das quais tinham ascendência não europeia.


Eles identificaram 3.823 variantes genéticas associadas a comportamentos de fumar ou beber. Destes, 39 estavam relacionados com a idade de início do tabagismo, 243 com o número de cigarros fumados por dia, e 849 com o número de bebidas alcoólicas consumidas por semana.


Do número total de variantes associadas, 721 foram identificadas apenas pelo GWAS multiancestral, e não por um modelo de ancestralidade ingênua, que os autores usaram para comparação. Isso sugere que amostras populacionais grandes e diversas, aumentam significativamente o poder de tais estudos.


Os pesquisadores descobriram que a maioria das associações genéticas para beber e fumar tem efeitos semelhantes nas diferentes linhagens. “Também encontramos estimativas de herdabilidade semelhantes para as características entre os ancestrais, sugerindo que, geralmente, a arquitetura genética desses comportamentos é semelhante entre os ancestrais”, diz Gretchen Saunders, psicóloga da Universidade de Minnesota, Estados Unidos, e coautora do artigo.


No entanto, eles também mostraram que as pontuações de risco poligênico, com base em uma combinação de múltiplos fatores genéticos, que eram específicas para o grupo de ascendência europeia, eram preditores fracos de comportamentos de fumar e beber em outros grupos de ascendência. “Mesmo com esses grandes tamanhos de amostra, eles simplesmente não se transferem entre as populações”, diz Saunders.


Influência ambiental


A semelhança entre os ancestrais pode ser em parte, porque a grande maioria das coortes não europeias incluídas no estudo vive nos Estados Unidos e, portanto, tem influências ambientais semelhantes, como políticas de saúde pública e disponibilidade de produtos com álcool e nicotina, diz Ananyo Choudhury, geneticista da Universidade de Witwatersrand em Joanesburgo, África do Sul.


“Fatores epigenéticos e ambientais são realmente importantes para desligar e ligar os genes. Então, talvez seja por esse motivo, não há muitas diferenças significativas”, acrescenta Şehime Temel, que estuda genética médica na Universidade Bursa Uludağ, na Turquia.


A análise também não incluiu pessoas de populações do Oriente Médio e da Índia, nas quais o tabagismo costuma ser predominante. “O uso do tabaco é muito comum no Oriente Médio. Há um grande consumo de narguilé”, diz Mahmut Ergören, biólogo médico da Near East University em Nicósia, Chipre. Ele acrescenta que incluir essas populações na análise, melhoraria sua precisão e ajudaria a identificar mais associações genéticas.


Os pesquisadores reconhecem que sua amostra não captura a diversidade global em ancestralidade genética ou geográfica. “Embora seja o maior e mais ancestralmente diverso estudo dos fenótipos de fumar e beber até agora, não cobriu todas as populações”, diz Liu. “Em fases futuras do estudo, receberemos colaborações de outros investigadores que tenham acesso a conjuntos de dados adicionais, para expandir ainda mais nossos estudos”.



As pessoas estão apodrecendo os dentes com o uso de cigarro eletrônico (vaping)


Comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 23/11/2022, em que pesquisadores americanos afirmam que não apenas os dentistas, mas também os médicos de cuidados primários, e especialmente os pediatras, devem considerar informar seus pacientes sobre os problemas de saúde bucal de longo prazo, associados ao uso do cigarro eletrônico ou vaping.


Um novo estudo descobriu que pacientes que usam o cigarro eletrônico (ou vaping ou vapes) correm maior risco de desenvolver cárie dentária e doença periodontal. Os vapes foram introduzidos no mercado dos EUA em 2006, como uma alternativa aos cigarros convencionais, e tornaram-se amplamente populares entre os jovens. De acordo com uma pesquisa de 2022, dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos EUA, 2,55 milhões de alunos do ensino fundamental e médio neste país, relataram ter usado os dispositivos nos 30 dias anteriores.


O novo estudo, publicado no Journal of the American Dental Association, expande uma série de casos inicial publicada em 2020, de pacientes que relataram o uso de vapes, e que apresentavam cáries dentárias graves. A Dra. Karina Irusa, professora assistente de cuidados abrangentes na Tufts University, de Boston nos Estados Unidos, e principal autora da série de casos, queria investigar se suas descobertas iniciais se aplicariam a uma grande população de usuários de vapes.


Para o novo estudo, Irusa e seus colegas, coletaram dados de 13.216 pacientes com idades entre 16 e 40 anos, que frequentaram as clínicas odontológicas Tufts entre 2019 e 2021. Todos os pacientes receberam um diagnóstico de cárie dentária, tiveram uma avaliação de risco de cárie dentária registrada e responderam " sim" ou "não" ao uso de vapes em um questionário de histórico de saúde.


Os pacientes tinham registros em arquivo de vários tipos de lesões dentárias, cáries tratadas nos últimos 3 anos, placa bacteriana nos dentes, escovação e asseios inadequados, um autorrelato de uso de drogas recreativas e lanches frequentes. Se os pacientes tivessem esses fatores em seus arquivos, eles corriam alto risco de desenvolver doenças que levam a cáries.


O estudo constatou, que 79% dos pacientes que responderam "sim" para ser um usuário atual de vapes, apresentavam alto risco de cárie dentária, em comparação com 60% daqueles que não relataram usar os dispositivos.


Os materiais nos líquidos vaping, causam uma resposta inflamatória que perturba o microbioma interno de um indivíduo, de acordo com vários estudos.


"Todos os ingredientes do vaping são certamente uma receita para o crescimento excessivo de bactérias causadoras de cáries", disse a Dra. Jennifer Genuardi, internista e pediatra do centro de saúde comunitário federalmente qualificado Urban Health Plan, na cidade de Nova York, que não participou desse estudo.


Irusa disse que as informações sobre os hábitos de vaping do paciente devem ser incluídas nos questionários de histórico odontológico e médico de rotina, como parte de seu registro eletrônico geral de saúde.


"A cárie em sua forma grave não afeta apenas a capacidade de comer, mas também a estética facial e a auto-estima", disse Irusa.


Genuardi chamou as descobertas de surpreendentes. “Estamos aprendendo diariamente cada vez mais sobre os perigos do vaping”, disse Genuardi. “O foco da pesquisa atual é o efeito das ações em nosso microbioma e os efeitos subsequentes em nossa saúde”.


Genuardi também disse que muitos de seus pacientes adolescentes não gostam de visitas odontológicas ou de obturações de cáries, o que pode servir como um impedimento útil para vaping para um grupo demográfico que foi alvo de marketing de fabricantes de vape.


“A formação de cáries e a experiência de obturar cáries é uma experiência com a qual os adolescentes podem se identificar, então, para mim, talvez seja um ângulo ainda mais eficaz para tentar conter esse comportamento doentio de vaping”, disse Genuardi.


Como os jogadores da Copa do Mundo vão lidar com o calor do Catar?


Comentário publicado na Nature em 18/11/2022, em que um pesquisador australiano afirma que a questão de como preservar o desempenho atlético em meio ao calor extremo é urgente devido às mudanças climáticas.


A primeira partida da Copa do Mundo de futebol masculino começa no Catar no dia 20 de novembro, quando a temperatura ficará em torno de 30°C e a umidade se aproximará de 60%. Quando o Catar venceu a licitação para sediar o torneio há 12 anos, o calor extremo era uma das várias preocupações; desde então, a temperatura média anual no país aumentou cerca de 1°C. O torneio de 2022 é o primeiro a ser realizado em novembro, para evitar o verão quente do Catar. Mas como os jogadores de futebol se sairão? E o torneio traz lições de como o esporte em geral pode se adaptar a um mundo em aquecimento?


A medida mais reveladora quando se trata de calor e saúde dos atletas é a temperatura de bulbo úmido (WBGT), que combina calor, umidade e outros fatores, incluindo o ângulo do Sol e a velocidade do vento. A alta umidade faz com que as condições pareçam mais quentes, e o mecanismo de resfriamento do corpo humano, suar para que a água evapore da pele, é muito menos eficiente porque há muita água no ar. Portanto, praticar esportes em WBGTs altos, pode fazer com que a temperatura central do corpo suba perigosamente.


Os estádios com ar-condicionado reduzirão a exposição ao calor dos jogadores na Copa do Mundo, mas as equipes ainda podem sofrer algum estresse térmico. O efeito do ar-condicionado será muito mais pronunciado para o público do que para quem está no centro do campo, porque o ar frio emana de baixo dos assentos das arquibancadas e das paredes laterais do campo, diz Carolyn Broderick, cientista esportiva na University of New South Wales em Sydney, Austrália, que é diretor médico da Tennis Australia e diretor médico da equipe olímpica australiana. “Ainda é mais frio no campo do que fora do estádio, mas em menor grau”, diz ela.


Vários estádios têm teto aberto e, portanto, especialmente durante as partidas do meio-dia, os jogadores ainda podem estar vulneráveis ​​ao estresse térmico, diz Thijs Eijsvogels, fisiologista do exercício do centro médico da universidade Radboud em Nijmegen, na Holanda. Ele acrescenta que os complexos de treinamento da Copa são “apenas campos de treinamento comuns, sem ar-condicionado”.


Animais tropicais


Os jogadores podem preparar seus corpos, se tiverem tempo suficiente. Eijsvogels ajudou a preparar os atletas holandeses para outro evento quente: os Jogos Olímpicos de Tóquio em 2020. Antes das Olimpíadas, ele testou os atletas em ambientes controlados, a 16 °C, e depois em condições que simulavam o clima do verão de Tóquio. “Observamos uma perda média de desempenho de 25%”, diz ele. Para mitigar isso, sua equipe começou a expor os atletas ao calor durante o treinamento, e descobriu que seu desempenho melhorava em condições quentes. “Somos animais tropicais”, explica Eijsvogels. Para jogadores de futebol de climas semelhantes aos do norte da Europa, a exposição ao calor por 10 a 14 dias, é suficiente para se tornar totalmente aclimatado, diz ele.


Os pesquisadores também estão experimentando como detectar quando um atleta está com muito calor, e como esfriá-lo a níveis seguros. “A questão não é o ambiente quente, é a pessoa quente”, diz Ollie Jay, diretor da Incubadora de Pesquisa em Saúde e Calor da Universidade de Sydney. Com Broderick, Jay e seus colegas desenvolveram uma escala de estresse por calor, que pode fornecer uma medida simples de risco, à medida que o WBGT aumenta. O sistema foi usado com sucesso no torneio de tênis Aberto da Austrália, diz Jay, fazendo com que uma das semifinais femininas em 2019 fosse pausada, para permitir que o estádio fosse coberto e resfriado.


Outras intervenções consideradas úteis incluem toalhas de gelo e beber água fria ou pastas de gelo, para resfriar a temperatura central do corpo. No tênis, diz Jay, é simples incluir essas atenuações em intervalos regulares, porque o jogo tem pausas regulares de 90 ou 120 segundos. No futebol, pode ser mais difícil projetar essas pausas.


Adaptação às alterações Climáticas


A questão de como preservar o desempenho atlético em meio ao calor extremo está se tornando mais urgente, à medida que o aquecimento global aumenta as temperaturas. O sindicato dos jogadores de futebol profissional, FIFPRO, em Amsterdã, instou a indústria do futebol a prestar mais atenção em jogar no calor, que associou às mudanças climáticas. Ele está pedindo mais proteção ao jogador, incluindo pausas para hidratação.

Os atletas amadores podem sofrer mais com as mudanças climáticas, porque têm menos acesso do que os atletas profissionais a intervenções de mitigação e aclimatação, diz Eijsvogels.


Com gerenciamento, mitigação e monitoramento inteligentes, o esporte pode continuar em um clima de mudança, diz Jay. “Se você tem um sistema de gerenciamento de risco baseado em evidências e que funciona, e é implementado corretamente, o que você está realmente fazendo é expandir as condições para que os jogadores possam jogar com segurança”, diz ele.


Síndrome do Desconforto Respiratório Agudo (SDRA)


Visão geral


A síndrome do desconforto respiratório agudo (SDRA) ocorre quando o líquido se acumula nos minúsculos sacos de ar elásticos (alvéolos) nos pulmões. O fluido impede que seus pulmões se encham de ar suficiente, o que significa que menos oxigênio atinge sua corrente sanguínea. Isso priva seus órgãos do oxigênio de que precisam para funcionar.


A SDRA geralmente ocorre em pessoas que já estão gravemente doentes ou com lesões significativas. A falta de ar grave, o principal sintoma da SDRA, geralmente se desenvolve dentro de algumas horas a alguns dias após a lesão ou infecção precipitante.


Muitas pessoas que desenvolvem SDRA não sobrevivem. O risco de morte aumenta com a idade e a gravidade da doença. Das pessoas que sobrevivem à SDRA, algumas se recuperam completamente, enquanto outras sofrem danos duradouros em seus pulmões.


Sintomas


Os sinais e sintomas da SDRA podem variar em intensidade, dependendo de sua causa e gravidade, bem como da presença de doença cardíaca ou pulmonar subjacente. Eles incluem:


Falta de ar severa

Respiração difícil e anormalmente rápida

Pressão sanguínea baixa

Confusão e cansaço extremo


Causas


A causa mecânica da SDRA é o vazamento de fluido dos menores vasos sanguíneos dos pulmões para os minúsculos sacos de ar onde o sangue é oxigenado. Normalmente, uma membrana protetora mantém esse fluido nos vasos. Doenças ou lesões graves, no entanto, podem causar danos à membrana, levando ao vazamento de fluido da SDRA. As causas subjacentes da SDRA incluem:


Sepse: A causa mais comum de SDRA é a sepse, uma infecção grave e generalizada da corrente sanguínea.

Inalação de substâncias nocivas: Respirar altas concentrações de fumaça ou vapores químicos pode resultar em SDRA, assim como inalar (aspirar) vômito ou episódios de quase afogamento.

Pneumonia grave: Casos graves de pneumonia geralmente afetam todos os cinco lobos dos pulmões.

Lesões na cabeça, tórax ou outra lesão grave: Acidentes, como quedas ou batidas de carro, podem danificar diretamente os pulmões ou a parte do cérebro que controla a respiração.

Doença de coronavírus 2019 (COVID-19) ou outras infecções virais ou bacterianas agudas: Pessoas com COVID-19 grave podem desenvolver SDRA.

Outras causas: Pancreatite (inflamação do pâncreas), transfusões maciças de sangue e queimaduras.


Fatores de risco


A maioria das pessoas que desenvolvem SDRA já está hospitalizada por outra condição, e muitas estão gravemente doentes. O paciente está especialmente em risco, se tiver uma infecção generalizada na corrente sanguínea (sepse).


Pessoas com histórico de alcoolismo crônico correm maior risco de desenvolver SDRA. Eles também são mais propensos a morrer de SDRA.


Complicações


Se você tem ARDS, pode desenvolver outros problemas médicos enquanto estiver no hospital. Os problemas mais comuns são:


Coágulos de sangue: Ficar imóvel no hospital enquanto estiver em um respirador pode aumentar o risco de desenvolver coágulos sanguíneos, principalmente nas veias profundas das pernas. Se um coágulo se formar em sua perna, uma parte dele pode se desprender e viajar para um ou ambos os pulmões causando embolia pulmonar, onde há bloqueio no fluxo sanguíneo.


Pulmão colapsado (pneumotórax): Na maioria dos casos de SDRA, um respirador é usado para aumentar o oxigênio no corpo e forçar o fluido para fora dos pulmões. No entanto, a pressão e o volume de ar do respirador podem forçar o gás a passar por um pequeno orifício na parte externa de um pulmão e causar o colapso desse pulmão.


Infecções: Como o respirador é conectado diretamente a um tubo inserido em sua traqueia, isso torna muito mais fácil para os germes infectarem e ferirem ainda mais os pulmões.


Cicatrizes (fibrose pulmonar): Cicatrização e espessamento do tecido entre os sacos de ar podem ocorrer dentro de algumas semanas após o início da SDRA. Isso endurece os pulmões, dificultando ainda mais o fluxo de oxigênio dos alvéolos para a corrente sanguínea.


Graças a tratamentos aprimorados, mais pessoas estão sobrevivendo à SDRA. No entanto, muitos sobreviventes acabam com efeitos potencialmente graves e às vezes duradouros:


Problemas respiratórios: Muitas pessoas com SDRA recuperam a maior parte de sua função pulmonar em alguns meses a dois anos, mas outras podem ter problemas respiratórios pelo resto de suas vidas. Mesmo as pessoas que passam bem, geralmente apresentam falta de ar e fadiga e podem precisar de oxigênio suplementar em casa por alguns meses.


Depressão: A maioria dos sobreviventes de SDRA também relata passar por um período de depressão, que é tratável.


Problemas de memória e embotamento: sedativos e baixos níveis de oxigênio no sangue podem levar à perda de memória e problemas cognitivos após a SDRA. Em alguns casos, os efeitos podem diminuir com o tempo, mas em outros, os danos podem ser permanentes.


Fadiga e fraqueza muscular: Estar no hospital e em um respirador pode fazer com que seus músculos enfraqueçam. Você também pode se sentir muito cansado após o tratamento.


Diagnóstico


Não há teste específico para identificar a SDRA. O diagnóstico é baseado no exame físico, radiografia de tórax e níveis de oxigênio. Também é importante descartar outras doenças e condições, por exemplo, certos problemas cardíacos, que podem produzir sintomas semelhantes.


Exames de Imagem


Raio-x do tórax: Uma radiografia de tórax pode revelar quais partes de seus pulmões e quanto dos pulmões têm líquido e se seu coração está aumentado.


Tomografia computadorizada (TC) do tórax: Uma tomografia computadorizada combina imagens de raios X tiradas de várias direções diferentes em visualizações transversais de órgãos internos. A tomografia computadorizada pode fornecer informações detalhadas sobre as estruturas dentro do coração e dos pulmões.



Exames laboratoriais


Gasometria arterial: Um teste usando sangue de uma artéria em seu pulso pode medir seu nível de oxigênio. Outros tipos de exames de sangue podem verificar sinais de infecção ou anemia. Se o seu médico suspeitar que se tem uma infecção pulmonar, as secreções das vias aéreas podem ser testadas para determinar a causa da infecção.


Testes cardíacos


Como os sinais e sintomas da SDRA são semelhantes aos de certos problemas cardíacos, o médico pode recomendar exames cardíacos como:


Eletrocardiograma: Este teste indolor rastreia a atividade elétrica em seu coração. Envolve anexar vários sensores com fio ao seu corpo.


Ecocardiograma: Um ultrassom do coração, este teste pode revelar problemas com as estruturas e a função do seu coração.


Tratamento


O primeiro objetivo no tratamento da SDRA é melhorar os níveis de oxigênio no sangue. Sem oxigênio, seus órgãos não podem funcionar corretamente.


Oxigênio


Para obter mais oxigênio em sua corrente sanguínea, o médico provavelmente usará:


Oxigênio suplementar: Para sintomas mais leves ou como medida temporária, o oxigênio pode ser fornecido por meio de uma máscara que se ajusta bem ao nariz e à boca.


Ventilação mecânica. A maioria das pessoas com SDRA precisará da ajuda de uma máquina para respirar. Um respirador mecânico empurra o ar para dentro dos pulmões e força um pouco do fluido para fora dos alvéolos.


Fluidos


Gerenciar cuidadosamente a quantidade de fluidos intravenosos é crucial. Muito líquido pode aumentar o acúmulo de líquido nos pulmões. Muito pouco líquido pode sobrecarregar o coração e outros órgãos e levar ao choque.


Medicamentos


As pessoas com SDRA geralmente recebem medicamentos para:


Prevenir e tratar infecções

Aliviar dores e desconfortos

Prevenir coágulos sanguíneos nas pernas e pulmões

Minimizar o refluxo gástrico

Sedação


Cuidados pós -SDRA


Se você está se recuperando de SDRA, as seguintes sugestões podem ajudar a proteger seus pulmões:


Parar de fumar: Se você fuma, procure ajuda para parar e evite o fumo passivo sempre que possível.


Vacine-se: A vacina anual contra a gripe (influenza), vacina contra a Covid-19, bem como a vacina contra a pneumonia a cada cinco anos, podem reduzir o risco de infecções pulmonares.


Enfrentar e apoiar: A recuperação da SDRA pode ser um longo caminho e você precisará de muito apoio. Embora a recuperação de cada pessoa seja diferente, estar ciente dos desafios comuns encontrados por outras pessoas com o distúrbio pode ajudar.


Considere estas dicas:


Peça por ajuda: Principalmente depois de receber alta do hospital, certifique-se de ter ajuda nas tarefas diárias até saber o que pode fazer por conta própria.


Participe da reabilitação pulmonar: Muitos centros médicos agora oferecem programas de reabilitação pulmonar, que incorporam treinamento de exercícios, educação e aconselhamento para ajudá-lo a aprender como retornar às suas atividades normais e atingir seu peso ideal.


Procure ajuda profissional: Se você tiver sintomas de depressão, como desesperança e perda de interesse em suas atividades habituais, informe o seu médico ou entre em contato com um profissional de saúde mental. A depressão é comum em pessoas que tiveram SDRA e o tratamento pode ajudar.


Gripes e resfriados estão de volta com força total, por que agora?


Comentário publicado na Natureem 10/11/2022, onde pesquisadores americanos comentam que as restrições feitas contra a COVID-19, nos tornaram mais suscetíveis a esses vírus. O que está por trás do atual aumento no hemisfério norte e qual será o novo normal?


Restrições para conter a propagação do COVID-19, reduziram acentuadamente a propagação de outras doenças respiratórias. Influenza e vírus sincicial respiratório (RSV), um vírus sazonal que geralmente causa sintomas leves de resfriado, mas que pode ser perigoso para crianças pequenas e adultos mais velhos, praticamente desapareceram em 2020 e início de 2021. Agora, no hemisfério norte, o RSV está aumentando, e a taxa de hospitalização por gripe nos Estados Unidos, é maior nesta época do ano do que desde 2010. Por que exatamente esses surtos estão acontecendo agora? E o que está reservado para os invernos futuros?


“Esses vírus estão voltando e estão voltando com força total”, diz Scott Hensley, imunologista da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia. “É possível que este ano seja uma espécie de avô de todos eles, em termos de gripe.”


Hensley diz que isso ocorre porque a população “é mais imunologicamente susceptível do que seria de esperar na maioria dos anos”. Normalmente, as crianças são infectadas por seu segundo aniversário. Agora, “você vai acabar tendo filhos de três, quatro anos de idade agora, que nunca viram o RSV”.


Para crianças mais velhas e adultos que foram infectados anteriormente, o problema é a diminuição da imunidade. Na ausência de exposição a um vírus, os níveis de anticorpos diminuem. Em um ano típico, “podemos ser expostos a um pequeno vírus e seu corpo o combate”, diz John Tregoning, imunologista do Imperial College London. Mas “esse tipo de reforço assintomático talvez não tenha acontecido nos últimos anos”.


Dívida de imunidade


Mas as restrições na COVID-19 começaram a ser levantadas no ano passado. Então, por que o aumento está começando apenas agora? Hensley estava preocupado que a gripe e o RSV se recuperassem no ano passado. Mas a temporada de gripe em geral foi leve no hemisfério norte. E, embora as infecções por RSV tenham aumentado, o pico foi menor do que nos anos pré-pandemia e ocorreu no verão de 2021, um momento estranho que pode ter ajudado a diminuir a propagação do vírus. Fatores como temperatura e umidade desempenham um papel na transmissão do vírus, e esse pico “não se deu em um momento ambientalmente favorável ao RSV”, diz Virginia Pitzer, epidemiologista da Escola de Saúde Pública de Yale em New Haven, Connecticut.


Em agosto de 2021, pesquisadores na França cunharam o termo “dívida de imunidade” para descrever essa redução na imunidade em nível populacional. No Twitter, o termo ganhou vida própria. Algumas pessoas entenderam que a falta de exposição a patógenos como RSV e influenza, danificou irrevogavelmente o sistema imunológico, uma ideia que Matthew Miller, imunologista da Universidade McMaster em Hamilton, Canadá, chama de “absurdo”.


Alguns cientistas também postularam nas mídias sociais que o aumento nas hospitalizações por RSV pode ser o resultado da infecção por SARS-CoV-2, causando deficiências imunológicas, que deixam as pessoas mais suscetíveis a outras infecções. Mas Miller diz que também não viu nenhuma evidência disso, e que o aumento nas hospitalizações pode ser explicado pelo grande número de pessoas que perderam exposições nos últimos anos. “Há uma população susceptível um pouco maior, todos em risco. Então você tem mais números entrando no sistema.”


É difícil prever como será o novo normal para os vírus sazonais. Se muitas das pessoas suscetíveis forem infectadas nos próximos meses, a temporada de gripe do ano que vem pode ser mais branda, já que parte da dívida imunológica é “paga”. Mas ainda não está claro se a COVID-19 se tornará uma doença sazonal, como gripe e RSV, ou se continuará como está, com picos esporádicos ao longo do ano.


Mistério do rinovírus


Também há muito que os pesquisadores ainda não entendem sobre vírus sazonais. Por exemplo, as restrições na COVID-19 pareciam ter pouco impacto em um tipo de vírus sazonal, os rinovírus, que são a causa mais comum de resfriados, por razões que não são totalmente compreendidas. Isso pode ser por causa de sua resistência, diz Miller. Eles são menos propensos à dessecação e podem persistir por mais tempo no ambiente.

Outra questão em aberto é como esses vírus competem e interferem uns nos outros. A infecção por um vírus pode aumentar uma forte resposta imune inata que pode prevenir a infecção por outro vírus. Hensley aponta que a primeira onda de gripe do ano passado, diminuiu logo após o início do surto da Omicron. Talvez a infecção por Omicron tenha fornecido alguma proteção de curta duração contra a gripe. Ou talvez a onda Omicron simplesmente convenceu as pessoas a se mascararem e manterem distância.


Pitzer espera que os picos e ondas do próximo ano possam se parecer muito mais com os que ocorreram antes da pandemia. Ela não está fazendo nenhuma aposta. Mas ela diz: “Espero que este inverno provavelmente seja o último inverno incomum”.


Cúpula do clima COP27: o que os cientistas estão discutindo.


Comentário publicado na Nature em 03/11/2022, onde pesquisadores de diversas nacionalidades comentam que os países vão ter que lidar com a forma de pagar pelas perdas e danos do aquecimento global, e como reforçar as promessas de reduzir as emissões.


Faz um ano desde que os líderes globais renovaram suas promessas climáticas na cúpula histórica em Glasgow, no Reino Unido. Na próxima semana, eles se reunirão novamente em Sharm El-Sheikh, no Egito, durante a 27ª Conferência das Partes sobre Mudança Climática das Nações Unidas (COP27), para dar continuidade às negociações destinadas a conter o aquecimento global. Mas o mundo é um lugar diferente agora: os líderes precisarão enfrentar a crise de energia provocada pela guerra na Ucrânia, e os danos crescentes causados ​​por eventos climáticos extremos.


A perspectiva de curto prazo é assustadora. Os preços da energia estão subindo vertiginosamente na Europa e além, estimulando uma nova rodada de investimentos governamentais destinados a reduzir artificialmente o custo dos combustíveis fósseis. Segundo uma estimativa, esses subsídios quase dobraram em 2021, e devem aumentar novamente este ano, o que só aumentará a dependência das fontes de energia mais sujas do mundo.


Mas também há boas notícias. As instalações de energia renovável continuam a crescer globalmente. E cerca de 26 países fizeram novos compromissos climáticos este ano, incluindo a Austrália, que se comprometeu a reduzir as emissões de gases de efeito estufa para 43%, abaixo dos níveis de 2005 até 2030. Uma análise da Agência Internacional de Energia sugere, que novas políticas anunciadas por os Estados Unidos, a Europa e outros, em resposta à crise energética, estão prontos para estimular investimentos em energia limpa, potencialmente permitindo um patamar global nas emissões até 2025.


Enquanto isso, os impactos das mudanças climáticas estão aumentando. Em setembro, cientistas anunciaram que o aquecimento global ajudou a alimentar as chuvas de monção excepcionalmente fortes, que causaram inundações extremas no Paquistão este ano, matando mais de 1.700 pessoas e causando dezenas de bilhões de dólares em danos a casas e infraestrutura. Argumentos sobre como pagar por tal devastação estarão no centro das atenções em Sharm El-Sheikh, assim como questões sobre se os países ricos estão fazendo o suficiente para ajudar os países mais pobres a se adaptarem ao aquecimento global. “Mitigação e adaptação: essas são as duas questões” na COP27, diz Joyeeta Gupta, cientista política da Universidade de Amsterdã.


Perda e dano


Conscientes de que os países industrializados têm grande responsabilidade pelo aquecimento que já está causando secas, inundações e incêndios em todo o mundo, as nações de baixa renda passaram mais de uma década pressionando por indenização por danos. Em particular, eles querem um mecanismo de perdas e danos, pelo qual os países ricos ajudem os mais pobres a pagar pelos impactos do aquecimento global, que agora são inevitáveis. Esses esforços estão ganhando força.


Em Glasgow, os países concordaram em estabelecer um diálogo sobre o tema, mas os principais blocos de negociação que representam os países de baixa renda, pedem ação em Sharm El-Sheikh. “Esta é a única área que foi completamente negligenciada nas negociações”, diz Tasneem Essop, que mora na Cidade do Cabo, África do Sul, e é diretor executivo da Climate Action Network International, uma coalizão de grupos de defesa. “Agora está na agenda política.”


Poucos esperam uma resolução, porque os Estados Unidos e outros países de alta renda, se opuseram firmemente a escrever o que temem ser um cheque em branco para cobrir todos os tipos de danos climáticos futuros. Mas é possível que um novo mecanismo possa ser criado na cúpula, para fornecer ajuda financeira quando ocorrerem desastres específicos relacionados ao clima, diz Danielle Falzon, socióloga da Universidade Rutgers, em Nova Jersey.


“Estabelecer algum tipo de mecanismo de financiamento é realmente importante, porque as pessoas estão arcando com o custo das perdas e danos agora”, diz Falzon. Se isso não acontecer na COP deste ano, diz ela, é apenas uma questão de tempo, porque os países de baixa renda fizeram do assunto sua principal prioridade.


Perdas e danos são apenas uma parte de uma discussão maior, sobre como melhorar o financiamento para a adaptação climática em países de baixa renda. Em Glasgow, as nações ricas concordaram em aumentar o financiamento para adaptação, mas ficaram aquém de seus objetivos. Uma das tarefas em Sharm El-Sheikh é criar melhores padrões que possam ser usados ​​para rastrear investimentos, para garantir que o dinheiro seja bem gasto, diz Falzon.


Limitando as emissões


Mais de 150 países apresentaram novos compromissos climáticos no ano passado, e o Pacto Climático de Glasgow, que saiu da COP26, solicitou que os países apresentassem novos compromissos este ano. Sob o acordo, as Nações Unidas agora avaliarão essas promessas anualmente. Além disso, o processo formal de avaliação do progresso das metas climáticas, um “balanço global” exigido a cada cinco anos sob o acordo de Paris de 2015, está em andamento e estará na agenda em Sharm El-Sheikh.


Além dos 26 países que já assumiram novos compromissos este ano, vários devem participar da COP27. Se os países cumprirem todos esses compromissos, bem como os apresentados em Glasgow, as emissões de carbono poderão cair mais 5,5 bilhões de toneladas por ano até 2030, de acordo com o World Resources Institute (WRI), uma instituição ambiental com sede em Washington.


Isso é semelhante a eliminar as emissões de carbono de um ano inteiro dos Estados Unidos, o segundo maior emissor do mundo. Mas ainda está muito aquém do que é necessário para atingir a meta estabelecida no acordo de Paris: limitar o aquecimento global a 1,5-2°C acima dos níveis pré-industriais. Se os países cumprirem suas promessas, o aquecimento global poderá ser limitado a cerca de 2,1°C de aquecimento até o final do século, de acordo com o Climate Action Tracker, um consórcio de organizações científicas e acadêmicas. Sem essas promessas, o consórcio estima que as leis e políticas atuais colocam o mundo no caminho certo para cerca de 2,7°C de aquecimento, o que os cientistas dizem que pode levar a alguns impactos climáticos catastróficos.


“Fizemos alguns avanços, mas o ritmo ainda não é o que precisamos”, diz David Waskow, que lidera a Iniciativa Climática Internacional do WRI.


Em Sharm El-Sheikh, os países também devem começar a desenvolver um novo “programa de trabalho de mitigação”. Precisamente em que consistirá não está claro, mas uma possibilidade é que se concentre em como as nações atingirão metas amplas de emissões, estabelecendo metas para setores específicos, como eletricidade, transporte e agricultura.


Para que qualquer um desses esforços seja útil, é necessário um foco mais nítido na responsabilidade, diz Waskow. “Não podemos simplesmente passar para novos compromissos, sem saber se os compromissos atuais estão sendo cumpridos.”


Para Gupta, um grande risco para os negociadores da COP27 é ficar atolado nos procedimentos: “Temo que nos perdemos tanto nos detalhes dessas COPs que perdemos de vista o principal, que é que temos de eliminar os combustíveis fósseis”.


Por que a gripe aviária seria tão ruim agora?


Comentário publicado na Nature em 21/10/2022, em que pesquisadores americanos comentam que o vírus H5N1 está correndo solto em todo o mundo. Possíveis explicações incluem uma capacidade aprimorada de replicar ou infectar mais espécies de aves.


A gripe aviária está em fúria. Nos últimos dias, a França e o Reino Unido anunciaram novas medidas de biossegurança destinadas a conter a doença, que se espalha rapidamente. Dezenas de pinguins infectados na África do Sul morreram recentemente e, na quarta-feira, a Coreia do Sul relatou seu primeiro caso em seis meses. Nos Estados Unidos, a doença está elevando os preços do peru, um mês antes do Dia de Ação de Graças, no qual a ave desempenha um papel central. A prevalência da doença é a mais alta já registrada na Europa, e o número de aves domesticadas que morreram no ano passado, está se aproximando de um recorde nos Estados Unidos. Então, por que a gripe aviária é tão ruim agora?


A gripe aviária que atualmente está enlouquecendo na Europa e na América do Norte, é predominantemente causada por uma cepa chamada H5N1, uma das várias classificadas como um vírus de influenza aviária altamente patogênico (HPAI), devido ao alto número de mortes em aves.


Europa, Ásia e África tiveram muitos surtos de vírus HPAI desde o final do século XIX. Por cerca de um século, os surtos foram limitados principalmente a aves de capoeira, e o abate de bandos afetados geralmente impedia que a doença se espalhasse amplamente em aves selvagens.


Vírus com uma diferença


Mas desde o início dos anos 2000, os pesquisadores notaram uma propagação sustentada da gripe aviária entre as aves selvagens. Ao longo do ano passado, esta transmissão aumentou drasticamente. A doença também parece estar se espalhando para os mamíferos com mais frequência. Esses padrões de transmissão sem precedentes significam que “algo é bem diferente sobre esse vírus que circula”, diz Rebecca Poulson, pesquisadora de doenças da vida selvagem da Universidade da Geórgia em Atenas.


A situação é especialmente incomum para a América do Norte. Uma cepa HPAI foi detectada em aves selvagens apenas uma vez antes, entre 2014 e 2016, depois que aves selvagens espalharam a doença da Eurásia ao Alasca. Esse surto levou à morte de mais de 50 milhões de aves domésticas somente nos Estados Unidos, a um custo de US$ 3 bilhões. Mas então o vírus “pareceu desaparecer”, diz Andy Ramey, geneticista da vida selvagem do Centro de Ciência do Alasca do Serviço Geológico dos EUA, em Anchorage.


Em dezembro de 2021, a cepa H5N1 altamente patogênica apareceu novamente na América do Norte, desta vez no leste. Os pesquisadores esperam que os vírus façam a curta jornada através do Estreito de Bering até o oeste da América do Norte, mas “não esperávamos que esse tipo se infiltrasse pela porta dos fundos”, diz Poulson. Desde então, a doença tem circulado incontrolavelmente em aves selvagens, em vez de permanecer principalmente contida em granjas de aves, onde condições restritas podem promover a disseminação viral. Tanto na Europa quanto nos Estados Unidos, o alto número de aves selvagens infectadas, pode facilitar a disseminação do vírus para os bandos domésticos, observa ela.


Poulson diz que era inevitável que as aves selvagens levassem uma cepa HPAI para a América do Norte novamente um dia. “Ia acontecer”, diz ela. “E aconteceu de ser agora.”


Mutações importam


Ninguém sabe por que esse surto não acabou, mas a virologista Louise Moncla, da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, diz que existem algumas teorias importantes. Uma é que as mutações genéticas aumentaram a capacidade de replicação do vírus, permitindo que ele se espalhe com mais eficiência do que as cepas anteriores. Outra é que as mutações permitiram que o vírus infectasse uma gama mais ampla de espécies de aves do que as cepas anteriores eram capazes. Pesquisadores estão testando essas ideias, mas até agora há “mais perguntas do que respostas”, diz Moncla.


Essa cepa de HPAI também parece ter desenvolvido uma propensão a saltar para mamíferos, como focas, linces e gambás, embora não haja evidências de que possa se espalhar de um mamífero individual para outro. Os casos humanos são raros, mesmo na Europa, onde surtos frequentes de aves criaram oportunidades para as pessoas serem infectadas. Isso dá a Poulson a esperança de que o vírus não evolua para infectar as pessoas mais facilmente, mas com “um elefante na sala: não sabemos o que pode ocorrer”, diz ela.


Talvez aqui para ficar


Quando, se alguma vez, esse surto vai acabar? As próximas semanas provavelmente verão muitos casos, diz Ramey, porque os pássaros estão se reunindo para migrar juntos. Os números de infecção podem diminuir fora da temporada migratória, mas “não sei se a situação subjacente está realmente melhorando”, diz ele.


Poulson acha que é provável que o vírus tenha passado do ponto em que poderia ter desaparecido da América do Norte novamente. “Não há sinal de que esse vírus esteja sendo suprimido ou retido”, diz ela.


A Peste Negra deixou cicatrizes persistentes no genoma humano


Comentário publicado na Nature em 19/10/2022, em que pesquisadores americanos afirmam que os genes que podem ter ajudado a humanidade na sobrevivência durante a Peste Negra, agora estão ligados a distúrbios autoimunes.


Quando a Peste Negra varreu o norte da África e a Eurásia em meados do século XIV, matou até metade das populações humanas de lá, reformulou a história, e potencialmente mudou o curso da evolução humana.


Um estudo publicado em 19 de outubro na Nature sugere, que cicatrizes remanescentes da peste bubônica, causada pela bactéria Yersinia pestis, podem ser encontradas em genes envolvidos no sistema imunológico humano moderno. Quatro variantes de DNA em particular, parecem ter se tornado mais comuns após a Peste Negra, e podem ter contribuído para a sobrevivência humana.


Mas a proteção oferecida por essas variantes pode ter um custo: hoje, duas delas estão associadas a um risco aumentado de doenças autoimunes, como doença de Crohn e artrite reumatoide.


“É um trabalho muito inovador”, diz Ziyue Gao, geneticista populacional da Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia. “Sempre nos perguntamos quais são as forças que impulsionam a evolução da população.”


Impactos duradouros


A Peste Negra foi a pandemia mais letal da história da humanidade, e os geneticistas há muito estão curiosos sobre suas origens e seu impacto nas migrações e imunidade humanas. “É simplesmente inimaginável”, diz Luis Barreiro, geneticista de populações humanas da Universidade de Chicago, em Illinois.


Barreiro e seus colegas levantaram a hipótese, de que um evento tão dramático poderia ter deixado sua marca na evolução do sistema imunológico. Para descobrir, eles analisaram a variação genética em mais de 200 amostras de DNA isoladas de ossos ou dentes de indivíduos que viveram antes da praga, morreram dela ou viveram uma ou duas gerações depois.


A equipe se concentrou em genes relacionados à imunidade, e encontrou quatro variantes de DNA que pareciam ter sido selecionadas durante a Peste Negra, em amostras do Reino Unido e da Dinamarca. Uma variante afetou a expressão de um gene chamado ERAP2. Pessoas com essa variante, produzem uma versão completa de uma molécula de RNA que codifica a proteína ERAP2; aqueles que não têm fazem uma versão mais curta do RNA.


A proteína ERAP2 é produzida por células imunes especializadas, chamadas de macrófagos, que engolfam e digerem bactérias. Está envolvido no corte de proteínas bacterianas em pedaços, alguns dos quais são exibidos na superfície do macrófago, como um sinal para outras células imunes. “É uma espécie de sistema de alerta de que há uma infecção acontecendo e eles precisam atacar”, diz Barreiro.


Barreiro e seus colaboradores especularam, que ter uma proteína ERAP2 completa e totalmente funcional, poderia ter melhorado a proteção imunológica durante a Peste Negra. Estudos de laboratório apoiaram essa ideia: os macrófagos que expressam a versão mais longa do ERAP2, foram mais capazes de impedir a replicação de Yersinia pestis, do que os macrófagos que expressam a versão truncada.


Mas a variante protetora do gene ERAP2, também é um fator de risco conhecido para a doença de Crohn, e outra das variantes que Barreiro e seus colegas encontraram, está associada à artrite reumatóide. Isso, diz Barreiro, destaca a relevância de estudar as pressões evolutivas que podem selecionar essas variantes: “Essas variantes também podem afetar hoje a sensibilidade a distúrbios relacionados ao sistema imunológico”.


Ponta do iceberg?


A abordagem da equipe foi poderosa, diz Johannes Krause, paleogeneticista do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva em Leipzig, Alemanha, que estudou as ligações entre a peste bubônica e os genes do sistema imunológico. Ele observa que outros patógenos que circulavam no século XIV, também poderiam ter levado a uma melhor sobrevivência para pessoas com a variante ERAP2.


Barreiro e seus colegas esperam estender seu trabalho para incluir mais amostras e sequenciamento de DNA mais extenso. Isso, diz Gao, pode revelar ainda mais variantes genéticas associadas à Peste Negra. “Estou me perguntando quantas variantes foram perdidas”, diz ela. “Isso significa que eles estão apenas detectando a ponta do iceberg?”


A pólio está voltando? Em que século estamos?


Comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 06/10/2022, em que uma pesquisadora americana afirma que um caso de poliomielite nos Estados Unidos ilustra a ponta do iceberg dos perigos da desinformação que leva à diminuição das taxas de vacinação: é um alerta. A segurança das vacinas simplesmente não pode ser refutada. Isso não quer dizer que haja risco zero; é dizer que a segurança e a eficácia das vacinas não podem ser negadas.


A notícia de que um caso ativo de poliovírus com fraqueza/paralisia flácida foi confirmado em um adulto não vacinado e imunocompetente em junho de 2022 no condado de Rockland, Nova York, deve dar uma grande pausa à comunidade médica dos EUA. Este é o primeiro caso nos EUA em quase 10 anos. Um caso anterior foi relatado em 2013 em um bebê imunocomprometido de 7 meses, que havia imigrado recentemente da Índia, onde a vacina oral contra poliovírus ainda é usada.


No paciente atual, os testes revelaram que o sorotipo era o poliovírus derivado da vacina tipo 2 (VDPV2), o que significa que não era "pólio selvagem", mas devido a uma variante derivada da vacina mutante da vacina oral. Ainda mais preocupante é que esse poliovírus tipo 2 derivado da vacina, foi identificado em amostras de águas residuais de municípios vizinhos, de acordo com um cronograma estabelecido pelo CDC.


Este caso de poliomielite ilustra a ponta do iceberg dos perigos da desinformação que leva à diminuição das taxas de vacinação nos EUA: é um alerta. A segurança das vacinas simplesmente não pode ser refutada. Isso não quer dizer que haja risco zero; é dizer que a segurança e a eficácia das vacinas não podem ser negadas.


Como pediatra com mais de 27 anos de experiência clínica, estou muito incomodada com essa situação. Como é possível que eu tenha visto dois bebês morrerem de coqueluche, uma doença evitável por vacina no século 21? Como é possível que eu tenha que refutar incessantemente, a noção de que a tríplice vacina viral "causa" autismo, mesmo que o artigo original afirmando isso, tenha sido completamente desacreditado e retratado, e o autor tenha sido retirado do registro médico no Reino Unido, o equivalente a perder sua licença médica?


Por que os pacientes perderam a confiança em nós como médicos? Por que um pai se recusa a permitir que seu filho tenha acesso a uma das medidas preventivas mais básicas? Por que existem tantas organizações antivacinas? Por que as pessoas acreditam em informações das mídias sociais em vez de cientistas e médicos convencionais? Este é um fenômeno novo?


Sem dúvida, foi acelerado pelo caos da COVID-19 e pelas respostas inconsistentes à crise, que colocaram teorias extremas em primeiro plano e politizaram uma epidemia mundial, em vez de analisar os fatos e alimentaram o movimento antivacina. No entanto, tem havido uma erosão da relação médico-paciente por anos, por uma infinidade de razões complexas. Os pacientes veem seus médicos apenas do ponto de vista de espiar pela tela de um laptop. As visitas de puericultura duram no máximo 15 minutos. A mídia social e seus "especialistas" bizarros saíram da toca.


Como podemos convencer os pais céticos de que as vacinas realmente salvam vidas? Parece que perdemos a capacidade de retratar que somos os especialistas, não uma celebridade em Hollywood, não um grupo antivacina que espalha o medo espalhando desinformação, não as mídias sociais cheias de especialistas não credenciados.


As vacinas funcionaram tão bem que os pais mais jovens nunca sofreram a morte de uma criança ou danos cerebrais de certos tipos de meningite. Eles nem sabem o que são as doenças difteria ou tétano, e acham que o sarampo é apenas uma erupção cutânea. A lista continua. Em outras palavras, as vacinas fizeram seu trabalho tão bem que muitas dessas doenças desapareceram nos países industrializados. É o paradoxo final de uma solução funcionando tão bem que ninguém se lembra do problema.


É necessário pensar na natureza humana em geral, se quisermos abordar a hesitação vacinal em pacientes e pais. Como humanos, geralmente somos atraídos pelo que queremos ouvir e pelo que está de acordo com o que pensamos.


Quando um pai percebe que seu bebê receberá até 24 vacinas nos primeiros 2 anos de vida, é assustador. Faz sentido! No entanto, isso não significa 24 injeções separadas, como dirão os anti-vacinas; muitas delas são vacinas combinadas administradas em uma injeção. E, mais importante, eles protegem contra 13 doenças evitáveis, muitas das quais não vemos há anos, novamente, porque as vacinas funcionam!


Mas um jovem pai pode ver o calendário de vacinas e pensar: "Como isso pode ser bom para o meu bebê tomar tantas vacinas?" Um pai quer proteger seu bebê da dor, e pensar que muitas injeções podem causar fobia de agulha em qualquer pessoa. O mesmo jovem pai conversa com amigos e faz "pesquisa", e percebe que essas doenças nem existem mais! O referido pai agora diz: "Por que eu infligiria dor ao meu doce bebezinho quando essas doenças nem existem?" Entre no palco à esquerda, a duplicidade do movimento antivacina com histórias convincentes e marketing muito esperto, dizendo: "Não, jovem pai, não faça isso com seu precioso bebê. Eis o porquê." As pessoas são atraídas para o que querem ouvir. Psicologia básica.


Então, o que você pode fazer como médico para tentar educar seus pacientes e/ou pais? Primeiro, tenha empatia e perceba de onde vem o medo. O medo e a desinformação devem ser enfrentados de frente. Use você mesmo como exemplo: eu sempre disse às famílias que hesitavam em vacinar que eu nunca lhes pediria para fazer algo que eu não fiz pelos meus próprios filhos. Esta é uma ação e uma declaração muito poderosas que estão sozinhas. É melhor não discutir com as fontes do paciente e sua "pesquisa", mas ter alguns recursos indiscutíveis e comprovados. Um dos meus favoritos é o site voicesforvaccines.org, porque é uma organização liderada pelos pais e administrada pelos pais.


As vacinas são um dos fenômenos mais importantes da história médica moderna. Fique firme. Converse com seus pais e pacientes sobre sua importância, segurança e eficácia. Certifique-se de que eles entendam as ameaças reais para seus filhos, não dando-lhes vacinas. Ajude-os a entender que a desinformação é um engano deliberado. Vacinas salvam vidas. E as vacinas "condicionam" os adultos.


Brasil registra dois casos de doença meningocócica invasiva do X


Comentário publicado na Medscape Pulmonary Medicine em 03/10/2022, onde pesquisadores brasileiros afirmam que não há como saber se novos casos surgirão. No entanto, dado que a pandemia de COVID-19 causou a interrupção do uso obrigatório de máscaras e outras medidas não farmacológicas para controlar a transmissão do SARS-CoV-2, é provável um ressurgimento de novos casos de doença meningocócica.


Na cidade de São Paulo, Brasil, duas crianças, um menino de 7 meses e um menino de 6 anos, foram hospitalizados com doença meningocócica invasiva (DMI) causada pela rara bactéria Neisseria meningitidis sorogrupo X (MenX ). Os casos não relacionados ocorreram em novembro de 2021 e janeiro de 2022, e foram descritos em uma carta de pesquisa publicada no Emerging Infectious Diseases, jornal dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, em setembro. Atualmente, não há vacina licenciada contra o sorogrupo X.


"O sorogrupo X é raro fora da África. No Brasil, apenas seis casos foram relatados nos últimos 15 anos. Agora, temos dois casos em 2 meses", disse a Dra. Ana Paula S. Lemos, ao Medscape Medical News. Ela é pesquisadora de microbiologia médica especializada no estudo epidemiológico de meningites bacterianas no Instituto Adolfo Lutz, e é uma das autoras da carta.


"A doença meningocócica é peculiar porque, embora rara, é imprevisível e ocorre de repente, causando grande pânico quando surge. Ocorre mais frequentemente em indivíduos previamente saudáveis, a maioria crianças", O Dr. Marco Aurélio Sáfadi, professor de pediatria e doenças infecciosas da Faculdade de Ciências Médicas do Hospital Santa Casa de São Paulo, explicou.


Sáfadi acredita que casos de MenX são motivo de preocupação. No entanto, ele não acredita que haja motivo para se preocupar especificamente com o sorogrupo X agora. "A preocupação é com os outros sorogrupos, que são mais comuns. O sorogrupo X é apenas mais um jogador, que pode se tornar a causa de uma possível doença entre nós."


Lemos, por outro lado, acredita que este é o momento de estarmos atentos a estes casos, e que temos de estar atentos e acompanhá-los de perto “como fazemos para os casos em curso, temos de lançar uma intervenção preventiva”.


Raridade


O sorogrupo X é extremamente raro fora da África. Mesmo na África, havia poucos casos registrados da doença causada por esse sorogrupo, até a década de 1980. Desde 1990, o MenX tem sido associado a surtos e epidemias em Burkina Faso, Togo, Nigéria, Quênia e Uganda. Em 2006 e 2007, alguns países africanos experimentaram uma explosão de casos do sorogrupo X.


Casos de infecção por MenX também foram relatados na Europa. “É tão raro que, se você procurar na literatura, encontrará dois estudos que descrevem apenas alguns casos, e estes estão sempre ligados a casos isolados na África”, disse Lemos.


No Brasil, foram seis casos nos últimos 15 anos. Portanto, o surgimento de dois casos em um período tão curto, merece acompanhamento. "Pode ser que sejam apenas dois casos isolados, e pronto", afirmou Lemos. "Mas devemos estar alertas, porque diferentes sorogrupos se comportam de forma distinta. Temos que ficar de olho", acrescentou.


A equipe do Instituto Adolfo Lutz procurou rapidamente desvendar a história do sorogrupo X no Brasil. Os pesquisadores reavaliaram um conjunto de casos isolados com amostras dos últimos 30 anos, usando novas tecnologias de análise de genes. O grupo de pesquisa identificou sete casos isolados de N meningitidis sorogrupo X. Seus resultados ainda não foram publicados.


"No estudo retrospectivo, observou-se que essa linhagem estava em circulação desde pelo menos 2013. Isso é importante. Então, podemos dizer que esses não foram os primeiros casos. O Subgrupo X já estava em circulação", disse o investigador.




Vacinação


As vacinas são extremamente eficazes na prevenção da doença meningocócica, mas nenhuma vacina abrange todos os sorogrupos meningocócicos. Em geral, as vacinas fornecem proteção contra o sorogrupo específico incluído no agente de imunização.


Uma vacina pentavalente que inclui o sorogrupo X (NmCV-5) está em desenvolvimento, mas o estudo ainda está na fase 2. Segundo Lemos, estudos que incluíram 376 crianças de 12 a 16 meses, mostraram uma boa resposta contra o sorogrupo X.


"Mesmo que tivéssemos uma vacina do sorogrupo X hoje, a situação epidemiológica não justificaria seu uso em nível nacional", acrescentou.


Lemos destacou que um estudo avaliou se a vacina do sorogrupo B poderia ser eficaz contra o sorogrupo X "Foi um estudo direcionado. No entanto, um estudo deve ser feito com a linhagem em circulação agora para ver se o agente de imunização usado contra o sorogrupo B seria benéfico ou não”, explicou.


O Programa Nacional de Imunizações do Brasil oferece uma vacina meningocócica C desde 2010. Esse programa de imunização resultou em uma redução significativa no número de casos atribuídos ao meningococo C entre crianças. Atualmente, "os casos ocorrem basicamente em adultos ou crianças muito jovens para serem vacinados", disse Sáfadi.


A vacina para sorogrupos ACWY, que oferece proteção contra sorogrupos meningocócicos adicionais, é oferecida pelo sistema público de saúde brasileiro à população adolescente. No entanto, Sáfadi destacou que o sorogrupo que circula significativamente no Brasil, e é a principal causa de doença meningocócica no país, é o sorogrupo B. A vacina para esse sorogrupo só está disponível na rede privada.


Mais casos chegando?


Não há como saber se novos casos surgirão. No entanto, dado que a pandemia de COVID-19 causou a interrupção do uso obrigatório de máscaras e outras medidas não farmacológicas, para controlar a transmissão do SARS-CoV-2, é provável um ressurgimento dos casos de DMI.


“No Brasil, passamos de registrar aproximadamente 1.000 casos de doença meningocócica em 2019 para apenas 200 casos em 2021. Esse foi um fenômeno global”, afirmou Lemos. Ela participou de um estudo que incluiu o Brasil e outros 25 países, cujos resultados revelaram uma queda nas taxas de DMI causadas por Streptococcus pneumoniae, Haemophilus influenzae e N meningitidis, durante a pandemia.


"Podemos supor que agora veremos um ressurgimento da doença, pois ela é transmitida de pessoa para pessoa por via respiratória", previu Sáfadi. Ele também apontou um fator agravante: a diminuição das taxas de cobertura vacinal em geral, e da vacina meningocócica em particular. "Nossas taxas de vacinação entre os adolescentes são muito baixas."


Além disso, foi criada uma janela imunológica entre a população. Isso se refere à falta de exposição da população a essas cepas meningocócicas, que costumavam permanecer na garganta e induzir anticorpos, o que ajudava a prevenir a doença meningocócica. “Com essa falta de circulação durante a pandemia de COVID-19, acumulamos uma população maior de pessoas suscetíveis a essas doenças”, disse Sáfadi.


A taxa de mortalidade da DMI está entre 10% e 20%. Não há diferença nos perfis clínicos associados à infecção causada pelos diferentes sorogrupos, exceto sorogrupo W, para o qual a taxa de mortalidade é de 25%. Aproximadamente 1 em cada 5 pacientes com DMI morre, mesmo após receber tratamento adequado. Entre aqueles que sobrevivem, uma porcentagem significativa apresenta sequelas neurológicas ou amputação de membros.


De acordo com os autores da carta de pesquisa publicada na Emerging Infectious Diseases, a vigilância contínua da DMI, bem como novas iniciativas de vigilância em algumas regiões, são necessárias para garantir uma resposta de saúde pública bem-sucedida em termos de prevenção e controle.


Por que os cientistas temem que a varíola dos macacos se espalhe em animais selvagens


Comentário publicado na Nature em 30/09/2022, onde pesquisadores de diferentes países alertam que um surto da varíola dos macacos desenfreado na vida selvagem, tornaria o vírus impossível de controlar.


Stephanie Seifert sentiu uma onda de ansiedade, quando soube do primeiro cachorro conhecido de contrair a varíola de um humano. “Eu tenho cachorros. Então eu fiquei tipo, ‘Bem, isso é horrível'”, diz ela.


Mas Seifert, ecologista viral da Washington State University em Pullman, que estuda como os vírus pulam entre as espécies, também entendeu o significado potencial do caso. Nos meses desde o aumento dos casos globais de varíola, que começou em maio, ela e seus colegas esperaram para ouvir relatos de animais contraindo o vírus de pessoas. O primeiro caso de transmissão de humano para cão foi relatado em agosto. O galgo italiano na França, havia dormido na mesma cama com um casal que apresentava sintomas; O DNA viral do cachorro combinava com o de um dos donos. No mesmo mês, o Ministério da Saúde do Brasil, anunciou o caso de um filhote que pegou o vírus de uma pessoa.


O problema não é o caso estranho de transmissão de humano para cão, diz Malachy Okeke, virologista da Universidade Americana da Nigéria em Yola. Animais de estimação doentes podem ser isolados em casa. Os cientistas estão mais preocupados com um cenário em que o vírus da varíola dos macacos se estabeleça em animais selvagens, como roedores, fora de seu alcance habitual na África Ocidental e Central. Esses reservatórios animais poderiam transmitir o vírus de volta às pessoas. “Então estaríamos com problemas”, diz Okeke. Controlar a propagação em populações de animais selvagens seria extremamente difícil, explica ele, tornando o vírus “impossível de eliminar”.


Portadores de animais


A varíola dos macacos é conhecida por infectar mais de 50 espécies de mamíferos, de acordo com dados compilados por pesquisadores da Universidade de Liverpool, Reino Unido. Mas os cientistas não conhecem o reservatório exato do vírus, o animal ou animais que carregam e espalham continuamente o vírus sem adoecer. As evidências até agora indicam que roedores e outros pequenos mamíferos na África, incluindo ratos gambianos, esquilos de árvore, esquilos de corda e ratos-alvo, são responsáveis ​​por manter o vírus circulando na natureza. Surtos de varíola em pessoas vêm surgindo em partes da África há décadas.


Muito mais pessoas foram infectadas nos últimos meses do que em surtos anteriores, aumentando assim as chances de o vírus interagir com os animais. Dados da Organização Mundial da Saúde indicam que o número de casos notificados semanalmente, atingiu um pico de quase 7.500 em agosto; mais de 3.400 novos casos foram confirmados na semana passada.


Se o vírus se estabelecer em uma população de roedores fora da África, isso pode significar problemas, de acordo com um estudo de modelagem publicado em 11 de setembro. O modelo, que imita como a varíola se espalha, prevê um surto em uma hipotética área metropolitana. Quando o modelo considerou a existência de um reservatório de camundongo, ele previu que a transmissão animal levaria a picos muito mais precoces e ondas múltiplas.


Quando a disseminação de humano para animal e de animal para humano é um fator no processo de transmissão, as coisas se tornam muito mais complicadas, diz o modelador de doenças Huaiping Zhu, diretor do Centro Canadense de Modelagem de Doenças da Universidade de York em Toronto, e líder do estudo. Sem uma compreensão de como os animais mudam a dinâmica de transmissão, os cientistas terão dificuldades para controlar a propagação do vírus e evitar futuros surtos, diz ele.


Vigilância de vírus


Parte do motivo pelo qual os cientistas não conhecem o reservatório do vírus é a falta de vigilância ativa e de longo prazo da varíola dos macacos na natureza, diz Okeke. Mas há também a falta de interesse. “Como esse vírus é endêmico nos chamados países com poucos recursos, as pessoas não o levaram a sério”, acrescenta. “Tenho vergonha de dizer isso, mas essa é a realidade.”


Com poucos dados de campo para indicar como os animais podem afetar o curso do surto atual, alguns cientistas estão adotando outras abordagens. Por exemplo, prever quais espécies podem ser mais suscetíveis à infecção do que outras ajudaria as autoridades a saber onde aumentar a vigilância, diz o virologista Marcus Blagrove, da Universidade de Liverpool.


Blagrove e seus colegas reuniram grandes quantidades de dados, incluindo a estrutura genética da varíola dos macacos e de 62 outros poxvírus, e características de cerca de 1.500 mamíferos, incluindo sua dieta, habitat e atividades diárias. Eles então treinaram algoritmos de aprendizado de máquina para analisar as informações e localizar possíveis hospedeiros de varíola.


Seus resultados, que foram publicados no servidor de pré-impressão bioRxiv em 15 de agosto e que ainda não foram revisados ​​por pares, sugerem que duas a quatro vezes mais espécies de animais podem ser suscetíveis à infecção pelo vírus do que se sabe atualmente, principalmente roedores e primatas. “Há muitos anfitriões em potencial em todo o mundo”, inclusive na África, mas também em regiões como Europa, China e América do Norte, diz Blagrove.


É difícil prever se essas criaturas podem se tornar reservatórios e liberar o vírus. Os cientistas carecem de dados importantes, como informações sobre a possível resposta imune dos hospedeiros, e evidências diretas da passagem do vírus desses animais para outra espécie, o que sugeriria que o hospedeiro é um reservatório, diz Seifert.


A melhor maneira de evitar que o vírus da varíola se espalhe para mais animais e possivelmente estabelecer um reservatório fora da África, acrescenta Seifert, é impedir a propagação entre humanos. E a melhor maneira de fazer isso é aumentar a distribuição de vacinas. “É assim que reduzimos a probabilidade de esses eventos raros acontecerem, protegemos as pessoas”, diz ela.


Não é apenas um pesadelo: pesadelos podem prever a demência


Comunicado publicado na British Medical Journal em 13/09/2022, em que um pesquisador do Reino Unido afirma que pesadelos em adultos saudáveis ​​de meia-idade e idosos podem ser um fator de risco independente para declínio cognitivo e demência, principalmente em homens, sugere uma nova pesquisa.


Os resultados de um grande estudo de coorte mostraram que, adultos saudáveis ​​de meia-idade, que tinham pesadelos pelo menos uma vez por semana, tinham quatro vezes mais chances de sofrer declínio cognitivo na década seguinte, e adultos mais velhos, tinham duas vezes mais chances de serem diagnosticados com demência, em comparação com colegas que nunca tiveram pesadelos.


Pesadelos frequentes podem “identificar pessoas com alto risco de desenvolver demência no futuro, vários anos ou décadas, antes que surjam problemas de memória e pensamento característicos”, disse o pesquisador do estudo Abidemi Otaiku, Universidade de Birmingham, Reino Unido.


"Este seria o momento ideal para os médicos intervirem para tentar retardar ou impedir o desenvolvimento da demência", disse Otaiku. Os resultados foram publicados online na revista The Lancet eClinicalMedicine.


Sonhos angustiantes


Sonhos angustiantes foram anteriormente associados a declínio cognitivo mais rápido e aumento do risco de demência, em pacientes com doença de Parkinson (DP), mas não se sabe se o mesmo vale para indivíduos da população geral sem DP.


Para investigar, Otaiku examinou dados de três grupos comunitários nos Estados Unidos. Isso incluiu 605 adultos de meia-idade (35 a 64 anos) que foram acompanhados por até 13 anos, e 2.600 adultos com 79 anos ou mais, que foram acompanhados por até 7 anos. Todos foram considerados cognitivamente normais no início do estudo.


A prevalência de sonhos angustiantes frequentes, definidos como ocorrendo "uma vez por semana ou mais", foi maior na coorte mais velha, em comparação com a coorte de meia-idade (6,9% vs 6,0%, respectivamente).


Isso está de acordo com outras pesquisas, que mostraram que os sonhos angustiantes permanecem relativamente estáveis ​​durante o início da idade adulta e, em seguida, aumentam progressivamente em prevalência da meia-idade à idade adulta.


Após o ajuste para todas as covariáveis, uma maior frequência de sonhos angustiantes, foi linear e estatisticamente significativamente associada a um maior risco de declínio cognitivo em adultos de meia-idade, e um risco maior de demência em adultos mais velhos.


No modelo totalmente ajustado, comparado com adultos de meia-idade que nunca tiveram pesadelos, aqueles que relataram ter um ou mais pesadelos semanais, tiveram um risco quatro vezes maior de declínio cognitivo (razão de chances ajustada (aOR 3,99).


Os adultos mais velhos, que tiveram um ou mais pesadelos semanais, tiveram um risco mais de duas vezes maior de desenvolver demência (aOR, 2,21).


Otaiku disse que suspeita que alguns indivíduos na fase pré-clínica da demência tenham “neurodegeneração sutil ocorrendo ao longo do tempo no lobo frontal direito: a área do cérebro que ajuda a regular as emoções negativas enquanto estamos acordados, e também enquanto estamos sonhando”.


Isso pode resultar em “depressão e ansiedade durante o dia, e pesadelos durante a noite”, disse ele.


É possível que o tratamento para pesadelos frequentes possa ajudar a retardar o declínio cognitivo, e retardar ou prevenir a demência, acrescentou Otaiku.


Ele observou que a prazosina é usada para tratar pesadelos, e demonstrou prevenir o declínio da memória e reduzir a geração de amiloide B, em estudos pré-clínicos da doença de Alzheimer.


“Esta é uma perspectiva empolgante, mas ainda é cedo, e precisaremos de mais pesquisas para ver se o tratamento de pesadelos pode ajudar a reduzir o risco de demência no futuro”, disse Otaiku.


Pesquisa confiável


Comentando para o Medscape Medical News, a Dra. Maria C. Carrillo, diretora científica da Alzheimer's Association, disse: "Esta é uma pesquisa confiável consistente com a ideia de que os distúrbios do sono podem ser um fator de risco ou sinal de alerta de declínio cognitivo".


Ela acrescentou que "o que há de novo aqui" é que os pesquisadores examinaram sonhos angustiantes, não mais distúrbios físicos do sono e distúrbios como insônia ou apneia.


"No entanto, os pesadelos podem perturbar o sono da mesma forma que esses distúrbios, acordando as pessoas no meio da noite", disse Carrillo, que não esteve envolvido no estudo.


"Pesquisas anteriores apontaram que pesadelos são indicativos de possíveis mudanças no cérebro que podem preceder outras demências, como a doença de Parkinson. Mais pesquisas são necessárias para descobrir o que exatamente está acontecendo no cérebro durante os pesadelos que podem estar contribuindo para esse risco aumentado", disse. ela disse.


Carrillo observou que “dormir bem” é importante para a saúde geral, que inclui a saúde do cérebro.


"A boa notícia é que existem tratamentos - medicamentosos e não medicamentosos - que podem ajudar a resolver os distúrbios do sono", acrescentou.


Despertar para a importância do sono


Editorial publicado na The Lancet em 14/09/2022, em que pesquisadores de diferentes países dão sua contribuição com base no progresso da ciência sobre esse tema, examinando sistematicamente vários distúrbios do sono, além de revisar a antropologia do sono.


Por décadas, o sono e seus distúrbios associados, foram considerados um ramo da medicina Cinderela. O assunto recebe pouca atenção no ensino de graduação, o treinamento é um complemento a outras especialidades mais estabelecidas, e o financiamento para pesquisa do sono é lamentavelmente deficiente. As razões para tal negligência estão embutidas na natureza díspar das condições agrupadas sob o título de distúrbios do sono, desde apneia do sono, tratada por um otorrinolaringologista ou cardiologista, até a síndrome das pernas inquietas, tratada por um otorrinolaringologista, ou cardiologista, ou neurologista ou por um médico de cuidados primários; bem como a falta de compreensão de suas causas e a escassez de opções de tratamento.


No entanto, as coisas estão começando a mudar. Em parte, responsáveis ​​por essa mudança foram três cientistas que ganharam o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2017, por seu trabalho sobre a base genética dos ritmos circadianos. Graças às descobertas de Michael Rosbash, Jeffrey Hall e Michael Young, agora sabemos que os humanos têm um relógio molecular, uma rede de genes que marcam o tempo, e proteínas associadas que são transcritas, traduzidas e degradadas em um ciclo diário. Esses genes também foram associados ao transtorno bipolar, depressão e outros transtornos do humor. Descobriu-se que alguns distúrbios do sono são marcadores da doença de Parkinson, demência por corpos de Lewy e atrofia de múltiplos sistemas.


Além disso, o desenvolvimento de dispositivos portáteis de monitoramento, permitiu que os profissionais avaliassem o sono em ambientes do mundo real, incluindo a casa. Finalmente, a elucidação da fisiopatologia da narcolepsia, causada pela perda seletiva de neurônios que secretam o neuropeptídeo promotor da vigília orexina, levou ao desenvolvimento de novos medicamentos para insônia.


Com base nesse progresso, The Lancet e The Lancet Neurology publicam hoje, uma série de quatro artigos que examina sistematicamente vários distúrbios do sono, além de revisar a antropologia do sono. Apesar da natureza diversa dos distúrbios do sono, a série oferece quatro mensagens principais.


Primeiro, os distúrbios do sono são um problema de saúde pública subestimado. Eles são muito comuns, causam muito sofrimento aos pacientes e seus parceiros de cama, e têm efeitos de longo alcance na saúde da população e no bem-estar econômico. Por exemplo, a insônia ocorre em até um terço dos adultos. A sonolência diurna excessiva, pode reduzir a produtividade e a segurança no local de trabalho. Na sala de aula, a educação das crianças sofre e, nas estradas, até um terço dos acidentes de trânsito são causados ​​pela privação do sono.


Em segundo lugar, os pacientes estão sendo reprovados pela falta de opções de tratamento eficazes. Tratamentos medicamentosos são facilmente prescritos para insônia, por exemplo, principalmente benzodiazepínicos e os chamados medicamentos Z, como zolpidem, zopiclona, ​​eszopiclona e zaleplon; entretanto, abordagens não farmacológicas, como as baseadas na terapia cognitivo-comportamental, são consideradas tratamento de primeira linha, mas muitas vezes não estão amplamente disponíveis.


Além disso, o uso da terapia da fala, não corre o risco de desenvolver dependência de medicamentos, o que é comum com o uso prolongado de medicamentos prescritos para distúrbios do sono. A higiene do sono, que tem ganhado cada vez mais a atenção do público, pode ser parte fundamental dessas terapias cognitivo-comportamentais.


Terceiro, tanto em ambientes hospitalares quanto de atenção primária, os médicos precisam estar cientes dos efeitos crônicos do sono ruim em condições médicas gerais, como hipertensão, diabetes e doenças cardíacas. Tanto o sono insuficiente quanto o excessivo, terão efeitos prejudiciais substanciais em muitas condições de saúde comuns, aumentando a morbidade e a mortalidade. A consulta sobre o sono deve, portanto, ser parte integrante de qualquer consulta médica.


Finalmente, as taxas de sono insuficiente e distúrbios do sono, são altamente prováveis ​​de aumentar. Por exemplo, a investigação antropológica mostrou que a insônia está inextricavelmente ligada à vida moderna, a insônia ocorre em 10-30% das pessoas que vivem em sociedades industrializadas, em comparação com menos de 2% em populações de caçadores-coletores na Namíbia e na Bolívia. Estressores psicossociais, consumo de álcool, tabagismo e falta de exercício, estão associados a distúrbios do sono.


Além disso, o aumento do uso de dispositivos tecnológicos, principalmente smartphones entre pessoas mais jovens, no quarto na hora do sono, levando à exposição à luz azul, é considerado uma causa potencial de distúrbios do ritmo sono-vigília.


Para uma atividade que ocupa um terço da vida de todo ser humano, o sono recebeu, até agora, muito menos atenção do que merece por parte de médicos, profissionais de saúde e formuladores de políticas públicas. Esta Série deve servir de alerta para todos sobre a importância de um bom sono e o fato de que estudar, avaliar e tratar seus distúrbios do sono, deve receber maior destaque na medicina moderna.


Coma mais peixe: quando mudar para frutos do mar ajuda e quando não ajuda


Comentário publicado na Nature em 13/09/2022, em que um pesquisador canadense comenta que um novo estudo identificou várias espécies que são mais nutritivas e melhores para o planeta do que a carne bovina, suína ou de frango.


A substituição da carne por certos tipos de frutos do mar de origem sustentável, pode ajudar as pessoas a reduzir suas pegadas de carbono, sem comprometer a nutrição, segundo uma análise de dezenas de espécies marinhas, que são consumidas em todo o mundo.


O estudo, publicado em 8 de setembro na Communications Earth & Environment1, sugere que bivalves cultivados, moluscos como mexilhões, amêijoas e ostras, e peixes selvagens, pequenos e de superfície (pelágicos), que incluem anchovas, cavala e arenque, geram menos emissões de gases de efeito estufa, e são mais densos em nutrientes do que carne bovina, suína ou de frango.


A pesquisa teve como objetivo “fazer um trabalho melhor para entender os impactos climáticos dos frutos do mar através das lentes de qualidades nutricionais muito diversas”, diz o coautor Peter Tyedmers, economista ecológico da Dalhousie University em Halifax, Canadá.


Os resultados ecoam os de estudos anteriores, incluindo o trabalho de membros do grupo de Tyedmers, que se concentrou em frutos do mar consumidos na Suécia. Desta vez, os pesquisadores queriam incluir uma gama global mais diversificada de frutos do mar, diz Tyedmers.


Benefícios da dieta ‘azul’


A produção de alimentos é responsável por cerca de um terço das emissões globais de gases de efeito estufa, principalmente de metano e dióxido de carbono. Mais da metade dessas emissões são impulsionadas pela pecuária. As dietas à base de plantas oferecem uma alternativa de menor impacto ao consumo de carne, mas as soluções tendem a ignorar os benefícios das dietas à base de frutos do mar, ou “azuis”, diz o estudo.


Usando 41 espécies de frutos do mar, os pesquisadores estabeleceram uma pontuação de densidade de nutrientes que contabilizava nutrientes essenciais, como certas gorduras e vitaminas. As espécies pesquisadas incluíram peixes, crustáceos, bivalves e cefalópodes criados e capturados na natureza, o grupo que inclui polvos e lulas. A equipe então usou os dados de emissões disponíveis para 34 dessas espécies, para comparar sua densidade de nutrientes com as emissões associadas à sua produção ou captura.


Metade das espécies de frutos do mar ofereceram mais benefícios nutricionais em termos de emissões. Salmão rosa (Oncorhynchus gorbuscha) e salmão-vermelho (Oncorhynchus nerka) capturados na natureza, pequenos peixes pelágicos capturados na natureza e bivalves de criação, foram as melhores escolhas para fontes de proteína densas em nutrientes e com baixas emissões.


Peixes brancos como o bacalhau (Gadus sp.) também tiveram um baixo impacto climático, mas estavam entre os alimentos menos densos em nutrientes. Os crustáceos capturados na natureza tiveram as maiores emissões, com uma pegada de carbono rivalizada apenas pela da carne bovina. Os autores observam que seus dados de emissões não incluem emissões de “pós-produção”, como aquelas geradas por refrigeração ou transporte.


A análise adiciona mais perspectiva ao papel dos frutos do mar nos sistemas alimentares, diz Zach Koehn, cientista marinho do Stanford Center for Ocean Solutions, na Califórnia. Ele acrescenta que um obstáculo na aplicação desta pesquisa, será a necessidade de tornar os frutos do mar mais amplamente disponíveis de maneira acessível, porque aqueles que poderiam se beneficiar mais de alimentos ricos em nutrientes, podem não ter acesso a eles.


Tyedmers concorda que o acesso a diversas dietas é um privilégio. “Toda oportunidade que existe para substituir frutos do mar por carne bovina é uma pequena vitória climática”, diz ele. “Não precisa ser todas as refeições.”


Mudanças climáticas podem tornar as pandemias mais comuns


Comentário publicado na British Medical Journal em 12/09/2022, onde pesquisadores americanos comentam que a chance de alguém ver uma pandemia como a COVID-19 durante a vida é de cerca de 38%, mas que pode dobrar nos próximos anos.


A probabilidade de uma nova epidemia extrema de doença infecciosa, semelhante à pandemia de COVID-19, pode triplicar nas próximas décadas, de acordo com um estudo recente publicado no Proceedings of the National Academy of Sciences.


A possibilidade de outra pandemia “provavelmente aumentará por causa de todas as mudanças ambientais que estão ocorrendo”, disse Dr. William Pan, um dos autores do estudo, e professor associado de saúde ambiental global da Duke University.


Pan e colegas analisaram dados dos últimos 400 anos, para estimar a chance de epidemias extremas a cada ano. Eles analisaram as taxas de mortalidade, a duração das epidemias anteriores, e a taxa de novas doenças infecciosas.


A taxa de ocorrência de epidemias varia muito ao longo do tempo, disseram os pesquisadores, mas a chance de uma epidemia extrema, pode ser calculada. Estimativas recentes mostram que doenças infecciosas que são transmitidas de animais para humanos, também chamadas de doenças zoonóticas, estão se tornando mais comuns devido às mudanças climáticas.


Com doenças zoonóticas como a COVID-19, os animais são frequentemente reservatórios de bactérias e vírus contagiosos. Isso significa que eles carregam bactérias ou vírus, que podem sofrer mutações e evoluir, e os humanos podem ser infectados por contato direto ou indiretamente através do solo, água ou superfícies.


“À medida que você diminui a interface entre os humanos e o mundo natural, acabamos tendo mais contato com essas coisas”, disse Pan. "O clima aumenta a capacidade dos vírus de nos infectar mais facilmente."


Juntamente com a pandemia da COVID-19, outro exemplo disso é a recorrência de surtos de Ebola na África Ocidental nos últimos anos, incluindo este ano.


"Há evidências de que há perda de florestas na África Ocidental para o óleo de palma. Há toda uma história em torno da indústria de óleo de palma, destruindo florestas tropicais para plantar palmeiras de óleo", disse o Dr. Aaron Bernstein, diretor do Centro para Clima, Saúde, e o Meio Ambiente Global no Harvard T.H. Chan School of Public Health.


“Neste caso, há morcegos que vivem nessas florestas, mas não podem viver em plantações de dendê”, disse ele. “E então esses morcegos se mudaram para uma parte da África Ocidental onde infectaram pessoas com Ebola”.


As doenças zoonóticas agora representam 60% de todas as doenças e 75% das doenças emergentes, de acordo com o CDC. Embora qualquer pessoa possa adoecer de uma doença zoonótica, os grupos de maior risco incluem crianças com menos de 5 anos, adultos com mais de 65 anos, mulheres grávidas e pessoas com sistema imunológico comprometido.


À medida que surgem mais doenças infecciosas, cientistas e especialistas em saúde pública correm para desenvolver testes, tratamentos e vacinas, muitas vezes depois que os números de infecções já estão fora de controle, informou. Mas pouco vai para a prevenção desses surtos em primeiro lugar.


“Não podemos lidar com pandemias com band-aids, ou seja, depois de esperar até que as doenças apareçam e tentar descobrir como resolvê-las”, disse Bernstein.


Para evitar que outra grande pandemia perturbe a sociedade, os países precisam investir em sistemas de vigilância e compartilhar informações, sobre os primeiros sinais de possíveis infecções virais, disse Pan.


"Há alguns lugares no mundo onde nem temos a capacidade básica de avaliar ou testar cepas, ou febres virais chegando aos hospitais", disse ele. "E assim, muitas dessas coisas ficam despercebidas até que seja tarde demais."


Os orçamentos globais também tendem a ser direcionados ao tratamento de doenças, em vez de à prevenção na fonte.


"Precisamos lidar com o transbordamento, e isso significa que precisamos proteger os habitats naturais. Precisamos combater as mudanças climáticas", disse Bernstein. “Precisamos abordar o risco da produção de gado em larga escala, porque muitos dos patógenos passam de animais selvagens para gado e depois para pessoas”.


A vitamina D pode proteger contra a Covid-19?


Comentário publicado na British Medical Journal em 07/09/2022, onde pesquisadores suecos comentam que dois novos estudos apontam que a vitamina D não têm efeito na prevenção da Covid-19, mas que ainda não são a palavra final.


A vitamina D é um importante regulador do equilíbrio do cálcio. Além disso, tem efeitos importantes no sistema imunológico, induzindo diretamente peptídeos antimicrobianos nas superfícies da mucosa, e modulando a função das células T. Estudos observacionais da era pré-pandemia, encontraram uma associação entre baixos níveis de vitamina D e um risco aumentado de infecções do trato respiratório. Os resultados de ensaios clínicos randomizados foram mistos, mas duas grandes meta-análises encontraram algumas evidências de um efeito protetor da suplementação de vitamina D contra infecções do trato respiratório, particularmente em indivíduos com deficiência de vitamina D. A vitamina D poderia então ajudar a proteger contra a Covid? -19?


Em um nível mecanicista, a vitamina D aumenta as defesas antivirais contra outros vírus respiratórios, como o vírus influenza A e o rinovírus. Dados de estudos observacionais sugerem que baixos níveis de 25-hidroxivitamina D (25(OH)D) podem ser um fator de risco para Covid-19 grave. No entanto, essa associação pode ser por causalidade reversa ou confusão: tanto a Covid-19 quanto a deficiência de vitamina D estão independentemente associadas à obesidade, velhice (>65 anos) e sexo masculino, por exemplo. Dois novos estudos randomizados vinculados adicionam evidências muito necessárias a essa importante questão.


O primeiro estudo foi realizado no Reino Unido entre maio e outubro de 2021. Jolliffe e colegas randomizaram 3.100 participantes para um teste de vitamina D, numa posologia de 3.200 UI/dia ou 800 UI/dia de vitamina D3 por seis meses, se suas concentrações sanguíneas de 25-hidroxivitamina D fossem < 75 nmol/L. Outros 3.100 controles não receberam nenhum teste e nenhuma suplementação. Os autores descobriram que nenhuma das doses de vitamina D teve qualquer efeito na incidência de Covid-19. Este estudo teve vários pontos fortes: uma alta prevalência (64,6%) de participantes com níveis inadequados de 25-hidroxivitamina D (<50 nmol/L), boa adesão ao protocolo, e um endpoint rigoroso com reação em cadeia da polimerase confirmada para Covid-19.


No entanto, várias ressalvas importantes precisam ser reconhecidas. Em primeiro lugar, a vacinação contra a Covid-19 estava sendo lançada durante o estudo. No início do estudo, apenas 1,2% dos participantes foram vacinados, embora no final do estudo 89,1% tenham recebido pelo menos uma dose. É possível que a vacinação tenha mascarado qualquer efeito da vitamina D. Notavelmente, no grupo não vacinado, a Covid-19 foi menos frequente entre os participantes que tomaram 3200 UI/dia, em comparação com o grupo controle sem suplementação (0/68 (0,0%) v 9 /191 (4,7%)), mas a diferença não foi estatisticamente significativa.


Em segundo lugar, o medicamento do estudo foi fornecido de forma aberta, de modo que a consciência dos participantes de tomar um medicamento ativo poderia ter influenciado o comportamento de busca de saúde e, portanto, influenciando os resultados. Finalmente, quase 50% dos participantes do controle tomaram suplementos de vitamina D durante o período do estudo, o que poderia ter diluído quaisquer efeitos da vitamina D.


O outro estudo foi realizado na Noruega entre novembro de 2020 e junho de 2021, usando óleo de fígado de bacalhau, como substituto para suplementação de vitamina D em baixa dose (400 UI/dia). Brunvoll e colegas randomizaram 34 741 participantes a 5 mL de óleo de fígado de bacalhau ou 5 mL de óleo placebo diariamente, por seis meses. Mais uma vez, os autores não encontraram efeito do óleo de fígado de bacalhau em nenhum resultado, incluindo a reação em cadeia da polimerase confirmada para Covid-19.


Um grande tamanho de amostra e um design controlado por placebo mascarado, foram os principais pontos fortes deste estudo. Uma limitação foi que apenas 35% dos participantes foram vacinados durante o estudo, embora uma análise estratificada não tenha encontrado efeito no grupo não vacinado. Além disso, os participantes eram relativamente jovens e saudáveis, e 86,3% tinham níveis adequados de vitamina D (>50 nmol/L) no início do estudo. A maioria dos participantes era de mulheres (65%), a maioria tinha índice de massa corporal normal (média de 26,1) e a média de idade foi de 44,9 anos. Finalmente, o óleo de fígado de bacalhau também contém uma quantidade substancial de vitamina A, que é um potente imunomodulador. A ingestão excessiva de vitamina A pode causar efeitos adversos e pode interferir nos efeitos mediados pela vitamina D no sistema imunológico.


Ambas as equipes de pesquisa devem ser elogiadas, por terem concluído ensaios clínicos grandes e bem desenhados durante a pandemia de Covid-19, com seus desafios logísticos imprevistos. No entanto, os resultados nulos dos estudos devem ser interpretados no contexto de uma vacina altamente eficaz lançada durante os dois estudos.


A vacinação ainda é a forma mais eficaz de proteger as pessoas da Covid-19, e a suplementação de vitamina D e óleo de fígado de bacalhau, não deve ser oferecida a pessoas saudáveis ​​com níveis normais de vitamina D. É importante ressaltar que esses novos estudos permanecem compatíveis com as duas grandes meta-análises, sugerindo que a suplementação de vitamina D pode ser benéfica para indivíduos com deficiência de vitamina D.


Uma abordagem pragmática para o clínico, pode ser focar nos grupos de risco; aqueles que poderiam ser testados antes da suplementação, incluindo pessoas de pele escura ou raramente exposta ao sol; mulheres grávidas; e idosos com doenças crônicas. Para aqueles com níveis inadequados de vitamina D (<50 nmol/L), a suplementação com 1.000-2.000 UI/dia pode ser uma maneira segura, simples e acessível de restaurar os níveis de vitamina D, melhorar a saúde óssea e aproveitar qualquer possível proteção efeito contra infecções do trato respiratório.


Um medicamento para varíola pode tratar a varíola dos macacos? Aqui está o que os cientistas sabem


Comentário publicado na Nature em 25/08/2022, onde pesquisadores de diferentes países comentam que Tecovirimat, um antiviral pouco conhecido, mostra-se promissor contra a varíola dos macacos. Mas os dados humanos e os suprimentos da droga são limitados.


Como os suprimentos de vacinas contra a varíola dos macacos permanecem limitados, e o número de pessoas que contraem a doença continua aumentando, médicos e pesquisadores estão procurando o medicamento tecovirimat para alívio. Em animais infectados com varíola dos macacos, o antiviral demonstrou diminuir a quantidade de vírus em seus corpos, e reduzir o número de lesões de varíola cheias de líquido que se formam em sua pele.


Os dados de eficácia em humanos, no entanto, são muito mais limitados, fazendo com que alguns pesquisadores e agências reguladoras hesitem em autorizar o uso generalizado do tecovirimat. Mas as pessoas com varíola dos macacos, em particular aquelas com doença grave, que pode causar dor extrema, cicatrizes e, em casos raros, morte, estão pedindo acesso à droga.


Os ensaios clínicos do medicamento estão começando agora, mas os resultados ainda estão a meses de distância. A Nature conversou com especialistas em doenças infecciosas para entender como o tecovirimat funciona, e quais dados ainda são necessários para avaliar se ele é eficaz contra a varíola dos macacos em humanos.


O que é tecovirimat e como funciona?


Após os ataques de antraz em 2001 nos Estados Unidos, nos quais cartas com esporos da bactéria letal foram enviadas a organizações de mídia e políticos, o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos EUA em Bethesda, Maryland, recebeu um aumento de financiamento para desenvolver tratamentos contra patógenos com potencial para serem usados ​​como armas biológicas. As autoridades de biossegurança estavam especialmente preocupadas com a varíola, que pode matar cerca de 30% das pessoas infectadas. Embora a doença tenha sido erradicada há mais de 40 anos, a preocupação era que o vírus da varíola pudesse ser acidentalmente liberado ou transformado em arma por laboratórios em todo o mundo, onde as amostras ainda são mantidas.


O influxo de dinheiro ajudou a dar origem ao tecovirimat. O antiviral funciona impedindo que os ortopoxvírus, como a varíola, criem uma determinada proteína. Uma vez que esse tipo de vírus sequestra uma célula hospedeira e se replica, os vírus recém-formados usam essa proteína para escapar da célula infectada e se espalhar para outras células. Ao impedir o vírus de produzir a proteína, o tecovirimat “essencialmente prende o vírus dentro das células infectadas”, deixando os anticorpos e células T do sistema imunológico para cuidar da situação, diz Dennis Hruby, diretor científico da SIGA Technologies, em Nova York. farmacêutica que fabrica tecovirimat.


Os pesquisadores projetaram o antiviral com a varíola em mente, diz Hruby. Mas porque tem como alvo uma proteína que outros ortopoxvírus usam, incluindo o vírus da varíola dos macacos, os cientistas acreditam que a droga também poderia domar a varíola dos macacos.


Existe alguma evidência de que o tecovirimat funciona contra a varíola dos macacos?


Um estudo de 2018 em cerca de 450 pessoas, 90 das quais receberam placebo, mostrou que o medicamento é seguro e tem poucos efeitos colaterais. Mas a demonstração de sua eficácia contra ortopoxvírus em humanos tem sido menos explorada.


Quando a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, considerou aprovar o medicamento para tratar a varíola em 2018, a agência reconheceu que não seria viável ou ético testá-lo infectando pessoas com esse vírus ou qualquer outro ortopoxvírus. Em vez disso, a FDA concedeu uma exceção para permitir que a SIGA usasse dados de eficácia de estudos em animais.


Os pesquisadores testaram o tecovirimat em primatas não humanos infectados com o vírus da varíola dos macacos e em coelhos infectados com o vírus da varíola do coelho. Em ambos os casos, os animais que receberam o antiviral quatro dias após a infecção, tiveram uma chance muito maior de sobrevivência, desenvolveram menos lesões e tiveram carga viral menor, em comparação com aqueles que receberam placebo.


O atual surto global de varíola até agora forneceu apenas evidências anedóticas da eficácia do tecovirimat nas pessoas, diz Daniel McQuillen, presidente da Sociedade de Doenças Infecciosas da América, na Virgínia. Alguns estudos observacionais em um punhado de pessoas com varíola dos macacos descobriram, que novas lesões pararam de se formar dentro de um dia após os médicos administrarem o tecovirimat. E um estudo que administrou a droga a 14 pessoas na República Centro-Africana, onde uma cepa mais mortal do vírus circula há décadas, descobriu que a carga viral dos participantes caiu significativamente em quatro dias, de acordo com um rascunho do manuscrito que a Nature viu. Esses estudos não estabelecem a eficácia do medicamento, pois não possuem um grupo controle para comparação dos resultados.


Por que médicos em todo o mundo tiveram dificuldade em acessar o tecovirimat?


A União Europeia e o Reino Unido aprovaram o tecovirimat para a varíola dos macacos, usando os mesmos estudos em animais revisados ​​pela FDA, o que facilitou o acesso ao medicamento em alguns países. No entanto, a SIGA até agora recebeu pedidos de apenas 11 países, incluindo Estados Unidos e Canadá, diz Holly Stevens, porta-voz da empresa. Isso significa que o acesso à droga ainda é extremamente limitado, e principalmente em partes da África Central e Ocidental, onde a varíola se espalha há décadas e causa a maioria das mortes.


Nos Estados Unidos, o FDA não autorizou o uso do tecovirimat contra a varíola dos macacos porque, segundo a agência, a doença não foi erradicada e, portanto, ainda é possível testar o medicamento em humanos. Isso significa que os médicos dos EUA podem acessar o medicamento, considerado experimental para a varíola dos macacos, apenas solicitando permissão especial por meio dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA. Essa burocracia fez com que muitos médicos deixassem de prescrever o tecovirimat, embora o país tenha um estoque de 1,7 milhão de tratamentos, principalmente destinados ao uso contra a varíola.


A papelada necessária é um fardo enorme para os médicos que precisam fazer malabarismos com os pacientes, diz Amesh Adalja, especialista em doenças infecciosas da Escola de Saúde Pública Johns Hopkins Bloomberg em Baltimore, Maryland. O CDC recentemente tornou alguns dos formulários opcionais, e permitiu que os médicos os enviassem após a administração do medicamento às pessoas. Também está trabalhando com o FDA para ajustar ainda mais o processo, diz Scott Pauley, porta-voz do CDC.


A FDA se encontra em uma “posição complicada”, diz McQuillen. A agência foi criticada quando autorizou o uso emergencial de medicamentos como a hidroxicloroquina contra a COVID-19, que acabou não sendo eficaz. Tornar o tecovirimat completamente acessível, pode dificultar os ensaios clínicos para determinar a eficácia do medicamento, porque as pessoas podem não querer se inscrever, se houver a chance de receber um placebo, diz ele. A FDA não respondeu às perguntas da Nature.


Que dados estão sendo coletados agora e o que os cientistas ainda querem saber?


Os primeiros ensaios clínicos randomizados estão sendo realizados no Canadá, na República Democrática do Congo, no Reino Unido e nos Estados Unidos; os médicos começaram a inscrever participantes no estudo do Reino Unido, e os outros esperam começar em breve.


Hruby diz que os pesquisadores planejam inscrever pessoas com casos leves de varíola dos macacos. Caso estejam internados, os participantes terão a oportunidade de receber o medicamento, mesmo que façam parte do grupo placebo. Ele acrescenta que espera ver os primeiros dados em questão de meses.


Além desses testes de eficácia, seria útil testar se a droga também pode prevenir a infecção quando administrada profilaticamente, seja antes da exposição ao vírus da varíola dos macacos, ou dias depois de uma pessoa descobrir que foi exposta, diz Jessica Justman, especialista em doenças infecciosas da Universidade de Columbia, em Nova York. Com o HIV, o uso profilático de antivirais tem sido muito eficaz na proteção contra o vírus, e essa estratégia também pode funcionar para a varíola dos macacos, diz ela.


Em alguns países, os médicos estão testando o uso de vacinas contra a varíola, que se acredita serem eficazes contra a varíola, oferecendo-as logo após uma pessoa ter sido exposta ao vírus da varíola. Mas a vacina mais comum oferecida é administrada em duas doses, e leva seis semanas após a primeira para atingir o pico de eficácia, o que significa que o uso de vacinas pós-exposição pode não ser muito eficaz. Esta é uma situação em que um antiviral comprovado, que provavelmente entraria em vigor muito mais rápido que as vacinas, poderia ser útil, diz Justman.


Mais informações sobre como o antiviral funciona em humanos são desesperadamente necessárias, diz McQuillen, embora reconheça a difícil tarefa pela frente. “Estamos tentando descobrir se um medicamento funciona em um surto que está se expandindo exponencialmente e que queremos parar ao mesmo tempo”, diz ele.


Surto de “Gripe do Tomate” na Índia. Um novo vírus ou uma complicação de um outra virose?


Comentário publicado na The Lancet em 17/08/2022, onde pesquisadores indianos comentam que um novo vírus conhecido como Gripe do Tomate, ou Febre do Tomate, surgiu na Índia. A gripe do tomate pode ser um efeito posterior de chikungunya ou dengue em crianças, e não uma infecção viral, propriamente dita.


Assim como estamos lidando com o provável surgimento da quarta onda de COVID-19, um novo vírus conhecido como Gripe do Tomate, ou Febre do Tomate, surgiu na Índia, no estado de Kerala, em crianças menores de 5 anos.

A infecção viral rara está em estado endêmico e é considerada sem risco de vida; no entanto, devido à terrível experiência da pandemia de COVID-19, o gerenciamento vigilante é desejável para evitar novos surtos.


Embora o vírus da gripe do tomate apresente sintomas semelhantes aos do COVID-19 (ambos estão inicialmente associados a febre, fadiga e dores no corpo, alguns pacientes também relatam erupções na pele), o vírus não está relacionado ao SARS- CoV-2. A gripe do tomate pode ser um efeito posterior de chikungunya ou dengue em crianças, e não uma infecção viral, propriamente dita.


O vírus também pode ser uma nova variante da doença viral da mão, pé e boca, uma doença infecciosa comum que atinge principalmente crianças de 1 a 5 anos e adultos imunocomprometidos, e alguns estudos de caso mostraram até doença mão, pé e boca em adultos imunocompetentes. A gripe do tomate é uma doença autolimitada e não existe nenhum medicamento específico para tratá-la.


A gripe do tomate foi identificada pela primeira vez no distrito de Kollam, em Kerala, em 6 de maio de 2022 e, em 26 de julho de 2022, mais de 82 crianças menores de 5 anos com a infecção foram relatadas pelos hospitais do governo local. As outras áreas afetadas de Kerala são Anchal, Aryankavu e Neduvathur. Esta doença viral endêmica desencadeou um alerta para os estados vizinhos de Tamil Nadu e Karnataka. Além disso, 26 crianças (de 1 a 9 anos) foram relatadas como tendo a doença em Odisha pelo Centro Regional de Pesquisa Médica em Bhubaneswar. Até o momento, além de Kerala, Tamilnadu e Odisha, nenhuma outra região da Índia foi afetada pelo vírus. No entanto, medidas de precaução estão sendo tomadas pelo Departamento de Saúde de Kerala para monitorar a propagação da infecção viral, e impedir sua propagação em outras partes da Índia.


Os principais sintomas observados em crianças com gripe do tomate são semelhantes aos da chikungunya, que incluem febre alta, erupções cutâneas e dor intensa nas articulações. A gripe do tomate ganhou esse nome devido à erupção de bolhas vermelhas e dolorosas por todo o corpo, que gradualmente aumentam até o tamanho de um tomate. Essas bolhas se assemelham às observadas com o vírus da varíola dos macacos em indivíduos jovens.


Erupções cutâneas também aparecem na pele com a gripe do tomate que levam à irritação da pele. Tal como acontece com outras infecções virais, outros sintomas incluem fadiga, náuseas, vômitos, diarreia, febre, desidratação, inchaço das articulações, dores no corpo e sintomas comuns de gripe, que são semelhantes aos manifestados na dengue.


Em crianças com esses sintomas, são realizados exames moleculares e sorológicos para o diagnóstico de dengue, chikungunya, zika vírus, varicela-zoster e herpes; uma vez que essas infecções virais são descartadas, a contração do vírus do tomate é confirmada.


Como a gripe do tomate é semelhante à chikungunya e à dengue, bem como à doença das mãos, pés e boca, o tratamento também é semelhante, ou seja, isolamento, descanso, bastante líquido e esponja de água quente para aliviar irritações e erupções cutâneas. A terapia de suporte de paracetamol para febre e dor no corpo e outros tratamentos sintomáticos são necessários.


As crianças correm maior risco de exposição à gripe do tomate, pois as infecções virais são comuns nessa faixa etária, e é provável que a disseminação ocorra por meio de contato próximo. As crianças pequenas também são propensas a esta infecção através do uso de fraldas, tocando superfícies sujas, bem como colocando coisas diretamente na boca. Dadas as semelhanças com a doença da mão, pé e boca, se o surto de gripe do tomate em crianças não for controlado e evitado, a transmissão pode levar a sérias consequências, espalhando-se também em adultos.


Semelhante a outros tipos de gripe, a gripe do tomate é muito contagiosa. Portanto, é obrigatório seguir o isolamento cuidadoso de casos confirmados ou suspeitos e outras medidas de precaução, para evitar o surto do vírus da gripe do tomate de Kerala para outras partes da Índia. O isolamento deve ser seguido por 5 a 7 dias a partir do início dos sintomas, para evitar a disseminação da infecção para outras crianças ou adultos. A melhor solução para a prevenção é a manutenção da higiene e sanitização adequada das necessidades e do ambiente circundante, bem como evitar que a criança infectada compartilhe brinquedos, roupas, alimentos ou outros itens com outras crianças não infectadas.


O reaproveitamento de medicamentos e a vacinação são as abordagens mais eficazes e econômicas para garantir a segurança da saúde pública contra infecções virais, especialmente em crianças, idosos, pessoas imunocomprometidas e pessoas com problemas de saúde subjacentes. Até o momento, não há medicamentos ou vacinas antivirais disponíveis para o tratamento ou prevenção da gripe do tomate. Mais acompanhamento e monitoramento para resultados graves e sequelas são necessários para entender melhor a necessidade de tratamentos potenciais.


Onda de surtos de poliomielite em todo o mundo coloca cientistas em alerta


Comentário publicado na Nature em 22/08/2022, em, que pesquisadores americanos afirmam que casos de paralisia nos Estados Unidos e em Israel sugerem que o poliovírus derivado da vacina infectou muitas pessoas.


A descoberta do poliovírus no estado de Nova York, Londres e Jerusalém este ano, pegou muitos de surpresa, mas pesquisadores de saúde pública que lutam para erradicar a doença, dizem que era apenas uma questão de tempo.


“Nenhum país do mundo está imune aos efeitos da pólio”, diz Zulfiqar Bhutta, pesquisador de saúde global da Universidade Aga Khan em Karachi, Paquistão. “Está tudo interligado.”


O vírus encontrado nessas regiões é derivado de uma vacina oral contra a poliomielite usada em alguns países. Até agora, apenas dois casos de paralisia relacionada à poliomielite foram relatados, em Jerusalém em fevereiro e em Nova York em junho; a infecção de Nova York foi o primeiro caso nos EUA, em quase uma década. Mas amostras de águas residuais em todas as três áreas sugerem que o vírus está circulando mais amplamente.


A pólio causa paralisia irreversível em menos de uma em cada 200 pessoas suscetíveis que infecta, então os casos de paralisia sugerem, que muitas outras pessoas foram infectadas, diz Walter Orenstein, que estuda doenças infecciosas na Emory University em Atlanta, Geórgia. “Casos como esse são apenas a ponta do iceberg”, diz ele. “É muito preocupante.”


A Nature conversou com pesquisadores sobre a escala do surto e o que pode ser feito para detê-lo.


Por que esses surtos estão acontecendo?


O poliovírus selvagem circula em apenas dois países, Afeganistão e Paquistão, onde este ano nove casos foram relatados até junho.


Mas o poliovírus derivado da vacina aparece periodicamente em outros lugares, particularmente na África e na Ásia. Esses casos vêm de uma vacina oral amplamente utilizada que contém vírus vivo e enfraquecido, o chamado vírus inativo, que às vezes se transforma em uma forma perigosa capaz de infectar o sistema nervoso.


Nem os Estados Unidos nem o Reino Unido usam essa vacina, optando por uma vacina injetável contendo vírus inativado. Essa vacina pode impedir que o vírus infecte o sistema nervoso, mas não é tão eficaz quanto o vírus oral, na redução da disseminação viral e na interrupção da transmissão, diz Raul Andino-Pavlovsky, microbiologista da Universidade da Califórnia, em São Francisco.


As altas taxas de vacinação contra a poliomielite no Reino Unido, Israel e Estados Unidos significam, que a maioria das crianças será poupada dos piores efeitos do vírus (cerca de 94% das crianças americanas de 5 e 6 anos são vacinadas). Mas as pessoas não vacinadas são vulneráveis ​​à doença.


“Este vírus é muito, muito bom em encontrar indivíduos não vacinados”, diz Orenstein. Na década de 1990, um surto de poliovírus na Holanda estabeleceu uma base em uma comunidade com uma taxa de vacinação relativamente baixa, apesar da cobertura total de vacinação do país de mais de 90%, diz Oliver Rosenbauer, porta-voz da Iniciativa Global de Erradicação da Pólio do Mundo da Organização Mundial da Saúde (OMS) em Genebra, Suíça. O surto resultou em 2 mortes e 59 casos de paralisia, e ocorreu 14 anos após o último caso endêmico de poliomielite do país.


O poliovírus se espalhou para além das regiões onde foi identificado pela primeira vez?


A vigilância das águas residuais para a poliomielite é rara nos países ricos; o Reino Unido monitora rotineiramente o esgoto para a doença apenas em Londres e Glasgow. E Nova York começou a testar as águas residuais em julho, depois que as autoridades souberam do caso de paralisia relacionada à poliomielite.


Portanto, não está claro até que ponto o vírus pode ter se espalhado. Mas há motivos para esperar que não tenha ido longe: em Londres, que detecta poliovírus no esgoto desde fevereiro, o vírus parece ter permanecido concentrado no norte e leste da cidade, e não houve relatos de poliomielite. paralisia relacionada.

“Parece ser bastante localizado, mesmo dentro de Londres”, diz o epidemiologista de doenças infecciosas Nicholas Grassly, do Imperial College London.


Em Nova York, o vírus foi detectado em dois condados, além da cidade de Nova York, uma disseminação geográfica “muito preocupante”, diz Orenstein. “Isso sugere que tivemos uma transmissão substancial.”


Os Centros dos EUA para Controle e Prevenção de Doenças (CDC) priorizarão a vigilância de águas residuais para poliomielite em comunidades subvacinadas, relacionadas ao caso de paralisia. “O teste de poliovírus a partir de amostras de águas residuais é muito trabalhoso e intensivo em recursos”, disse um porta-voz do CDC à Nature. Mas os sistemas de vigilância configurados para monitorar o coronavírus SARS-CoV-2 estão trabalhando para fornecer suporte, acrescentou.


Os surtos podem ser contidos?


Os Estados Unidos, Israel e o Reino Unido estão aumentando os esforços de vacinação, que devem preencher as lacunas criadas durante a pandemia do COVID-19. Isso inclui um esforço ambicioso para vacinar todas as crianças de um a nove anos em Londres.


Essa estratégia deve cortar os surtos pela raiz, diz Grassly. Mas as campanhas em Londres e Nova York usarão vacina injetável, para não interromper a transmissão do vírus.


Se, em seis meses ou mais, os testes de águas residuais sugerirem que o poliovírus continuou a se espalhar, pode ser necessário procurar outras opções, diz ele. Por exemplo, em 2020, a OMS listou uma nova vacina oral contra a poliomielite para uso emergencial.


Esta vacina contém poliovírus enfraquecido. Mas os pesquisadores usaram o conhecimento do genoma do vírus, incluindo como uma enzima propensa a erros envolvida na replicação do genoma pode gerar mudanças genéticas, para criar um conjunto de mutações que impedem o vírus de recuperar sua capacidade de infectar o sistema nervoso. “É como colocar o vírus em uma gaiola evolutiva”, diz Andino-Pavlovsky, que ajudou a projetar a vacina.


Essa vacina ainda não passou por testes humanos em larga escala, e não foi aprovada pelos reguladores do Reino Unido ou dos EUA. Mas mais de 100 milhões de pessoas a receberam, diz Andino-Pavlovsky, sem sinais de surgimento do poliovírus derivado da vacina.


Qual é a situação dos surtos de poliomielite em outros lugares?


Surtos em países ricos recebem muita atenção, diz Rosenbauer. “Mas nos últimos 20 anos, tivemos muitos, muitos surtos graves em todo o mundo em países em desenvolvimento”.


Rosenbauer diz que há sinais encorajadores de que a batalha para erradicar a pólio está progredindo, apesar da interrupção causada pela COVID-19. Surtos no Iêmen e em alguns países da África ainda estão ativos, diz ele, mas seu alcance está diminuindo.


Em lugares onde há conflito armado, como áreas do Afeganistão e Iêmen, a vacinação é difícil. “Precisamos de vontade política para implementar um plano para alcançar todas as crianças em áreas desafiadoras”, diz ele. Caso contrário, “a doença voltará globalmente”.


Novo vírus 'Langya' identificado na China: o que os cientistas sabem até agora


Comentário publicado na Nature em 11/08/2022, em que pesquisadores chineses afirmam que o henipavírus pode causar sintomas respiratórios e está relacionado aos vírus Nipah e Hendra, mas não pode se espalhar facilmente entre as pessoas.


Um novo vírus animal, que pode infectar humanos foi identificado no leste da China. Mas os cientistas dizem que não estão muito preocupados, porque o vírus não parece se espalhar facilmente entre as pessoas, e nem é fatal.


O vírus, chamado Langya henipavirus (LayV), pode causar sintomas respiratórios como febre, tosse e fadiga, e está intimamente relacionado a dois outros henipavírus conhecidos por infectar pessoas, o vírus Hendra e o vírus Nipah. Estes também causam infecções respiratórias e que podem ser fatais.


Os pesquisadores acham que o LayV é carregado por musaranhos, que podem ter infectado pessoas diretamente ou por meio de um animal intermediário. O vírus foi descrito no New England Journal of Medicine em 4 de agosto.


Os pesquisadores dizem que o LayV infectou apenas 35 pessoas desde 2018, e nenhum dos casos parece estar relacionado. “Não há necessidade especial de se preocupar com isso, mas a vigilância contínua é fundamental”, diz Edward Holmes, virologista evolucionário da Universidade de Sydney, na Austrália.


Testar regularmente pessoas e animais, em busca de vírus emergentes, é importante para entender o risco de doenças zoonóticas, aquelas que podem ser transmitidas de outros animais para humanos, diz ele.


Grandes surtos de doenças infecciosas geralmente decolam após muitos falsos começos, diz Emily Gurley, epidemiologista de doenças infecciosas da Universidade Johns Hopkins em Baltimore, Estados Unidos. “Se estivermos procurando ativamente por essas faíscas, estaremos em uma posição muito melhor para parar ou encontrar algo mais cedo.”


Vigilância hospitalar


A equipe de pesquisa que identificou o LayV, o fez enquanto monitorava pacientes em três hospitais nas províncias de Shandong e Henan, no leste da China, entre abril de 2018 e agosto de 2021. Os participantes foram recrutados para o estudo se tivessem febre.


A equipe sequenciou o genoma do LayV de um swab da garganta, retirado do primeiro paciente identificado com a doença, uma mulher de 53 anos. O vírus recebeu o nome de uma cidade chamada Langya, em Shandong, de onde ela era, diz a coautora Linfa Wang, virologista da Duke-National University of Singapore Medical School, em Cingapura.


Ao longo do período do estudo, os pesquisadores encontraram 35 pessoas infectadas com LayV, a maioria agricultores, com sintomas que variam de pneumonia grave a tosse. A maioria dos pacientes disse em um questionário, que eles foram expostos a um animal dentro de um mês, após o aparecimento dos sintomas.


O genoma LayV mostra que o vírus está mais intimamente relacionado ao henipavírus Mojiang, que foi isolado pela primeira vez em ratos, em uma mina abandonada na província de Yunnan, no sul da China, em 2012. Os henipavírus pertencem à família de vírus Paramyxoviridae, que inclui sarampo, caxumba e muitos vírus respiratórios, que infectam as pessoas. Vários outros henipavírus foram descobertos em morcegos, ratos e musaranhos, da Austrália à Coréia do Sul e China, mas apenas Hendra, Nipah e agora LayV são conhecidos por infectar humanos.


Os pesquisadores não encontraram fortes evidências de propagação do LayV entre as pessoas, não houve agrupamentos de casos na mesma família, em um curto período de tempo ou em proximidade geográfica. “Dos 35 casos, nem um único está relacionado”, diz Wang. Gurley diz que esta é uma boa notícia, mas o estudo fez rastreamento retrospectivo de contatos em apenas 15 membros da família de 9 indivíduos infectados, o que dificulta determinar exatamente como os indivíduos foram expostos. Ainda assim, ela observa que não viu nada nos dados para “causar alarme de uma perspectiva de ameaça pandêmica”.

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